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ENTÃO, já tendo contado como o Rei Arthur conseguiu aquela espada muito valiosa, Excalibur, para ser sua arma de defesa, agora vou contar várias outras admiráveis aventuras de cavaleiro pelas quais ele conquistou para si uma dama extraordinariamente bela e gentil para ser sua Rainha.

Pois, embora o mundo todo conheça bem o renome dessa dama perfeitamente graciosa, Lady Guinevere, não creio que jamais tenha sido contada toda a história das aventuras com as quais o Rei Arthur conquistou seu coração.

Portanto, como o assunto narrado daqui por diante trata não só desse caso, mas também da história de um certo disfarce mágico que o Rei usou para alcançar seus objetivos, bem como várias aventuras de enorme ousadia cavaleiresca em que ele se lançou, tenho grandes esperanças de que aqueles que lerem o que escrevi achem a história tão agradável quanto divertida.

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APÍTULO

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RIMEIRO

Como o Rei Arthur foi até Tintagalon com quatro dos de sua Corte, e como se disfarçou com um determinado propósito

OIS BEM, num certo dia o Rei Arthur proclamou que se organizasse um grande banquete, que aconteceu em Carleon, na região de Usk. Muitos nobres convidados foram chamados, e uma Corte esplêndida se reuniu no castelo do Rei. No banquete sentaram-se sete reis e cinco rainhas com pompas reais, e havia, ao todo, setenta e sete membros da alta nobreza e lindas damas de alta estirpe, além de uma multidão de cavaleiros famosos da Corte do Rei que eram tidos como os mais renomados em armas de toda a Cristandade. E nessa grande reunião de reis, nobres e cavaleiros, nem um só deles olhava para o outro com desconfiança, mas estavam todos unidos em camaradagem. Portanto, ao olhar em volta, o jovem Rei via somente paz e amizade entre todos aqueles grandes nobres onde, no passado, havia discórdia e desgosto: “Por certo”, ele pensou consigo mesmo, “é maravilhoso como este meu reino uniu os homens pela gentileza e pelo companheirismo!” E com pensamentos como esse seu espírito ficava leve feito um pássaro e cantava dentro do seu peito.

Enquanto o Rei estava no banquete – ora vejam! –, chegou um mensageiro vindo das terras do oeste. E o mensageiro veio, parou em frente ao Rei, e disse:

– Saudações, Rei Arthur!

Então o Rei disse:

– Fala, e dize-me, qual é a tua mensagem?

Ao que o mensageiro respondeu:

– Venho do Rei Leodegrance de Cameliard, que se encontra em terrível aperto, pois ocorre o seguinte: um inimigo seu e dele, o Rei Ryence de Gales do Norte, o mesmo que, no passado, por desprezo, ordenou ao senhor que lhe enviasse sua barba para que a pendurasse na bainha de seu manto, faz várias exigências a meu amo, o Rei Leodegrance. Estas são tais que o meu amo não está nem um pouco inclinado a cumprir. E o Rei Ryence de Gales do Norte ameaça atacar Cameliard se o Rei Leodegrance não as cumprir imediatamente. No entanto, o Rei Leodegrance não possui uma quantidade tão grande de cavaleiros e homens armados como antigamente tinha em torno de si para defender seu reino contra ataques. Isso porque, desde que, com sua majestade o senhor trouxe a paz a este reino e diminuiu o poder de todos os reis seus vassalos, os cavaleiros que antes faziam a fama da Corte do Rei Leodegrance partiram em busca de melhores oportunidades de mostrar seu grande valor e proezas em armas do que a sua Corte pacífica podia oferecer. Portanto meu amo, o Rei Leodegrance pede a ajuda do senhor, que é seu Rei e Soberano.

A tudo isso que o mensageiro disse, o Rei Arthur – junto com toda a Corte que festejava com ele – escutou em completo silêncio. O semblante do Rei, que antes estava iluminado de alegria, estava agora carregado e sombrio de raiva.

– Ah! – exclamou ele. – Estas novas que trazes para meu banquete são realmente muito más. Darei a ajuda que puder a teu amo, o Rei Leodegrance, nessa necessidade, e o farei o mais rápido possível. Mas, dize-me, senhor mensageiro, quais são as exigências que o Rei

Ryence faz de teu amo?

