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Por outro lado, nos bens imóveis são todos diferentes, a localização espacial é uma característica única, não podendo existir duas propriedades numa única localização. Esta condição exclusiva constitui um fator crucial na definição do seu valor.

Afirmar que há excedentes ou carências de habitação a nível nacional pouco diz sobre o que se passa a nível local. Em função da localização e dos segmentos de utilização e de qualidade, coexistem realidades muito contrastadas, mesmo dentro de uma mesma realidade local. Assim, no mesmo concelho ou no mesmo bairro, pode haver excedentes críticos em algumas tipologias e carências em outras, com procuras insatisfeitas, embora tendo capacidade de compra, não encontram resposta por parte da oferta. Podem portanto coexistir na mesma unidade territorial, em segmentos de mercado distintos, oportunidades para investimento de sucesso a par de situações problemáticas e excedentes.

Um imóvel também pode ser objeto de procura por mais do que um segmento de mercado. Por sua vez, a procura vai incidir a sua atenção e escolha por diversos imóveis num quadro geográfico mais ao menos alargado. O mercado, com as suas variações entre a oferta e procura, estrutura-se em termos de localização geográfica, quantidades, diversidades, características singulares dos prédios, conforto jurídico-administrativo, segurança, número de proprietários vendedores e número de potenciais compradores.

Do lado da procura segundo Rebelo (2002) cada família dispondo de determinadas restrições orçamentais e temporais, vai fazer uma tripla arbitragem no seu “cabaz de consumo” :

- Seleciona, por um lado, qual o montante de rendimento que vai afetar as despesas de alojamento e de transporte, e aquilo que vai gastar noutros tipos de despesas.

- Escolhe, por outro lado, dentro do quantitativo total a afetar a despesas de alojamento e de transporte, a sua localização, ponderando entre este dois

tipos de despesas , se pretender minimizar as despesas de transporte, aumentado assim as despesas com o alojamento, então opta por uma localização próxima do centro; se quiser reduzir as despesas de alojamento, então opta por uma localização mais afastada do centro. No entanto esta arbitragem está a ser alterada com a tendência atual de descentralização dos empregos.

- Opta por fim, entre espaço do alojamento e preço do alojamento (um alojamento maior tenderá a exibir um preço tanto mais baixo quanto mais afastado estiver do centro, embora também seja necessário considerar as suas características e localização relativa). O custo do alojamento depende do produto do preço unitário de solo pela quantidade de solo utilizado.

Algo que é existe na procura e não é muito falado nem explicado é “o sonho”, a emoção. O psicólogo Daniel Kahneman (prémio Nobel da Economia) explica no seu livro Pensar depressa e devagar (2011) a irracionalidade humana, como as nossas escolhas não seguem um raciocino lógico e refletido apesar de muitas vezes pensarmos assim o é. O autor fala da relação entre juízo a tomada de decisão que é muito influenciado pelo pensamento intuitivo que ele refere como Sistema 1 e as operações e controladas como sistema 2. O sistema 1 produz continuamente sugestões para o sistema 2: impressões, intuições e sensações. Se forem apoiadas pelo sistema 2 as impressões e intuições transformam-se em crenças e os impulsos em ações voluntárias. É importante ter em consideração que o sistema 1 não pode ser desligado. Esta decisão é o que autor chama de heurística do afeto, em que os juízos e as decisões são guiados diretamente por sentimentos de atracão e aversão, com pouca deliberação e raciocínio. Um avanço importante que a obra deste autor trouxe foi mostrar como as pessoas não se comportam da maneira como muitos modelos econômicos assumiam tradicionalmente, não “maximizam a utilidade”. A sua alternativa ao processo de tomada de decisão mais fiel à piscologia humana a que chamaram “teoria propetiva” comprova isso.

A habitação é um produto muito emocional e sem este fator não é possivel explicar as desições de escolha de habitação própria. Muitas pessoas gostam da ideia de morar naquela habitação e a ponderação da quantidade de dinheiro disponível, a percentagem de salário que vai ser retida na prestação entre outros fatores muitas vezes passam para segundo plano ou é mesmo inexistente.

Apesar de ser algo difícil ou mesmo impossível de quantificar, o peso da emoção e intuição na tomada de decisões, esta pode ajudar a explicar alguns fenómenos que se passaram durante o período estudado, por vezes a razão e lógica é usada para justificar as decisões emocionais já feitas.

O valor é uma relação social de reconhecimento de qualidades de um determinado bem. O valor de uma mercadoria foi desenvolvida por economistas clássicos como Adam Smith ou David Ricardo mas foi Karl Marx quem sistematizou a teoria de valor da mercadoria ou definiu-a como sendo portadora, simultaneamente, de valor de uso e de valor de troca. Segundo Marx (1867) :

O valor de uso é a qualidade que um objeto tem para satisfazer uma necessidade, determinado pelas suas condições naturais. É impossível comparar valores de uso entre si de maneira quantitativa sem estabelecer um padrão de medida arbitrário e abstrato para qualificar usos que são diversos e por tanto incomparáveis.

O valor de troca, de acordo com a teoria do valor-trabalho, (que vou abordar seguidamente) é uma medida quantitativa determinada pelo tempo de trabalho abstrato, isto é, o tempo socialmente necessário para produzir.

Além deste destas duas categorias de valor de valor existe ainda o valor simbólico e o valor afetivo os quais não aparecem à luz da economia clássica. O valor simbólico encontra-se num sistema de intercâmbio de sinais e significados, onde as mercadorias como sinais e os sinais como mercadorias adquirem um sentido para lá da sua utilidade ou da sua equivalência objectiva e comparáveis com outras mercadorias, estas influenciam o padrão de consumo (por exemplo um objeto desenhado por Álvaro Siza tem valor simbólico).

O valor afetivo é algo mais pessoal, uma mercadoria além dos valores anteriormente descritos tem ainda o afetivo que influencia o valor percecionado (Exemplificando, quando um proprietário pensa que para si a sua casa tem mais valor por a sua família ali residir à séculos).