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Farmer (2003) estabelece a apologia do recurso à IA pelos professores bibliotecários. Enquanto práticos e estudiosos nesta área, evidenciaremos algumas das suas vantagens e procuraremos clarificar as razões, os factores e as opções que realizámos na utilização desta metodologia no presente estudo.

Não pretendendo aprofundar o que distingue a IA da prática reflexiva ou das boas práticas, que idealmente todos os profissionais devem realizar, ou evidenciar as críticas metodológicas oriundas da pesquisa tradicional, será interessante destacar alguns aspectos que a demarcam tanto no campo da praxis como da investigação.

Através da IA, segundo Farmer (2003: 4), pretende-se proporcionar um processo bem delineado e sustentado na teoria, cujas conclusões possam ser generalizadas ou pelo menos tratadas de forma sistemática noutras situações. Na opinião deste autor, os estudos teóricos na área das bibliotecas escolares pecam por se situarem, na sua maioria, num plano ideal, ao nível das boas práticas. Contudo, se os factores envolvidos não forem explicitados, outros PBs podem não ser capazes de replicar os procedimentos e obter os mesmos resultados. Verifica-se que, por um lado, as particularidades, de que esses casos se revestem, limitam a sua generalização e, por outro, os fundamentos teóricos não são evidentes. A IA «is explicity grounded in a systematic and research- based methodology, including assessment» (ibidem). A recolha de dados é precedida pela análise de estudos de pesquisa que se centram no mesmo problema. No nosso caso, tomámos como referência, entre outras, a investigação realizada por Adelina Freire (2007), com o qual mantemos um diálogo em vários momentos da presente dissertação. Os factores que afectam os resultados são cuidadosamente identificados e alinhados

através de instrumentos de avaliação, considerados válidos. Os procedimentos de recolha de dados, incluindo a sua aplicação, são realizados sistematicamente a fim de minimizar enviesamentos e a possível interferência de outros factores. A análise dos dados estatísticos segue as recomendações.

A IA tem implícito o valor da melhoria contínua. O “fim” de um projecto de pesquisa é marcado por questões adicionais que necessitam de investigação, iniciando- se um novo ciclo através do qual se procura melhorar as práticas, como defende Lewin. Assim, o «term “cycle of inquiry” is one of several phases that captures the idea of continuous reflective improvement» (Farmer, 2003: 5). A IA constitui pois uma metodologia acessível aos práticos, que possibilita a ascensão das bibliotecas escolares a níveis de desenvolvimento superiores.

Em termos individuais, a IA permite desenvolver uma abordagem profissional baseada na resolução de problemas e presta-se ao planeamento estratégico. A IA proporciona uma ligação concreta e dinâmica entre as práticas educativas do quotidiano e a teoria educacional. Assim, «[i]t allows educators, including library media specialists, to reflect explicitly on their practice and seek systematic ways to improve it, usually with the intent of facilitating student success» (2003: 4). Acresce que a maioria dos projectos de IA, bem como a maioria dos programas de acção da BE, necessitam de ser conduzidos em colaboração com outros elementos da escola. Este ponto pode, em nosso entender, constituir uma dificuldade acrescida, mas, também, uma oportunidade que abona a favor do recurso à IA na gestão da acção da BE. Assim, consideramos que será absolutamente pertinente procurar impulsionar um projecto em torno do desenvolvimento das competências de LI nos alunos, que requer trabalho colaborativo, com base num estudo de IA assente na colaboração. De facto, e como refere Farmer (2003), quando correctamente conduzida, a IA proporciona resultados credíveis que permitem ao PB fundamentar o seu plano de acção ou um pedido de apoio. Por esta via, as imagens do PB e da BE são valorizadas, ao mesmo tempo que se reforça a relação entre os participantes na investigação. Especialmente nos casos em que a investigação se centra na melhoria dos resultados dos alunos, todos são beneficiados, havendo uma maior propensão para dar continuidade e aprofundar as relações estabelecidas. Farmer (2003) alude ao estabelecimento de comunidades de prática, que poderão partilhar o seu conhecimento e optimizar o seu esforço graças a ferramentas intelectuais como a IA. Deste modo, o processo e as conclusões podem ser aplicados, com maior eficiência, em situações similares. Segundo o mesmo autor, o PB, enquanto membro dessas

comunidades, estará bem posicionado para actuar como um líder se colaborar com a comunidade escolar e trabalhar com todos os alunos no plano curricular. Poderá, assim, aliar-se a participação na produção de saberes práticos e a participação na mudança. Esta era, como já referimos, a nossa intenção em 2008/2009.