– Isso revelarei, senhor – disse o mensageiro. – Primeiro, o Rei Ryence exige de meu amo uma grande parte daquelas terras de Cameliard que fazem fronteira com Gales do Norte.

Segundo, ele exige que Lady Guinevere, filha do Rei, seja dada em casamento ao Duque Mordaunt da Nortúmbria, que é parente do Rei Ryence. Esse Duque, embora seja um bravo cavaleiro, é de aparência tão horrível e de temperamento tão violento, que creio não haver ninguém tão feio ou tão irascível como ele em todo o mundo.

Pois bem, quando o Rei Arthur ouviu o que o mensageiro disse, ficou imediatamente tomado de uma ira extraordinária. Pois seus olhos pareciam soltar faíscas de pura luz, seu rosto queimava feito fogo, e ele rangia os dentes como as pedras de um moinho. Então, imediatamente levantou-se da cadeira onde estava e saiu, e todos os que viram a raiva no seu rosto tremeram e desviaram o olhar.

O Rei Arthur então foi sozinho até uma sala no fundo do castelo, e lá ficou muito tempo andando de um lado para o outro, e durante aquele tempo ninguém do castelo ousou se aproximar dele. O motivo da raiva do Rei era o seguinte: ele lembrava como, quando jazia ferido e doente de morte na floresta, Lady Guinevere de repente aparecera como um anjo alto, esguio e reluzente que tivesse descido até ele direto do Paraíso – cheia de piedade e beleza.

Portanto, só de pensar que aquele malvado e colérico Duque Mordaunt da Nortúmbria estivesse exigindo casar-se com ela, um ódio tão violento tomava-o a ponto de sacudir sua alma como um vendaval.

Assim, por muito tempo, esteve ele andando de um lado para o outro em sua ira, como já foi dito, e ninguém ousou se aproximar, mas todos ficaram de longe, observando-o.

Então, depois de algum tempo, o Rei Arthur ordenou que Merlin, Sir Ulfius e Sir Kay fossem até ele. Quando chegaram lá, falou-lhes longamente, pedindo a Merlin que se preparasse para partir com ele numa viagem, e pedindo a Sir Ulfius e Sir Kay que reunissem um grande exército de cavaleiros escolhidos e homens de armas, e conduzissem esse exército imediatamente até as imediações do castelo de Tintagalon, que fica perto da divisa entre Gales do Norte e Cameliard.

Então Sir Ulfius e Sir Kay fizeram como mandou o Rei Arthur, e Merlin também se pôs a fazer o que ele tinha ordenado. No dia seguinte, o Rei Arthur e Merlin, junto com alguns cavaleiros famosos da Corte do Rei que de todos do grupo eram os mais afamados no uso de armas – Sir Gawaine, Sir Ewaine (que eram sobrinhos do Rei), Sir Pellias e Sir Geraint, o filho de Erbin – partiram para Tintagalon pelas florestas de Usk.

E assim viajaram todo aquele dia e parte do seguinte sem que acontecesse aventura ou desventura de qualquer tipo. Então chegaram finalmente ao grande e nobre castelo chamado Tintagalon, que protege as terras da divisa entre Cameliard e Gales do Norte. Lá o Rei Arthur foi recebido com muito júbilo, pois aonde quer que o Rei fosse o povo o amava profundamente. Portanto o povo de Tintagalon alegrou-se muito quando ele veio visitá-los.

POIS BEM, na manhã seguinte à chegada do Rei Arthur em Tintagalon, a noite de verão tendo sido deveras quente, foi com alegria que ele e Merlin acordaram e saíram ao ar livre para desfrutar do frescor do orvalho da madrugada. Então, na brisa do dia, andaram juntos pelo jardim (que era muito agradável), sob a sombra de uma torre alta e reta. Em volta havia muitas

árvores com boa sombra, onde os passarinhos cantavam docemente em meio à alegria do verão.

