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Resumo: É feito um enquadramento teórico do conceito de risco focando questões subjacentes à sua definição. Os autores seleccionados baseiam a sua análise, a um nível geral, nas dinâmicas de desenvolvimento das sociedades ocidentais actuais, e, num plano particular, na interpretação do conceito de risco.

II.I. Definição Genérica do Conceito de Risco

A definição do conceito de risco implica, segundo Beck, “definitional struggles”61. Por outras palavras, a atribuição de uma consequência indesejável a um evento futuro é fruto de um processo de legitimação social, em que a racionalidade científica e as dinâmicas sociais são simultaneamente independentes e interdependentes.

Em termos evolutivos, as várias perspectivas desenvolvidas acerca do conceito de risco têm tendido a afastar-se, nomeadamente a partir dos anos oitenta, de um posicionamento exclusivamente positivista, maioritariamente desenvolvido por economistas, para tomar também em linha de conta factores subjectivos, ou seja, aproximando-se do relativismo. Segundo a primeira abordagem, o conceito é definido em termos de um comportamento racional para estabelecer uma função relativa de valor para resultados prováveis, ou melhor, constitui uma base de cálculo entre custo e oportunidade segundo uma dada probabilidade. Posteriormente, a análise do risco veio a ser complementada por factores como, entre outros, a escolha (voluntária), contingências de ordem natural, a reversibilidade, etc.

De uma forma geral, os positivistas concordam que o risco é uma designação meramente científica para a caracterização e análise integral da realidade, através da compilação de informação e respectivo tratamento quantitativo. Por seu turno, os relativistas defendem que o risco é essencialmente uma reacção subjectiva a uma experiência pessoal ou social.

É fundamental ter presente que os pólos positivismo e relativismo constituem cada um dos extremos opostos de um contínuo de possibilidades analíticas. Ao passo que os primeiros são susceptíveis de ser criticados por negligenciar o contexto social, os segundos são questionados por ignorar a análise das consequências e probabilidades associadas a situações de risco. Deste modo, é imprescindível procurar uma articulação entre ambos.

Para uma compreensão genérica do conceito de risco é útil estabelecer a diferenciação entre “risco e acaso/perigo” (“risk and hazard”). Lupton62 veio delinear três posições fundamentais: realista ou materialista; a cultural e a pós-moderna. Para a primeira, o risco está directamente associado a um perigo subjacente com o potencial de causar danos, inserindo-se, assim, numa

61

Beck, 1992: 29

62

“culture of blame”, de onde os julgamentos morais vão para uma redução de risco e a ênfase para a educação individual, medidas de prevenção e estratégia corporativa. Na segunda, o risco é “natural e neutro” e associado a uma avaliação e gestão individual. Deste modo, é essencial um levantamento sociológico informado que poderá superar a “ingenuidade” da avaliação técnico-científica e tomar em consideração o mundo real de acasos, e como estes influenciam, por exemplo, o trabalho quotidiano. No caso da última posição, as vulnerabilidades sociais são invocadas para delimitar comportamentos de risco, ou seja, os riscos advém de uma construção social baseada nos juízos contingentes acerca daquilo que constituem os resultados indesejados das escolhas dos indivíduos.

Para, entre outros, Beck e Foucault o conceito de risco não se refere exclusivamente a um fenómeno objectivamente identificável, calculável e mensurável (abordagem técnico- científica), nem a uma resposta puramente individual de acordo com diversas molduras de percepção (relativista). A título de exemplo, o primeiro autor tende a mover-se de forma ambivalente entre as duas posições, sugerindo, por vezes, que os riscos são um fenómeno objectivo em proliferação e fora de controlo, e por outras, chama a atenção para a sua mediação através de processos sociais e culturais. Por seu turno, Foucault leva a cabo uma abordagem próxima da relativista já que não se demonstra interessado em investigar a natureza do risco em si mas antes as formas de conhecimento, discursos dominantes, técnicas de peritos e institucionais que servem para torná-lo identificável e calculável, ou seja, construindo-o como uma realidade.63

