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O Estatuto da Cidade, Lei no 10.257/01, foi criado para regulamentar os artigos 182 e 183 da Política Urbana, da Constituição Federal de 1988. Esta lei, também veio regularizar a administração urbanística das cidades com a determinação da criação de plano diretor para as mesmas, desde que estas se enquadrassem em determinadas características descritas no artigo 41 do Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001). Segundo o artigo 40, § 3o do Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001), as cidades que possuem plano diretor implantado deverão fazer a revisão do mesmo, pelo menos, a cada dez anos. Dentro desta regra, enquadra-se o Município de Curitiba, o qual tinha como última atualização do seu Plano Diretor o ano de 2004 (Lei municipal no 11.266/2004).

Assim, fez-se oportuno a análise da nova Lei do Plano Diretor do Município de Curitiba (Lei Municipal no 14.771/15) e o tratamento que esta deu à função social da propriedade, na ótica do direito ambiental e do direito urbanístico contidos na mesma, dentro do espaço territorial municipal.

4.3.1 A Estrutura do Novo PDCC/2015 e sua Análise

O plano diretor foi elaborado para atingir a totalidade do município curitibano, completamente urbano, estabelecendo princípios, diretrizes e objetivos para a política de desenvolvimento urbano, política urbano-ambiental, política social e econômica e a gestão democrática da cidade (CURITIBA, 2015a).

O PDCC recebeu 137 emendas parlamentares aprovadas, mantendo a estrutura organizacional original do projeto de lei; porém, o projeto que continha 159

artigos originais, com as emendas, saltou para 194 artigos distribuídos em oito títulos (CURITIBA, 2015c): I) Da Revisão do Plano Diretor de Curitiba; II) Da Política de Desenvolvimento Urbano; III) Da Política Urbana; IV) Da Política Social e Econômica; V) Da Defesa Social; VI) Dos Instrumentos de Política Urbana; VII) Da Gestão Democrática da Cidade; e VIII) Das Disposições Finais e Transitórias

O PDCC/2015 traz importantes mudanças na administração da urbe, principalmente sob o ponto de vista social, com o título Da Política Social e Econômica. O PDCC/2015 em seu capítulo I, “do desenvolvimento social”, artigo 99, parágrafo único, se cumprido for, cumpre o fabuloso princípio de justiça social e, do equilíbrio da cidade, homem e meio ambiente, diz o artigo que o desenvolvimento social deve ser entendido como um “processo econômico, social, cultural, político e ambiental” (CURITIBA, 2015c).

Ainda, o artigo 99 do PDCC/2015, atesta que o desenvolvimento social deve ser “abrangente e sustentável”, visando sempre o bem-estar de toda a população do município, dando a esta a possibilidade de uma “participação ativa, livre e significativa no desenvolvimento e na distribuição justa dos benefícios deste resultante” (CAMARA MUNICIPAL DE CURITIBA, 2015).

Entretanto, pela proposta do presente trabalho, analisaram-se as principais características, inovadoras ou não, proporcionadas pelo paradigma do Direito Urbanístico, do Direito Ambiental, e da função social da propriedade constantes no novo PDCC/2015. Assim, os estudos, pesquisas e análises deste trabalho foram realizados sobre o projeto de lei aprovado pela casa legislativa municipal, encaminhado pela Prefeitura de Curitiba, sob a responsabilidade do IPPUC, em colaboração com toda a sociedade curitibana.

Tanto sobre o aspecto do direito urbanístico como no do direito ambiental, como filtro de análise do plano diretor, deve-se frisar que não se utilizou uma visão técnico-urbanista ou técnico-ambiental sobre o mesmo e, sim, uma visão legal objetiva (conjunto de leis) diretamente voltada à propriedade, ao social.

4.3.2 Dos Principais Aspectos ligados à propriedade na Revisão do PDCC/2015

Segundo o Instituto de Pesquisa e Planejamento de Curitiba (2014, p. 7), “a política de estruturação urbana orienta o desenvolvimento da cidade e define a distribuição espacial das atividades, o adensamento e a paisagem urbana” o que, de

forma direta, orienta toda a formulação e aplicação da lei do novo PDCC/2015. Sob o aspecto de uma verdadeira norma de política pública habitacional, a nova lei de urbanismo de Curitiba traz como diretrizes as seguintes linhas de ação (CURITIBA, 2015c, grifo nosso):

a) qualificação progressiva dos centros de bairros já consolidados que são referências para a comunidade local devido à infraestrutura, equipamentos públicos, atividades comerciais e sociais existentes;

b) aprimoramento da regularização e incorporação de assentamentos

de interesse social consolidados à estrutura urbana;

c) indução da ocupação das áreas não edificadas, subutilizadas ou não

utilizadas que já possuem infraestrutura urbana; e

d) fortalecimento de mecanismos para atender a maior demanda por equipamentos sociais.

