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Oficina 2 Bullying e preconceito; Oficina 3 – Bullying e barbárie

PARTE 3 O FENÔMENO BULLYING E SEU ENFRENTAMENTO ATRAVÉS DO ENSINO

3.1 CARACTERIZAÇÃO DO CAMPO DE ESTUDO E IMPLICAÇÕES DO FENÔMENO

3.2.1 E se fosse você?

3.2.1.2 Oficina 2 Bullying e preconceito; Oficina 3 – Bullying e barbárie

A segunda oficina teve como objetivo a realização de uma atividade prática para que o aluno representasse a sua noção sobre preconceito. A representação do aluno teve como pressuposto a pergunta 3, apresentada na primeira oficina: Seria

possível "materializar" nosso propósito de refletir sobre o bullying?

Como se tratava de uma atividade que poderia envolver a utilização de desenhos, criação de frases, poemas ou qualquer outra manifestação criativa, artística, por parte do participante, entregamos uma folha em branco contendo a comanda da mesma e a recolhemos após a realização da oficina 3.

Optamos por tratar das duas oficinas neste mesmo tópico, pois, no dia da segunda oficina, apenas entregamos aos participantes a comanda da atividade para que a realizassem em um local de livre escolha, proporcionando um maior tempo para esse fim. As atividades produzidas pelos alunos compõem os anexos dessa dissertação.

A terceira oficina teve como objetivo retomar a sensibilização dos participantes, utilizando-se de imagens e de textos filosóficos de Adorno, para realizar as aproximações e reflexões necessárias sobre o fenômeno bullying, visando, sobretudo, relacioná-lo à problemática do preconceito e da barbárie.

Para que fosse possível a sensibilização, a reflexão e o debate sobre o tema, utilizamos os seguintes textos e imagens, nesta ordem:

Texto 1

“Qualquer debate acerca de metas educacionais carece de significado e importância frente a essa meta: que Auschwitz não se repita. Ela foi a barbárie contra a qual se dirige toda a educação. Fala se da ameaça de uma regressão à barbárie. Mas não se trata de uma ameaça, pois

Auschwitz foi a regressão; a barbárie continuará existindo enquanto persistirem no que têm de fundamental as condições que geram esta regressão”. (ADORNO, 2003b, p. 119; grifos

Imagem 1: Campo de concentração em Auschwitz Texto explicativo para a imagem 1:

O Campo de Auschwitz era uma área de 40 km² na região da Alta Silésia, na Polônia. O complexo era formado por três campos principais sendo dois de trabalho forçado e um apenas de extermínio e mais 39 subcampos. Ao longo da 2ª Guerra Mundial, presos políticos, judeus de toda a

Europa, homossexuais, ciganos e comunistas morreram lá 1,1 milhão de pessoas (no total,

os nazistas mataram 5,5 milhões de judeus e 500 mil ciganos na 2ª Guerra)

Imagem 2: Policial paramilitar turco investiga o local onde apareceu o corpo de uma criança imigrante síria (Alan Kurdi ) numa praia de Bodrum , na Turquia em 2015 (Foto: AP)

Texto explicativo para a imagem 2:

Segundo a Agência da ONU para refugiados, a Síria foi o país que mais gerou refugiados no mundo. Cerca de 824.400 pessoas foram forçadas a fugir dos conflitos que assolam o país. No mundo são mais de 25,4 milhões de refugiados, por razões diversas: questões de raça, religião,

nacionalidade, pertencimento a um determinado grupo social ou opinião política, como também devido à grave e generalizada violação de direitos humanos e conflitos armados.

Imagem 3: Exército dispara 80 tiros contra carro e mata músico de 51 anos no Rio, em abril de 2019. Vídeos mostram barulho dos disparos partindo do veículo do Exército e a revolta de moradores em Guadalupe, zona norte do Rio: “Eles nem esperaram, eles mataram o meu

esposo”. Charge do Duke (dukechargista.com.br)

Texto explicativo para a imagem 3:

Segundo o Atlas da Violência do IPEA, a taxa de homicídios de negros no Brasil é de 40,2% e de não negros é de 16% a cada 100 mil habitantes. Duas vezes e meia superior a homicídios de não negros. Os negros, especialmente homens e jovens, são o perfil mais frequente do homicídio

no Brasil.

