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A OFERTA DAS TRÊS EDIÇÕES DO CURSO: ASPECTOS GERAIS

3. O CURSO METODOLOGIAS PARA A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO ONLINE: EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO DOCENTE CONTINUADA EM REDE DE

3.4. A OFERTA DAS TRÊS EDIÇÕES DO CURSO: ASPECTOS GERAIS

A rede de professores se propôs a discutir amplamente entre os pares que aspectos seriam fundamentais para a concepção do currículo do curso e identificou três aspectos para a escolha dos temas e dos recursos metodológicos, a saber: 1. que os temas desenvolvidos pudessem atender às demandas de formação para educação online entre os países envolvidos e; 2. espaço para experiência de construção colaborativa de construção de novos conhecimentos para o grupo 3. a necessidade de que os professores-alunos pudessem fazer uma experiência de imersão nos temas com a utilização de recursos e uso de ferramentas que lhes propiciasse vivenciar o cotidiano de um aluno online, passando pelas atividades e conhecendo o ambiente virtual como aluno.

Após a avaliação da experiência do projeto piloto, a experiência foi considerada exitosa, contudo identificou-se aspectos a serem revistos na estrutura do curso para um melhor desempenho da proposta. A partir daí o curso é concebido como um recurso vivo e, portanto, se transforma a cada nova edição, de acordo com as necessidades e novos conhecimentos apreendidos pelo grupo, seja pela experiência de debate no processo de formação, seja pela experiência dos professores estudantes que oferecem novas demandas e desafios para o curso de formação permanente de professores online.

O quadro a seguir apresenta uma síntese dos aspectos gerais observados na preparação e implementação do curso em suas três edições:

Quadro 2. Oferta dos Cursos em cada edição com atualização permanente Projeto Piloto (2016) 2a edição revisada (2017) 3a edição revisada (2018)

Preparação e concepção do curso: Videoconferências, num total de 5 para definição da estrutura, dos temas, calendário e organização geral.

Preparação e concepção do curso:

Videoconferências, num total de 5 para revisão definição da estrutura, revisão dos módulos, calendário e organização geral. Nesta edição houve uma planificação geral da programação e dos conteúdos a serem trabalhados de forma mais sistemática.

O material foi traduzido em português e espanhol.

Preparação e concepção do curso:

Videoconferências mensais, num total de 5 para revisão definição da estrutura, revisão dos módulos, calendário organização geral.

Nesta edição a planificação geral foi revisada, ampliada e incluídos aspectos com intencionalidade pedagógica para uso dos recursos. O plano geral foi traduzido em português e espanhol.

Foi organizado material de apoio como tutoriais para alunos (sobre a organização do curso e sobre o uso da plataforma).

Foram realizados encontros

online e compartilhados materiais para o grupo formador em função da atualização da plataforma e da necessidade de se apropriar dos novos recursos da plataforma virtual.

Grupo formador: Quatro universidades dos seguintes países: Brasil, Espanha, México e Portugal.

Grupo formador: Cinco universidades dos seguintes países: Argentina, Brasil, Espanha, México.

Na edição piloto a universidade Portuguesa não ofereceu o módulo e foi substituída por

Grupo formador:

Cinco universidades dos seguintes países: Argentina, Brasil, Espanha, México. Nesta edição houve a troca de uma universidade no módulo 4.

uma nova instituição (Argentina) que assumiu um novo tema.

Outra universidade Argentina participou das discussões, sem

apresentar um módulo

específico, mas sim com alunos.

Assumiu uma universidade Argentina.

Uma universidade do México participou das discussões, sem

apresentar um módulo

específico, mas sim com alunos. Universidades participantes do

curso (com alunos):

Quatro universidades dos seguintes países: Brasil, Colômbia, Espanha, México.

A universidade Portuguesa não ofereceu e não participou do curso.

Participantes: 31

Universidades participantes do curso (com alunos):

Sete universidades dos seguintes países: Argentina, Brasil, Colômbia, Espanha, México,e Peru.

Participaram mais 2 universidades da Argentina. Participantes: 34

Universidades participantes do curso (com alunos):

Cinco universidades dos seguintes países: Argentina, Brasil, Espanha e México.

Participaram 2 universidades do México, sendo que 1 delas pela primeira vez.

