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3 D ESCRIÇÃO DO C ASO DE E STUDO O caso de estudo selecionado para esta dissertação foi a Barragem de Rejeitados Cabeço do Pião (BRCP),

3.1 O C OMPLEXO DA M INA DA P ANASQUEIRA

Ao longo dos anos, o direito de exploração da Mina da Panasqueira passou por modificações na sua concessão, mas desde o início de 2016, o grupo canadiano Almonty tem 100 % da propriedade da Beralt Tin & Wolfram (BTW) (Almonty, 2017). A área atual concessionada é cerca de 19,14 km2 e estende-se

por cerca de 5 km.

Estudos recentes revelam uma zona global mineralizada com dimensões aproximadas de 2500 m em comprimento, 400 m a 2200 m de largura e pelo menos 500 m em profundidade. Entre os minerais encontrados estão arsenopirite, calcopirite, galena, cassiterite, pirrotite, fluorite, calcite, volframite, pirite, esfalerite, entre outros.

O principal mineral explorado sempre foi volframite, seguido dos subprodutos cassiterite e calcopirite. O processamento do minério da Panasqueira tem como principais minerais rejeitados a arsenopirite e quartzo. Estima-se, que durante os mais de cem anos de exploração da Mina da Panasqueira, houve uma movimentação de rochas no total de 40 milhões de toneladas (Wheeler, 2016).

Para enquadramento do caso de estudo, faz-se a seguir uma breve descrição do empreendimento do Complexo da Mina da Panasqueira.

PRODUÇÃO E PROCESSAMENTO

Em atividade há quase 130 anos, a Mina da Panasqueira passou por obstáculos e mudanças das condições de operação e de trabalho. Contudo, ainda em exploração pela grandiosidade do jazigo e escassez de volframite na Europa. O método de exploração por câmara e pilares é convenientemente aplicado desde 1974, quando ocorreu a mecanização das operações mineiras. A escolha por essa tipologia de lavra deu-se pelas exigências do corpo de minério e da rocha encaixante. Relativamente, ao desenvolvimento da mina, uma rede complexa de rampas horizontais e poços constituem o meio de ligação entre as galerias de operação e o acesso subterrâneo.

Antiga Lavaria Rio

A instalação da primeira lavaria “Rio” foi construída em 1904 próxima à barragem Cabeço do Pião e ao rio Zêrere, pela proximidade deste no fornecimento de água. Essa instalação, que operou até 1996, recebiam o minério proveniente de um britador de maxilas e de uma crivagem húmida, que garantiam a granulometria da alimentação da moagem em moinho cónico. O material alimentado na primeira etapa da lavaria “Rio” tinha entre - 9 mm e 12 mm, calibre máximo de libertação da volframite. As etapas anteriores a moagem (no interior da mina) sofreram algumas alterações, pois muito dependia da qualidade do minério bruto (run of mine) proveniente das frentes de lavra (Reis, 1971). Na Figura 23 apresentam-se o diagrama simplificado de processamento de minério da antiga lavaria “Rio”.

Figura 23. Diagrama simplificado da antiga lavaria “Rio” do complexo da Mina da Panasqueira.

Para este trabalho é interessante dar a conhecer os principais estágios da planta de processamento que originaram os rejeitados depositados na barragem Cabeço do Pião. A antiga lavaria era dividida em dois circuitos um de areias e outro de lamas, cada um dos circuitos produzia dois tipos de rejeitados com diferentes calibres de partículas. Os rejeitados de areias, nomeadamente os estéreis, eram originados na moagem em moinhos de rolos, seguidamente por um desaguamento em jigas, que visava o reaproveitamento de água e a otimização da recuperação de volframite. Por fim, esse material de granulometria mais grosseira era enviado à barragem.

Os rejeitados finos produzidos durante o processamento do circuito de lamas, passavam por diversas operações, como a hidrociclonagem, a flutuação e a separação magnética. Esta última tinha função de separar o concentrado de volframite do concentrado de estanho. Os rejeitados de lamas eram espessados em tanques espessadores e bombeados para deposição no vale da barragem.

