• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO III: METODOLOGIA

3.2. Opções e limitações metodológicas

Para a obtenção de respostas aos objetivos apresentados anteriormente, a primeira consideração prendeu-se com a escolha dos Estabelecimentos Prisionais. Neste sentido, o EPSCB masculino surgiu como opção por abranger a Clínica de Psiquiatria e de Saúde Mental, na medida em que, sendo estes comportamentos disfuncionais e que acabam por estar ligados, em parte, a disfunções psicológicas, a depressões, … torna-se uma mais-valia

49

incluir, para além da população prisional comum, os inimputáveis 32 no estudo. Relativamente ao EPSCB feminino, a escolha recai essencialmente por se tratar do contexto prisional feminino mais perto da minha zona de residência, facilitando assim o acesso/deslocações.

Seguindo os procedimentos legais para realização de uma investigação académica em contexto prisional e após receber o parecer positivo da DGRSP33, por opção a investigação iniciou-se me contexto prisional masculino e, de seguida, em contexto prisional feminino.

Uma vez inserida nos contextos, toda a metodologia adotada foi de cariz qualitativo, com base em análises documentais34 e de conteúdo35 de processos. Contudo, o objetivo central da investigação foi, através dos discursos dos profissionais prisionais, compreender a visão destes face às problemáticas em estudo. Neste sentido foram construídos materiais metodológicos, nomeadamente guiões de entrevistas.

Segundo Quivy e Compenhoudt (1995, p.95), “os métodos de entrevista caracterizam-se por um contacto direto entre o investigador e os seus interlocutores”. Para este projeto de investigação, a variante da entrevista utilizada foi a semi-diretiva (também conhecida por entrevista semiestruturada ou semi-dirigida), onde “geralmente, o investigador dispõe de uma série de perguntas-guias, relativamente abertas” (idem, p.96).

32 “1 - É inimputável quem, por força de uma anomalia psíquica, for incapaz, no momento da prática do facto,

de avaliar a ilicitude deste ou de se determinar de acordo com essa avaliação. 2 - Pode ser declarado inimputável quem, por força de uma anomalia psíquica grave, não acidental e cujos efeitos não domina, sem que por isso possa ser censurado, tiver, no momento da prática do facto, a capacidade para avaliar a ilicitude deste ou para se determinar de acordo com essa avaliação sensivelmente diminuída. 3 - A comprovada incapacidade do agente para ser influenciado pelas penas pode constituir índice da situação prevista no número anterior. 4 - A imputabilidade não é excluída quando a anomalia psíquica tiver sido provocada pelo agente com intenção de praticar o facto” (http://www.pcd.pt/biblioteca/ver.php?id=104, acedido em agosto de 2017).

33 Ver anexo nº 2: Ofício da DGRSP.

34 “A análise documental busca identificar informações fatuais nos documentos a partir de questões ou

hipóteses de interesse” (Ludke & André, 1986, p. 38).

35 A análise de conteúdo é uma técnica de investigação que tem por finalidade a descrição objetiva,

50

Ou seja, o entrevistado é convidado a colaborar com um projeto de investigação, tendo assim que responder a um conjunto de questões delineadas previamente pelo investigador/entrevistador.

Contudo, este tipo de respostas abertas traz vantagens e, por consequência, desvantagens à investigação. Isto é, se por um lado temos a vantagem de as respostas serem ricas em detalhes, estas podem pecar pelo exagero, tornando-se uma desvantagem. E, apesar de este tipo de entrevistas e de respostas ser mais interessante quer para o entrevistado, quer para o entrevistador, pode existir uma perda de controlo da entrevista pelo tempo que o entrevistado leva a responder36 a cada questão37.

Por forma a garantir o anonimato dos entrevistados foi criado um consentimento informado38 que consiste em assegurar que as suas identidades não serão reveladas.

Atendendo não só às opções metodológicas como também aos próprios terrenos de investigações, foram surgindo algumas limitações, fundamentalmente no que concerne às entrevistas. Expondo as limitações segundo os estabelecimentos prisionais em causa, no EPSCB masculino e apesar dos guardas prisionais estarem salvaguardados pelo consentimento informado, aceitaram colaborar cedendo as entrevistas, contudo, na sua maioria não aceitaram que estas fossem gravadas. Torna-se assim uma limitação porque como dito anteriormente, as respostas abertas são extensas e, sem gravação, existem detalhes e informações que se perdem e onde ficam ideias gerais e não tão específicas. Relativamente ao EPSCB feminino, esta limitação esteve mais presente no TSR e não tanto no Corpo de Guardas Prisionais. A limitação que mais se sentiu no EPSCB feminino foi em termos de recursos humanos. Este estabelecimento tem apenas dois TSR, sendo que um destes não aceitou colaborar com a investigação. A amostragem comparativamente ao EPSCB masculino, relativo aos TSR, ficou diminuta e com pouca perspetiva de profissionais que já tivessem estado ou que estão em contexto prisional feminino.

36 O facto de ser um tipo de resposta que leva à espontaneidade do indivíduo e por serem questões abertas

com uma maior facilidade de resposta, pode levar a estes excessos, perdas de controlo e tempo não convertido em informações pertinentes.

37http://wiki.ua.sapo.pt/wiki/Entrevista, acedido em agosto de 2017 38 Ver anexo nº 3: Consentimento Informado.

51

Em média as entrevistas a Guardas Prisionais demoravam cerca de uma hora a uma hora e trinta minutos. No EPSCB masculino, foi-me pedido para apenas efetuar entrevistas a Guardas Prisionais no período da tarde para não interferir com o bom funcionamento do contexto, algo que limitou a investigação, na medida em que só era possível entrevistar um guarda prisional por dia/tarde. No EPSCB feminino esta limitação voltou a centrar-se mais na disponibilidade do TSR, na medida em que, como são apenas dois, a sobrecarga de trabalho é maior e não é tão fácil dispensar tanto tempo. Em alguns casos, as entrevistas quer com TSR quer com Guardas Prisionais dividiram-se em duas partes, por incompatibilidade de horários e para não interferir com as funções e responsabilidades dos profissionais.

Documentos relacionados