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A composição era ensinada a partir da invenção de um motivo (muitas vezes como estereótipo), passando pela estrutura global, até à execução e ornamentação (inventio, dispositio, elaboratio, decoratio), assim como pela divisão em secções ou frases (incisiones, periodi) e pelo uso de flores de retórica para determinadas representações (do texto), chamadas figuras (Michels, 2007, p. 305).

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O período da História da Música a que o autor se refere sobre o ensino da composição musical é naturalmente o Barroco, instruída através dos princípios retóricos levando a uma produção musical assente nestes mesmos. Como estes princípios retóricos foram basilares na composição do barroco musical e doravante na sua música, tudo levaria a crer que o ensino das Ciências Musicais na atualidade, lhe dedicasse um espaço na lecionação de acordo com essa importância. O preencher desta lacuna norteou a Prática Pedagógica com o objetivo de dar a conhecer os fundamentos/características da retórica musical. As turmas comtempladas para a aplicação deste projeto, como referido anteriormente, são Iniciação IV, 2º Grau/ 6º Ano e 5º Grau/ 9º Ano em Formação Musical e 11º Ano em História da Cultura e das Artes. Como as disciplinas são de natureza diferente e os alunos compreendem idades em fases de desenvolvimento diferentes o tema também foi abordado de forma bastante díspar.

Assim, em Formação Musical procurou-se conduzir a lecionação a partir de uma aprendizagem simultânea como referida por Paul Harris (Harris, 2006), ou seja, foi a partir de uma ou mais obras do repertório do período barroco que todas as atividades da sala de aula se desenvolveram, sempre de acordo com o nível de ensino da turma em questão. A Aprendizagem Simultânea, defendida por Paul Harris é uma filosofia que habilita os alunos a um entendimento musical completo, num percurso holístico e orgânico a partir de obras existentes, independentemente do seu género ou do período estilístico:

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Quanto a História da Cultura e das Artes, os conteúdos abordados foram os do próprio currículo, mas de uma perspetiva orientada através de uma análise retórica da música. A lecionação desenvolveu-se no período barroco, com exceção da última aula confinada na transição entre períodos e também no clássico. Foi também realçada a ponte existente com as disciplinas de Filosofia e Português, promovendo uma transdisciplinaridade sendo que a retórica faz parte dos currículos destas.

O projeto de Intervenção pedagógica foi acolhido pelos professores cooperantes da melhor forma já que acreditam que novas estratégias de ensino são sempre benéficas para os alunos. Foi sendo estabelecido, durante a fase de observação, a melhor altura para a fase de implementação do projeto de acordo com os conteúdos a abordar como também respeitando o plano anual do professor cooperante.

A observação das aulas iniciou-se no final de outubro de 2015 na turma do 6º Ano/ 2º Grau de Formação Musical e no 11º De História da Cultura e das Artes. A observação das turmas de Iniciação Musical IV e Formação Musical 9º Ano/ 5º Grau iniciou-se a meados do segundo período.

A informação mais relevante sobre os conhecimentos, aptidões e comportamentos da turma foram facultadas em conversas informais com os professores cooperantes, mas foi a fase de observação que trouxe um plano mais delimitado e direcionado para a lecionação e implementação do projeto nas duas disciplinas de acordo com as suas especificidades tanto ao nível de conteúdo a ser lecionado como também ao nível comportamental e recetivo.

Devido à diferença das duas disciplinas como também aos diferentes níveis de maturidade, os professores cooperantes diferiam na forma de trabalhar. Em Formação Musical o ensino centrou-se nos exercícios propostos pelo professor e em História da Cultura e das Artes numa exposição dialogante do professor com os alunos e posteriores reflexões dos alunos sobre o conhecimento adquirido.