Lavaria Barroca Grande

Atualmente, as instalações de tratamento de minério localizam-se em Barroca Grande, com alguns equipamentos da antiga lavaria reaproveitados na configuração do processo atual. A lavaria Barroca Grande conta com operações de fragmentação prévia, desengrosso de calibres grosseiros, circuito de areias, circuito de lamas, fragmentação principal, concentração final, circuito do cobre, circuito do estanho (Wheeler, 2016).

Na Figura 24 é possível ver as instalações da lavaria nova e a barragem de Barroca Grande, assim como ao fundo o depósito de resíduos do Cabeço do Pião.

Figura 24. Instalações da lavaria e barragem de Barroca Grande, ao fundo barragem Cabeço do Pião (Da autora, 2017).

Os produtos concentrados obtidos nos três circuitos atuais: circuito principal, circuito do cobre e circuito do estanho, apresentam elevada qualidade e pureza reconhecidas mundialmente. Eles são armazenados e posteriormente embalados em sacos para o transporte até o porto de Lisboa (Figura 25).

Figura 25. a) Concentração por separação magnética e b) armazenamento de concentrado de volframite (Da autora, 2017).

No atual processo da lavaria Barroca Grande a recuperação global é igual a 81 % em WO3, com mais

de 90 % das MTUs (Unidades de Tonelada Métrica) recuperadas num concentrado de tungsténio de alto teor (por volta de 75 % de WO3). O concentrado de cobre chega a ter teor maior que 28 % com apenas

2 % de arsénio, o concentrado de estanho tem um teor aproximado de 74 % (Wheeler, 2016).

Lavaria Nova Barroca Grande Barragem de Barroca Grande

Estimam-se que em 2016, foram produzidas cerca de 69000 MTUs de WO3, 384 toneladas de

concentrado de cobre e 69 toneladas de concentrado de estanho. A produção histórica (desde 1934 até 2016) do processamento do complexo da Mina da Panasqueira conta um total de produto concentrado, aproximado, de 128000 t de WO3, 32000 t de Cu e 6600 t de concentrado de Sn (Wheeler, 2016).

ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA

A Estação de Tratamento de Água (ETA) de Salgueira, construída em 1950, tem capacidade para receber um caudal de 500 m3.h-1. Recebe água coletada proveniente de Drenagem Ácida de Mina (DAM), água

acumulada nas barragens de rejeitados e lixiviados da base dessas barragens.

Entretanto, durante o inverno devido às cheias, vez ou outra, não é possível controlar o volume total de água que chega à ETA, e portanto, algum volume de efluente é descarregado no rio Zêrere sem tratamento prévio (Wheeler, 2016), contribuindo para a degradação da qualidade das águas superficiais.

NOVO DEPÓSITO DE RESÍDUOS MINEIROS

O atual complexo de barragens de escombros e rejeitados provenientes da Mina da Panasqueira localiza- se em Barroca Grande próximo às instalações da planta de processamento (Figura 24). A barragem com capacidade de armazenamento de 1,45 milhões de m3, recebe materiais escombros de rocha encaixante,

ganga e areias, lamas da ETA de Salgueira e rejeitados da lavaria. Os principais minerais presentes nos rejeitados são a arsenopirite e outros sulfuretos. Na Figura 26 é possível visualizar os aspetos e a estrutura da barragem, com previsão de fim de vida útil para 2020. Entretanto, tem-se planeado a construção de um novo depósito com capacidade de armazenamento de aproximadamente 1,73 milhões de m3 (Wheeler, 2016).

Figura 26. Barragem nova de rejeitados da lavaria Barroca Grande (Da autora, 2017).

A barragem de Barroca Grande está a cerca de 6 km de distância da barragem Cabeço do Pião, na Figura 27 é possível localizar as duas barragens.

Figura 27. Barragem de Barroca Grande no complexo da Mina da Panasqueira, barragem Cabeço do Pião e a antiga lavaria “Rio” (Google Earth Pro, 2020).