• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 3 Perspectivas para a Rede de Relacionamentos do

3.2. Oportunidades de “Upgrading”

Para Humphrey & Schmitz (2001), frente à entrada de novos produtores globais, com custos de produção baixos, há uma constante pressão global para que as empresas melhorem as suas performances e aumentem a competitividade, habilitando-se a aproveitar as oportunidades relacionadas aos diversos tipos de desenvolvimento industrial/tecnológico que uma empresa pode atingir em uma cadeia de valor, caracterizadas por um upgrading de processo, de produto, de função ou de setor.

Para que haja um upgrading de processo, o sistema de produção deve ser reorganizado para operar adequadamente a introdução de uma tecnologia superior ou para estabelecer padrões superiores de qualidade e de velocidade de resposta. O upgrading de produto ocorre quando a empresa se capacita a criar produtos mais sofisticados (com maior valor adicionado) ou mais complicados. O upgrading de função pressupõe que foram desenvolvidas novas funções na empresa, como a de projeto do produto (P&D), marketing ou logística. Já no upgrading setorial, a empresa aproveita a sua competência adquirida dentro de uma cadeia de produção/fornecimento para participar em um novo setor (capacidade de diversificação setorial).

Para Gereffi (1994), ao se inserir numa cadeia global, um fornecedor passará a produzir com padrões de qualidade e normalização internacionais e, portanto, certamente terá uma melhoria de processo. Porém, a participação em cadeias globais simplesmente como fornecedor, com um eventual ganho de processo, pode ser insuficiente para competir com países com custos de produção mais baixos. A busca por competências que exijam capacitações mais sofisticadas e que gerem mais valor, ou permitam a mobilidade para nichos de mercado que têm barreiras à entrada, está de certa forma deslocada dessas pressões de custo, mas podem esbarrar em uma lógica global que se contraponha à lógica de desenvolvimento local.

Já o upgrading de produto é atribuído, por ele, ao chamado learning by exporting, em que o fornecedor melhora o seu produto à medida em que o elo acima do mesmo assim o exija e que haja uma maior facilidade de acesso à demanda para os seus produtos, passando a fornecer para compradores de segmentos de mercado mais sofisticados. Quanto ao upgrading funcional, ele prevê que será conseqüência de uma combinação de learning by exporting e sucessão organizacional, na qual há uma capacitação crescente até a formação de redes regionais, com as empresas tendo sua própria marca de produtos.

As firmas líderes das cadeias globais de valor exercem o poderoso papel de integrar funcionalmente e coordenar as atividades internacionalmente dispersas, estruturando as oportunidades de upgrading dos produtores locais, contribuindo para o upgrading de processo e de produto dos produtores locais, mas também criando limites para o upgrading funcional e a diversificação de mercados. Portanto, é mais provável que o upgrading se concentre na esfera da produção, sendo o design e marketing negligenciados pelos fornecedores, de modo a não entrar no core business dos compradores e arriscar as relações existentes com as firmas líderes. (Humphrey & Schmitz, 2001)

Devido às relações de poder e à limitação do fluxo de conhecimento dentro da cadeia, romper esta dificuldade requer intenção estratégica de mudança e substanciais investimentos em um efetivo sistema local de inovação que inclua iniciativas públicas e privadas. (Humphrey & Schmitz, 2001)

O SOC pode contribuir para algumas dessas oportunidades de upgrading, apresentando a existência de diversos fornecedores de produtos substitutos ou intercambiáveis de um mesmo setor ou não, mas que atendam aos padrões do comprador; podendo provocar, assim, a diversificação setorial da produção de uma empresa. Além disso, o SOC pode ser usado como uma fonte de especificação de características do produto a ser produzido, inclusive indicando a documentação técnica de apoio, contendo o que Gereffi (1994) chama de “o que produzir53” e “o como produzir54”. E a partir dessas contribuições, novas oportunidades de upgrading podem surgir.

Portanto, a inclusão de empresas nacionais no SOC, atreladas a itens de suprimento, pode beneficiá-las com desenvolvimento industrial/tecnológico que as levem a um upgrading dentro da sua cadeia de valor. O exemplo mais marcante ocorreu quando toda a frota mundial da aeronave F-103 Mirage, por força de legislações ambientais, foi proibida de voar em virtude dos componentes usados em sua pastilha de freio, que eram poluentes.

Devido ao alto custo de aquisição, junto a empresa francesa Dassault Aviation, o SPAB já havia nacionalizado o produto segundo as orientações ambientais estabelecidas, não sendo

53 Através das especificações do produto, que definem o desenho, a concepção e o detalhamento do produto (quando

se tratam de produtos com arquitetura integral, que requerem alto nível de componentes customizados; ou quando os compradores têm um melhor entendimento da demanda do mercado).

54 Determinando o processo, grau de tolerância, grau de qualidade, grau de precisão, que tecnologia deva ser usada,

quais os padrões de trabalho e de meio-ambiente, etc; principalmente para conter o risco e as perdas provocadas por falhas ou por padrões de produto ou processo não desejados.

afetado por tal medida. O projeto de nacionalização da pastilha foi realizado pelo CELOG, que encomendou a fabricação dos lotes necessários à uma fábrica nacional de pastilhas de freio para carros (TMD FRICTION DO BRASIL S.A); e, posteriormente os certificou quanto à sua conformidade.

Esse item de suprimento, então, foi incluído no catálogo do SOC, apenas fazendo referência ao CELOG, como detentor do projeto, uma vez que o mesmo não permite divulgar empresas que não sejam homologadas por órgão certificador de produtos aeroespaciais, reconhecido mundialmente. Mas, única e exclusivamente pelo fato do item estar no catálogo do SOC, a empresa Dassault Aviation pôde verificar que o mesmo atendia aos padrões requeridos por ela e, portanto, solucionaria os seus problemas com os países operadores dessa aeronave.

Com a intermediação do CELOG, a empresa Dassault Aviation arcou com todos os custos de homologação da empresa nacional para a produção da pastilha de freio da aeronave F-103 Mirage, habilitando-a a participar do fornecimento para o mercado internacional do setor aeroespacial.

Assim, a empresa TMD FRICTION DO BRASIL S.A. passou por um upgrading de processo, quando teve que se submeter à homologação para operar dentro dos padrões de qualidade exigidos; upgrading de produto, auxiliada pelo CELOG, que especificou as características do produto, o processo e os mecanismos de controle da produção; e upgrading setorial, quando passou a fornecer para a cadeia aeroespacial, além da automobilística.