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C OM PREN H EN SUM I N TERN ALI ZAÇÃO D E N ATUREZ AS

O term o é reconhecidam ente proveniente da filosofia estoica, que chega a Agostinho, possivelm ente, por m eio de Cícero: “ [ Zenão] não atribuía credibilidade a todas as im pressões, m as apenas àquelas que trouxessem consigo a m anifestação própria dos obj etos percebidos; essa im pressão, que é percebida por si m esm a, a cham arem os de com preensível”258.

Cite- se outro testem unho de Cícero que expõe a definição do term o segundo a filosofia do Pórtico. Em Sobre os fins dos bens e

do m al I I I , o rom ano afirm a pela voz de Catão:

As cognições das coisas, por sua vez, que nos sej a lícito cham ar com preensões, ou percepções ou, se essas palavras não agradam ou são pouco inteligíveis,

catalépseis; elas, portanto, j ulgam os que devem ser

adm it idas por si próprias, porque possuem algo em si que abraça, por assim dizer, e guarda consigo a verdade259

.

258 Visis non om nibus adiungebat fidem sed is solum quae propriam quandam

haberent declarat ionem earum rerum quae viderent ur; id aut em visum cum ipsum per se cerneret ur, com prehensibile. Cícero, Academ ica I ,11, 41. Trad.. Lorenzo Mam m ì I n: handout de aula, 2013, grifo nosso. Sobre a t eoria o crit ério de verdade na “ represent ação com preensiva” , consult e- se t am bém Carlos Lévy. Cicero academ icus recherches sur les Académ iques et sur la philosophie cicéronienne.,,, 1992, pp. 223 et seq.

259 Rerum aut em cognitiones, quas vel com prehensiones vel percept iones vel, si

haec verba aut minus placent aut minus intelleguntur, καταλήψεις appellemus licet, eas igit ur ipsas propt er se adsciscendas arbit ram ur, quod habeant quiddam in se quasi com plexum et continens verit at em ) . Cicero, De finibus m alorum et bonorum , I I I ; t rad. LI MA, S.C., UNI CAMP, 2009, p. 426.

Cícero escolhe “ com prehensiones aut percepciones” para traduzir o term o grego catalépseis. Aqui, tom arem os o term o “ com preensão” , visto que é o term o utilizado por Agostinho no trecho que analisam os. Adem ais, o term o com preensão em nosso vernáculo conota o assent im ento intelectual, o que não estaria longe da doutrina do pórtico, visto que “ quem percebe algo, assente im ediatam ente” ( Cicero. Academ ica I I , XI I ,38) . Catalepsis, é, pois um a etapa do conhecim ento que dá o testem unho fiel da verdade que se im põe à força da razão. Na cognição estoica, o “ abraço catalépt ico” segue a percepção do dado sensorial e é anterior ao teste feito pela razão. Liga- se ao assentim ento, à phantasía, que é a representação.

A filosofia do Pórtico lança os fundam entos da epistem ologia de um a doutrina que não perm ite a separação entre percepção e

verdade, diante do que Brehier afirm ará, acerca do estoicism o, que

“ a verdade e certeza estão na percepção”260. Em um a palavra, o

conhecim ento parte da em peiria das coisas para abraçar a verdade im ediatam ente assentida por dignidade própria e sem interm ediação. Refere R. Bolzani:

Por tudo isso, para o estoicism o, a representação apreensiva é critério de verdade, o cânon que perm ite discernir verdadeiro e falso, apreensão do real e sua ausência. Pois o que perm ite dist ingui- la com o tal, sua evidência, vem com a própria representação. O intelecto apenas reconhece essa evidência, ao dar- lhe assentim ento. As representações apreensivas trazem em

260 cf. Brehier, Em ile. La t héorie de la connaissance consist e précisém ent à faire rent rer dans le sensible le dom aine de la cert it ude et de la science que Plat on en avait soigneusem ent écart é. La vérit é et la cert it ude sont dans les percept ions les plus com m unes, et elles n’exigent aucune qualit é qui dépasse celles qui appart iennent à t out hom m e, m êm e aux plus ignorant s; la science, il est vrai, n’appart ient qu’au sage; m ais elle ne sort pas pour cela du sensible, et elle rest e at t achée à ces percept ions com m unes dont elle n’est que la syst ém at isation. Hist oire de la philosophie I . L’Ant ique et le Moyen âge. Librairie Félix Alcan, Paris: 1928, p. 300

si a m arca dist int iva de sua verdade ( cf. Academ ica I .§41) . Portanto, é ‘verdadeira e tal que não poderia tornar- se falsa’ ( Sextus. Adversus Mathem aticos VI I , 152) .261

Evitando desenvolver a questão em detalhes, tracem os as linhas gerais do estudo de E. Berm on262, que tenta dem onstrar com o Agostinho teria se apropriado da “ representação com preensiva” ( phantasia katalept iké) dando- lhe out ro sentido. Para o estudioso, Agostinho apropria- se do term o, que no dogm atism o m aterialista estoico sustentava o testem unho da verdade indubitável do obj eto, a fim de dar ao cogit o estatuto de prim eiro conhecim ento seguro. Mas será necessário passar pelo argum ento cético para deslocar o conceito estoico de phantasia kataleptike para a concepção de “ suspensão” ( epoche) da nova academ ia, aceitando m om entaneam ente a acatalepsia universal; ou sej a, a im possibilidade de assentir aos dados dos sentidos com o critério suficiente de verdade263. Agostinho aceita a crít ica cética contra o crit ério de verdade da filosofia do Pórtico264, m as afasta- se em seguida do ceticism o neoacadêm ico quando, para buscar a verdade, recupera a “ representação com preensiva” em outra região, a saber, o intelectual ou interior.

261

Bolzani Filho, R. Acadêmicos versus pirrônicos. In: sképsis, ano iv, no.7, 2011, p.20.

262 Berm on, Em m anuel. Le Cogit o Dans La Pensée De Saint August in. cap. I V.

Paris: Vrin, 2001.

263 Cf. Cicero, Luculus, 13, 41 Consult ar C. Lévy. Cicero academ icus, 1992, p. 234. 264 cf. div. qua. 9 Si igitur sunt im agines sensibilium falsae, quae discerni ipsis

sensibus nequeunt , et nihil percipi pot est nisi quod a falso discernitur, non est const it ut um iudicium verit at is in sensibus. Quam obrem saluberrim e adm onem ur avert i ab hoc m undo, qui profect o corporeus est et sensibilis, et ad Deum , id est , verit at em quae int ellect u et int eriore m ent e capit ur, quae sem per m anet et eiusdem m odi est , quae non habet im aginem falsi, a qua discerni non possit , t ot a alacrit at e convert i. ( Logo, se são im agens falsas de coisas sensíveis que não podem ser discernidas pelos próprios sent idos, e se não pode ser percebido nada senão o que é discernido do falso, não há crit ério de verdade que reside/ se encont ra/ ( const it ut um ) nas coisas sensíveis. Por consequência, salut arm ent e, som os exort ados a que nos afast em os dest e m undo, que cert am ent e é corpóreo e sensível, at é Deus, ist o é, som os exort ados a convert erm os com t odo ardor para a verdade que é capit ada pela m ent e int erior e pelo int elect o, que sem pre perm anece e dest e m esm o m odo é que não possui im agem falsa que não possa ser discernida)

Destarte, o cam inho está traçado para defesa do cogito com o conhecim ent o seguro e im ediato por catalépsis; agora, restritivo ao inteligível265.

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