E ali o Rei Arthur abriu seu coração para Merlin, dizendo:

– Merlin, acredito que Lady Guinevere seja a dama mais linda do mundo todo, por isso meu coração parece estar sempre transbordando de amor por ela, a tal ponto que penso nela constantemente durante o dia, seja quando estou comendo, ou bebendo, ou andando, ou sentado imóvel, ou cuidando de meus assuntos. Também sonho com ela muitas vezes à noite. E isso tem me acontecido, Merlin, desde que há um mês, enquanto eu jazia doente na cela do eremita na floresta, ela veio e ficou ao meu lado como um anjo reluzente saído do Paraíso. Por isso não quero que nenhum outro homem, mas só eu, a tome por esposa.

Lady Guinevere

“Pois bem, sei bem que és extraordinariamente versado nas artes da magia que podem alterar a aparência de um homem de modo que até mesmo aqueles que melhor o conhecem não conseguem reconhecê-lo. Portanto gostaria imensamente que me disfarçasses desse jeito para que eu possa ir, sem que ninguém saiba, até Cameliard, e que eu possa lá ficar de tal modo que consiga ver Lady Guinevere todos os dias. Pois te digo que, na verdade, desejaria muitíssimo vê-la de uma maneira que ela não saiba de modo algum que a estou observando. Além disso, também gostaria de ver com meus olhos os perigos que afligem o Rei Leodegrance, um Rei que é tão amigo meu.”

– Meu senhor Rei – disse Merlin –, será como deseja, e nesta manhã mesmo farei com que

o senhor se disfarce de tal forma que ninguém em todo o mundo descubra quem é.

Então naquela mesma manhã, antes que o sol estivesse alto, Merlin foi até onde o Rei estava e deu-lhe um gorrinho. E o gorro era tal que, quando o Rei o colocava na cabeça, assumia no mesmo instante a aparência de um camponês rude e simplório.40 Então o Rei ordenou que lhe trouxessem um gibão de lã grosseira, e com ele cobriu suas vestes reais de cavaleiro, e escondeu o colar dourado com o pingente que sempre trazia pendurado no pescoço. Foi assim que, colocando o gorro na cabeça, transformou-se imediatamente num camponês.

Estando desse modo inteiramente disfarçado, partiu de Tintagalon sem que ninguém visse e foi a pé pela estrada até a cidade de Cameliard.

Pois bem, quando o dia já vinha escurecendo ele foi se aproximando daquele lugar e – ora!

– viu que na sua frente havia uma cidade grande e considerável, cheia de bonitas casas com paredes rubras e janelas iluminadas. E as casas dessa cidade ficavam todas num morro alto e íngreme, uma em frente à outra, e a própria cidade era circundada por uma grande muralha, que era alta e resistente. Um enorme castelo protegia a cidade, e o castelo tinha muitas torres e telhados. E em torno da torre havia muitos jardins e gramados e prados formosos, e muitas hortas e pomares de árvores frondosas e de muita sombra agradável. Naquela hora do dia o céu atrás da torre estava como uma chama de fogo, de modo que as torres, as muralhas, os telhados e as chaminés do castelo pareciam todos negros contra o brilho da luz. E – vejam só!

– grandes revoadas de pombos arrodeavam das torres do castelo em voo contínuo contra o céu incandescente. Então, como estava cansado de caminhar o dia todo, o Rei Arthur achou que poucas vezes na vida tinha visto um lugar tão belo e agradável como aquele excelente castelo com seus jardins e gramados e pomares.

Assim chegou o Rei Arthur no castelo de Cameliard, disfarçado como um pobre camponês do interior, e ninguém no mundo sabia quem ele era.

Então, tendo alcançado o castelo, perguntou pelo jardineiro-chefe dali; quando pôde falar com ele, perguntou se não poderia ser empregado na parte do jardim que pertencia aos aposentos de Lady Guinevere. Então o jardineiro olhou para ele e, vendo como era alto, forte e robusto, gostou dele e deu-lhe o trabalho que desejava.

E foi assim que o Rei Arthur da Bretanha tornou-se ajudante de jardineiro em Cameliard.

POIS BEM, o Rei estava muito feliz de estar naquele jardim, pois, naquela agradável época de verão, Lady Guinevere vinha todos os dias caminhar entre as flores com suas damas de companhia, e o Rei Arthur, disfarçado como um camponês ajudante de jardineiro, observava-a muitas vezes quando ela aparecia.

O Rei Arthur ali ficou por mais de uma semana, e nem se preocupou com o fato de que, durante todo esse tempo, estava sem suas prerrogativas de rei e vivia simplesmente, como ajudante de jardineiro no jardim do castelo de Cameliard.