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2.2.1 Formação Musical

6º Ano/ 2º Grau; Iniciação IV; 9º Ano/ 5º Grau

O processo de ensino desta disciplina divide-se em três grandes blocos quase sempre nesta ordem: 1) Imitação, leitura e identificação rítmica; 2) Leitura solfejada; e 3) Entoações. Nestes grandes blocos é inserido, quando necessário, o conteúdo teórico subjacente à parte prática desta disciplina. No bloco rítmico, o professor utiliza vários recursos para expor/ consolidar/ recapitular os conteúdos. Sendo assim e com este bloco ocorrendo de uma forma dinâmica, os alunos estavam motivados e atentos, o que se notou ao nível da aprendizagem/ sedimentação dos conteúdos, estando os alunos muito à vontade com as metas do programa. No bloco relativo à leitura solfejada, observou-se uma quebra na motivação dos alunos. Isto acontece, na nossa opinião, à própria essência do que é uma leitura solfejada, um conteúdo pouco motivador em que existe a dificuldade em encontrar materiais e formas de o expor apelativas para os alunos. No bloco relativo a entoações/ improvisações /ditados melódicos/ distinção auditiva de intervalos e acordes, as turmas estavam motivadas, fazendo corretamente, mas de forma pouco segura, principalmente as entoações. Os ditados melódicos com ou sem ritmo dado foram alcançados pela maior parte dos alunos de forma razoável. Estes três blocos supramencionados têm como recurso material uma sebenta realizada pelo professor cooperante, que foi entregue aos alunos no início do ano e contém quase tudo o que os alunos viriam a necessitar durante o ano letivo.

De uma forma geral, o ambiente na sala de aulas revelou-se saudável, propiciando a aprendizagem contrariado algumas vezes por dois alunos, por vezes três, que conversam bastante na sala de aula levando a que, o professor interrompa a aula para fazer chamadas de atenção mais vincadas, terminando-as.

2.2.2 História da Cultura e das Artes

A turma observada demonstrou uma grande união notando-se, por exemplo, no apoio aos colegas com maior dificuldade na aprendizagem. Da totalidade da turma destacam-se algumas alunas com uma capacidade de aprendizagem acima da média como também alguns alunos com maior dificuldade na aprendizagem, mas no grosso da turma salienta-se que existiu um à vontade na aprendizagem dos conteúdos da disciplina. A escolha da disposição física na sala de aula é feita pelos alunos e, estes fizeram

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normalmente a escolha a pares de alunos bons com alunos regulares, ajudando desta forma os colegas e demonstrando a referência anterior sobre a união da turma. A relação entre alunos e docente foi excelente, este ajudando-os nas mais variadas situações, de uma forma mais concisa na disciplina que leciona.

As aulas foram lecionadas de uma forma expositiva-dialogante. Assim, os conteúdos foram sendo expostos à turma, com muitas intervenções por parte dos alunos, pedidas pela professora ou surgindo da curiosidade natural dos alunos. Notou-se o esforço da professora cooperante na síntese e esquematização dos conteúdos pois estes são extensos para o número de aulas a lecionar e ainda com a incumbência de, devido ao atraso do começo do ano letivo de 2014/2015, ter lecionado os conteúdos da última fase do Renascimento (conteúdos do último período do 10º Ano) neste ano letivo (2015/2016) que ocuparam maior parte das aulas do 1º período.

De um modo geral as aulas observadas tinham o seguinte itinerário: elaboração do sumário com uma exposição breve dos conteúdos a serem abordados, recapitulação, com a ajuda voluntária ou solicitada dos alunos, das aulas anteriores de forma breve e esquemática, obrigando alguns alunos a reverem os apontamentos dessas mesmas aulas. Depois da recapitulação, a lecionação incidia nos conteúdos, numa exposição-dialogante, com uma utilização do quadro para esquematizar os conteúdos e para apontar os nomes dos intervenientes da História da Música e das suas obras. As aulas foram sempre pontuadas com audições/ visualizações de obras relevantes para a disciplina nomeadamente composições musicais/ tratados/ textos/ quadros pictóricos, entre outros, fazendo a ponte entre o tronco comum desta disciplina e o tronco específico do ensino especializado da música. As dúvidas suscitadas pelos alunos foram sendo dissipadas e se alguns demonstravam alguma dificuldade na compreensão dos conteúdos, não se avançava na exposição de nova matéria até a anterior estar assimilada e compreendida.

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