• Nenhum resultado encontrado

3 POLÍTICAS PARA A GESTÃO DA ESCOLA PÚBLICA BRASILEIRA E O

3.1 M ODELOS D E G ESTÃO E SCOLAR

Sabemos que o processo de estruturação da gestão escolar caminha junto com o próprio desenvolvimento do capitalismo. Assim, não é possível analisar a educação sem relacioná-la às mudanças da base produtiva e às exigências de reorganização do capital. Para entendermos o processo de gestão das escolas, é imprescindível relacionar os condicionantes econômicos e políticos pelos quais passa a sociedade brasileira.

Paro (1987, p. 21) define o termo administração, para ele, de caráter universal, como "a utilização racional de recursos para a realização de fins determinados”. De forma política mais ampliada, entende-se por “gestão da educação o processo político- administrativo contextualizado, por meio do qual a

prática social da educação é organizada, orientada e viabilizada” (BORDIGNON; GRACINDO, 2000, p. 147).

Na literatura, encontramos os termos administração escolar e gestão escolar ora como sinônimos, ora como termos distintos, mas, nesta pesquisa, optamos por não fazer distinção entre essas terminologias, utilizando-as como sinônimos. Podemos dizer que os escritos referentes à administração escolar são organizados, mais sistematicamente, a partir da década de 1930, pois as publicações que existiam até a Primeira República consistiam em “memórias, relatórios e descrições de caráter subjetivo, normativo, assistemático e legalista” (SANDER, 2007, p. 21). O não favorecimento de uma produção teórica em relação à administração educacional, neste contexto, deve-se à ausência de um sistema de ensino para a população. Foi somente a partir de 1930 que se delinearam os primeiros contornos teóricos do campo da administração escolar compatíveis com o desenvolvimento industrial do país, naquele período (SANDER, 2007).

No Brasil, começou-se a falar em administração educacional e em sua valorização para melhor eficiência do sistema educacional com a criação do INEP (Instituto Nacional de Pedagogia10), em 1937, e da Comissão Nacional do

Ensino Primário, em 1938, no período do Governo Getúlio Vargas11, e com a

introdução, na mesma época, por Anísio Teixeira, da disciplina administração escolar no curso pedagógico do Instituto de Educação do Rio de Janeiro. Pôde-se, portanto, começar a falar em aspectos formais da administração educacional e de sua valorização como meio para o aprimoramento do sistema educacional (ROSAR, 1984).

As décadas de 1950 e 1960 foram marcadas pela expansão da industrialização do país e, com ela, o desenvolvimento de teorias administrativas e econômicas. Além disso, neste período, instituições importantes foram criadas como a Fundação Getúlio Vargas e a Escola Brasileira de Administração Pública, disseminando teorias administrativas de chefia e supervisão que foram implantadas no contexto escolar.

10 Criado em 15/01/1937, na gestão de Gustavo Capanema no Ministério da Educação e Saúde, com o nome de Instituto Nacional de Pedagogia, pela Lei nº 378, destinava-se a realizar pesquisas sobre os problemas de ensino, nos seus diferentes aspectos, atribuição até então do Departamento Nacional de Educação.

Com a adoção de medidas radicais, o golpe militar de 1964 trouxe relevantes características que refletem até hoje no cenário brasileiro, como: a internacionalização da economia e a burocratização dos setores públicos; a implementação da profissão de administrador; promulgação das leis nº 5.540/68 e 5.692/72, que dizem respeito à reforma universitária e ao ensino de 1º e 2º graus. Estas legislações objetivaram tornar o sistema escolar mais racional e a escola mais produtiva, adotando critérios burocráticos e técnicas de planejamento e de avaliação da produção do conhecimento. Neste contexto, generaliza-se, dentro da própria escola, o sistema de divisão capitalista do trabalho (ROSAR, 1984).

No Brasil, podemos dizer que três modelos de gestão escolar se destacaram, a saber: a gestão burocrática, a gestão democrática e a gestão gerencial que se delinearam no desenvolvimento histórico da sociedade de classes, alguns ficando mais evidentes que outros, em determinados momentos.

O padrão de gestão pública burocrático predominou no Brasil durante a ditadura militar (1964-1985). Neste mesmo período, ganhou força o tecnicismo, tendência pedagógica inspirada no ideário norte-americano. Com a justificativa de inserção do Brasil no sistema capitalista internacional, foi necessário tratar a escolarização como forma de aumentar o capital humano12, para possibilitar

o crescimento econômico. Assim, ficou evidente no contexto escolar a necessidade de economia de tempo, esforços e custos.

Muitos professores faziam cursos nos Estados Unidos da América (EUA) e voltavam para o Brasil com o objetivo de difundir técnicas que visavam a controlar e potencializar a força de trabalho. Neste período, intensificou-se a burocratização do ensino. Como exemplo prático, no cotidiano escolar, podemos citar a exigência de preenchimento de papéis e relatórios para controle de atividades, a atribuição do professor como um técnico, executor de tarefas organizadas por um setor que planeja suas ações, a intermediação de recursos tecnológicos para a transmissão de conhecimento técnico e objetivo e outros.

12 A Teoria do Capital Humano (TCH) se afirma na literatura econômica na década de 1950, e, mais tarde, nas décadas de 1960 e 1970 no campo educacional. Parte da concepção de que o trabalho humano, quando qualificado por meio da educação, era um dos mais importantes meios para a ampliação da produtividade econômica, e, portanto, das taxas de lucro do capital. A TCH gerou toda uma concepção tecnicista sobre o ensino e sobre a organização da educação, o que acabou por mistificar seus reais objetivos. Sob a predominância desta visão tecnicista, passou-se a disseminar a ideia de que a educação é o pressuposto do desenvolvimento econômico, bem como do desenvolvimento do indivíduo, que, ao educar-se, estaria

Pautada nos estudos da administração científica de Taylor, a gestão da escola se dá a partir da divisão técnica do trabalho. No contexto da escola, a direção e supervisão organizam o processo produtivo com o objetivo de garantir os resultados otimizados da força de trabalho.