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1.8.1 OBJETIVO GERAL

Em vista do exposto acima, o presente estudo teve por objetivo realizar uma avaliação nutricional e toxicológica em pescados disponíveis comercialmente para consumo, em duas regiões costeiras do estado de São Paulo, Cananéia (Litoral Sul) e Cubatão. A caracterização química dos pescados mais consumidos em ambas as regiões foi feita em relação aos constituintes nutricionais (micro, macronutrientes e ácidos graxos) e toxicológicos (Cd, Hg e Pb).

Esse estudo fez parte do projeto “Matéria orgânica marinha na avaliação de impacto ambiental – Biogeoquímica, Bioacumulação, Biotoxinas (MOBIO) (FAPESP processo 2005/ 50769-9), desenvolvido em parceria entre o IO/USP e o IPEN.

1.8.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Avaliar os micronutrientes (Ca, Fe, K, Na, Se e Zn) e outros elementos traço (As, Br, Co, Cr, Rb) em pescados, por meio da técnica de ativação neutrônica

- Avaliar os macronutrientes em pescados (composição centesimal: umidade, cinzas, lipídeos, proteínas e carboidratos).

- Avaliar a composição de alguns ácidos graxos em pescados

- Avaliar os teores dos elementos tóxicos (Cd e Pb) por espectrometria de absorção atômica (ETAAS) e de Hg, por espectrometria de absorção atômica com geração de vapor frio (CV AAS).

As espécies mais consumidas da região de Cananéia, litoral sul do estado de São Paulo obtidas por meio de pesquisa de inquérito alimentar foram: Robalo (Centropomus undecimalis), Pescada (Macrodon ancylodon), Tainha (Mugil platanus) e Corvina (Micropogonias furnieri). Em Cubatão, Região Metropolitana da Baixada Santista - ESP, as espécies mais consumidas foram: Sardinha (Sardella braziliensis), Pescada foguete (Macrodon ancylodon), Tainha (Mugil liza), Perna de moça (Menticirrhus americanus) e Corvina (Micropogonias furnieri).

1.9 Áreas de estudo

Trata-se de dois estuários, assim temos a definição:

Os estuários são ambientes aquáticos de transição entre ecossistemas dulcícolas e marinhos. São regiões parcialmente fechadas nas quais a água do mar é bastante diluída pelo aporte de água doce do continente (THURMAN & TRUJILLO, 1999). As regiões estuarinas são extremamente importantes do ponto de vista biológico, pois apresentam grande riqueza de espécies e podem ser consideradas como ´´berçário´´ para diversas espécies marinhas, tanto pela proteção quanto pela grande disponibilidade de nutrientes (THURMAN & TRUJILLO, 1999).

Situados em regiões costeiras, os estuários freqüentemente encontram-se localizados em áreas de grande atividade antropogênica, sendo, portanto susceptíveis aos impactos decorrentes destas atividades. As principais fontes de impacto ambiental em estuários seriam o escoamento de esgoto proveniente de áreas urbanas, a liberação de diversos produtos químicos (orgânicos e inorgânicos) pela atividade industrial, a agricultura e o fluxo de embarcações (DOMINGOS, 2006).

A salinidade nos estuários apresenta uma grande variação durante o ano, por isso as espécies que o habitam possuem uma grande tolerância a tais variações. Geralmente, nos estuários, as condições de alimento são muito favoráveis, levando a um grande número de organismos.

Os estuários muitas vezes comportam-se como eficientes reservatórios de poluentes trazidos pelos rios e mares. Isto é devido, aos aspectos hidrodinâmicos desses corpos de água e do longo tempo de residência do material depositado neles.

A comunidade que habita os estuários compõe-se de várias espécies que só se desenvolvem nessas regiões, além de espécies que vêm do oceano e algumas poucas que passam do oceano para os rios e vice-versa. Várias espécies que pertencem ao nécton oceânico utilizam os estuários como hábitat em suas primeiras fases de crescimento, devido ao abrigo e ao alimento abundante disponível. Assim sendo, as regiões comerciais de pesca dependem da conservação e proteção dos estuários.