É a complementaridade entre as várias abordagens que permite contemplar os diversos aspectos essenciais para a compreensão do conceito de risco. A título de síntese geral, e servindo de introdução a uma posterior apresentação mais detalhada dos vários autores seleccionados, o conceito de risco reúne várias características:

- Paradoxos:

“Risk is about individual fears and social rights. Risk is something chosen and something imposed. Risk is manageable and can be insured against or, alternatively, is overwhelming and uncontrollable.”64

- Elemento Estratégico:

“Risk analysis has always been part of the strategic considerations of organizations, corporations, groups and nation-states.”65

63 Lupton, 1999: 5 64 Culpitt, 1999: 9 65 Culpitt, 1999: 9

- Probabilidade de Consequência Adversa:

“Risk is the potential for realization of unwanted, negative consequences of an event.”66 - Instrumento de Racionalização e Governação:

“There is no such thing as risk in reality. Risk is a way – or rather, a set of different ways – of ordering reality, of rendering it into a calculable form. It is a way of representing events so that they are governable through particular goals. It is a component of diverse forms of calculative rationality for governing the conduct of individuals, associations, and populations. It is thus not possible to speak of incalculable risks, or of risks that escape our modes of calculation, and even less to speak of a social order in which risk is largely calculable and contrast it with one in which risk has become largely incalculable.”67

- Mecanismo de Responsabilização:

“The nature of risk involves the possibility of random fate, whether individual or social, shrouded in the intellectual and political dilemmas of endless rationalization about cause and responsibility.”68

- Forma de lidar com o Futuro:

“From an abstract point of view: since we cannot know the future (or it would not be the future) and since, because of its structural novelty, we cannot describe the society in which we now life, a peculiar symbiosis arises between the future and society, that is to say, between certain uncertainties in the temporal and in the social dimension…. risk indicates a form for confronting the problem represented by the future, i.e., it is a form of dealing with time; and we may assume that this form cannot be used without taking into account the subject matter and without taking into account the social consequences.”69

- Atribuído a uma Decisão:

“… the potential loss is either regarded as consequence of the decision, that is to say, it is attributed to the decision; the possible loss is considered to have caused externally, that is to say, it is attributed to the environment. In this case we speak of danger”.70

- Reflexivo:

“We also appear to lay great store by the generally appreciated value of safety/security. This rapidly (much too rapidly) gives rise to the idea that one really desires security, but that, given the state the world is in (formerly one would have said: beneath the moon), one has to accept

66 Rowe, 1988: 24 67 Luhmann, 1993 68 Culpitt, 1999: 9 69 Luhmann, 1993: 48, 51 70 Luhmann, 1993: 21,22

risks. The risk form thus becomes a variation on the distinction of desirable/undesirable…. Security as a counter-concept to risk remains an empty concept in this constellation, similar to the concept of health in the distinction ill/healthy. It thus functions only as reflexive concept.”71

- Construção Subjectiva:

Risco é uma atribuição de valor influenciada por crenças, valores e experiências pessoais. Por outras palavras, depende da observação dos agentes sociais que o definem e percepcionam.72

II.II. Perspectiva Cultural

Pelo início dos anos oitenta, Douglas e Wildavsky assumem-se como referências da perspectiva cultural e antropológica do risco. Este conceito reflecte a estrutura de relações sociais na medida em que é produto dos valores e normas vigentes, sendo, assim, uma construção colectiva apenas analisável mediante uma abordagem cultural, que integre os juízos morais acerca de como viver (percepção individual) com considerações empíricas sobre como a realidade é de facto (contexto social envolvente).73

A percepção do risco, como um fenómeno, quer social, quer individual, implica que sejam tomados em consideração os factores sociais subjacentes à aceitação do mesmo, e que residem nos próprios princípios de valor, ou seja, na cultura.