Texto 2:

“Esta é uma situação em que se revela o fracasso de todas aquelas configurações para as quais vale a escola. Enquanto a sociedade gerar a barbárie a partir de si mesma, a escola tem

apenas condições mínimas de resistir a isto. Mas se a barbárie, a terrível sombra sobre a nossa

existência, é justamente o contrário da formação cultural, então a desbarbarização das pessoas individualmente é muito importante. A desbarbarização da humanidade é o pressuposto

imediato da sobrevivência. Este deve ser o objetivo da escola, por mais restritos que sejam seu

alcance e suas possibilidades. E para isto ela precisa libertar se dos tabus, sob cuja pressão se reproduz a barbárie. O ‘pathos’ da escola hoje, a sua seriedade moral, está em que, no âmbito do existente, somente ela pode apontar para a desbarbarização da humanidade, na medida em que se conscientiza disto”. (ADORNO, 2003e, p. 116-117; grifos nossos).

Nesse sentido, buscamos refletir com os alunos participantes da oficina a respeito dos conceitos fundamentais da obra de Adorno, especialmente a questão da barbárie – através do excerto do ensaio Educação após Auschwitz (ADORNO, 2003b). Realizando também a contextualização com os fatos ocorridos em Auschwitz, com os dados e situações mais recentes sobre o drama dos refugiados e a violência contra negros, permitir aos participantes não só o inconformismo com as questões que se implicam a partir daí, mas, sobremaneira, como agir, o que fazer

diante dessas situações, além da reflexão e o diálogo gerados a partir dessas informações para que o participante realize uma experiência filosófica sobre um problema real e se sinta impelido a resistir contra o preconceito e a violência cotidiana.

A leitura do excerto do ensaio Tabus acerca do magistério (ADORNO, 2003e) foi selecionada para permitir uma reflexão sobre o papel da escola nesse processo de desbarbarização e da possibilidade de rompimento com relações escolares que são tão preconceituosas e autoritárias em um sistema que se julga democrático e para todos. Assim, além da reflexão sobre a problemática da barbárie e sua aproximação com o bullying, que entendemos como um sintoma da barbárie

dentro da escola, motivamos os alunos a pensar na importância da escola na

resistência a toda e qualquer violência e o quanto boa parte das relações estabelecidas nela estão distantes desse pressuposto.

Nesse sentido, trabalhamos com os participantes a ideia de que a proposição do grupo de apoio – lembrando que a demanda por ele partiu dos alunos – é uma estratégia que parece simples, mas, que tem um grande potencial de resistência à barbárie. Não adianta, por exemplo, a previsão de que o aluno aprenda uma determinada habilidade para favorecer a convivência e o autonomia juvenil, se não são garantidas as condições para a realização disso dentro da escola. Assim, entendemos que o discurso do Currículo mantém o aluno numa situação de afastamento, num nível mais primário da convivência com o outro e, de forma mais aprofundada, vivenciando uma situação em que os estereótipos e os preconceitos não sejam desconstruídos e que, aquilo que deve ser ensinado, não passa de uma estratégia para manter o aluno alienado das situações de desumanização e da naturalização da violência.

Buscando avaliar junto com os participantes sobre o conteúdo que trabalhamos na terceira oficina, percebemos a satisfação com o fato de que houve, de certa forma, uma mudança na maneira de pensar a respeito do fenômeno

bullying.

Mediante essa proposta de avaliação, ocorreu o relato emocionado de um dos participantes, que acrescenta: “A pessoa que sofre bullying perde a confiança

nas pessoas. Nós precisamos gerar confiança uns com os outros. Se eu guardar para mim o que eu vivenciei sobre o bullying, sofrerei o resto da vida.”

A partir da questão da perda de confiança, os participantes discutiram sobre as pressões colocadas pela sociedade ou pela família e até mesmo pela escola, especialmente sobre as expectativas que são nutridas em relação aos adolescentes a respeito da escolha de profissão, gostos e costumes e até mesmo sobre a pressão de sucesso nos vestibulares. Boa parte dos participantes mencionou a falta de apoio da família na escuta dos problemas, medos e angústias deles, a desconfiança de alguns professores na capacidade dos alunos e a descrença dos adultos, em geral, sobre as potencialidades deles. Uma fala de um dos participantes retrata bem esse sentimento: “para a sociedade em geral somos sempre tratados como menores,

incapazes, somos banalizados pelos adultos”.

Nesse sentido, discutimos sobre a linha tênue que existe entre a pressão natural da vida – o crescimento que todos nós precisamos passar, bem como o amadurecimento para enfrentar as situações mais difíceis da vida, - e as situações de abuso – o excesso de pressão, o preconceito e a violência –, especialmente o que é gerado quando outros pretendem que nós sejamos e existamos neste mundo de maneira determinada, padronizada, estereotipada.

3.2.2 E se fosse você? Do grupo de apoio à experiência filosófica com toda a