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3. REVISÃO DA LITERATURA

3.2. Ocorrência e rota no ambiente

A ocorrência de fármacos e seus metabólitos no ambiente têm aumentado nos últimos anos, devido ao uso intensivo de produtos farmacêuticos tanto em seres humanos como em outros animais, a fim de diminuir a incidência de doenças e combater infecções, tornando-se uma preocupação de âmbito mundial (VAN DOORSLAER et al. 2014b; GAO et al. 2012; KÜMMERER, 2009c; ANDREOZZI et al. 2003).

A preocupação deve-se a presença da atividade antimicrobiana nas frações excretadas e/ou não metabolizadas de antimicrobianos administrados para fins terapêuticos (STURINI et al. 2012a; KÜMMERER , HENNINGER, 2003), o que poderia aumentar a resistência dos microganismos expostos a estes agentes quimioterapêuticos, representando um

reservatório potencial de resistência antimicrobiana (ADACHI et al. 2013;

VAN DER GRITEN et al. 2010; KEMPER, 2008; MITANI , KATAOKA, 2006).

Os microrganismos resistentes, principalmente as bactérias, podem ser transferidos aos

seres humanos e animais via ingestão de água ou alimentos contaminados

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depende diretamente da substância, da quantidade administrada, do tipo de aplicação, do metabolismo do animal a ser tratado e do tempo após administração.

Parte do fármaco ou alguns de seus metabólitos são excretados principalmente via urina (90% da fração excretada), devido à solubilidade da maioria dos fármacos em água e o restante em fezes (KEMPER, 2008). Fármacos utilizados em humanos, depois de excretados, são carreados ao sistema de esgoto (KÜMMERER, 2009a) até as ETE.

Nas ETE que utilizam tecnologias de tratamento biológicos e físico-químicos convencionais, ocorre somente remoção parcial dos compostos emergentes, não apresentando eficaz remoção e degradação (VAN DOORSLAER et al. 2014b; AN et al. 2010a; KÜMMERER, 2009a).

Os fármacos não removidos durante o tratamento são eliminados no efluente tratado e despejado nos mananciais em quantidades residuais. Mesmo em baixas concentrações podem atingir as águas superficiais e subterrâneas, podendo também ficar adsorvidos em solos, sedimentos, e em lodos de ETE (CARBALLA et al. 2005; ANDREOZZI et al. 2003).

Por esse motivo, as ETE são consideradas a principal rota de introdução dos fármacos utilizados na medicina humana no ambiente (GAO et al. 2012; ANDREOZZI et al. 2003) e a administração humana como principal origem da presença de fármacos excretados (KEMPER, 2008).

Há também outras rotas de introdução de fármacos no ambiente, como o descarte de efluentes hospitalares e resíduos e efluentes de indústrias farmacêuticas sem devido tratamento. Áreas de criação de animais de grande porte, em que se utilizam altas concentrações de fármacos, também são consideradas fontes de introdução dos mesmos no ambiente. Os estercos destes animais, que são utilizados como fertilizantes, podem contaminar o solo, serem lixiviados para as águas superficiais, serem absorvidos por plantas ou microrganismos expostos no ambiente, atingindo a cadeia alimentar (FRADE et al. 2014; RIVERA-UTRILLA et al. 2013; BIŃ , SOBERA-MADEJ, 2012; HAQUE , MUNNER, 2007).

As principais rotas de introdução dos fármacos no ambiente podem ser observadas na Figura 1.

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Figura 1. Rota dos fármacos no ambiente.

Fonte: Adaptado de: BILA , DEZOTTI, 2003; HOMEM , SANTOS, 2011; RODRIGUES-SILVA et al. 2014.

Uma forma de minimizar a introdução de compostos emergentes no ambiente é adotar tecnologias capazes de desativá-los bioquimicamente nas estações de tratamento de água e esgoto, como os POA.

