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1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA

1.2.1 Objetivos específicos

Com base nessas indagações foram delineados os seguintes objetivos específicos:

 Mapear a produção científica brasileira em nível de mestrado, entre os anos de 2008 a 2011 sobre as crianças de zero a três anos, no contexto da creche;

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O Banco de Teses e Dissertações da Capes é uma base de dados que reúne vários trabalhos – dissertações e teses -, possibilitando realizar pesquisas direcionadas para o tema pesquisado, por meio dos filtros. É possível também selecionar a instituição para filtrar a busca, o nível do trabalho pesquisado (mestrado ou doutorado) por ano de publicação, por autor e instituição. A base disponibiliza até o momento os trabalhos que compreendem os anos de 1987 até 2011, por este motivo optamos pelo recorte temporal dos trabalhos publicados entre 2008 e 2011.

 Identificar quais perspectivas e tendências teóricas estão em evidência e orientam as produções que têm como foco de investigação as crianças pequenas;

 Levantar possíveis indicativos para a prática pedagógica e docência com crianças de zero a três anos;

 Identificar o aporte teórico presente nas dissertações e mapear os auores de referência.

Para a realização desse estudo, optamos pela referência metodológica a Análise de Discurso Textualmente Orientada, a partir das contribuições de Normam Fairclough (2001), o qual compreende o discurso como manifestação dos modos particulares de uso da linguagem e manifestação social, cujo objetivo é a própria mudança social. Para tanto, o discurso não apenas reflete ou representa entidades e relações sociais, mas “constituem” e constroem os discursos e os modos de posicionamento dos sujeitos (FAIRCLOUGH, 2011).

Mediante o exposto, consideramos a possibilidade de colaborar com o desafio de dar visibilidade às práticas pedagógicas as quais concebem os bebês e crianças bem pequenas de forma respeitosa no cotidiano educativo, como também, as produções científicas que trazem para o debate a importância de se pensar sobre a intencionalidade pedagógica com as crianças de 0 a 3 anos.

Importante destacar ainda, que a proposta desta pesquisa vem ao encontro com o trabalho do Núcleo de Estudos e Pesquisas da Educação na Pequena Infância4 – NUPEIN vem realizando, com objetivo de conhecer e se aproximar das crianças e suas manifestações de forma ética, em particular, tem empreendido um esforço em contribuir com a busca em efetivar práticas pedagógicas e uma docência com crianças pequenas que levem em conta os modos próprios das crianças, considerando-as como partícipes legítimas dos processos que dizem respeito as suas vidas.

Para a organização da escrita, o texto foi dividido em capítulos. No segundo capítulo procuramos trazer uma breve reflexão acerca da

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O NUPEIN é um Núcleo de pesquisas no qual faço parte e tem como principal objetivo consolidar um espaço de pesquisas e estudos com crianças de zero a seis anos, nos contextos de Educação Infantil, mas não só; que visam à produção de conhecimento sobre as crianças e suas muitas formas de viver a infância, de modo a auxiliar a reflexão acerca dos cursos de formação de professores e buscar indicativos para a prática pedagógica com crianças pequenas. Maiores informações em http://www.ced.ufsc.br/nupein/

trajetória da pesquisa e pós-graduação em Educação no Brasil, e, como a pesquisa em Educação Infantil se constitui enquanto um campo científico na conjuntura nacional. Explicitamos nesse capítulo ainda, os caminhos metodológicos da pesquisa e a definição do corpus de análise. No terceiro capítulo situamos alguns aspectos que envolvem a especificidade docente com as crianças de zero a três anos e as relações educativas no contexto da creche. Dialogamos, sobretudo, com autoras da área da Educação Infantil5, que nos ajudam a pensar os elementos que marcam essa docência.

No quarto capítulo situamos as análises das categorias que emergiam dos dados, buscando destacar indicativos para as práticas pedagógicas com o os bebês e crianças bem pequenas no contexto da educação infantil. Por fim, nas considerações finais retomamos os dados e importantes elementos das categorias de análise, procurando trazer algumas pistas para as relações educativas, e, também, sinalizar possibilidades de futuros estudos que tomem como centralidade os temas relativos à prática pedagógica.

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Tristão (2006), Guimarães (2008), Schmitt (2008), Coutinho (2010), Barbosa (2010), entre outros.

2 A PESQUISA EM EDUCAÇÃO: ESPECIFICIDADES DE UMA ÁREA

A pesquisa em educação caracteriza-se por especificidades de uma área que tem como finalidade a criação de um corpo de conhecimentos sobre distintos aspectos. Contudo, não buscamos por meio da pesquisa qualquer conhecimento, mas aqueles que ultrapassem possíveis entendimentos imediatos na observação e na explicação da realidade:

Um conhecimento que pode até mesmo contrariar esse entendimento primeiro e negar as explicações óbvias a que chegamos com nossas observações superficiais e não-sistemáticas. Um conhecimento que obtemos indo além dos fatos, desvendando processos, explicando consistentemente fenômenos segundo referencial. (GATTI, 2002, p. 10).