Pois bem, aconteceu que, num dia de muito calor, uma das damas de companhia de Lady Guinevere levantou-se ainda de madrugada, quando o ar é fresco e agradável. Então, deixando Lady Guinevere ainda dormindo, essa dama, cujo nome era Mellicene da Mão Branca, entrou na antessala e, abrindo a janela, debruçou-se sobre o jardim de rosas que ficava próximo ao quarto de Lady Guinevere.

Havia naquele lugar uma estátua de mármore de um jovem segurando nos braços um jarro, e uma fonte d’água cristalina despejava do jarro direto numa cuba de mármore. Tanto a estátua quanto a fonte quanto a cuba de mármore onde a fonte despejava a água ficavam resguardadas sob a sombra de uma tília e rodeadas por densas roseiras, de modo que aquele local ficava inteiramente escondido de quase tudo, exceto daquelas janelas do castelo.

Aconteceu então que, enquanto a dama olhava pela janela, viu algo extraordinário. Pois – ora vejam só! – um cavaleiro desconhecido se agachava junto à fonte e lavava o rosto e o peito na água cristalina. E a dama viu que a luz do sol penetrava através das folhas da tília e iluminava aquele cavaleiro desconhecido. E notou que seu cabelo e sua barba eram de um vermelho dourado – mais luminosos que o brilho da manhã. E viu que sua testa e seu colo e seu peito eram brancos como alabastro. Viu também que em torno ao pescoço e ombros pendia-lhe um colar dourado de uma beleza encantadora, onde o sol batia e refletia como se fosse um relâmpago.

A donzela Mellicene ficou então um longo tempo assim, observando – como se fosse uma visão – essa aparência desconhecida, enfeitiçada de encanto e prazer, sem saber se o que via era sonho ou não, nem se aquele que lá estava era um espírito ou um homem de carne e osso.

Então, voltando aos poucos do seu torpor, retirou-se em silêncio do umbral da janela, virou-se e desceu apressadamente as escadas da torre e saiu no jardim belo e florido que lá ficava. Em seguida correu pelo jardim com toda a pressa e sem ruído, e finalmente alcançou a passagem estreita que levava à fonte de mármore, às tílias e roseiras onde ela tinha acabado de ver o cavaleiro desconhecido se banhando nas águas cristalinas.

Mas o Rei Arthur tinha ouvido quando ela se aproximava e rapidamente recolocou o gorro na cabeça. Por isso ao se aproximar a donzela Mellicene não encontrou ninguém perto da fonte exceto o ajudante de jardineiro. Então perguntou-lhe:

– Quem és, rapaz? E por que estás assim sentado ao lado da fonte?

E ele então respondeu:

– Sou o ajudante de jardineiro que veio há pouco tempo trabalhar aqui.

– Então dize-me, rapaz – falou ela –, e dize-me a verdade. Quem era aquele jovem cavaleiro que estava aqui ao lado da fonte agorinha mesmo, e para onde foi?

– Senhora, como assim? Não havia ninguém aqui nessa fonte hoje fora eu.

– Não, rapaz – ela exclamou –, estás me enganando, pois afirmo que vi com meus próprios olhos um jovem cavaleiro desconhecido aqui sentado banhando-se nas águas da fonte.

E o ajudante de jardineiro disse:

– Senhora, o que lhe disse é a pura verdade, pois de fato não esteve ninguém aqui esta manhã fora eu. Portanto, se julga que viu outra pessoa, então certamente está enganada.

Com isso a dama encarou-o com grande espanto. Ela própria estava muito confusa pois não conseguia duvidar dele. Tampouco conseguia crer nele inteiramente, pois seus olhos viram o que viram, e ela sabia que não podia ter se enganado. Portanto não sabia o que pensar e, estando assim confusa, ficou deveras irritada com o ajudante de jardineiro.

– Por certo – disse ela –, se estiveres me enganando, fica sabendo que vou te fazer sofrer muita dor, pois mandarei que te açoitem com cordas de piaçava – e com isso virou-se e partiu dali, muito intrigada com aquele estranho evento e imaginando o que significaria.