1.9.1. Cubatão (Baixada Santista)

A região abriga o maior porto da América Latina (o Porto de Santos) e o maior pólo industrial do país, situado em Cubatão. Esta atividade industrial, de alto potencial poluidor, fez dos estuários de Santos e São Vicente grandes receptores de resíduos tóxicos e efluentes líquidos contaminados. Os poluentes industriais, juntamente com os resíduos e esgotos do Porto de Santos e das cidades da região, provocaram um grave quadro de degradação ambiental, com significativos reflexos na área social e de saúde pública. Este cenário foi agravado, ainda, pela disposição de resíduos sólidos industriais e domésticos em locais impróprios, além dos freqüentes acidentes com derramamentos de óleo e outras substâncias tóxicas nos cursos d’água (CETESB, 1979; TOMMASI, 1979; CETESB, 2001, BRAGA e col., 2000).

No município de Cubatão estão localizadas importantes indústrias metalúrgicas, petroquímicas, fertilizantes, e outras igualmente poluidoras que se instalaram na região, a partir da década de 50, aproveitando-se das facilidades do maior porto marítimo do país, o Porto de Santos (MAZZONI-VIVEIROS & TRUFEM, 2004). O material poluente lançado na região pelas indústrias, sem um programa adequado de controle de emissão, levou a um processo de degradação ambiental intenso, causando destruição nas encostas da Serra do Mar, com danos visíveis à fauna e à vegetação fanerogâmica. Estudos realizados pela CETESB em amostras de água, sedimentos e organismos aquáticos provenientes da bacia do rio Cubatão, constataram a presença de alguns metais tóxicos e compostos orgânicos em concentrações muitas vezes superiores aos limites recomendados pela FAO/OMS. Entretanto, no último relatório divulgado pela CETESB, os resultados mostraram uma redução da contaminação ambiental, em relação aos estudos anteriores, para alguns metais (cádmio, chumbo, mercúrio) e alguns compostos orgânicos (hexaclorobenzenos). O retorno de peixes e outros organismos aquáticos à bacia do rio Cubatão, não garante a recuperação total do ecossistema, uma vez que alguns compostos químicos, entre eles os metais pesados, podem residir no ambiente, principalmente nos sedimentos, por longos períodos de tempo.

O processo de degradação dos ecossistemas costeiros e os efeitos deletérios da poluição começaram a serem revertidos somente a partir de 1984, quando se deu início a um intensivo programa de controle da poluição do ar, das águas e do solo, no pólo industrial de Cubatão (“Programa de Recuperação da Qualidade Ambiental de Cubatão” levado a efeito pela CETESB). Apesar do grande esforço para o controle da poluição e

melhoria da qualidade ambiental, um levantamento da contaminação nos rios Cubatão, Perequê, Piaçaguera e Casqueiro, realizado em 1988, portanto após a implantação do programa de controle da poluição, concluiu que a região permanecia impactada por concentrações elevadas de metais tóxicos e compostos organoclorados na água, nos sedimentos e nos organismos aquáticos (peixes, siris e outros frutos do mar) (CETESB, 1990). Em 1992 recebeu da ONU o título de “Cidade Símbolo da Recuperação

Ambiental”. A Figura 1.2 apresenta o mapa aéreo da região de Cubatão, ESP.

Figura 1.2 – Mapa aéreo da região de Cubatão

1.9.2. Cananéia (Litoral Sul)

O litoral sul é composto pelos municípios de Iguape, Ilha Comprida e Cananéia, onde se encontram o Complexo estuarino-lagunar de Iguape, Cananéia e Paranaguá,

áreas reconhecidas pela UNESCO como parte da Reserva da Biosfera, devido à sua importância enquanto meio ambiente natural e de culturas tradicionais. Cananéia localiza-se a uma latitude 25º00'53"sul e a uma longitude 47º55'36" oeste, estando a uma altitude de oito metros.

