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4 A CONSTRUÇÃO DE UM NOVO CENÁRIO – GOVERNO JOSÉ FOGAÇA

4.5 OPOSIÇÃO – RETOMANDO A UTILIZAÇÃO DO PODER DA VOZ

A oposição ao governo Fogaça em 2005 e 2006 era composta por três bancadas partidárias: PT, PC do B e PSB. Estes partidos possuíam, juntos, dez

cadeiras na Câmara Municipal. Porém, a partir do dia 1° de janeiro de 2007, a oposição passa a contar com menos dois votos. Manuela D Ávila foi eleita deputada federal e Raul Carrion assumiu mandato na Assembléia. Como eles eram os únicos vereadores do PC do B, o partido ficou sem representação na Câmara. Mas as análises feitas nesse trabalho compreendem os anos de 2005 e 2006; trabalha-se, portanto, com a participação dos dois parlamentares.

É evidente a desvantagem numérica que a oposição possui no Legislativo – tal fator implica em dificuldades para que os vereadores destas bancadas aprovem seus projetos. Soma-se a esse fator, o fato de o PT consolidar- se com a voz da oposição na Câmara, desencadeando um enfrentamento claro com os partidos governistas. Como se pode perceber através das Atas das Sessões Ordinárias da Câmara, a base de apoio ao Executivo utiliza os dezesseis anos de governo petista na Capital, para fazer comparações com o novo governo. Para estes partidos, não é admissível que o PT faça tantas cobranças ao Executivo, pois o governo ainda está tentando organizar a administração municipal, em vista dos déficits deixados por administrações anteriores.

Certamente, não é nenhuma surpresa que os parlamentares que hoje compõem a base de apoio ao governo unam-se contra o PT. Como já mencionado, durante as gestões petistas, os partidos que formavam oposição ao governo sentiram-se prejudicados e diminuídos pelo Executivo, o que gerou um movimento intenso de articulação entre os vereadores com um único objetivo comum: tirar o PT do governo municipal.

A situação do Legislativo a partir de 2005 mostra que existe dos dois lados articulação – cada um (partidos) tem seus objetivos bem definidos. Os que apóiam Fogaça, não desejam a volta do PT ao governo municipal, por isso buscam através de acusações impedir que o partido venha a consolidar-se como uma alternativa viável de mudança política. Em contrapartida, os partidos de oposição, e principalmente o PT, buscam apresentar-se para a população como uma possibilidade real de mudança, ou de retorno a um modelo de gestão que, segundo os seus defensores, conseguiu grandes avanços para Porto Alegre.

Durante as sessões da Câmara, as votações nominais sempre contaram com a presença efetiva41 da oposição. Vários projetos com autoria no Legislativo foram aprovados com os votos em conjunto dessas bancadas; ao contrário, as propostas do Executivo encontraram bastante resistência; mas, como era de se esperar, acabaram sendo aprovadas na maioria das vezes.

A oposição discorda do governo em diversos pontos, mas duas questões são freqüentemente utilizadas pelos vereadores para atacar o Executivo: o Orçamento Participativo e a utilização de verbas para a publicidade. Quando o PT estava no governo municipal, foi acusado pela oposição de empregar grandes quantias de dinheiro em publicidade. Segundo os vereadores, estas verbas deveriam ser utilizadas para viabilizar algum projeto social, e não para garantir a visibilidade do Executivo. A situação repete-se no governo Fogaça, com a ampliação das verbas destinadas à publicidade. O PT criticou a postura do Executivo, alegando que desta forma o PPS estava indo de encontro com o seu discurso histórico – ou seja, como oposição, o partido do prefeito Fogaça sempre contestou a ampliação das verbas destinadas a publicidade, e agora, como governo, utiliza a mesma estratégia política.

Em relação ao OP, o governo Fogaça é alvo de inúmeras críticas. A oposição discorda da maneira com que o Executivo está tratando dos assuntos relacionados ao programa. A perspectiva de mudanças na condução do Orçamento Participativo descontenta os vereadores da oposição, principalmente os vereadores do PT. Existe a possibilidade de membros do Executivo passarem a ter direito de voto durante as assembléias do OP, fato que não ocorria nas gestões passadas. O Legislativo igualmente mudou a sua postura com relação ao OP. Como se sabe, durante os governos do PT, os vereadores não se sentiam à vontade para alterar as propostas que vinham do Orçamento Participativo, pois isso os colocaria em confronto direto com a população.

41 É importante mencionar que através das atas analisadas, pode-se constatar que os vereadores do

A partir de 2005, mediante a postura assumida pelo Executivo bem como pela Câmara, se o OP voltar a funcionar nos mesmos moldes das gestões petistas as intervenções por parte dos vereadores provavelmente serão freqüentes.

Portanto, pode-se concluir que existem diferenças significativas entre as duas gestões em questão, e principalmente no padrão de comportamento do Legislativo verificado na pesquisa de Dias (2002) com o padrão de comportamento do Legislativo a partir de 2005. Para os vereadores que representam a base apoio ao governo Fogaça, a mudança no Executivo municipal significou a volta do poder de “voz” aos vereadores.

Após a descrição do cenário político de Porto Alegre a partir de 2005 – enfocando a atuação do Executivo e do Legislativo –, passa-se para uma segunda etapa da análise: busca-se descrever como era o cenário político de Porto Alegre durante os três primeiros mandatos do PT (1989-1998)42. O ator central dessa descrição é o Legislativo e a mudança que ocorre em seu padrão de comportamento após a implementação do Orçamento Participativo. O objetivo desse ponto é traçar um paralelo entre os dois governos, apontando o que mudou com a posse de Fogaça. .

4.6 RESGATANDO OS FATOS – O LEGISLATIVO MUNICIPAL DE 1989 A 1998