Existe ainda a preocupação da integração do transporte urbano e do sistema viário com o uso e a ocupação do solo. Com isso, destaca-se a revisão do zoneamento da cidade ou do seu macrozoneamento, o qual, segundo o Instituto de Pesquisa e Planejamento de Curitiba (2014, p. 9), “delimita áreas diferenciadas de ocupação conforme a proposta de estruturação urbana da cidade e as características naturais de cada região”, o que deverá promover uma ordenação na ocupação do solo urbano e das edificações nele localizadas.

Neste sentido, o macrozoneamento estabelece uma norma referencial para o uso e a ocupação do solo urbano, respeitando as estratégias da política urbana municipal. O macrozoneamento, ainda, tem a capacidade de definir as funções da zona rural da cidade e da zona urbana da mesma, circunscrevendo o perímetro urbano, estabelecendo os limites de aplicação da política urbana (BRASIL, 2005).

Sobre a ocupação e uso do solo e a preocupação com a política pública de habitação municipal, o novo PDCC/2015 traz em seu corpo a definição de zonas residenciais, propostas de edificações e a forma de ocupação destas áreas, na perspectiva de ordenar o solo e o meio ambiente urbano.

Segundo o Instituto de Pesquisa e Planejamento de Curitiba (2014, p. 10), o novo PDCC/2015 teve a preocupação de utilizar o macrozoneamento existente da cidade, em suas áreas residenciais, para redefinir a capacidade de adensamento

das mesmas, classificando-as em “baixa, média e alta densidade, para orientar a implantação de infraestrutura de serviços e equipamentos urbanos,” distribuindo o regramento para a densidade ocupacional da cidade da seguinte forma:

a) Áreas de Ocupação Controlada nas regiões ao sul e norte de Curitiba – Umbará, Cachoeira e São João devido às características naturais e à ocupação tradicional. Nestes compartimentos será promovido o equilíbrio entre ocupação e preservação ambiental, intensificando a ocupação das áreas livres de cobertura vegetal de forma a preservar e valorizar as áreas verdes – integrando a nova ocupação ao sistema viário e transporte com a estruturação de vias existentes e definição de novas vias;

b) Áreas com Predominância Residencial de Média Densidade com uma paisagem representativa de habitação coletiva mesclada com usos comerciais e de serviços para atendimento da população ali residente, em função de sua proximidade aos eixos estruturais e benefício direto do sistema de transporte de alta capacidade;

c) Áreas com Predominância Residencial de Baixa Densidade; e

d) o Setor Histórico deixa de fazer parte da macrozona Áreas de Destinação Específica e passou a integrar a macrozona Áreas de Ocupação Mista, em função do caráter das atividades existentes e previstas para este setor.

Acentuando a ideia de que o plano diretor é um orientador de políticas públicas municipais, encontram-se nos planos setoriais e nos planos estratégicos do novo PDCC/2015, o marco deste entendimento, acentuando através do artigo 4o, § 3o, inciso I, alíneas a e b, e inciso II, alíneas b, c e f do plano diretor. O parcelamento do solo urbano, segundo a Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba – COMEC – (Secretaria do Desenvolvimento Urbano), é o desmembramento ou loteamento do solo urbano, sendo que os lotes surgentes, deverão respeitar as dimensões da lei de zoneamento do município ou do Estado (CURITIBA, 2015c).

Segundo Saule e Rolnik (2001, p. 19), “parcelamento ou edificação compulsórios são instrumentos urbanísticos” à disposição do poder público, principalmente municipal, “como forma de obrigar os proprietários de imóveis urbanos a utilizar socialmente esses imóveis, de acordo com o disciplinado no plano diretor do município”. Uma verdadeira política pública de atribuição de função social à propriedade. Na área do meio ambiente, o novo plano diretor traz em seu artigo 5o o Plano Municipal de Desenvolvimento Urbano Sustentável (PMDUS), que tem por objetivo nortear o desenvolvimento urbano visando uma sustentabilidade ambiental, social e econômica (CURITIBA, 2015c).

Novamente, reafirmando a qualidade do plano diretor em ser um orientador de políticas públicas municipais, a nova lei urbanística do Município de Curitiba, em seu artigo 7o, atribui ao planejamento municipal a função de articulação de políticas públicas com a finalidade de satisfazer a sociedade, promovendo “a gestão e o monitoramento do desenvolvimento urbano” e o seu constante aprimoramento (CURITIBA, 2015c).

4.4 ELEMENTOS DE ESTRUTURAÇÃO URBANA E FUNÇÃO SOCIAL DA