Naquela manhã, ela contou a Lady Guinevere tudo o que tinha visto, mas Lady Guinevere

apenas riu e zombou dela, dizendo-lhe que tinha estado adormecida e sonhando quando teve aquela visão. E, de fato, a própria donzela começou a achar que era isso mesmo o que tinha acontecido. Mesmo assim passou a vigiar toda manhã do umbral da janela, mas não pôde ver nada por muito tempo, pois o Rei Arthur não voltou logo a frequentar aquele local.

Assim, dali a um tempo, veio uma manhã quando ela olhou pela janela, e – ora vejam! – lá estava o cavaleiro desconhecido ao lado da fonte mais uma vez como antes. E ele banhava o rosto e o peito na água como antes. E parecia tão gracioso e nobre como antes, e seu cabelo e sua jovem barba brilhavam como ouro sob o sol. Desta vez ela viu que o seu colar de ouro descansava na beira da fonte a seu lado, e brilhava com enorme esplendor na luz do sol enquanto ele lavava o peito. Então, depois de tê-lo observado por bastante tempo, a dama correu com toda a pressa até o quarto onde Lady Guinevere ainda dormia e gritou bem alto:

– Senhora, senhora! Acorde e venha comigo pois, olhe!, aquele mesmo jovem cavaleiro que vi está agora mesmo se banhando na fonte sob a tília.

Então, Lady Guinevere, muito confusa, levantou-se bem rápido e, cobrindo-se com toda pressa, foi com a dama até a janela que se abria sobre aquela parte do jardim.

E ali ela própria viu o jovem cavaleiro enquanto se banhava na fonte. E viu que seu cabelo e sua barba brilhavam feito ouro na luz do sol; e viu que sua roupa de baixo era de linho púrpura costurado com fios de ouro; e viu que a seu lado descansava o colar de ouro ricamente incrustado com pedras de várias cores, e o colar brilhava com enorme esplendor ali, na borda da fonte de mármore.

Ela ficou um bom tempo assim fitando-o, muito perplexa. Então mandou que a donzela Mellicene a acompanhasse, virou-se para descer as escadas da torre e avançou até o jardim, como a sua dama de companhia tinha antes feito. Em seguida, da mesma forma como a donzela tinha feito, correu com toda pressa pela passagem estreita que levava à fonte.

Mas – ora vejam! – quando lá chegou, não encontrou um jovem cavaleiro, mas só o ajudante de jardineiro, da mesma forma como tinha acontecido com a donzela Mellicene antes.

Pois o Rei Arthur a tinha escutado se aproximando, e tinha imediatamente colocado o gorro encantado na cabeça. Então Lady Guinevere ficou muito confusa de encontrar somente o ajudante de jardineiro, e não sabia o que pensar de algo tão estranho. Portanto perguntou a ele, do mesmo modo como tinha feito Mellicene, aonde tinha ido o jovem cavaleiro que ela vira naquele instante mesmo ali na fonte. E o ajudante de jardineiro respondeu como antes:

– Senhora! Ninguém esteve aqui em momento algum esta manhã, fora eu.

Acontece que, em seu afã, ao recolocar o gorro antes que Lady chegasse, o Rei Arthur tinha se esquecido de seu colar de ouro, e isto Guinevere viu, brilhando intensamente na borda da fonte.

– E então? – ela disse. – Como ousas fazer pouco de mim? Agora dize-me, rapaz, na terra de onde vens por acaso os ajudantes de jardineiro usam colares de ouro no pescoço como esse que está junto à fonte? Então, eu deveria era te mandar açoitar, que é o que mereces. Mas leva essa bugiganga contigo e entrega-a a quem de fato pertence, e diz a ele que mandei dizer que é uma vergonha que um verdadeiro cavaleiro graduado41 se esconda nos jardins recônditos de uma dama – e virou-se com a donzela Mellicene, saiu dali e voltou novamente para seu quarto.

No entanto, no resto daquele dia, enquanto bordava não parava de pensar e imaginar como era possível que um jovem cavaleiro desconhecido pudesse desaparecer tão de repente e

deixar em seu lugar o pobre ajudante de jardineiro. Por muito tempo ela não conseguiu

deixar em seu lugar o pobre ajudante de jardineiro. Por muito tempo ela não conseguiu