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CAPÍTULO III – PROPOSTA DE ABORDAGEM DIDÁTICA: CONCEÇÃO,

4.2 Recolha dos dados: procedimentos adotados

4.2.1 Observação

A observação é uma técnica de investigação qualitativa que tem como objetivo recolher dados sobre ações, opiniões, perspetivas ou comportamentos (Lessart-Hébert, Goyette & Boutin, 2008), sendo que é necessário que o observador tenha a capacidade de recolher os dados com imparcialidade, sem os influenciar com as suas opiniões e interpretações (Martins, 2006). De acordo com Máximo-Esteves (2008), através da observação é possível conhecer diretamente os acontecimentos que ocorrem num determinado contexto. Além disto, segundo a autora, é importante que a observação se foque nas questões de investigação definidas por forma a que esta não se disperse. Neste sentido, importa que o observador oriente os seus sentidos para selecionar, registar e codificar comportamentos com o intuito de recolher informações de interesse para a investigação (Fortin, 1999, citado em Vilelas, 2009).

Segundo autores como Rodríguez et al., (1999), referidos por Rodrigues (2011), e Vilelas (2009) este processo de observação envolve quatro elementos: (i) o observador, ou seja, aquele que observa no sentido de recolher informação; (ii) o objeto da informação, isto é, aquilo que se pretende observar para se obter informação; (iii) a perceção, ou seja, a observação em si mesma e (iv) a interpretação que o observador faz do observado.

Tendo em consideração a natureza do presente projeto de intervenção-investigação considerou-se pertinente recorrer à observação participante na medida em que esta possibilita ao investigador uma melhor e maior compreensão do estudo (Latorre, 2003).

Segundo Estrela (1990), Latorre (2003), Lessart-Hébert, Goyette e Boutin (2008) e Vilelas (2009) a observação participante é uma técnica de investigação adequada ao investigador na medida em que lhe permite compreender um determinado contexto e participar nas atividades do grupo em estudo.

No dizer Evertson e Green (1986), referenciados em Lessart-Hébert, Goyette e Boutin (2008), a observação participante pode ter duas vertentes, sendo uma mais ativa e outra mais passiva. Na sua vertente ativa o observador encontra-se envolvido nas situações e acontecimentos que surgem no contexto, sendo que o registo dos dados deve ser efetuado após o período de observação. Relativamente à vertente passiva da observação o

observador não se encontra envolvido nos acontecimentos do contexto mas assiste-os de fora, sendo que o registo dos dados pode ser efetuado no momento dos acontecimentos.

No presente projeto de intervenção-investigação recorreu-se à observação participante na sua vertente ativa dado que a investigadora se encontrou envolvida nas atividades do contexto. Neste sentido, a investigadora assumiu o papel de observadora participante executando a função de EEI em conjunto com a uma outra observadora, a colega de díade, que desempenhou o papel de EEC. O facto da observação ter sido realizada em conjunto possibilitou confrontar os dados após a sua recolha, completá-los e corrigir incorreções. De acordo com Vilelas (2009), sempre que possível “é conveniente efectuar as tarefas de observação em equipa, para ter uma maior visão do sucedido e para evitar os possíveis erros de percepção” (pp. 275-276) e garante mais validade e fiabilidade dos dados recolhidos (Rodrigues, 2011).

Segundo vários autores, Martins (2006), Rodríguez et al. (1999) e Vilelas (2009), citados por Rodrigues (2011), um bom observador deve ter em consideração alguns aspetos: (i) informar previamente os participantes e observar não colocando em risco a integridade do observado; (ii) focar-se nas questões e objetivos da investigação; (iii) ser bom ouvinte e flexível em situações novas que possam surgir; (iv) ser imparcial na recolha dos dados; (v) registar dados de forma discreta; (vi) ser organizado; (vii) conceber instrumentos de recolha de dados apropriados à natureza da investigação; e (viii) relacionar os dados com o enquadramento teórico.

Vilelas (2009) considera que a observação deve ser realizada tendo em conta várias fases, nomeadamente, identificar o que se vai observar, definir como registar os dados, observar com atenção, registar os dados observados e analisá-los e interpretá-los e, por fim, tirar conclusões.

Neste sentido, definiu-se o que observar, quem observar, como observar, quando observar, quando registar as observações e como analisar os dados recolhidos através da observação.