Participantes: 36

Realização do Curso: 01 a 28 de junho de 2016 (4 semanas) Módulos: 4

Carga horária: 20h

Realização do curso: 22 de maio a 16 de junho de 2017 (4 semanas)

Módulos: 4 Carga horária: 20h

Realização do curso: 23 de abril a 18 de junho de 2018 (8 semanas)

Módulos: 4 Carga horária: 40h

Houve revisão da metodologia e o grupo identificou a necessidade de ampliar o tempo de curso, a partir da experiência de 2017.

Fonte: Elaborado pela autora.

Ao longo das três edições mantidos os pressupostos sobre a experiência de imersão e de participação colaborativa do grupo – agora ampliado – e aspectos metodológicos sobre a quantidade de videoconferências e atividades, bem como a oferta em mais de um idioma e o uso do ambiente virtual de aprendizagem.

Quadro 3. Visão geral da estrutura e recursos do curso

Idiomas: português, espanhol e inglês.

Os alunos podem se comunicar no idioma que lhe for mais confortável. Os materiais estão disponíveis essencialmente em português e espanhol (em sua maioria), mas também são oferecidas leituras em inglês.

Ambiente virtual do curso Metodologias para qualidade da educação online

Plataforma Blackboard OBS (campus virtual). Certificação: OBS e parceiros

Metodologia: experiência de imersão por meio de atividades síncrona e assíncronas, videoconferências, uso de ferramentas

online e leituras.

Fonte: Elaborado pela autora.

Consideramos relevante apresentar esse panorama geral sobre a concepção do curso, bem como alguns aspectos para uma primeira visualização das edições do curso, de forma a evidenciarmos o processo de desenvolvimento e consolidação da proposta. Contudo, esta pesquisa não tem por objetivo fazer um estudo comparativo sobre o curso, mas sim, apresentar uma análise qualitativa sobre a experiência de formação de professores em rede de colaboração internacional, enquanto iniciativa condizente com as demandas da sociedade da conexão em contextos virtuais.

Tomamos como fontes documentais os quatro ambientes virtuais de aprendizagem utilizados pelo grupo formador ou rede de colaboração de professores disponível no campus virtual universitário da OBS Business School,8 que abriga a experiência do curso de formação de professores online desde o seu início e a rede de colaboração de professores desde seu início em 2015.

Figura 1. Página inicial do campus virtual

Fonte: OBS Business School.

Para o desenvolvimento das atividades da rede de colaboração foram criados quatro ambientes virtuais, a saber: International Seminar on Online Higher Education in Management

(desde 2015), Formacion de professores (2016), Metodologías para la calidad de la educación en línea (2017) e Metodologías para la calidad de la educación en línea (edición 2018).

O primeiro ambiente é destinado ao uso dos professores que participam da rede colaboração, que conta com 4 projetos ativos. Neste ambiente encontram-se materiais de recursos de áudio, videoconferências, registros de atividades e resultados do grupo que serão utilizadas como nossas fontes de análise.

Figura 2. Ambiente virtual destinado aos professores da Rede de Colaboração

Fonte: Campus virtual OBS Business School (http://campus.obs-edu.com)

O segundo ambiente que será utilizado como fonte nesta pesquisa foi criado para uso exclusivo dos professores da rede ou grupo de trabalho de formação de professores. A exemplo do ambiente anterior, neste ambiente contaremos com fontes a partir de videoconferências gravadas das reuniões do grupo, materiais compartilhados para a criação do curso metodologias para a qualidade da educação online, registros e materiais criados de forma coletiva.

Figura 3. Ambiente virtual destinado aos professores da Rede Formação de Professores

Fonte: Campus virtual OBS Business School (http://campus.obs-edu.com)

O terceiro e quarto ambientes virtuais apresentam as edições dos cursos de 2017 e 2018 e estas fontes nos oferecem toda a configuração do curso, a participação dos alunos, o material didático, os registros em fóruns e atividades, que serão utilizados para compor o cenário dessa experiência de formação de professores. Nossa análise será baseada na metodologia presente nos materiais e atividades propostas, mas essencialmente nos debruçaremos sobre os registros escritos dos alunos, sejam nos fóruns, comunicações ou relatos de experiências.