Esses processos são baseados na combinação de processos físicos e químicos gerando radicais hidroxila, altamente reativos e não seletivos, capazes de degradar e mineralizar compostos complexos e recalcitrantes, devido ao seu alto potencial de redução (E = 2,80 V) (GUIMARÃES, 2013; HUANG et al. 1993). Assim, de acordo com Bobu et al. (2013), os riscos toxicológicos causados pela presença desses contaminantes no ambiente poderia diminuir devido a mineralização completa do contaminante.

Outras formas para minimizar a disseminação dos compostos é o estabelecimento de legislações ambientais mais rígidas, com limites máximos em todas matrizes (água, solo e alimentos), e monitorar os níveis de concentrações dos fármacos de uso humano e veterinário e seus metabólitos no ambiente, e também, avaliar a atividade antimicrobiana destes compostos químicos.

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A Agência Europeia de Medicamentos (European Medicines Agency - EMEA, 2008) estabeleceu alguns valores para resíduos veterinários em diferentes matrizes e também em alimentos de origem animal (EC, 1999a;b).

No Brasil, de acordo com o CONAMA 358 (2005), resíduos antimicrobianos podem ser lançados no corpo receptor ou na rede pública de esgoto, desde que atenda as diretrizes estabelecidas pelos órgãos ambientais. Porém, não há limites máximos de concentração para fármacos tanto em água, alimentos ou solos.

Quanto aos padrões de potabilidade da água destinada ao consumo humano, Umbuzeiro (2012) afirma que para garantir a proteção da saúde da população, tem-se que fazer uma análise abrangente do processo de regulamentação de substâncias químicas na água de consumo, o que implica em dificuldades analíticas, tecnológicas e econômicas. Esse processo é complexo, interdisciplinar e está em constante construção. Porém, no Brasil observa-se uma carência muito grande de dados de ocorrência de substâncias químicas nos mananciais, o que dificultaria na realização de uma regulamentação com limites máximos de concentrações de contaminantes emergentes em águas de consumo humano.

Conforme Lei 9782 (1999), cabe a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) normatizar, controlar e fiscalizar produtos, substâncias e serviços de interesse para a saúde, e também, estabelecer normas e padrões sobre limites destes contaminantes. Dessa forma, foram criados o PNCR (Plano Nacional de Controle de Resíduos em Produtos de Origem Animal, para carnes, mel, leite e pescado) e o PAMVet (Programas de Análise de Resíduos de Medicamentos Veterinários em Alimentos Expostos ao Consumo), a fim de controlar os resíduos de medicamentos veterinários em alimentos (BRASIL, 1999; 2009). Contudo, nem todos os fármacos foram avaliados e faltam legislações referentes a determinar os limites máximos de fármacos em todas matrizes.

Em relação aos limites máximos de alguns resíduos em medicamentos veterinários em alimentos de origem animal, há também a Resolução Mercosul nº 54 de 2000 ou Codex Alimetarius Commission (2012), a lista do Health Canada (2013), o guia de limites máximos de fármacos veterinários em alimentos de origem animal na China (KFDA, 2012), o Regulamento 1.4.2 (Austrália, 2014) e o Regulamento 2377/1990 da Comissão Europeia que também

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estabelece planos de alerta e controle de fármacos e alguns de seus resíduos potencialmente tóxicos aos consumidores e aos animais (EC, 1999b).

Nos Estados Unidos, também há limites máximos de concentração de alguns fármacos veterinários em alimentos de origem animal, estabelecido pelo Food and Drug Administration (FDA, 2006); porém, ainda faltam legislações quanto ao estabelecimento máximo de limites de resíduos de fármacos veterinários em outras matrizes (água, solo, alimentos), sendo a organização responsável para o estabelecimento destes valores o próprio FDA (UNION OF CONCERNED SCIENTISTS, 2001).

Portanto, como não há legislação nos países que determine concentrações máximas de todos os fármacos e seus metabólitos em matrizes aquosas, solos e alimentos, a ocorrência destes contaminantes emergentes no ambiente tem aumentado, já que seu descarte é feito sem preocupação.

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