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2 RELAÇÂO EXECUTIVO-LEGISLATIVO UMA LENTE TEÓRICA SOBRE

2.4 A RESPONSABILIDADE DA OPOSIÇÃO

Em sua maioria, as oposições de esquerda reivindicam um duplo papel: oposição social e oposição parlamentar (PASQUINO, 1998, p. 53). Em síntese, toda oposição que busca crescer, tornar-se respeitável e principalmente converter-se em governo vai desejar ocupar um papel intermediário entre a sociedade e o parlamento. A sua identidade e a sua atuação vão depender diretamente da maneira com que ela vai trabalhar e sustentar talrelação.

O termo “oposições de esquerda” foi freqüentemente utilizado na América Latina para designar as oposições emergentes do continente. Porém, é importante ressaltar que existem oposições que se apresentam como alternativa de governo e o fazem a partir de ideologias de direita. A ideologia não define quem é ou não oposição, mas é um elemento importante para se analisar a capacidade representativa e dar formato à sua competência (LÓPEZ, 2006, p. 4).

No Brasil, paralelamente ao processo de transição, houve o surgimento de novas formas de organização social e política, que iniciaram um processo de contestação do status quo. No caso brasileiro, o partido de contestação, por natureza, foi o Partido dos Trabalhadores (PT) (LÓPEZ, 2006, p.6). Neste período, mais especificamente entre os anos 1973 a 1989, estruturava-se no país um status

quo governante, que reunia um amplo espectro ideológico unido a partidos que

compreendiam desde a centro-esquerda até a direita, mas que foi capaz de compartilhar o poder mediante amplas coligações durante os governos de José Sarney, Fernando Collor de Mello, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. Nesse contexto, conviveram “partidos conservadores” e novos partidos de centro, como o PSDB e PMDB, cujos líderes possuíam um passado comum com os primeiros (MENEGUELLO, 1989, p. 79).

Em suma, a análise do processo de evolução do Partido dos Trabalhadores no cenário político-partidário do país sugere, conforme as considerações de López, que:

Los partidos desafiantes em sistemas no institucionalizados son identificables mediante um análisis detallado de las relaciones de cooperación y conflicto más estables que presenta el sistema de partidos. Tal solución se vuelve necesaria ante la imposibilidad de identificar actores emergentes por um lado y establecidos por outro, como si es posible hacer em los sistemas institucionalizados o hegemônicos. El binomio desafiantes - status quo parece tener entonces, uma utilidad relevante para analizar sistemas de partidos com diversos niveles de institucionalización (LÓPEZ, 2006, p. 6).

Na América Latina, em alguns casos os partidos “desafiantes” foram vitoriosos e conseguiram firmar-se como uma alternativa para o seu eleitorado. Em outros, fracassaram ou porque não conseguiram consolidar a sua imagem como alternativa real e viável, ou porque acabaram incorporando-se ao sistema tradicional de partidos.

Em todo caso, as forças políticas que conseguiram êxito no processo de construção e consolidação de sua imagem como oposições, isto é, como partidos de oposição, só o tiveram porque entre outros fatores, como os já mencionados no decorrer do texto, colocaram em prática o que Pasquino chama de “antagonismo

practicable”, ou seja, “Em la práctica, ninguna oposición democrática lo es del todo”

(PASQUINO, 1998, p. 63).

Pode-se afirmar que nenhuma oposição democrática vota contra o governo em cem por cento dos casos. Isso se deve ao fato de que toda a oposição responsável e consciente está submetida a condições estruturais, regras comportamentais e organizativas. Portanto, pode-se entender que uma oposição parlamentar que seja adepta ao jogo político democrático aceita as regras e em boa parte também aceita os regulamentos, muito embora possa questioná-los. Esse ponto marca a diferença entre as oposições chamadas consensuais e as antagônicas –enquanto a primeira busca adquirir recursos e manter os antigos já

conquistados, a segunda quer a todo custo transformar ou derrubar o sistema (PASQUINO, 1998, p. 63).

É sempre importante salientar que a existência da oposição garante o desenvolvimento e a consolidação da democracia. Se for adotada a perspectiva de Dahl – cujo conceito de democracia é o seguinte: “Sistema político que tenha como uma de suas características, ser inteiramente, ou quase inteiramente, responsivo a todos os seus cidadãos, que são considerados politicamente iguais” (DAHL, 1997, p. 25) – é possível perceber que dois pontos são centrais: participação política e a garantia do direito dos indivíduos de expressarem suas preferências sejam elas a favor ou contra o sistema.

Sabe-se, também, que a consolidação das oposições, como atores importantes no cenário político dos Estados democráticos, não é uma tarefa fácil, tanto para o governo como para os opositores. A oposição parlamentar, tipo de oposição que interessa no caso deste trabalho, vem ao longo do tempo buscando consolidar a sua imagem de alternativa real e viável. Para tanto, precisa encontrar um espaço entre as regras e regulamentos existentes para atuar em conjunto com o governo. No caso dos que estão no poder, reconhecer que a existência da oposição é salutar nem sempre é fácil, porque em determinados momentos os opositores esquecem suas verdadeiras atribuições e passam a agir como obstáculos a qualquer tipo de ação do governo.

Para concluir, pode-se perceber que o tipo de oposição e a maneira com que ela vai atuar dependerão, em grande parte, da maneira com que o governo vai gerir essa relação. No caso de Porto Alegre, assunto abordado no capítulo II, o comportamento da oposição mudou bastante entre o período em que o Partido dos Trabalhadores estava à frente do governo municipal, para o governo José Fogaça, iniciado em janeiro de 2005. A inversão dos papéis entre situação e oposição traça o perfil da relação entre o Poder Executivo e o Poder Legislativo local.

3 A MUDANÇA NA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL E SUA INFLUÊNCIA NO