De uma forma geral, os indivíduos seleccionam a apreensão de determinados perigos de forma a se conformarem a um modo de vida específico. Consequentemente, as pessoas que aderem a diferentes formas de organização social têm também variáveis disposições para aceitar (e evitar) diversos tipos de risco. Assim, alterar os processos de selecção e percepção de risco implica, de igual modo, transformar o modo de organização social.74

Os autores75 salientam que o crescimento sectário das sociedades permite, face a uma ausência de evidências de que a insegurança está a aumentar (aumento da esperança média de vida, melhoria das condições de saúde são elementos contraditórios), que se seleccionem riscos, entre um leque de perigos possíveis, susceptíveis de levar a que os indivíduos alterem as suas formas de viver. Neste sentido, as questões colocadas pela análise dos processos de construção do risco são antes “que tipo de sociedade é desejável?” mais do que “qual a importância do factor risco?”

71 Luhmann, 1993: 20 72 Douglas e Wildavsky, 1982 73 Douglas e Wildavsky, 1982:10 74 Douglas e Wildavsky, 1982: 9 75 Douglas e Wildavsky, 1982: 14

Douglas sublinha a existência de um “private risk budget”.76 Segundo esta noção, cada sujeito leva a cabo a construção do seu próprio projecto moral de acordo com o tipo de indivíduo que planeia ser, a consistência racional que procura dar ao seu plano de vida e os riscos que se dispõe a tomar para alcançá-lo. Por outras palavras, a partir do que é socialmente aceite como risco são também obtidos indicadores acerca da capacidade de adaptação social dos indivíduos, sendo que cada modo de vida tem associado um “portfolio” de risco distinto. Acima de tudo, os riscos são seleccionados mas também ignorados.77 A distinção entre ocorrência voluntária e involuntária de um perigo não é objectivamente identificável. Por exemplo, optar por viver num local poluído pode ser fruto de constrangimentos económicos e não de uma escolha voluntária. Os riscos são também irreversíveis gerando um processo em escalada e para as futuras gerações. São ainda invisíveis, ou latentes, manifestando-se algumas vezes apenas muito mais tarde.

II.III. “Sociedade de Risco”

De acordo com Nick Fox78, a identificação de riscos não pode ser desassociada das dinâmicas políticas subjacentes à valorização de determinados modos de vida em detrimento de outros. Ulrich Beck defende que a sociedade de risco pode ser vista como um desafio motivante representando uma nova etapa para o desenvolvimento da modernidade, que vem permitir a abertura de novas formas de participação activa.79 Risco opõe-se a perigo na medida em que implica reflexividade e previsibilidade, ou seja, racionalização. Por outras palavras, “The concept of risk is directly bound to the concept of reflexive modernization. Risk is a systematic way of dealing with hazards and insecurities induced and introduced by modernization itself. Risks, as opposed to older dangers, are consequences that relate to the threatening force of modernization and to its globalisation of doubt. They are politically reflexive”80

Tomando em consideração as opções técnicas oferecidas pelo progresso científico e tecnológico, o conceito de risco adquire uma dimensão global, ao mesmo tempo que surgem novos e áreas de risco que se tornam racionalizáveis.

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Fazendo referência à obra Anatomy of Values” de Charles Fried in Douglas, 1985: 15

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Douglas e Wildavsky, 1982: 18-27

78

Fox, 1999: 30

79

Para Lupton (1999:160), Douglas e Beck são diferenciáveis apenas em termos analíticos. Se a primeira oferece uma abordagem “sociocultural” dos processos de risco, o segundo avança uma ponderação do risco nos processos socioculturais.

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Apesar de determinados riscos, como o desastre nuclear de Bhopal é exemplo, poderem ser infligidos primeiramente a países em vias de desenvolvimento, as suas consequências não deixam de vir a assumir uma escala global – “boomerang effect”. Neste contexto, é relevante tomar em linha de consideração a relação estabelecida entre juízos racionalmente baseados, pressupondo que os vários agentes sociais sejam informados acerca de como agir em contextos de risco, e a consequente atribuição de responsabilidade às vítimas. No caso referido, as populações afectadas foram susceptíveis de ser responsabilizadas pela sua falta de preparação para lidar com um desastre de tipo nuclear, tendo o papel empresarial e governamental sido passado para segundo plano. Processos de responsabilização semelhantes inserem-se claramente em estratégias de carácter político e económico.

Segundo Luhmann81 a informação é politicamente controlada sendo fundamental analisar quem decide, e em que contextos materiais e temporais, que riscos devem ser tomados, ou não, em linha de conta. A questão da selecção de riscos tornou-se assim um elemento essencial de análise.

