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Um olhar sobre como aparece o brincar no Projeto Político-Pedagógico

FUNÇÃO NÚMERO DE PROFISSIONAIS

4.3.1 Um olhar sobre como aparece o brincar no Projeto Político-Pedagógico

Em 2001 e 2002, antes do início do ano letivo, a direção e os professores encontravam-se para estudar e debater questões que diziam respeito à metodologia de trabalho, avaliação, reorganização das turmas em multi-idade, entre outras. Ao final destes encontros os debates eram transformados em textos concebidos a partir de então como norteadores do Projeto Político-Pedagógico da Escola.

Este Projeto fundamenta-se nas idéias de Vygotsky, que defende a concepção de sujeito sócio-histórico e cultural, ou seja, acredita que os sujeitos aprendem na interação social com outros sujeitos. Neste processo a escola é concebida como um:

[...] espaço de construção de relações e de diálogo de diferentes culturas, portanto, de acordo com o documento analisado, o currículo leva em consideração esta diversidade e procura dar espaço aos diversos saberes e experiências na comunidade, explicitando-os, e proporcionando que possam ser reconstituídos e complexificados (ESCOLA AMARELA, 2002:3).

Deste modo, “[...] todas as ações que acontecem neste espaço constituem o currículo vivo da escola”, que, segundo o depoimento da coordenadora pedagógica, consta como:

“[...] caminho a ser percorrido pelos educadores (as), educandos(as) e comunidade, para que possam ter acesso aos conhecimentos que possibilitem compreender a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, bem como desenvolver a dimensão humana (ESCOLA AMARELA, 2002:3).

Neste processo entendem que a alfabetização ultrapassa as fronteiras do ler e do escrever, constituindo-se, com efeito, em um processo de apropriação de diferentes linguagens, entre elas a da Matemática, a das Artes, a das Ciências Sociais e Naturais, entendendo que a função da escola, como espaço coletivo de produção/reflexão de conhecimentos, é possibilitar que as crianças utilizem os conhecimentos como instrumento de ampliação das suas capacidades, como elementos constituidores de si mesmas como sujeitos históricos que participam ativamente do mundo em que estão inseridos (ESCOLA AMARELA, 2002).

A avaliação neste processo segue as bases da Proposta da Escola Sem Fronteiras que defende que esta seja processual, participativa, investigativa e redimensionadora da educação. Entretanto, as professoras que participaram da elaboração do PPP desenvolveram mecanismos que pudessem dar visibilidade “[...] às evoluções das aprendizagens dos educandos (as), fazendo com que os (as) mesmos (as) tenham consciência dos seus processos de aprendizagem em todas as dimensões humanas” (ESCOLA AMARELA, 2002:19).

Um dos mecanismos utilizados neste processo é o uso dos registros, tanto aqueles solicitados pelos professores como aqueles que acontecem no decorrer do processo de ensino-aprendizagem, e que no seu conjunto forma o que denominam de portfólio, “[...] que é uma forma de avaliação retirada do campo da arte” (ESCOLA AMARELA, 2002:19). Esta forma de avaliação possibilita que tanto professor como educando (a) percebam a evolução do processo da sua aprendizagem, estabelecendo relações sobre o caminho percorrido.

Assim, conhecendo o Projeto Político-Pedagógico desta escola foi possível encontrar alguns indicativos de que o brincar poderia entrar pela porta da frente da escola. Esta afirmação se deve a três pontos que foram destacados do PPP, e que evidenciam esta afirmação, são eles:

– A alfabetização:

A criança desenvolve uma série de conhecimentos como a fala, noções matemáticas, a autonomia, responsabilidade, a capacidade de planejar as ações, a se expressar através da música, dança, jogos corporais, brincadeiras e outros. Esta aprendizagem pode se dar através da imitação, interação com sujeitos mais experientes, formulação de perguntas e respostas. Cabe à escola ampliar significativamente esses conhecimentos, proporcionar outros, e perceber as dimensões humanas (corporal, afetiva, ética, estética, política, cognitiva, espacial...), bem como lidar com a heterogeneidade do(as) educandos(as) (ESCOLA AMARELA, 2002:1).

– O projeto de trabalho: esta forma de planejamento abre espaço à participação das crianças tanto no que diz respeito às escolhas dos temas a serem estudados como as formas de encaminhamento do trabalho. É possível afirmar que esta é uma metodologia que possui flexibilidade a ponto de permitir que o brincar possa entrar em sala de aula.

– Os objetos de estudo da educação física:

Jogos/Brincadeiras: São construções da humanidade que sugerem um processo de criatividade, de invenções para transformar através da imaginação, o real e o presente. O jogo satisfaz a necessidade da ação, ele estimula o exercício do pensar. Quando o sujeito joga, ele toma consciência de suas escolhas e decisões,

Há jogos em que as regras estão quase que ocultas, exemplo disto são as situações imaginárias. Quando as crianças imitam, imaginam que são determinados personagens, determinadas pessoas, suas ações estão referenciadas a partir das regras de comportamento destes personagens/pessoas.

Há outros jogos onde as regras estão bem claras e quase não se percebe uma situação imaginária. Porém, é possível perceber o desenvolvimento da criança em ambas as situações de jogos. Faz-se necessário propor jogos em equipes, onde as crianças e os pré- adolescentes possam refletir acerca das regras destes jogos, percebendo qual ideologia que está colocada (Ex: jogos discriminatórios, que excluem rapidamente os mais fracos) e, no lugar destas, construir, mudar as regras do jogo, ressignificando o mesmo, trocando a competição pelo lúdico, pelo prazer de jogar (ESCOLA AMARELA, 2002:16-18).

Primeiramente, o que se pode perceber é que a escola, no que diz respeito a sua proposta curricular, procura contemplar os interesses da criança, suas necessidades e, conseqüentemente, o brincar.

A análise do conteúdo defendido no interior do PPP, evidencia que este conclama o rompimento com as práticas tradicionais e tem sua proposta fundamentada na convicção de que é possível fazer diferente. Todavia, isto não significa que consolidar esta proposição, no cotidiano escolar seja algo simples de realizar, e sendo a contradição uma constante em nossas vidas, seria muito difícil se não a tivéssemos encontrado também nesta escola.

É importante esclarecer ainda que, mesmo este projeto tendo sido construído pelos professores e a direção em 2001 e 2002, ele não era conhecido pela maioria dos profissionais que estavam na escola em 2003. Pode-se dizer que 80% dos professores que atuaram na escola neste ano desconheciam o projeto.

Neste momento faz-se necessária uma análise mais aprofundada da proposta do PPP, confrontando-a com as ações pedagógicas desempenhadas no interior da escola. Em outras palavras, compreender como acontece a tradução do que está “no papel” para o “currículo vivo” da escola.