Pesquisar é a ação que visa compreender variados aspectos que contribuam na construção coletiva de conhecimentos, a fim de promover reflexões e explicações significativas sobre a realidade, a luz de um referencial teórico selecionado. O “[...] conhecimento obtido pela pesquisa é um conhecimento vinculado a critérios de escolha e interpretações de dados, qualquer que seja a natureza destes dados” (GATTI, 2002, p. 100). Estes critérios estão ligados às escolhas do pesquisador, incluindo também sua subjetividade e trajetória profissional.

Segundo Luna (2000) a realidade que é pesquisada é extremamente maior, mais diversificada e mais complexa do que as possíveis formalizações didáticas que envolvem a atividade do pesquisador. Nesse sentido, a metodologia pode correr o risco de se transformar em padrões e modelos a serem seguidos e o próprio sentido da palavra metodologia tem variado ao longo dos anos, principalmente o caráter que a ela é conferido na conjuntura da pesquisa:

Mais importante, porém, que as conotações que possam ser atribuídas ao termo, foram as transformações que sofreu o seu status dentro do cenário da ciência. De fato, reconhece-se, hoje, que a metodologia não tem status próprio, precisando ser definida em um contexto teórico- metodológico. Em outras palavras, abandonou-se (ou vem se abandonando) a idéia de que faça

qualquer sentido discutir a metodologia fora de um quadro de referência teórico que, por sua vez, é condicionado por pressupostos epistemológicos. O reconhecimento do poder relativo da metodologia tem por trás outra decorrência da evolução do pensamento epistemológico: a substituição da busca da verdade pela tentativa de aumentar o poder explicativo das teorias (LUNA, 2000, p.14, grifo no original).

Ao realizarmos uma pesquisa estamos também contribuindo para a construção de conhecimentos, todavia, ao escolher um tema é necessário questionar sobre sua relevância. Para Charlot (2006) a produção em ciências humanas carece de memória, uma vez que são feitas e refeitas continuamente teses e dissertações, sem que o pesquisador tome conhecimento das produções já existentes:

Que pesquisas já foram realizadas sobre os temas que estão na moda (os objetos sociomidiáticos), a partir de quais questões, com que dados e quais resultados? Quais foram as dissertações de mestrado e as teses de doutorado defendidas nos últimos anos, e que resultados foram estabelecidos? Que pesquisas estão atualmente em andamento, sobre que temas, onde? (CHARLOT, 2006, p.17).

Segundo Ferreira (2002), existe nos últimos quinze anos um número expressivo de pesquisas que são denominadas “estado da arte” ou “estado do conhecimento” e que são definidas de caráter bibliográfico. Tais pesquisas têm como objetivo mapear e discutir a produção acadêmica em distintos campos do conhecimento com pressuposto de tentar responder quais aspectos têm recebido atenção em diferentes lugares e tempos e, em quais condições estão sendo produzidas as dissertações de mestrado e teses de doutorado, bem como outras formas de publicações como periódicos e comunicações em anais. E que:

Sustentados e movidos pelo desafio de conhecer o já construído e produzido para depois buscar o que ainda não foi feito, de dedicar cada vez mais atenção a um número considerável de pesquisas realizadas de difícil acesso, de dar conta de determinado saber que se avoluma cada vez mais rapidamente e de divulgá-lo para a sociedade,

todos esses pesquisadores trazem em comum a opção metodológica, por se constituírem pesquisas de levantamento e de avaliação do conhecimento sobre determinado tema (FERREIRA, 2002, p.03).

Acreditamos que essa retomada e análise da pesquisa são relevantes já que no Brasil acabamos sofrendo consequências por conta de pesquisas que são refeitas, como explica Charlot (2005, p.17): “Nossa disciplina não tem uma memória suficiente, e isso freia o progresso da pesquisa em educação”.

Para uma proposição adequada de um problema de pesquisa, necessariamente demanda que o pesquisador analise o estado atual do conhecimento na área de interesse e se situe nesse processo: “[...] comparando e contrastando abordagens teórico-metodológicas utilizadas e avaliando o peso e a confiabilidade de resultados de pesquisa, de modo a identificar pontos de consenso, bem como controvérsias, regiões de sombra e lacunas que merecem ser esclarecidas” (ALVES, 1992, p. 54). Uma revisão crítica de teorias e pesquisas é essencial para a construção de novos conhecimentos:

A importância atribuída à revisão critica de teorias e pesquisas no processo de produção de novos conhecimentos não é apenas mais uma exigência formalista e burocrática da academia. É um aspecto essencial à construção do objeto de pesquisa e como tal deve ser tratado, se quisermos produzir conhecimentos capazes de contribuir para o desenvolvimento teórico-metodológico na área e para a mudança de práticas que já se evidenciaram inadequadas ao trato dos problemas com que se defronta a educação brasileira (ALVES, 1992, p.58).

A produção de conhecimento é, portanto, uma construção coletiva da comunidade científica, uma ação contínua de busca onde as novas pesquisas complementam ou contestam anteriores.

2.1 BREVE REFLEXÃO ACERCA DA TRAJETÓRIA DA