A inexistência de alternativas de vida pode estar, em maior ou menor grau, presente ao nível de diversos momentos de uma biografia. No contexto actual, a proporção de oportunidades directamente consequentes de processos de tomadas de decisão está em decréscimo. Inversamente, a proporção biográfica do que é individualmente construído está em crescimento (“kits of biographical combination possibilities”82). Consequentemente, os indivíduos “terão de pagar” pelas consequências mesmo de decisões não tomadas. As situações de dependência institucional são sinónimas de “susceptibilidade a crises”.

Mais riscos os indivíduos enfrentam também mais decisões têm de tomar, e são os menos estabilizados os a sofrer maior ansiedade. Saber que determinado factor ou evento é pouco provável de acontecer não diminui necessariamente os receios. Desta forma, o discurso de risco envolve uma extensa variedade de medos e ansiedades que são chamados a ser racionalizados.

A expansão do leque de possibilidades de tomada de decisão e variedade de combinações biográficas está a ser abordado nas sociedades modernas ocidentais por uma linguagem conceptual que leva a uma transformação de perigos em riscos.83

Para Frank Furedi84 é o próprio contexto social que se define estruturalmente como de risco. Neste sentido, apesar de políticos e opinion-makers divergirem quanto à identificação dos

81 Luhmann, 1993: 4 82 Beck, 1992: 135 83 Luhmann 1993: 46

riscos predominantes, a aversão pelo mesmo é partilhada, pelo que as condutas sociais devem ser baseadas no “princípio da precaução”.

Por outro lado, se as sociedades se tornarem genericamente organizadas em torno do “princípio da precaução” podem vir a tornar-me mais conservadoras e irracionais, gerando-se um processo de paralisação social. Por outras palavras, as preocupações acerca do risco são produtos imaginários produzidos por uma “cultura do medo”.85

“New Prudentialism” é a noção utilizada por Pat O’Malley86 para ilustrar que a minimização do risco se tornou uma componente essencial das escolhas dos indivíduos, em várias esferas sociais desde, agregados familiares, consumidores e utilizadores de serviços, etc. A transversalidade do risco leva a que os domínios sociais a serem monitorizados e geridos aumentem. Por outro lado, cabe também aos cidadãos o dever de controlar os riscos. Categorias como classe e desigualdades surgem reinscritas no seio da diferenciação central entre “cidadãos activos” (capazes de gerir os seus riscos) e “populações-alvo” (“em risco”) que requerem uma intervenção de apoio. Assim, o risco é um contínuo, e não uma fractura entre categorias sociais, que vem permitir identificar situações de vulnerabilidade fluidas e transversais à população.

Criticando a análise de Beck, Dean Mitchell87 advoga que as sociedades não se tornaram necessariamente mais reflexivas, ou melhor informadas nos processos de tomada de decisão, mas sim que a modernidade se encontra num estado de auto-confrontação com os efeitos não assimilados da sociedade industrial. O autor considera que o risco não pode ser considerado como uniforme (mesmas características em todas as esferas) e omnipresente, pelo que é essencial tomar em consideração várias formas de entendimento qualitativo (categorias e grupos segundo factores de risco como a educação, nacionalidade, etc.) e a medição de procedimentos contra os riscos. Deste modo, o conceito é plural e heterogéneo e a sua significância não se exausta numa narrativa de globalização de riscos incalculáveis. A solução analítica proposta pelo autor fundamenta-se numa “nominalist position”88, isto é, considerar o risco parte integrante dos mecanismos sociais desenvolvidos para levar a que os indivíduos estejam informados e actuem sobre si próprios, bem como sobre os outros, no âmbito de um leque de programas morais, políticos e tecnologias sociais.