De acordo com o censo do IBGE de 2003, referente a 2000/2001 o total de habitantes é de 12.298 pessoas, sendo que 10.204 pessoas estão na cidade e 2.094 no campo. A taxa de urbanização é de 83%, sendo que a densidade demográfica fica em 9,8 habitantes/km2. Deste total de habitantes 54% são homens e 46% são mulheres, com faixa etária de 32,5% menores que 15 anos, 61% entre 15 e 64% e 6,4% acima de 64 anos.

Cananéia foi classificada como ´´Cidade Monumento´´ por lei federal nº 2.627, de 1966 e teve seu centro inscrito no livro do Tombo V, resolução nº 06, de 27.11.69. Em 1973, teve seu tombamento revisto e modificado sendo definidas cinco manchas que englobam os bens imóveis tombados; contudo ao verificar-se o raio da área de proteção envoltória (300m), notar-se-á que as manchas se sobrepõem e, ainda, se preservará todo o núcleo histórico (MENDONÇA, 2007).

Em vista disso, a partir de 1973, os técnicos do CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo) alertaram sobre a necessidade da realização de um plano de redefinição de área urbana, que impusesse certas restrições às novas construções, cuidado com o calçamento das ruas, com a localização do entreposto de pesca, terminal de ferry-boat, sistema de posteamento e fiação de força e luz, e paisagem natural. Entretanto, o entreposto foi construído em lugar impróprio, as ruas foram calçadas sem critérios de preocupação ambiental, as novas condições de preocupação ambiental, as novas construções, por vezes, descaracterizam o conjunto.

Atualmente, a base econômica do município é a pesca e o turismo. Este último, ainda muito desestruturado, não atendendo a demanda de picos, com falta de atendimento bancário, saúde, segurança e serviços. A pesca é a principal fonte econômica de Cananéia, com os principais produtos sendo os camarões, a ostra, peixe (corvina, pescadas, robalo, linguado, etc.). Também encontramos extrativismo vegetal de musgos, agricultura familiar (principalmente de banana, maracujá, milho e mandioca) e pequena pecuária (bovinos e búfalos) (MENDONÇA, 2007).

Cananéia é um dos 15 municípios paulistas considerados estâncias balneárias pelo Estado de São Paulo, por cumprirem determinados pré-requisitos definidos por Lei Estadual. Tal status garante a esses municípios uma verba maior por parte do Estado para a promoção do turismo regional. Também, o município adquire o direito de agregar junto a seu nome o título de Estância Balneária, termo pelo qual passa a ser designado tanto pelo expediente municipal oficial quanto pelas referências estaduais.

A Figura 1.3 apresenta o mapa aéreo da cidade de Cananéia, estado de São Paulo.

CAPÍTULO 2

2. CARACTERÍSTICAS GERAIS DO PESCADO (LOGATO, 1998)

Sob o nome de pescado e marisco, engloba-se a grande variedade de peixes e moluscos de origem marinha ou de água doce. Cerca de 1500 espécies são pescadas em quantidade suficiente para relevância comercial. Geralmente, teleósteos tanto pelágicos como demersais.

Sua estrutura corporal geralmente tem estruturas simétricas, divididas em cabeça, corpo e cauda, superfície do corpo recoberta de pele, onde se assentam as escamas.

Seu aparelho digestivo é dividido (baseado em critérios anatômicos e histológicos)

- Intestino cefálico Æ cavidade buco-faringeana (boca e seus anexos mais faringe);

- Intestino anterior Æ esôfago e estômago; - Intestino médio Æ intestino propriamente dito;

- Intestino posterior Æ esfíncter íleo-cecal ausente ou reto

Musculatura: três grupos de músculos estriados: da cabeça, do corpo e aletas. - Mais curta que a de mamíferos de abate;

- Sarcoplasma e miofibrilas; - Envolta pelo sarcolema; - 40 % a 60 % do peso total;

- tecido branco (ou claro) e vermelho (ou escuro). Músculo escuro:

- abaixo da pele, ao longo da linha lateral; - Relacionado com a sustentação da natação;

- Pelágicos – até 48 % do peso do músculo;

- Maior conteúdo de gordura, mioglobina e glicogênio.

2.1. COMPOSIÇÃO QUÍMICA – VALOR NUTRICIONAL (LOGATO, 1998)

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