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Olhares sobre a Geologia, geomorfologia, hidrografia e vegetação do Planalto Central

5 BRASÍLIA ONTEM, HOJE E AMANHÃ

5.1 ENCONTRANDO BRASÍLIA: EVOLUÇÃO ATRAVÉS DAS ESCALAS TEMPORAIS

5.2.2 Olhares sobre a Geologia, geomorfologia, hidrografia e vegetação do Planalto Central

O relatório da Comissão Cruls sugere que “o Brazil Central já existia como um continente extenso, quando o resto do mundo ainda estava submergido”, (CRULS, 1992: 244). Conforme o relatório da auto-intitulada Comissão do Planalto, a esta região central do Brasil, toca a honra de ser a mais antiga do planeta. Atualmente, assume-se que a formação geológica do Distrito Federal é composta de grupos geológicos datados do período neoproterozóico. Os mais antigos, de 1 bilhão de anos atrás, são do grupo Canastra e Paranoá, e os mais recentes, de cerca de 700 milhões de anos, os grupos Bambuí e Araxá (MARTINS, 2000).

Estas rochas antigas, ao longo da evolução geoistórica, sofreram uma série de ciclos de soerguimento e intemperismo, sendo sua paisagem, “do ponto de vista geomorfológico, de recente evolução” (AB’SABER, 2004: 37), cuja formação se deu a partir da interação entre os fatores climáticos, bióticos e edáficos no período Terciário Superior. No estudo de geomorfologia, constante no relatório Belcher, constatou-se a similaridade da paisagem explorada com a paisagem da África Equatorial e Central. A ubiqüidade das chapadas

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corroboraria a tese da comissão Cruls de que a área seria uma antiga peneplanície que foi sobrelevada.

Admirando-se com as planuras que “os goianos chamavam de chapadões”, Tasso Fragoso, chefe da equipe para a definição do Vértice Noroeste da Missão Cruls, descreve estes acidentes geográficos que hoje reconhecemos por suas características de recarga de aqüíferos. O expedicionário registra no relatório da missão que

sob o ponto de vista geográfico essa zona desperta o maior interesse ao explorador. Nas encostas de alguns largos e vastos chapadões, cobertos de uma vegetação rasteira, erguem-se verdejantes bouquets de buritis, donde dimanam as águas para o Amazonas, São Francisco e Paraná (CRULS, 1992: 164 - 165).

Devido a essa relação de recarga de descarga de água associada à vegetação do Cerrado – notadamente com o buriti, símbolo23 do DF – é popularmente atribuída a essa região a alcunha de caixa d’água do Brasil. De fato, a área do Cerrado é responsável por grande quantidade da vazão total de água produzida no território brasileiro (LIMA, 2011). A atual área do DF, construída em solo de vocação hidrogeológica para recarga de aqüíferos. Vocação esta mais pronunciada nas áreas de formação de chapada (GASPAR, 2006).

Cerca de um terço da área do território que hoje se reconhece como pertencente ao Distrito Federal corresponde às formações de chapadas e chapadões, frequentemente divisoras de águas. Dentre as Chapadas destacam-se a da Contagem, a do Pipiripau (triplo divisor de águas), a de Brasília, a Chapada divisora São Bartolomeu/Preto e a Chapada divisora Descoberto/Alagado (PINTO, 1993). Já as veredas encontram-se originalmente associadas aos sopés dessa formação de relevo como áreas de descarga. Essas áreas contíguas aos afloramentos de água do planalto central irrigam regiões à jusante nos 360°(SEMATEC/IEMA, 1998).

A Missão Cruls apontava como preferencial para implantação da nova capital, esta área nas proximidades da fronteira do atual DF e do município goiano de Formosa, dada a proximidade a importantes nascentes do Brasil. Neiva (2008), reconstituindo as motivações históricas das comissões Cruls e Poli Coelho, entende que “o simbolismo dessas águas emendadas24 no centro do país e a promessa da viabilidade de água” (NEIVA, 2008: 2) foram grandes fatores para tal.

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Lei distrital n° 1.282/1996 declara o Buriti (Mauritia flexuosa), vegetal símbolo do DF.

24O fenômeno de uma mesma vereda de 6 km de extensão originar drenagens antípodas – o córrego Vereda

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Em 1894 seriam publicados os resultados da Comissão Cruls que demarcou uma zona do quadrilátero na área indicada, quase três vezes maior que a atual. O relatório apresentou uma extensa seção dedicada à medição do volume dos rios. Das correntes d’água, o “rio Parnauá” apresentou a segunda maior “despeza diária em milhões de litros” na representação gráfica das medições do período seco de 1892 nos “rios da zona explorada entre Pyrenopolis e Formoza” (CRULS, 1992: 137).

O fato popular é que se consagrou outra alcunha famosa da região, berço das águas, devido à concentração de nascentes das grandes bacias hidrográficas brasileiras. Outros autores ainda preferem o termo “cumeeira da América do Sul” (BARBOSA & MAGALHÃES, 2011: 382). O bioma do Cerrado tem grande importância também para a biodiversidade do continente latino-americano com relação ao fluxo gênico, pois conecta os biomas Amazônia, Mata Atlântica, Caatinga e Pantanal, funcionando como coluna vertebral ambiental do Brasil.

Ab’Sáber (2003: 123) confirma o “grande arcaísmo da vegetação dos cerrados, intuído por diversos pesquisadores”, mas afirma ter havido, em diferentes momentos geológicos, o ressurgimento e expansão do cerrados e cerradões a partir de áreas de stocks de flora (macro- refúgios). A partir destas áreas, nos períodos climáticos favoráveis à expansão do domínio Cerrado, se alastraria a biomassa sob a forma de “manchas de óleo” povoando as áreas até então secas. A área núcleo do Cerrado seria marcada pela instalação pioneira desse domínio, sendo o clima tropical de planalto, a ela associada, a amarração principal entre os macrorefúgios de cimeiras. A região do planalto Anápolis-Brasília, por ser uma paisagem de recente formação, com soerguido datado do Terciário Inferior, seria uma das áreas de colonização vegetal mais recente (pós-cretáceo, aproximadamente 65 milhões de anos). Barbosa (1996) estima que as características do Cerrado estão reunidas há 35 milhões de anos enquanto que a Mata Atlântica teria se formado há 7 milhões anos e a Amazônia há 3 milhões (BARBOSA apud FELLIPE, 2007).

Tal qual as savanas africanas, nos cerrados do Planalto Central também havia manadas de grandes mamíferos. Veados e lobos-guarás, além de emas, povoariam essa região brasileira. A presença dos cervídeos, conhecida pelos caçadores desse animal nessas chapadas, viria a motivar a antiga denominação de Formosa, Arraial dos Couros (BERTRAN, 1999; ARAGÃO, 1993). Essa toponímia, Couros, mais recentemente, se associaria à criação de gado no Vão do Paranã, local que leva o nome da primeira sesmaria da região.

originou o nome “Águas Emendadas” que batiza a Estação Ecológica no DF. A estação Ecológica, embora não abarque nascente do rioSão Francisco, encontra-se também próxima a ele.

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