(I) Observar: quem, o quê e para quê

No presente projeto de intervenção-investigação pretendia-se recolher informação acerca do impacte da implementação da proposta didática sobre o voo nas aprendizagens das crianças, com idades compreendidas entre os dois e os seis anos, ao nível dos

conhecimentos, capacidades, atitudes e valores. Neste sentido, a observação focou-se nas interações e reações das crianças perante as atividades desenvolvidas.

Todas as sessões de implementação das atividades sobre o voo foram observadas. Nestas sessões participaram as crianças do jardim-de-infância, a EEI, a EEC e a educadora cooperante responsável pelo grupo de crianças.

(II) Observar: onde, quando e durante quanto tempo

Observaram-se as crianças do jardim-de-infância, designadamente, na sala onde se desenvolveram as sessões de implementação das atividades da proposta de abordagem didática sobre o voo.

Quanto à duração das observações efectuadas, considerou-se como período de observação as sessões de implementação das atividades, com a duração média de 2h cada. No total, realizaram-se 6h de observação. A duração total do tempo de observação foi de duas semanas de intervenção no contexto de jardim-de-infância.

(III) Observar: como e que instrumentos de recolha de dados

O facto de a EEI se encontrar envolvida na dinamização das sessões tornava difícil o registo de dados durante as próprias sessões. Neste sentido, considerou-se pertinente recorrer à videogravação das sessões por forma a registar dados e possibilitar o acesso a mais informação. Assim, o recurso a este instrumento possibilitou à EEI envolver-se mais nas atividades propostas.

De acordo com Pérez Serrano (2007), referido em Rodrigues (2011), a

videogravação é vantajosa uma vez não se perdem informações importantes, que sem a

sua utilização poderia acontecer e, além disto, pode ser visionado diversas vezes possibilitando o acesso a mais informação, imagem, movimento e som.

Para a utilização da videogravação das sessões foi necessário obter a autorização dos encarregados de educação das crianças, sendo que essa autorização foi concedida para todas elas. Assim, foram videogravadas todas as sessões o que possibilitou complementar os registos efetuados pela EEI e pela EEC que esteve presente em todas as sessões.

As videogravações foram visionadas primeiramente por forma a verificar se os registos vídeo das várias sessões estavam claros e percetíveis.

Em geral, os registos encontram-se claros e audíveis, no entanto, em alguns momentos em que as crianças se encontravam a dialogar em simultâneo não se torna percetível o que estão a dizer.

Todas as videogravações efetuadas foram resumidas, em formato escrito, contendo transcrições integrais de intervenções das crianças (cf. Anexo II). Estes resumos correspondem à fase onde é feito o levantamento das ideias prévias das crianças, bem como, à fase posterior à experimentação onde as crianças interpretam e analisam os dados. O facto de na fase de experimentação as crianças se encontrarem a dialogar umas com as outras em simultâneo não tornou possível a transcrição do que estavam a dizer, pelo que os resumos das videogravações correspondem apenas às fases antes e após a experimentação. Este processo foi bastante moroso uma vez que foi necessário visionar os registos áudio das sessões várias vezes.

As notas de campo foram outro instrumento utilizado na recolha de dados nas diferentes sessões desenvolvidas com as crianças. Estas são entendidas como registos descritivos, pormenorizados, precisos e reflexivos acerca do contexto, dos seus acontecimentos e intervenientes (Bogdan & Biklen, 1994; Latorre, 2003; Máximo-Esteves, 2008).

As notas de campo permitem ao investigador descrever de forma detalhada os acontecimentos ocorridos, a forma como estes aconteceram, incluir excertos de diálogos e, também, refletir acerca do que aconteceu. No dizer de Bogdan e Biklen (1994), as notas de campo são “o relato escrito daquilo que o investigador ouve, vê, experiencia e pensa” (p. 150) sobre o que ocorre à sua volta.

Durante a observação das sessões registaram-se pequenas notas (anotações condensadas) que, posteriormente, se expandiram e se tornaram mais detalhadas (Máximo- Esteves, 2008). Estes registos foram produzidos quer pela EEI, quer pela EEC com o intuito de serem revistos em conjunto para se completar os mesmos. Na totalidade foram elaboradas seis notas de campo que se encontram em anexo (cf. Anexo III).