• Nenhum resultado encontrado

3.4 Métodos de Recolha de Dados

3.4.1 Observação não participante

A observação, como método de recolha de dados, permite captar os comportamentos dos sujeitos no momento em que ocorrem, contrariamente a outros métodos em que esses comportamentos são reconstituídos a partir de declarações – através de entrevistas ou questionários – ou vestígios deixados – documentos gerados ou encontrados (Quivy & Campenhout, 2005). A observação permite ao investigador recolher dados de uma forma espontânea e também uma maior autenticidade em comparação com os outros métodos Na realidade, a observação permite ao investigador aperceber-se de factos que, sendo familiares ou rotineiros

78

para os participantes, lhes passam despercebidos; contudo, tais factos podem ser importantes para a investigação (Merriam, 1998).

Existem vários graus de participação do investigador na observação que faz dos fenómenos a investigar (Lessard-Hébert, 1996). Neste estudo, a opção pela observação direta não participante deveu-se a não querer interferir nem com o decorrer da oficina de formação, nem com o decorrer das aulas das professoras selecionadas. Observei do exterior (Quivy & Campenhout, 2005) todas as sessões das duas turmas da oficina de formação e todas as aulas do tópico Triângulos e

Quadriláteros lecionadas pelas duas professoras selecionadas. Estas aulas que

observei foram gravadas em áudio e parcialmente transcritas para posterior análise de conteúdo. Foram também registadas notas de campo das observações realizadas, com a ajuda de um guião de observação de aula (ver Anexo 4). Foram objeto de registo aspetos como os tipos de tarefas que foram propostas aos alunos e seus objetivos, os vários momentos das aulas, o papel da professora, os recursos usados, etc.

3.4.2 Entrevistas

Numa investigação de cariz interpretativo é apropriada a opção pela entrevista como elemento de recolha de dados, pois permite ao investigador retirar informações e elementos de reflexão com profundidade, através do contacto direto investigador-interlocutor. As entrevistas permitem a recolha de dados nas palavras dos próprios participantes no estudo, pois possibilitam recolher elementos e interpretações do entrevistado face ao fenómeno em estudo, respeitando os seus quadros de referência. Este facto permite a compreensão do sujeito quanto ao modo como ele vê e perceciona o fenómeno, bem como quanto ao(s) significado(s) que ele lhe atribui (Merriam, 1998; Quivy & Campenhoudt, 2005).

Entrevistas semiestruturadas

As entrevistas podem variar bastante no seu grau de estruturação, desde uma ausência total de estrutura à existência de um guião rígido para a condução das

79

mesmas. Para este estudo, optei pela realização de entrevistas semiestruturadas (Merriam, 1998). Deste modo, foi possível colocar a todos os entrevistados um conjunto comum de questões não fechando a oportunidade a aspetos emergentes e não previstos, tais como algumas questões de esclarecimento e perguntas de follow-

up que eventualmente se mostrariam relevantes para os objetivos da investigação.

As entrevistas com as professoras foram gravadas em áudio e depois totalmente transcritas para posterior análise de conteúdo. Foram realizadas várias entrevistas. A primeira decorreu no final da oficina de formação, em julho de 2009 (no caso de Maria) e em outubro de 2009 (no caso de Catarina); durante o período de recolha de dados nas salas de aula das professoras selecionadas, entre janeiro e abril de 2010, foram realizadas várias entrevistas, após cada observação, para estimular a reflexão sobre as práticas; no final da lecionação do tópico Triângulos e

Quadriláteros, em maio de 2010, foi realizada a última entrevista.

A primeira e a última entrevistas tinham como objetivo captar as opiniões das professoras quanto a alguns assuntos pré-definidos (conceções sobre Geometria e importância da Resolução de Problemas; influência da oficina de formação nas conceções e práticas das professoras relativamente aos temas em análise; reflexão sobre a experiência de participação num estudo desta natureza). Estas duas entrevistas tiveram uma duração aproximada de 60 minutos.

As entrevistas intermédias realizaram-se no final de cada aula observada e variaram entre 8 e 10 em número. Tiveram menor duração do que a primeira e a última entrevistas, cerca de 10 minutos, uma vez que se realizaram durante os intervalos das aulas. Nestas entrevistas, pretendia que cada uma das professoras refletisse sobre as suas práticas, para entender o significado das opções que tomaram na aula que tinham acabado de lecionar, quer fossem protagonizadas pela professora, pelos alunos, ou por ambos. Cada uma das professoras foi estimulada a partilhar as suas opções (em termos de tarefas e metodologia), os seus dilemas e o modo como os ultrapassou.

Foi, portanto, necessário construir um guião que me orientasse durante cada uma das entrevistas que realizei. Foram elaborados três guiões: um para a primeira entrevista, outro para cada uma das entrevistas realizadas após cada aula observada, e um outro para a última entrevista. Os guiões de cada uma das três entrevistas foram comuns para as duas professoras e encontram-se, respetivamente, nos Anexos 1, 2 e 3.

80

Conversas informais

Eu não tinha qualquer conhecimento prévio de nenhum dos participantes neste estudo. Daí que houve, da minha parte, uma preocupação em estabelecer um clima mínimo de à-vontade logo na primeira fase do estudo, durante a realização da oficina de formação e, portanto, antes de selecionar as duas professoras que participaram neste estudo, incluindo as duas formadoras e a maioria dos formandos de cada uma das duas turmas da oficina de formação.

Após a oficina de formação e o início das aulas do ano letivo de 2009/10, foram estabelecidos alguns contactos entre mim e as duas professoras selecionadas. Estes contactos não foram presenciais; foram realizados dois contactos telefónicos e troca de correio eletrónico no sentido de, para além de manter o contacto com cada uma das professoras selecionadas, ir aferindo sobre a forma como estava a decorrer a implementação do PMEB.

Durante a segunda fase do estudo, em que observei aulas das duas professoras selecionadas, aconteceu, por diversas vezes, que, depois de desligar o gravador e estando já a despedir-nos, a conversa continuava. A proximidade foi entre mim e as professoras selecionadas foi fácil de conseguir e a conversa normalmente acabava porque havia outros compromissos a honrar (normalmente aulas, com outras turmas, por parte de cada uma das professoras participantes). Mas todas estas conversas (durante o percurso para a sala de aula, no final das entrevistas, ao telefone, etc.) foram também fontes de recolha de dados, embora o seu registo tenha sido muito limitado.