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A relação entre o comércio atlântico de escravos e as mudanças sofridas pelas sociedades africanas pré-coloniais tem sido um dos principais pontos debatidos até hoje entre as diversas gerações de africanistas. É bem verdade que em tempos pretéritos, mais precisamente no século XVIII, surgiu a idéia de uma África eterna. De acordo a este ponto de vista, as sociedades africanas que se encontravam na zona equatorial, a não ser quando muito pressionadas pelas relações com os europeus, mudavam a passos glaciais.84

Archibald Dalzel, diretor do forte inglês e comerciante de escravos em Cabo Corso no século XVIII, afirmava que o tráfico não afetava as sociedades africanas. Ele trabalhou com as seguidas sucessões reais ocorridas no Daomé, para defender sua tese.85 Na passagem para o século XX, Sir Harry Hamilton Johnston, figura de destaque na corte vitoriana e estudioso amador, embora defendesse que as guerras e rapinagens geradas pelo comércio de escravos tenha causado grande devastação no continente africano, apontou, com certo otimismo, que a África podia recuperar seu estágio anterior ao tráfico ao longo de algumas poucas décadas de paz e estabilidade política.86 Tanto Dalzel quanto Johnston partilhavam da visão de uma África estática, da idéia de que as sociedades africanas eram fortes e capazes de sobreviver aos anos de comércio de escravos e de contato com os europeus, sem terem suas estruturas alteradas. Esta visão enfatizando as permanências, a estagnação e a resistência às mudanças provinha das dispersões da documentação referente à África pré-colonial e dos conflitos de interpretações causados pelas diferenças culturais entre os observadores europeus e africanos.87 Somente com os historiadores contemporâneos foi possível alterar tais idéias.

No início dos anos 60 do século passado, Basil Davidson defendeu que o tráfico de escravos teve conseqüências fortemente negativas sobre as estruturas das sociedades africanas.88 Walter Rodney, afinado com Davidson, apontou que as exportações de africanos,

84 MANNING, Patrick. “Escravidão e mudança social na África”. In: Novos Estudos CEBRAP, n.º: 21, 1988, p. 8.

85 DALZEL, Archibald. The history of Dahomy and inland kingdom of Africa. Londres: s/ed., 1967. 86 MANNING, Patrick, op. cit., 1988, p. 8.

87 idem, ibdem.

foram causadoras de grandes prejuízos à economia e às estruturas políticos-sociais africanas.89 Numa linha contrária a destes dois estudiosos, John Fage defendia, ainda na década de 60, que as mudanças ocorridas foram decorrências de fatores internos à África. O tráfico não teria sido capaz de afetar as estruturas africanas.90 Nos anos 80, Joseph Miller, analisando a região congo-angolana, sustentou que mais do que o tráfico, teriam sido os ciclos de doença, seca e fome os causadores do impacto demográfico negativo, que provocaram mudanças estruturais na África.91

Um ponto em comum une as quatro visões desses autores: a percepção de um dinamismo africano, contrapondo-se a idéia de uma África estática (África eterna). As discordâncias dizem respeito à importância dada aos aspectos externos nas mudanças. Tanto Fage quanto Miller, minimizaram os aspectos externos, dando grande ênfase ao vetores internos (domésticos). Tal análise passou a ser chamado de África emergente.92 Já Davidson e Rodeney deram prioridade aos fatores externos nas suas análises sobre as transformações africanas. Tal visão passou a ser denominada de Afrique engagée.

Na visão de John Fage, a partir da análise de sociedades da África Ocidental, os processo internos a esta região teriam sido forte o suficiente para absorver, neutralizar e até mesmo se beneficiar do comércio de escravos. Desta forma o tráfico negreiro fazia parte do desenvolvimento político e econômico das sociedades africanas.93

Segundo os defensores da Afrique engagée, as sociedades africanas sofriam com o engajamento no tráfico de escravos. A questão principal não era demográfica, pois Davidson e Rodney entendem que não houve um declínio populacional africano. A tese estava calcada na interrupção do desenvolvimento social e institucional. Rodney defendeu que o subdesenvolvimento da África é decorrência de anos de comércio escravo. Por outro lado, sua visão de uma forte coerção européia sobre os africanos a partir da relação comercial desenvolvida entre os dois lados, onde os primeiros se sobrepunham aos segundos, aproximava-se muito da idéia de uma África eterna, que fora defendida por Johnston. A

89 RODNEY, Walter. How Europe underdeveloped Africa. Londres: s/ed., 1972.

90 FAGE, John D. “Slavery and the slave trade in the context of West African history”. In: Journal of African

History, 10 , 1969, pp.393-404.

