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PARTE I O PROBLEMA PELOS OUTROS: ELEMENTOS EXTERIORES AOS PROCESSOS DE

2.2 Dinâmica demográfica e desenvolvimento regional: espacializando o bônus demográfico e a

2.2.2 A oferta efetiva de trabalho

A oferta efetiva de trabalho, aqui operacionalizada como taxa de participação, constitui importante indicador para a pesquisa, uma vez que permite observar em que medida os indicadores clássicos da demografia são convertidos em pessoas engajadas no mercado de trabalho, de fato. Em outros termos, ao considerá-la, assumo que o mero fato de uma pessoa ser adulta não implica, necessariamente, estar em atividade no mercado de trabalho. O ponto de partida desta subseção é a percepção de que a PEA, no Brasil, experimentou aumento ligeiramente superior que a PIA, entre 2000 e 2010, o que implicou aumento também leve da taxa de participação. E que esse aumento encobriu desempenhos bastante diferentes entre homens e mulheres, com a taxa de participação feminina tendo crescido significativamente, enquanto a masculina decresceu levemente.

Assim como para os sexos, o desempenho regional da taxa de participação também foi desigual e, ao contrário do que o observado para as taxas de dependência e fecundidade, para ela, não houve tendência à convergência regional (tabela 2.9). Enquanto as macrorregiões Sul, Centro-Oeste e Sudeste experimentaram ampliação da PEA, Norte e Nordeste não assistiram a tal crescimento. E, complementarmente, o avanço da participação das mulheres foi menos que proporcional nessas do que naquelas – aproximadamente 3 e 5 pontos percentuais no Nordeste e Norte, respectivamente, contra 7,8 no Centro-Oeste, 7,4 no Sul e 5,3 no Sudeste. Tal evidência corrobora a ideia de Sul, Sudeste e Centro-Oeste como macrorregiões melhor posicionadas para o aproveitamento do bônus demográfico.

Tabela 2.9: Evolução da taxa de participação, Brasil e macrorregiões.

2000 e 2010 2000 2010 2000 2010 Norte 64,5 64,6 47,7 53,5 Nordeste 63,9 63,5 49,2 52,9 Sudeste 71,0 72,1 58,0 63,3 Sul 73,7 76,3 60,6 68,0 Centro-Oeste 70,9 73,5 55,7 63,5 Brasil 69,1 69,9 55,1 60,4

Fonte : Cens o/I BGE . El a b. própri a .

As cartografias a seguir (figuras 2.7 a 2.10) trazem a espacialização das taxas de participação para a população em geral e para as mulheres, assim como os saldos absolutos das PEAs geral e feminina e a proporção de diplomados com diploma de nível superior na PEA. Mais uma vez, pontuo que há importantes diferenciais em termos da dinâmica do indicador, qualquer que seja a lâmina, e que tais diferenciais são inter e intrarregionais.

Em primeiro lugar destaco as regiões com maiores ofertas efetivas de trabalho, sendo interessante notar como há relativa convergência entre os padrões de participação das mulheres com o do conjunto dos indivíduos. Nos mapas (figuras 2.7 e 2.8), essas regiões com maiores taxas de participação correspondem aos conjuntos de municípios pintados de tons de vermelho. E alerto para o fato de que essas regiões tendem, também, a ser relativamente mais urbanizadas, constituindo lugares nos quais a obtenção dos meios de vida ocorre majoritariamente pela mediação do mercado de trabalho.

Passando ao que interessa, destaco como principais regiões com taxas de

participação mais elevadas (i) um aglomerado de cidades entre Curitiba e Florianópolis, mais tarde, nesta tese, denominado de corredor Curitiba-Florianópolis; (ii) o noroeste do Rio Grande do Sul, o centro-oeste catarinense e o paranaense; e (iii) uma vasta área que abarca quase todo o estado de São Paulo (exceto região de Registro), o centro-sul e oeste mineiro, o centro sul goiano (inclui DF) e trechos significativos de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia. Do ponto de vista da dinâmica da população e do mercado de trabalho, essas são as regiões brasileiras que, no período estudado, apresentaram os condicionantes demográficos e de mercado de trabalho mais favoráveis ao desenvolvimento.

Figura 2.7: Distribuição da taxa de participação, p/ municípios. Brasil, 1991-2010

Figura 2.8: Distribuição da taxa de participação feminina, por municípios. Brasil, 1991-2010

Em segundo lugar, saliento os municípios do Norte e Nordeste relativamente mais mal posicionados nesses indicadores. Contudo, o Norte e Nordeste estão longe de serem espaços homogêneos, havendo importantes diferenciais internos, alguns dos quais já iluminados anteriormente. No Nordeste, áreas mais próximas do litoral, com destaque para o centro-leste baiano, tendem a apresentar taxas de participação maiores, enquanto o interior (cinturão sertanejo), sobretudo, o leste baiano, Piauí, Maranhão, Ceará e Rio Grande do Norte, apresenta as menores taxas. Nesses lugares, inclusive, as taxas de participação foram decrescentes entre 2000 e 2010, o que implica a saída de pessoas do mercado de trabalho. Uma interpretação para esse fato pode estar associada à expansão e generalização do sistema de seguridade social, em geral, e das políticas de transferência de renda, em particular, que, podem ter tido o importante efeito de blindar pessoas em situação de vulnerabilidade de trabalhos precários, mal remunerados e/ou degradantes81. No Norte, destaco propensões

relativamente altas, para os padrões do Norte e Nordeste, é claro, nos estados do Tocantins e Pará. Mais para frente, trechos significativos desses estados comporão o que será chamado de trecho norte do corredor Norte.

Em terceiro lugar, relembro que a expansão da PEA, no Brasil, foi ligeiramente superior à da PIA, e que o crescimento de ambas foi muito superior ao da população, no período. E, a partir dessa lembrança, chamo a atenção para a generalização, em ritmo variado, é verdade, por quase todos os municípios brasileiros, dessa expansão (figura 2.9). Ou seja, com poucas exceções (extremo sul do Rio Grande do Sul, sul da Bahia e cinturão sertanejo) a maioria dos municípios brasileiros experimentou crescimento positivo da PEA.

Por fim, comento a distribuição das proporções de diplomados de terceiro grau na PEA (figura 2.10). Embora impreciso, é indicador de qualificação de mão de obra, tendo relação, por exemplo, com produtividade da mão de obra. Por um lado, houve notável expansão da educação superior no país, refletida no aumento da proporção de titulados em todas as regiões, entre 2000 e 2010. Por outro lado, pontuo a maior concentração de titulados nas áreas citadas do Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Tocantins.

81 É possível que esse efeito tenha ocorrido em todas as cidades do Brasil, sejam mais pobres ou mais

ricas, sejam mais economicamente dinâmicas ou menos, sejam mais rurais ou mais urbanas. Contudo, é provável que tenha sido mais intenso nas áreas citadas do interior do nordeste.

Figura 2.9: Distribuição dos saldos das PEAs geral e feminina, por municípios. Brasil, 2010-2000

Figura 2.10: Distribuição das proporções de diplomados de terceiro grau na PEA, por municípios. Brasil, 2010-2000