• Nenhum resultado encontrado

2. O S LAMPEJOS DAS IMAGENS DE A MAZÔNIA NA REVISTA

2.3. C ONSIDERAÇÕES

O segundo capítulo contém a discussão de imagem- sobrevivência. Nele, argumenta-se que nas imagens existe certa potência significativa capaz de ativar outros referenciais imagéticos. A partir dessa compreensão começa a ser construído o mosaico de imagens de Amazônia que o jornalismo registrou em Veja e Manchete.

Nota-se que o registro dessas referências de Amazônia publicadas pelo jornalismo ativa um conjunto de imagens e cronologias. A anacro- nia das imagens permite que vários tempos sejam visitados nessas refe- rências – a Amazônia do gênesis, dos primórdios geológicos, das via- gens ultramarinas, das descobertas territoriais, da colonização, do pro- gresso, dos investimentos, da integração, do desenvolvimento, da ocu- pação territorial, das lendas, dos mitos, da cultura, da degradação, da preservação, das queimadas e desmatamentos, enfim, vários tempos em

apenas um registro de presente a convocar lonjuras. Elas chegam e se tornam tão atuais quanto o agora.

Cada época é marcada pela temporalidade dos acontecimentos, pelo olhar do jornalista no presente e pelas imagens do passado; cada momento possui seus contextos, por isso nos registros sobrevivem tem- pos (cronologias e anacronias). Nas décadas de 1960, 1970, 1980 e 1990 foram construídas várias Amazônias. Essas imagens são flagradas como um instante de luz que cai e precisa ser registrado. São acontecimentos, singularidades que rompem o cotidiano e ganham publicidade por meio do trabalho jornalístico.

As imagens de Amazônia que o jornalismo de revista registrou nessas quatro décadas mostram as seguintes mudanças: no final da dé- cada de 1960 a Amazônia precisa ser incluída ao restante do Brasil, ela não passa de uma floresta verde, uma mata que quase nada produz. O vazio demográfico não gera riquezas. Neste período de tempo, a região constitui a imagem de um grande problema que precisa ser resolvido para evitar que outras nações invadam e tomem posse do território. Com um plano estratégico em mãos, o Governo Militar, na década de 1970, põe em ação a política do Integrar para não Entregar. A Amazônia é oficialmente incluída ao território nacional. Cortar árvores significa progresso. Tem-se que abrir a mata para que a civilização se complete. A região amazônica passa a ser parte um grande e luxuoso projeto colo- nizador. Há investimentos, propostas de desenvolvimento e riquezas; incentivos oficiais exorbitantes à colonização, propagandas ufanistas de vida boa e farta, terra sem homens para homens sem terra. A política de ocupação recruta pessoas de todos os estados brasileiros, até estrangei- ros vão para lá, porém muitos investimentos não prosperam, restando a imagem do fracasso. Com as frustrações da década anterior, os anos de 1980 inauguram um período intenso de derrubada da floresta. A ativida- de madeireira e a pecuária extensiva contribuem para isso. A década de 1980 destaca-se pela imagem do desmatamento. Embora ele tenha sido praticado durante todo o período de ocupação da floresta, é neste ínterim que se evidenciam os maiores picos da devastação. Embora o jornalismo já mostrasse a derrubada de árvores durante os anos de 1960 e 1970, somente a partir das imagens feitas pela nave Discovery que essas refe- rências se tornam foco de uma política de preservação e denúncias no espaço jornalístico. O alto índice de destruição da mata mobiliza a soci- edade internacional em defesa do ecossistema amazônico. Nas imagens registradas pelas revistas, o desmatamento se torna mais marcante por conta do discurso de preservação ambiental que findam a década: cortar árvores já não mais significa progresso, é um atentado contra a natureza.

Os anos de 1990 iniciam com um grande problema: como conciliar de- senvolvimento e preservação ambiental na Amazônia? É necessário impedir o aumento das agressões contra a natureza. Contudo, recuperar a imagem da floresta latifoliada já é praticamente impossível por conta da ameaça humana. A destruição persiste, mas o discurso ecológico reprova o desmatamento com o auxílio da opinião pública. Nesse perío- do, o pensamento ecológico ganha mais força, mas não é suficiente para impedir a mutilação da Amazônia.

Em quase quarenta anos de imagens o que se nota é que o jorna- lismo registra o movimento dessas referências conforme a temporalida- de e as mudanças sociais – ato que pode ser estudado e discutido com o valor cultural, já que o jornalismo põe em evidência os conflitos e para- digmas sociais em suas reportagens, dando-lhes visibilidade no espaço público. A revista percebe que a sociedade que olha a Amazônia em cada tempo já não é mais a mesma, por isso o jornalismo organiza e dissemina novos pensamentos, novas formas de percepção dos aconte- cimentos. Talvez por conta dessa relação, pôde-se verificar nas imagens de Amazônia o movimento de perspectivas que o olhar lançou sobre os referenciais. O jornalismo registrou as mudanças na forma de ver a regi- ão, que implica diretamente em como olhamos para as coisas e como elas nos olham.

Finalizado esse capítulo, o próximo coloca a teoria da sobrevi- vência das imagens em verificação a partir de três princípios: 1. que as imagens sobrevivem em outras imagens; 2. que elas existem em outras cronologias e 3. que podem ser ativadas pelo movimento de anacronia.

CAPÍTULO III

O MOVIMENTO DAS IMAGENS DE AMAZÔNIA NA REVISTA E NA LITERATURA

Em produtos residuais reconhecem o rosto que o mundo das coisas volta exatamente para elas, e para elas unicamente

Walter Benjamin

Nas imagens contêm a potência significativa que marca o tempo e a própria história – a carga capaz de ativar referências. Como foi discu- tido no início do segundo capítulo, essa força que existe nas referências imagéticas tem a capacidade de chamar as lonjuras do tempo e da histó- ria. O movimento que elas provocam lança o olhar em muitas direções, construindo uma rede de associações que intersecta várias temporalida- des. Este capítulo põe a teoria da sobrevivência das imagens em verifi- cação. Confronta e analisa imagens de Amazônia construídas pela litera- tura de Euclides da Cunha, Ferreira de Castro, Inglês de Sousa e Milton Hatoum, e pelas revistas Manchete, edições de 1968 a 1989, e Veja, de 1970 a 1999.