91 MILLER, Joseph C. “The significance of drought, disease and famine in the agriculturally marginal zones of West Central Africa”. In: Journal of African History, 23 , 1982, p. 30.

92 MANNING, Patrick, op. cit., 1988, p. 10. 93 FAGE, John, op. cit., 1969, p. 400.

diferença é que Davidson e Rodney enfatizam os aspectos negativos do contato europeu para o desenvolvimento africano.94

Rodney defendeu também que o comércio negreiro com os europeus, mediante coerção, intensificou a escravidão na África, expandindo o número de cativos e os maus tratos no continente. Tal posição é defendida por Paul Lovejoy como a “tese da transformação”.95 Ambos os autores entendem que tais mudanças foram originadas por fatores externos, estranhos às estruturas político-econômicas africanas. Críticos dessa teoria, John Fage e David Eltis apontaram que a escravidão era disseminada e inata na sociedade africana, como o era também o comércio da escravatura. Para esses autores os europeus apenas se inseriram num mercado pré-existente onde os africanos passaram a atender o crescimento da demanda aumentando o volume de escravos oferecidos ao longo dos anos. Estava nas mãos de líderes e mercadores africanos a decisão de comerciar cativos ou não. Não houve coerção para participar do tráfico ou decisões irracionais tomadas pelos africanos.96 O tráfico atlântico estava baseado, portanto, num bem desenvolvido sistema de escravidão, de mercado de escravo e de redistribuição que pré-existia a presença dos europeus no continente africano. Segundo John Thornton, a organização interna na África foi muito mais importante do que qualquer fator externo para o desenvolvimento do comércio transatlântico de escravos.97

A maioria dos escravos que eram disponibilizados à venda externa eram aqueles obtidos em guerras. Existiam também casos de senhores africanos que por algum motivo resolveram colocar seus escravos a venda, e outros que por questões judiciais ou capturados por bandidos tiveram sua liberdade tolhida e tornaram-se “artigo” de exportação.98 As guerras ocorriam em faixas de terra no interior do continente africano. Os derrotados eram capturados e feitos escravos pelos vencedores. Aqueles que não conseguissem um lugar dentro do novo grupo social eram remetidos para o litoral para serem vendidos aos europeus. O que desponta desta conduta é que os governantes africanos não vendiam seus súditos, mas pessoas estranhas

94 MANNING, Patrick, op. cit., 1988, p. 11.

95 LOVEJOY, Paul E. A escravidão na África: uma história de suas transformações. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.

96 Cf. FAGE, John. “Slaves and society in western Africa, 1400 - c. 1700”. In: Journal of African History, 21, 1980, pp.289-310; ELTIS, David. Economic growth and ending of the transatlantic slave trade. Nova York: Oxford Academic Press, 1987, pp. 72-8.

97 THORNTON, John. A África e os africanos na formação do mundo atlântico, 1400-1800. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003, cap. 3.

à sua comunidade. Desta forma, as guerras exerceram papel crucial dentro da organização do comércio de cativos na África.

Philip Curtin, estudando o tráfico negreiro na Senegâmbia no século XVIII, opôs a visão de um modelo político de guerra - onde os conflitos ocorriam por problemas de cunho político entre as nações africanas, que acabavam por gerar escravos, sem que este tivesse sido o motivador das ações bélicas - ao de um modelo econômico – onde os combates aconteciam com o objetivo de fazer escravos para serem vendidos aos mercadores externos. Curtin concluiu que os conflitos ocorridos na Senegâmbia evidenciaram que lá as guerras tinham propósito político.99