Uma vez que a IA constitui um processo cíclico, apenas se deve avançar para uma nova fase após se ter concluído a avaliação da anterior. Isto pressupõe verificar se se respondeu à questão inicial ou se esta mudou. Reportando-nos ao nosso estudo, o facto de não termos atingido o objectivo a que nos propusemos em 2008/2009, levou- nos a alterar o nosso enfoque. Como afirma Tripp (2005: 450), «só descobrimos a natureza de algumas coisas quando tentamos mudá-las». A IA, segundo Farmer (2003), recorre à prática reflexiva para, de um modo sistemático, se abordar um problema, reunir factos e informação teórica relevante, nomeadamente a que é produzida em investigações na mesma área, e estabelecer conclusões. Tomando em consideração estes elementos, a dimensão da acção consiste em definir as questões de partida, projectar e implementar uma intervenção e avaliar o seu efeito. No nosso caso, concluímos que seria necessário compreender a falta de colaboração dos docentes no programa de desenvolvimento da LI e envidar esforços para a alcançar.

Figura 2. Esquema da planificação do projecto de intervenção e da investigação

Através da figura 2 descrevemos os ciclos respeitantes aos anos lectivos de 2008/2009 e de 2009/2010. No segundo ano, procurámos estabelecer uma relação

dialéctica entre o projecto de intervenção que, à semelhança do ano anterior, visa a melhoria dos níveis de LI dos alunos, e um novo ciclo centrado nos docentes.

Figura. 3. A ligação entre a teoria e a prática: as concepções como objecto central do estudo

Reconhecendo a complexidade do campo de pesquisa em apreço, que procurámos descrever na parte teórica do presente trabalho, não se pretende, como defende Farmer (2003), controlar todos os factores. Assim, no nosso estudo, a partir da miríade de variáveis que se podem conjugar para afectar a colaboração em torno do ensino da LI, centramo-nos nas concepções dos professores, procurando criar e gerir oportunidades para que os docentes reflictam e mudem as suas atitudes e comportamentos no âmbito do projecto de ensino da LI (ver figura 3). A promoção da reflexão e a mudança de concepções é, também, uma questão central da pesquisa de Adelina Freire (2007).

Nesta nova abordagem consideramos que a consecução do objectivo do plano de intervenção, ao nível das habilidades de LI, depende do sucesso alcançado através do projecto de IA. Tanto o desenvolvimento das competências de informação que os alunos podem alcançar como as concepções dos professores constituem variáveis dependentes.

profissional, a IA é uma forma de indagação colectiva levada a cabo por participantes em situações sociais, com o objectivo de melhorar a racionalidade e a justiça das suas práticas sociais ou educativas, assim como a compreensão dessas práticas e das situações em que estas têm lugar. A nossa intervenção enquadra-se neste âmbito, pois pretendemos, em última análise, de uma forma sistemática, crítica e colaborativa, identificar e resolver, por nós próprios, e com maior eficácia, problemas que influem na capacidade de os nossos alunos aprenderem ao longo da vida.

Não obstante, se pretendíamos que a intervenção em 2008/2009 ocorresse dentro de uma comunidade de prática, constituída pelos professores das ACND e outros elementos da escola e da comunidade local, no presente ano lectivo de 2009/2010, o estudo de IA é conduzido, ainda que de uma forma aberta e flexível, pela PB, com a colaboração da coordenadora das ACND na gestão do projecto ao nível meso e o contributo de um “amigo crítico”. Segundo Ferrance (2000: 4), o número de elementos envolvidos pode variar. Assim «[c]ollaborative action research may include as few as two teachers or a group of several teachers and others interested in addressing a classroom or department issue». Esta opção, que será explanada com maior detalhe (ver p. 77), não privará a generalidade dos docentes da possibilidade e da responsabilidade de tomarem decisões relativamente às mudanças que propomos. Ao mudarem as suas concepções e comportamentos, de forma consciente, poderão intervir, em regime de paridade, no projecto de desenvolvimento das competências em LI, tanto a nível curricular como organizacional. Os docentes envolvidos podem melhorar as suas próprias práticas, mudando-se a si e às situações em que actuam. O diálogo aberto que estabelecemos, muito especialmente com as pessoas afectadas, como teremos oportunidade de provar a partir do quinto capítulo, leva-nos a considerar que o processo de mudança é colaborativo e não pessoal e introspectivo.