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DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO EXPERIMENTAL

7.1 - OBJETIVO DO TRABALHO EXPERIMENTAL

O trabalho experimental objetivou o conhecimento das características qualitativas, construtivas e de desempenho dos revestimentos existentes no edifício eleito e, também, das caracterizações técnica e de desempenho dos materiais constituintes das argamassas contemporâneas, além da observação dos revestimentos propostos e aplicados, nas painéis experimentais (painéis montados em laboratório e zonas selecionadas para a aplicação no edifício antigo) e nos provetes moldados.

Foram realizadas experimentações no edifício selecionado, tanto por meio de ensaios “in situ”, como pela retirada de amostras e análise laboratorial. Os ensaios “in situ” compreenderam as medições do teor de umidade e das temperaturas dos revestimentos nas superfícies das paredes da construção. Os ensaios desenvolvidos em laboratório foram realizados nas amostras dos revestimentos e dos tijolos, extraídos da construção, as quais foram devidamente acondicionadas e posteriormente submetidas a ensaios de teor de água (umidade), de reconstituição do traço, de identificação de sais solúveis, de porosidade e de absorção de água por capilaridade.

As argamassas de reabilitação propostas para o estudo – as argamassas de assentamento e revestimento tradicionalmente empregadas na região de Pelotas e uma argamassa de reabilitação empregada nalguns países da Europa, em particular na Alemanha, que se passa a designar por “argamassa de reabilitação alemã” 2– foram submetidas a um programa de ensaios desenvolvidos em provetes e em painéis experimentais, executados em laboratório e em obra. No caso dos painéis executados em laboratório, as argamassas foram aplicadas em muretes de alvenaria de tijolos maciços com dimensões de 1,10 m de altura, 1,50 m de largura e 0,15 m de espessura, construídos no interior do LRM (Laboratório de Resistência dos Materiais) do curso de Engenharia Civil da UCPel (Universidade Católica de Pelotas); no caso dos painéis executados em obra, as argamassas foram aplicadas em troços de paredes do edifício eleito, após a remoção dos rebocos originais (Figuras 7.1, 7.2, 7.3, 7.4, 7.5,

I 7.6, 7.7, 7.8 e 7.9). Os ensaios em questão visaram essencialmente avaliar o desempenho das argamassas face à ação da umidade e de sais solúveis.

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Traço obtido no Seminário sobre recuperação de obras históricas de engenharia e arquitetura, fornecido pelo Dr. ng. Claus Arendt do IGS (Institut für Gebäudeanalyse und Sanierungsplanung), sediado em Munique, Alemanha [6.1].

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Figuras 7.1, 7.2 e 7.3 – Construção dos painéis experimentais em laboratório

Capítulo 7 – Organização do trabalho experimental 147

Figuras 7.7, 7.8 e 7.9 – Execução dos revestimentos experimentais no edifício selecionado (interior)

Todas as argamassas utilizaram na sua composição materiais disponíveis na região de Pelotas e compreenderam um conjunto de doze traços, conforme abaixo descritos:

 01-Traço padrão - 1:1:6 (ci: ca: ar) a – 01 CHA -1:1:6 – (ci: cha: ar) b – 01 CHB -1:1:6 – (ci: chb: ar) c – 01 CV - 1:1:6 – (ci: cv: ar)

 02-Traço alemão – 1:0,33:3,7 (ci: ca: ar)+ 5% cz + 0,05% ia + 0,2% hd a – 02 CHA -1:0,33:3,7 – (ci: cha: ar) + 5% cz + 0,05% ia + 0,2% hd b – 02 CHB -1:0,33:3,7 – (ci: chb: ar) + 5% cz + 0,05% ia + 0,2% hd c – 02 CV - 1:0,33:3,7 – (ci: cv: ar) + 5% cz + 0,05% ia + 0,2% hd

 03-Traço proposto A – 1:1:7 (ci: ca: ar) + 10% cz + 0,05% ia + 0,2% hd a – 03 CHA -1:1:7 – (ci: cha: ar) + 10% cz + 0,05% ia + 0,2% hd

b – 03 CHB -1:1:7 – (ci: chb: ar) + 10% cz + 0,05% ia + 0,2% hd c – 03 CV - 1:1:7 – (ci: cv: ar) + 10% cz + 0,05% ia + 0,2% hd

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 04-Traço proposto B – 1:4:14 (ci: ca: ar) + 5% cz + 0,05% ia + 0,2% hd a – 04 CHA -1:4:14 – (ci: cha: ar) + 5% cz + 0,05% ia + 0,2% hd

b – 04 CHB -1:4:14 – (ci: chb: ar) + 5% cz + 0,05% ia + 0,2% hd c – 04 CV - 1:4:14 – (ci: cv: ar) + 5% cz + 0,05% ia + 0,2% hd

As simbologias utilizadas nos traços acima descritos têm os seguintes significados:

ci – cimento portland pozolânico; ca – cal;

ar – areia média fina; cha – cal hidratada;

chb – cal hidratada com adição de cinzas (*);

cv – cal virgem (extinta em caixas de extinção, no local e com 30 dias); cz – cinza de casca de arroz;

ia – incorporador de ar; hd – hidrofugante.

(*) Teor de cinzas adicionada na indústria (em média de 24% em relação a quantidade de clinquer).

Nessa etapa as argamassas foram analisadas desde a caracterização de seus constituintes até ao comportamento de cada uma quanto à permeabilidade à água, porosidade, ascensão de água capilar, resistência à compressão, resistência à tração na flexão, aderência ao suporte, tempo e teor de absorção, tempo e teor de secagem e resistência ao ataque de sais. Este conjunto de ensaios de caracterização e comportamento teve por objetivo principal a avaliação dos revestimentos quanto a susceptibilidade de serem agredidos por umidade e sais. Para as medições “in situ“, foi utilizado um termo-higrômetro, equipamento eletrônico de medição de umidade e temperatura (Figura 7.10).

Capítulo 7 – Organização do trabalho experimental 149

Figura 7.10 – Termo-higrômetro utilizado “in situ” nas medições de umidade e temperatura

As medições e avaliações foram realizadas mediante um lote de provetes cilíndricos e prismáticos, moldados segundo a NBR 5738. Os provetes passaram por um período de cura de 7 dias em ambiente controlado, com temperatura de 232 ºC e umidade relativa de no mínimo 95%. Durante este prazo, foram devidamente protegidos por lâminas de vidro, evitando assim o contato direto com a água pulverizada no interior da câmara úmida.

Os revestimentos de argamassa aplicados nos painéis experimentais em laboratório foram executados no final do mês de Setembro de 2000, início da primavera, onde as temperaturas são, geralmente, amenas, ficando muito próximas àquelas indicadas para uma cura adequada. Estes revestimentos foram submetidos a ensaios de absorção de água (método do cachimbo), ensaio de aderência ao suporte, medições de umidade por ascensão capilar e observação de áreas agredidas pela presença de sais.

A argamassa de reabilitação que apresentou melhor desempenho nesses painéis experimentais em laboratório foi aplicada em áreas escolhidas do edifício eleito. Estas áreas compreenderam duas zonas bem definidas: uma exterior, sujeita a insolação e ventilação e outra interior, com pouca ventilação e nenhuma incidência solar (Figuras 7.4 a 7.9). Os revestimentos com aquela argamassa foram executados no mês de Fevereiro de 2001, sem cuidados quanto à cura. Nestes locais, foram feitas observações periódicas, onde se pôde avaliar o comportamento da argamassa em relação à presença de umidade e sais.

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