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3 OS CURSOS DE LICENCIATURA EM MÚSICA NO ESTADO DE

3.2 ENTREVISTAS COM LICENCIADOS

3.2.2 Opção pela Licenciatura

Ao serem indagados sobre os motivos que os levaram a procurar o Curso de Licenciatura em música, os alunos apresentaram respostas diversas. Alguns escolheram a Licenciatura como um caminho natural na carreira de professor de música, como ilustram estes depoimentos:

Eu já trabalhava como professor de música há tanto tempo, como professor particular, e em escolas de música também, e acabei na Licenciatura de uma forma natural, sabendo o que eu queria fazer. (Aluno 15).

Eu busquei a Licenciatura para ter uma formação como professora de música. (Aluno 5).

Eu fazia outra faculdade e tocava numa banda quando percebi que gostava mesmo era de tocar e de dar aulas também. Tenho um irmão que já se formou aqui na UDESC, então eu já sabia como funcionava o curso. Entrei sabendo que era pra formar professor. (Aluno 20).

Alguns licenciandos afirmaram ter procurado o Curso de Licenciatura para ter uma formação superior na área de música, embora desejassem realmente cursar um bacharelado, inexistente em suas cidades:

No começo eu não tinha muito interesse em dar aula, eu gosto mesmo é de cantar, e queria fazer o bacharelado em canto, mas não tem aqui. Mas eu sabia exatamente qual era o perfil do curso, e quis fazer mesmo assim. (Aluno 21).

Eu optei pela Licenciatura porque a UDESC não oferece o curso de bacharelado em canto, que seria minha primeira opção. Mas a Licenciatura me oferece uma oportunidade de continuar estudando música, além de me preparar para dar aulas. (Aluno 12).

Eu entrei na Licenciatura porque aqui não existe o bacharelado em violão, que é o que eu queria fazer; a Licenciatura é a única forma de ter um curso superior em Música. (Aluno 23).

Estes depoimentos ilustram uma situação contraditória em relação aos cursos de Licenciatura. Mesmo freqüentando um curso de formação de professores, alguns licenciandos mostram-se, a princípio, desmotivados em seguir a carreira de professor, optando pela Licenciatura apenas por não poderem fazer o Bacharelado desejado. A existência de mais opções de Bacharelado em instrumento nas universidades poderia atender melhor a este demanda, fazendo com que os estudantes que buscassem a Licenciatura em Música fossem exclusivamente aqueles com intenção de atuar no magistério.

A preocupação com o mercado de trabalho também foi mencionada pelos licenciandos como motivo para a procura pela Licenciatura.

Eu acho importante ter o diploma que te habilita a dar aula de música. Posso fazer um concurso e ter uma carreira mais estável, uma profissão definida. (Aluno 14). Eu quero fazer concurso, ter um salário fixo, trabalhar como funcionário da prefeitura ou do estado, como professor de música. Isso é uma coisa que me atrai. (Aluno 8).

O diploma de Licenciatura é muito importante para se conseguir um emprego, principalmente agora, com a nova lei, que torna o ensino de música obrigatório nas escolas. É o licenciado que vai ter essa vaga garantida, o emprego mais garantido. (Aluno 27).

De acordo com estes depoimentos, pode-se perceber uma valorização da carreira de professor de música. A contratação de professores de música licenciados, através de concursos públicos realizados por prefeituras e governos estaduais é uma das maneiras de valorizar a docência qualificada em música. As escolas livres de música também poderiam fazer mais pela profissão, ao exigirem professores licenciados no momento da contratação.

É interessante observar que para uma parte significativa dos licenciandos (37,93%), a motivação em cursar a Licenciatura em Música se deu em função da vontade de ampliar os conhecimentos musicais e pedagógicos para atuar como professor de música. Para 31,03% dos entrevistados, a opção pela Licenciatura ocorreu pelo fato da instituição de ensino de sua cidade não oferecer o curso de Bacharelado no instrumento desejado. A preocupação com o mercado de trabalho apareceu nas respostas de 20,69% do licenciandos e 10,34% apontaram o desejo de seguir uma carreira acadêmica. Os depoimentos dos licenciados concordam com as conclusões da pesquisa realizada por Cereser (2003), que afirma que

uma parte dos alunos da Licenciatura gostaria de estar fazendo um curso de Bacharelado. Não estão, ou porque não existe o Bacharelado no instrumento desejado, ou porque não passaram na prova específica. No entanto, esta realidade refere-se unicamente a uma parte dos alunos, e não à totalidade deles. Outros motivos levam os alunos a buscar o curso de Licenciatura, a maioria deles ligados ao mercado de trabalho, ao desejo de ser professor, mostrando uma valorização da Licenciatura por parte dos alunos. (CERESER, 2003, p. 92).