Figura 4. Ambientes virtuais das edições 2017 e 2018 do curso Metodologias para a Qualidade da Educação online

Fonte: Campus virtual OBS Business School (http://campus.obs-edu.com)

A seleção dos materiais foi feita a partir dos documentos e recursos disponíveis nos ambientes e nos permitiu analisarmos a construção coletiva do curso e a formação continuada de professores online partir do próprio lugar da experiência. Desta forma, é possível apreender, a partir de que lugar se faz a análise, sendo necessário que levemos em conta que não será possível abordar todos os aspectos deste acontecimento, mas, nos dará elementos importantes de análise, de forma que possamos estabelecer conexões sobre como aconteceram as relações em rede.

[…] a etnografia contribui para a compreensão do papel e a complexidade da comunicação mediada por computador e das TICs. Segundo a autora [Hine, 2000] a etnografia virtual se dá no/de através do online e nunca está desvinculada ao off-line, acontecendo através da imersão e engajamento intermitente do pesquisador com o próprio meio. A narrativa acontece a

posteriori dos fatos, o que proporciona densas descrições […] (FRAGOSO;

RECUERO; AMARAL, 2011, p. 173).

A análise destas fontes foi realizada também a partir da ótica da história cultural e das representações abordas por Roger Chartier (1990), que nos permitiu a apreensão e identificação de uma determinada realidade cultural, neste caso, imersa em um contexto virtual, considerando a necessidade de valer-nos de novos instrumentos para auxiliar na leitura desta nova realidade,

líquida, fluida, que se transforma rapidamente, para que a experiência possa ter um significado atribuído.

Variáveis consoante as classes sociais ou os meios intelectuais, são produzidas pelas disposições estáveis e partilhadas, próprias do grupo. São estes esquemas intelectuais incorporados que criam as figuras graças às quais o presente pode adquirir sentido, o outro tornar-se inteligível e o espaço ser decifrado (CHARTIER, 1990, p. 17).

As representações, como instrumento de análise, têm sido utilizadas para possibilitar análises mais personalizadas, que permitam um olhar menos generalista e mais próprio do objeto que está sendo observado, de forma que a compreensão do mundo possa ser feita a partir das relações estabelecidas pela interpretação:

As representações do mundo social assim construídas embora aspirem à universalidade de um diagnóstico fundado na razão, são sempre determinadas pelos interesses do trupo que o forjam. Daí, para cada caso, o necessário relacionamento dos discursos proferidos com a posição de quem os utiliza (CHARTIER, 1990, p. 17).

Vale destacar, que a posição da pesquisadora também é de sujeito na experiência relatada estará presente nesta análise, buscando identificar se os interesses e objetivos da rede de formação de professores de construção colaborativa de saberes por meio de um curso de formação continuada online, se apresenta como uma experiência que propicia condições para o desenvolvimento de “práxis REconectiva docente”, salientada em nosso referencial teórico, ou seja, se este modelo de formação docente colaborativo internacional e online é condizente com as necessidades contemporâneas de formação continuada.

As percepções do social não são de forma alguma discursos neutros, produzem estratégias e práticas (sociais, escolares, políticas) que tendem a impor uma autoridade à custa de outros, por elas menosprezados, a legitimar um projeto reformador ou a justificar, para os próprios indivíduos as suas escolhas e condutas (CHARTIER, 1990, p. 17).

Para aprofundarmos nossa análise dos ambientes virtuais de aprendizagem e de toda a fonte documental disponível, nos valemos de algumas categorias operatórias, buscando apreender aspectos relacionados a práxis REconectiva docente e a experiência de imersão da rede de colaboração de professores no projeto de construção coletiva de saberes que teve como foco de trabalho a criação de um curso de formação continuada de professores online. Nesse sentido, para a construção do campo a ser pesquisado torna-se fundamental ao pesquisador identificar que “[…] tanto as fronteiras quanto as esferas de influência repercutem no recorte

do objeto e determinam caminhos pelos quais os resultados aparecerão. As categorias são transversais e se sobrepõem” (FRAGOSO; RECUERO; AMARAL, 2011, p. 183).

A ótica da análise pela abordagem etnográfica nos dá uma noção de representação, aliada a perspectiva da representação cultural que nos permitiu avançar em nosso objeto de análise, sendo este um ambiente virtual de aprendizagem e seus recursos disponíveis, pois segundo Chartier, quando o leitor se apropria do texto, torna-se capaz de compreender “como é que uma configuração narrativa pode corresponder a uma reconfiguração da própria experiência”(CHARTIER, 1990, p. 24). Nesse sentido, é próprio da abordagem etnográfica a combinação de multimétodos “reforça e desvela o caráter epistêmico da etnografia e está presente em estudos que priorizam objetos distintos da comunicação digital e operam em níveis macro, micro e mezzo” (FRAGOSO; RECUERO; AMARAL, 2011, p. 188).