Contudo, não é fácil distinguir as guerras que foram travadas por questões políticas ou econômicas. Thornton, analisando as guerras ocorridas em Angola, percebeu que a captura de escravos tinha tanto um sentido econômico quanto político. Se por um lado possuir cativos era uma garantia de geração de riqueza privada, por outro os escravos podiam ser utilizados pelo Estado em cargos administrativos e em campanhas militares contra nações rivais na disputa por poder. Com isto, uma simples ação ofensiva cujo objetivo era obtenção de escravos acabava por adquirir conotações políticas, da mesma forma, que a eventual venda de alguns cativos não nos leva a pensar que a guerra não tivesse algum caráter político.100

A associação entre as guerras travadas no interior da África com a venda de escravos pode ser compreendida ao observarmos os exemplos das regiões de Benin e Congo. Ambos os países foram tradicionais exportadores de africanos para as ilhas de São Tomé e Príncipe e Europa até meados do século XVI. No caso do Benin aponta-se que no ano de 1550 o comércio de escravos tenha sido interrompido. Já no Congo acredita-se que a venda de cativos tenha cessado na virada do século XVI para o XVII, embora, em pequena escala ainda se saiba que de portos congoleses tenha partidos negreiros carregados com africanos comercializados no interior do continente.101 De todo modo, parece que a decisão de interromper o fluxo exportador de escravos nestas duas regiões estava relacionada a mudanças de diretrizes políticas, pois ambos os estados haviam cessado suas expansões - Benin em 1550 e Congo no findar do século XVI. Guerras menos freqüentes significavam um menor número de escravos.

99 CURTIN, Philip. Economic change in precolonial Africa: Senagambia in the Era of the slave trade. Madison: s/ed., 1975. pp. 157-68.

Talvez estes estados tenham atingido a demanda doméstica de cativos necessária para tocar suas empresas exportadoras – no caso do Benin, tecido e pimenta; no Congo, tecido. No final do século XVII e início do XVIII, devido às guerras civis, bem como ao aumento do preço do escravo, ambas as regiões voltaram a atuar no tráfico internacional.102

Já a partir de meados do século XVII é possível notar um acréscimo no volume de escravos exportados da África. Depois de 1650 houve um aumento da demanda por conta das novas áreas agrícolas do Caribe, que se juntam as já existentes na América portuguesa, e a chegada de europeus à costa africana, carregados de novos armamentos e tecnologias mais avançadas que as portuguesas. Segundo as estimativas sobre africanos exportados, no ano de 1600 o volume foi de 9.500, atingindo 13.800 em 1650, saltando para 36.100 em 1700.103 Contudo, segundo Thornton, o crescimento da demanda significou um aumento quantitativo e não qualitativo no comércio negreiro. Ao fim e ao cabo, a decisão de aderir ou não ao tráfico recaia sobre os africanos.104

A expansão do estado Aladá, na segunda metade do século XVI e ao longo do XVII, o surgimento do Império Oió, e a entrada no comércio de escravos de estados localizados na Costa do Ouro, região anteriormente importadora de mão-de-obra, em torno de 1650, propiciou à África Ocidental ter um espetacular crescimento na participação das exportações de escravos. Em 1600, a região fora responsável pela venda de aproximadamente 5.000 cativos. No findar do século XVIII, este número chegou a cerca de 25.000 escravos, o que representava mais da metade do total de exportação africana no período.105 Muitos africanos vendidos em Aladá foram capturados durante as guerras de expansão de Oió no interior da Costa da Mina. Foram também conflitos políticos desenrolados no interior os responsáveis pelo aumento de cativos na região da Costa do Ouro.

Toda a região da Costa da Mina passou por uma reorganização militar com a criação do exército de massa. Anteriormente as batalhas eram travadas com um número reduzido de pessoas, em sua maioria militares que haviam sido capturados em guerras precedentes. Com o aumento das tropas aumentou também o número de pessoas vulneráveis a serem escravizadas 101 idem, p. 168. 102 idem, ibdem. 103 idem, p.177. 104 idem, p. 175. 105 Idem, p. 177.

pelo lado vencedor. Juntamente com o surgimento de grandes exércitos cresceu a demanda por armas de fogo. Desta maneira, a reorganização militar não se deu a partir da importação de armas de fogo européias, mas sim por causas sociais internas e intrínsecas aos estados africanos.106 Isto não significa que as novas tecnologias européias não tenham contribuído para incrementar a apreensão de escravos. Portanto, as guerras e conflitos podem ter contribuído para o crescimento do tráfico em algumas regiões africanas, como por exemplo na Costa da Mina, porém isso não significa que a demanda tenha sido a causadora dos distúrbios políticos.