Del Ben (2003) também enfoca a questão da valorização da Licenciatura por parte dos alunos. Para a autora, na visão dos licenciandos “o ensino não parece ser uma profissão menor ou menos nobre; apenas uma profissão, que, para ser exercida, exige o domínio de saberes específicos, diferentes daqueles oferecidos pelo bacharelado” (p. 31).

3.2.2.1 Atuação profissional anterior ao ingresso no Curso de Licenciatura

Foi possível constatar, que, anteriormente ao ingresso na universidade, a maioria dos licenciandos entrevistados já atuavam como professores de música, em diferentes contextos.

Na FURB, estes espaços foram descritos como escolas regulares particulares (33%), igrejas (33%) e projetos culturais promovidos pela prefeitura (33%). A maior parte dos

entrevistados (66,67%) atuou com musicalização infantil. As respostas de 33,33% dos licenciandos mostram também atividades de regência de corais.

Na UNIPLAC, os entrevistados atuaram como professores de música em escolas regulares particulares (25%), em escolas de música (25%), em projetos da prefeitura (25%) e em igrejas (25%). Os cursos e instrumentos ministrados pelos licenciandos foram violão (50%), musicalização infantil (25%) e teclado (25%).

Na UDESC, os licenciandos tiveram suas experiências profissionais em escolas de música (33,33%), em igrejas (16,67%) e atuando como professores particulares de instrumento (50%). Os instrumentos ministrados foram piano e teclado (50%), violão (16,67%), saxofone, flauta doce e transversal (16,67%) e canto (16,67%).

Na UNIVALI, a maioria dos entrevistados (66,67%) atuou como professor de música em escolas de música. Outras experiências profissionais ocorreram em escolas regulares (16,67%) e como professor particular de instrumento (16,67%). Os cursos ministrados pelos alunos da UNIVALI foram os de piano e teclado (33,33%), violão e guitarra (33,33%), musicalização infantil (16,67%) e canto (16,67%).

É interessante observar que poucos alunos atuaram em instituições formais de ensino, em escolas das redes públicas ou particulares. No entanto, a atuação em escolas de música já se mostra mais expressiva. A análise dos dados reforça a idéia que, algumas escolas de música não exigem curso superior completo no momento da contratação dos professores. Isso pode ser considerado um indicativo do caráter livre destas instituições, uma vez que não estão sujeitas a nenhuma legislação específica sobre os profissionais que nelas atuam. De acordo com Silva (1996), as escolas livres de música não exigem o curso de graduação para contratar seus professores, tampouco costumam fazer concursos de admissão. Por outro lado, estas escolas recebem currículos de professores com Licenciatura em Música, procurando atuar nestes espaços, o que demonstra que os Licenciandos enxergam nestas escolas um campo de atuação profissional, com o qual muitos já estão familiarizados antes mesmo do ingresso na graduação, como os dados confirmam.

3.2.2.2 Atuação profissional durante o Curso de Licenciatura

Os dados demonstram que a maioria dos licenciandos atuaram como professores de música durante o Curso de Licenciatura. Alguns já tinham essa experiência profissional anterior ao curso, ao passo que outros iniciaram suas atividades profissionais durante este período. Eles relatam essa experiência da seguinte forma:

Eu nunca tinha dado aula antes, até que surgiu a oportunidade de trabalhar com musicalização infantil numa escola (livre); no começo, fiquei meio assustada, mas achei que o curso já tinha me dado bastante bagagem, então resolvi encarar. Foi super legal, acho que fiz um bom trabalho. (Aluno 16).

Eu comecei a dar aulas de violão e teoria musical em uma escola (livre) daqui da cidade logo depois que entrei na faculdade; pra te dizer a verdade, eu não sabia bem como começar. Troquei umas idéias com o pessoal aqui e a coisa foi indo, fui aprendendo, lá e aqui, sabe, hoje tenho vários alunos. (Aluno 24).

Comecei a dar aulas só o ano passado, principalmente porque eu não tinha tempo, pois faço também Direito na UFSC. E tinha outra coisa também, não tinha certeza se eu iria gostar de dar aulas, mas me convidaram pra dar aulas de piano numa escola de música, eu comecei e acabei gostando muito. Depois que você está na faculdade, você se sente preparada. (Aluno 16).

Os depoimentos indicam que alguns alunos sentem-se mais preparados para atuar como professores depois de ingressar na universidade, seja pelas disciplinas cursadas, pela troca de experiências com colegas que já dão aula, pelas leituras a respeito de educação e também pelas oportunidades que surgem.