Destacamos que “além da diversidade multimétodos, são inúmeras as possibilidades de objetos que podem ser recortados no campo, seja ele exclusivamente online ou híbrido” (FRAGOSO; RECUERO; AMARAL, 2011, p. 190). Por esta razão, segundo os autores, o pesquisador que vale da abordagem etnográfica virtual poderá ampliar a gama de recursos a ser estudados como audiovisuais, blogs, fotografias, jogos, mundos virtuais e não somente chats e fóruns de discussão.

Nossa compreensão de representação, destacamos as três modalidades principais que o autor aponta da relação com o mundo social:

em primeiro lugar, o trabalho de classificação e de delimitação que que produz as configurações intelectuais múltiplas, através das quais a realidade é contraditoriamente construída pelos diferentes grupos; seguidamente, as prática que visam fazer reconhecer uma identidade social, exibir uma maneira própria de estar no mundo, significar simbolicamente um estatuto e uma posição; por fim, as formas institucionalizadas e objectivadas graças às quais uns <representantes> (instâncias colectivas ou pessoas singulares) marcam de forma visível e perpetuada a existência do gripo, da classe ou da comunidade (CHARTIER, 1990, p. 23).

Nossa fonte documental nos ofereceu elementos importantes para análise e, a partir da compreensão do conceito de representação apresentados, a seleção dos materiais obedeceu alguns critérios, a saber: 1. foram selecionados materiais relativos às relações da rede de professores, exclusivos ao grupo de formação de professores nos ambientes virtuais de aprendizagem e nas trocas de e-mails; 2. foram selecionados materiais relativos à experiência dos alunos no curso, por meio dos dados existentes no ambiente virtual; 3. a escolha dos materiais deveriam ser aquele possíveis tecnicamente de análise.

As comunicações (audiovisuais, orais e escritas) foram realizadas prioritariamente no idioma espanhol. Desta forma, a análise dos documentos foi feita pela pesquisadora no idioma de origem e, para compor o capítulo quatro desta pesquisa, foi feita a tradução dos excertos e textos de relevância escolhidos para compor o arcabouço da discussão.

A observação e a narração dos detalhes constituem o que Geertz (1989) chama de descrição densa e o relato etnográfico como resultante de múltiplas textualidades. Para Winken (1998, p.132), o processo de construção da etnografia consiste em saber ver, saber estar com e saber escrever (FRAGOSO; RECUERO; AMARAL, 2011, p. 185).

Para o levantamento da documentação foram feitas pesquisas e buscas nos ambientes virtuais já mencionados. Identificou-se que nem todas as videoconferências realizadas estavam disponíveis nos ambientes virtuais. Em 2016 houve uma migração do domínio da plataforma virtual e só foram recuperadas três das cinco videoconferências realizadas. Em 2017 foram identificadas no ambiente virtual somente três videoconferências de um total de cinco e, em 2018 foi possível obter as cinco videoconferências realizadas. Além das videoconferências, como já foi mencionado, utilizaremos registros escritos dos professores do grupo formador e dos professores estudantes que participaram do curso. Destacamos que, em nossa análise não temos a intenção de estabelecer comparações entre as edições dos cursos, mas sim, captar a experiência por meio dos diálogos e registros tanto do grupo formador como do grupo de professores que participaram da experiência.

Nossa compreensão de apropriação das tecnologias – e que se torna essencial para a problematização dos usos da etnografia em relação a contextos como a internet – compreende tanto as dimensões históricas quanto técnicas e simbólicas que dizem respeito das materialidades e possibilidades de uso do objeto internet pelos internautas (FRAGOSO; RECUERO; AMARAL, 2011, p. 169).

No total foram selecionadas 10 videoconferências, que foram traduzidas do espanhol para a língua portuguesa e transcritas na íntegra para facilitar esta análise. Apresentamos, a seguir, um quadro síntese dos documentos elencados para análise desenvolvida no capítulo quarto capítulo.

Quadro 4. Reuniões de Trabalho do Grupo formador analisadas Videoconferência 1: Grupo Formador

Participantes*: Alexandre (Espanha), Ana Lúcia (Brasil), Ricardo (Colômbia)

Data: 16/02/2016 Duração: 0:22:24