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1.6 FACTORES ETIOLÓGICOS DA INCLUSÃO DO CANINO

1.6.2. FACTORES LOCAIS

1.6.2.9 OBSTÁCULOS MECÂNICOS

Fig. 1.52 — Condensação óssea como provável causa da inclusão do canino mandibular.

O obstáculo mecânico, qualquer que seja a sua natureza, determina uma compressão da expansão pulpar. A partir daqui uma série de fenómenos provocando uma hiperémia e um extravazamento sérico, levam em última análise ao aparecimento de pequenas zonas necróticas. Deste modo o fenómeno de expansão pulpar, que desempenha um papel muito importante na erupção dentária, perde-se, contribuindo para a diminui-

ção ou mesmo perda do potencial eruptivo do dente (2).

As condensações ósseas do tipo das enostoses, osteosclerose ou osteite condensante, ou mesmo tumorais como o osteoma, constituem obstáculos mecânicos à erupção do canino, impossíveis de vencer (fig. 1.52) (78>87-88).

Também as raízes ou coroas de dentes inclinados (seja por cáries ou extracção prematura de dentes temporários) ao localizarem- se no trajecto de erupção do canino, o podem obstruir (fig. 1.53).

A hiperplasia fibrosa da mucosa, provocada por cicatrizes pós- -traumáticas mais frequentes ao nível dos incisivos, por perda dos dentes temporários ou por incisões mucosas ao nível de dentes em fase de erupção, constitui um obstáculo difícil de vencer pelo dente, ao

Fig. 1.53 — Raiz de um dente temporário como obstáculo à erup- ção do canino.

Fig. 1.54 — Persistência do canino tem porário (6.3).

se encontram aderidas ao processo alveolar em situação que impede a erupção do dente subjacente, podem provocar a inclusão do canino (2>25>89.94).

O próprio canino temporário pode constituir um obstáculo mecânico à erupção do canino definiti-

vo (fig. 1.54) (l00). A sua persistência para além da

época normal de exfoliação, pode ser consequência de um atraso ou ausência da rizálise, ou mesmo de uma anquilose.

As causas do atraso da rizálise do dente tempo- rário podem ser de ordem geral ou local. As causas gerais correspondem aquelas que provocam o atraso da erupção do dente definitivo que anteriormente referimos.

Quanto às causas locais pode referir-se a necrose pulpar, pois mesmo que a rizálise se pudesse realizar normalmente ela seria concerteza complicada pela infecção apical. Enquanto alguns autores, referem que a cárie e a inflamação pulpar aceleram a reabsorção radicular do dente temporário, outros defendem que um dente temporário com necrose séptica da polpa, apresenta uma reabsorção radicular irregular e pouco significativa (2).

A presença de um quisto radicular num dente temporário pode impedir a erupção do canino subjacente (fig. 1.55).

Também um canino definitivo retido pode ori- ginar um quisto, que ao obstruir ou desviar o trajecto normal de erupção do dente, leva à sua inclusão (figs. 1.56 e 1.57). Pela importância clínica e cirúrgica das lesões quísticas, que podem ser causa e complicação do canino incluso, este assunto irá ser abordado com mais pormenor, neste trabalho.

Fig. 1.55 — Quisto radicular de dente temporário (5.3).

Fig. 1.56 direito.

Quisto do canino maxilar

Fig.l.57(a,b,c,d,e,f) — Inclusão do canino maxilar esquerdo pro- vocada pela presença de um quisto.

Despertam-nos particular interesse os odontomas e os dentes supranumerários que, sendo obstáculos mecânicos à erupção do canino com características especiais, integraram o nosso estudo.

1.6.2.9.1 Odontoma

Os odontomas são os tumores odontogénicos benignos mais frequentes dos maxilares. Formam-se directamente a partir da lâmina dentária ou dos remanescentes de um folículo normal. Estes restos segregam esmalte normal formando-se dentículos de pequeno tamanho e unirradiculares cujo desenvolvimento é paralelo ao da dentição normal.

A sua localização é predominantemente maxilar, na região incisivo-canina (78%) e interferem muitas vezes na erupção dentária, desviando ou impedindo a erupção dos dentes

normais (21(B). Radiograficamente, apresentam-se como múltiplos dentículos de tamanho

variável rodeados por um fino espaço radiotransparente, que não são mais do que estruturas pseudodentárias formadas por um núcleo de tecido pulpar, que está rodeado por dentina e mais

Fig. 1.58 (a, b, c) — Os odontomas interferem muitas vezes nas erupção dentária, nomeadamente do canino.

Morning(104) realizou um estudo retrospectivo sobre a erupção de dentes inclusos após

tratamento cirúrgico do odontoma. Dos 218 casos de odontomas operados no "Department of Oral Surgery, Royal Dental College" num período de 22 anos (1952-1974), 49 estavam em relação directa com um dente incluso e foram considerados a causa da inclusão. Só para 42 casos existiam dados suficientes para a investigação. Dos 42 dentes inclusos, 26(62%) apresentavam morfologia normal, quando existiam alterações ocorriam preferencialmente nas raízes (11 dos 13 dentes com alteração morfológica). Os resultados mostraram que 75% dos casos encontrados de dentes inclusos, em relação com odontomas, erupcionaram após a remoção do odontoma.

1.6.2.9.2 Dentes supranumerários

Dente supranumerário é uma estrutura dentária individualizada, erupcionada ou não, em adição ao número de dentes normal, que pode ocorrer no maxilar ou na mandíbula, sendo mais frequente no primeiro, principalmente na pré-maxila. Podem apresentar uma morfologia bizarra, ou assemelharem-se à anatomia do dente normal, que duplicam, sendo muitas vezes difícil distingui-los. A sua ocorrência é menos vulgar na dentição temporária e quando

aparecem têm uma forma quase sempre regular e complementar <63MI05>.

Normalmente os dentes supranumerários são assintomáticos e o seu diagnóstico só é efectuado, quando aparecem na cavidade oral, ou por exame radiográfico acidental (achado radiográfico), ou intencional.

Fig. 1.59 — A inclusão do canino maxilar direito pode ser provocada indirecta- mente pela presença dum dente supranumerário entre o incisivo central e o incisivo lateral com consequente diastema.

As principais complicações que causam são: desvio ou obstáculo da erupção dos dentes adjacentes nomeadamente do canino, desvio da linha média, diastemas, (fig. 1.59)

falta de espaço, e alterações do de- senvolvimento do arco alveolar e even- tualmente reabsor- ções dos dentes vizi- nhos (2-106>.

Geralmente os dentes supranume- rários no maxilar, são cirurgicamente re- movidos por causa- rem a retenção de den- tes definitivos na re- gião, mas também po- dem não causar alte- rações na erupção, na posição e na integri- dade da dentição de- finitiva. Nestas situ- ações podemos não intervir cirurgica-

mente mas devemos efectuar um controlo radiográfico periódico (figs. 1.60 e 1.61)(107).

Fig. 1.60 — Dente supranumerário situado no trajecto de erupção do canino maxilar direito poderá conduzir à sua inclusão.

Fig. 1.61 — Dente su- pranumerário associado à inclusão do canino maxilar direito.