Costa da Mina: local privilegiado para o comércio baiano

A Costa da Mina era a principal região para onde se dirigiam as embarcações negreiras saídas da cidade de Salvador. Esta relação comercial iniciou-se ainda no século XVII. A Bahia, até a década de 1640, era abastecida com escravos vindos da Guiné e de Angola. Porém, com a ocupação holandesa nesta região africana, o envio de escravos para as terras baianas foi prejudicado, pois os comerciantes da Holanda privilegiavam Pernambuco, que no momento estava também sob domínio holandês. No ano de 1648, tropas financiadas e saídas do Rio de Janeiro, comandadas por Salvador Corrêa de Sá, reconquistaram Luanda. A partir de então formou-se um laço político-econômico entre os grupos dirigentes destas duas cidades do Atlântico Sul. Governadores angolanos passaram a privilegiar, em fins do século XVII, o envio da escravatura para o porto carioca em detrimento das outras regiões brasileiras, como Bahia e Pernambuco.107 Tal conduta provocou um decréscimo de escravos no nordeste brasileiro e um direcionamento dos navios baianos aos portos da Costa da Mina.

Além de Angola e Pernambuco, a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, em 1637, tinha tomado o castelo de São Jorge da Mina, principal forte-praça de comércio de Portugal, na região da Costa da Mina. Os holandeses passaram, assim, a estabelecer pleno controle sobre o comércio português naquela região africana. Apesar do tráfico na região do Castelo ter sido proibido aos portugueses, segundo Verger, foram estabelecidas relações entre

106 idem, p. 182.

107 FERREIRA, Roquinaldo. “Dinâmica do comércio intracolonial: geribitas, panos asiáticos e guerra no tráfico angolano de escravos (séculos XVIII)”. In: FRAGOSO, João; BICALHO, Maria Fernanda; GOUVÊA, Maria de Fátima; (Orgs.). O Antigo Regime nos trópicos: a dinâmica imperial portuguesa (séculos XVI-XVIII). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001, p. 342.

a Costa da Mina e a Bahia por três fatores. Em primeiro lugar, a Costa da Mina era o único local em que os baianos conseguiam despachar seu fumo de terceira qualidade (refugo), proibido de ser mandado para o reino português, que só importava o fumo baiano de primeira e segunda qualidades. Em segundo lugar, a Holanda, que dominava esta região e possuía o monopólio de comércio de produtos europeus com a mesma, via Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, só permitia a negociação de tabaco, favorecendo assim os baianos em detrimento dos comerciantes reinóis e demais brasileiros que não produziam o fumo. Por fim, um terceiro fator, favorecendo os baianos: a proibição dos comerciantes das praças do Rio de Janeiro e das demais regiões brasileiras não produtoras de tabaco de irem comercializar na Costa da Mina.108 Um decreto real de 12 de novembro de 1644 autorizava os navegadores, carregados de tabaco de terceira categoria, a partirem da Bahia em direção à Costa da Mina com a finalidade de resgatar escravos, uma vez que Angola ainda estava sob domínio holandês.109 Desta forma desenvolveu-se um comércio peculiar entre a Bahia e a África Ocidental, diferente do modelo clássico do sistema de viagens triangulares (Europa-África- América-Europa), sob a forma de troca bilateral.