84 Furedi, 2002 85 Jackson e Scott, 1999: 103 86 O´Malley in Mitchell, 1999: 145 87 Mitchell, 1999: 135-137, 145 88

Mitchell considera a abordagem de François Ewald sobre “insurance risk” mais próxima de alcançar um consenso acerca do progresso. Ewald trata as desigualdades capitalistas concebendo a segurança social como uma tecnologia de solidariedade passando da ideia de culpa, baseada numa subjectividade legal, para uma socialização do risco. Mitchell, 1999: 137-142

Contrariando uma percepção da evolução histórica como cumulativa, Anthony Giddens89 caracteriza a situação actual de período de modernidade tardia em que as transformações sociais são mais aceleradas e atingem proporções globais. Tal não significa que se esteja perante um novo tipo de sociedade, mas que as consequências da modernidade se estão a tornar progressivamente mais radicalizadas e universais.90 O risco é modelado pela natureza reflexiva da modernidade, que implica uma constante reformulação das práticas sociais através dos fluxos de informação permanentes recebidos acerca das mesmas. Para o autor não significa que a realidade tenha passado a ser mais “arriscada”, mas antes que pensar em termos de avaliação de risco se tem vindo a tornar um exercício constante.

Stephen Crock91 advoga que é necessário analisar as especificidades da gestão do risco dos regimes modernos. Estes dizem respeito a uma “gestão organizada do risco”; “regimes neo- liberais” e “gestão ritual do risco” ou “comunidade reflexiva”. O primeiro centraliza-se no Estado que assume a tarefa de regulação, e se possível de erradicação dos riscos, como parte de um incentivo à modernização. Os regimes neo-liberais (onde os mecanismos da gestão organizada do risco permanecem) colocam a ênfase nas capacidades auto-reguladoras dos indivíduos (responsáveis pelos seus estilos de vida e opções), ou seja, na sua prudência, operando tipicamente através do fornecimento de informação e aconselhamento especializado (também vigilância e disciplina). A “gestão ritual do risco” ou “comunidade reflexiva” diz respeito a uma junção de recursos e factores heterogéneos: conhecimento dos peritos, tecnologias mainstream e alternativas, processos de formação de grupos, símbolos e formas narrativas e fenómenos naturais. O carácter ritualizado destes regimes reside em dois factores fundamentais: a repetição de práticas promissoras de previsibilidade ou certeza (como os mantras de “reduzir”, reutilizar”, “reciclar”) e as múltiplas associações a situações fronteira (entre natureza e cultura, a desvios sociais e a comunidades anti-hierárquicas).

Segundo a interpretação de Jackson e Scott92, a monitorização reflexiva e individual do risco prevalece sobre as condições sociais da sua produção, ou seja, a avaliação e gestão do risco

89

Giddens, 1995

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As transições históricas assumem-se como processos de subjacente facilidade devido a três fontes, dominantes e interdependentes, das dinâmicas de modernidade: sistemas abstractos, reflexividade e a separação do tempo e espaço. A distância entre espaço e tempo é abolida e tornada uniforme a uma escala global. Em consequência, as relações sociais podem ser alargadas admitindo uma extrema capacidade de transformação uma vez que deixam de ser contextuais às instituições, ou seu local de origem. Os sistemas abstractos referem as formas de troca entre os indivíduos e que deixam de requerer uma presença física num contexto específico (exemplo das aquisições e trocas por sistemas de pagamento de crédito). Os sistemas de peritos dizem respeito ao conhecimento especializado e tecnologias subjacentes à organização das sociedades. Giddens, 1995: 51

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Crock, 1999: 160-185

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cabe aos indivíduos. Para tal, é necessário que sejam construídos pontos de segurança, monitorizando espaço e tempo, como trabalho e lazer.

O discurso de controlo dos riscos é susceptível de ser utilizado como um instrumento político para a manutenção da ordem social (status quo). Neste sentido, o risco é um conceito reflexivo que permite subestimar a incerteza associada às várias esferas sociais, desde a económica, social e política, das sociedades modernas ocidentais. A actual “political economy of uncertainty”93 deve contemplar o problema da pobreza.

Para David Le Breton94, nas sociedades ocidentais actuais, a identidade social dos indivíduos está a tornar-se progressivamente mais precária. Há uma ausência total de sistemas simbólicos capazes de suster o desenvolvimento de um sentido de identidade social. Consequentemente, e em último recurso, os indivíduos procuram distinguir-se dos outros de forma a restaurar o