Os africanos tinham os escravos e os baianos o fumo. Mas não era um fumo qualquer. Embora de terceira qualidade, o tabaco baiano era melhor açucarado, preparado com melaço puro. Esta forma de confeccionar o fumo dava um aroma especial e o tornava muito apreciado na Costa da Mina, tornando-se indispensável para o comércio de escravos nesta área.110 Estima-se que a Bahia, no início do século XVIII, tenha exportado para a Costa da Mina cerca de 13 mil arrobas de tabaco por ano.111

Os quatro principais portos em que os comerciantes baianos negociavam na Costa da Mina eram Grande Popó, Ajudá112, Jaquim e Epe (cf. mapa 2). Os holandeses que haviam conquistado o Castelo de São Jorge da Mina permitiam que os negociantes de tabaco da Bahia fossem até os portos africanos comerciar escravos. Contudo, antes de chegarem a um dos quatro portos de trocas, os comerciantes baianos tinham que pagar aos holandeses, no castelo

108 VERGER, Pierre, Fluxo e refluxo: do tráfico de escravos entre o Golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos

dos séculos XVII a XIX. São Paulo: Corrupio, 1987, pp. 19-20.

109 idem, p. 21. 110 idem, ibdem.

111 ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1976, p. 157.

112 Este local tem outras formas de ser designado: Uidá, Judá, Fidá, Whydah, Ouidah, Glé Houé, Gregoy e Igéléfé.

de São Jorge, um tributo de 10% sobre toda a carga de fumo que carregavam no navio. Com isso, as embarcações saídas da Bahia, que tinham carga média de 3.000 rolos de fumo, pagavam de tributo às autoridades holandesas 300 rolos.113 Além do tabaco, os baianos comerciavam também aguardente e ouro em pó contrabandeado das regiões auríferas do Brasil.

Essa relação entre Bahia e Costa da Mina vai se estreitar ainda mais a partir da expedição do Alvará de 1687. Tal documento indicava aos capitães que fossem buscar escravos na África, a se dirigirem à região da Costa da Mina, pois o Reino de Angola (já retomado pelos portugueses) passava por um surto de bexiga.114

113 VERGER, Pierre, op. cit., 1987, p. 35.

114 Alvarás de 1687 aos capitães das embarcações que iam traficar na Costa da Mina, apud, VERGER, Pierre, op.

Mapa 1: Costa do Ouro, Costa da Mina e Golfo de Biafra

Fonte: SILVA, Alberto da Costa e. Um rio chamado Atlântico: a África no Brasil e o Brasil na África. Rio de Janeiro: Nova Fronteira / Ed. UFRJ, 2003, p.56.

É possível estabelecer as principais áreas africanas de comércio com a Bahia. Verger já apontou que ao longo do século XVIII o fluxo comercial baiano se dirigia preferencialmente para a região da África Ocidental.115 A partir das licenças de viagens conferidas pela alfândega da Bahia entre os anos de 1678 a 1775 pude constatar um total de 1535 expedições de resgate de escravos em direção a portos africanos.116A tabela 2 aponta o destino das viagens negreiras que partiram de Salvador sendo possível mensurar as flutuações da participação das principais zonas africanas no comércio de cativos. Como podemos observar, o predomínio da região ocidental, onde fica a Costa da Mina, foi total. A quantidade de expedições baianas para esta localidade nunca foi inferior a ¾. Outro aspecto importante é a participação, mesmo que pequena, das ilhas atlânticas no comércio de escravo. Embora não fosse uma área de produção de cativos, ela servia como centro redistribuidor de escravos obtidos no continente desde o início do tráfico e como entrepostos para o abastecimento dos negreiros baianos, funcionando como um subsistema do circuito atlântico.117

A região Centro-Ocidental era destino de apenas 7% dos negreiros que de Salvador partiam para a África. Essa rota teve um desenvolvimento maior no intervalo de 1718-1775, em função das dificuldades surgidas, entre as décadas de 40 e 60, para os baianos realizarem o tráfico na Costa da Mina. Embora fosse pequena a participação no desenvolvimento da economia da Bahia, a região Congo-Angola era a principal região africana de comércio de escravaria da cidade do Rio de Janeiro. Ainda na primeira metade do século XVIII tornou-se a mais importante área de fornecimento de mão-de-obra para a América portuguesa.

115 A este respeito Verger já nos mostrou que o tráfico de escravos em direção à Bahia pode ser dividido em quatro períodos: 1.º O Ciclo da Guiné durante a Segunda metade do século XVI; 2.º O Ciclo de Angola e do Congo no século XVII; 3.º o Ciclo da Costa da Mina durante os três primeiros quartos do século XVIII; 4.º O

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