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Orçamento Participativo de Recife: mais uma grande capital na rota da participação.

4. O ORÇAMENTO PARTICIPATIVO COMO POLÍTICA PÚBLICA NO BRASIL CONTEMPORÂNEO: UMA ALTERNATIVA REAL PARA DEMOCRACIA

4.3 Orçamento Participativo de Recife: mais uma grande capital na rota da participação.

Em Recife o orçamento participativo começa no governo de João Paulo do PT em 2001. A prefeitura local anunciou em março de 200872, último ano do segundo

mandato de João Paulo que seu ciclo de 2007 do Orçamento Participativo tinha sido o maior em participação popular da história do projeto. Após as duas primeiras etapas do ciclo (plenárias regionais e temáticas, e urnas eletrônicas), foi registrada a presença de quase 80 mil pessoas. A marca é 20% superior à participação de 2006.

Como dito anteriormente, o desenho institucional dos OP’s pelo Brasil além de serem diferentes entre si sofrem modificações dentro deles mesmos no decorrer dos anos. Com o OP Recife não foi diferente, a partir do ano de 2008, comunica73 oficialmente a Prefeitura de Recife:

O Orçamento Participativo do Recife realiza plenárias regionais nas 18 microrregiões da cidade, onde a Prefeitura presta contas do plano de investimentos, da realização das obras e explica como serão definidas as prioridades temáticas. A plenária escolhe, através do voto direto, três prioridades de investimento para aquela região.

Em seguida, acontecem as plenárias intermediárias, com a participação dos cidadãos cadastrados nas plenárias regionais. Nessas reuniões, são eleitas três obras prioritárias, uma para cada tema eleito na Plenária Regional, além dos representantes - delegados - das organizações sociais participantes do processo que tenham levado pelo menos 10 pessoas às reuniões regionais.

Em paralelo, ocorrem as plenárias temáticas de Desenvolvimento Urbano e Ambiental, Saúde, Educação, Assistência Social, Cultura, Desenvolvimento Econômico, Juventude e Mulher, onde são discutidos os programas e obras estruturadores para a cidade.

A população se reunirá previamente, em grupos de no mínimo dez pessoas, para indicar duas obras e ações. Em seguida, na plenária regional, os participantes votarão em duas das ações credenciadas na etapa anterior, gerando uma lista com as dez prioridades de cada microrregião. As plenárias intermediárias não acontecerão mais.

Quem não tiver comparecido às plenárias regionais terá mais oportunidades de contribuir com o processo do OP: em cada microrregião, urnas eletrônicas serão colocadas em locais estratégicos, para que as pessoas possam votar numa das 10 obras mais bem colocadas nas plenárias regionais. E a votação poderá também ser feita pela Internet, no site da Prefeitura do Recife.

O Regimento Interno do OP de Recife assemelhou-se ao de Fortaleza. Porém, destaco aqui uma diferença que julgo importante:

Em seu artigo 2º, o Regimento Interno do OP Recife, ao falar da

72 Em seu sítio eletrônico oficial: www.recife.pe.gov.br. Consultado em abril de 2008. 73 (Ibdem)

composição dos fóruns de delegados, a idade mínima para a elegibilidade como delegado do OP de Recife é de dezesseis anos. O Regimento Interno do OP de Fortaleza traz orientação semelhante no que tange ao ciclo territorial. No entanto, o OP de Fortaleza, no ciclo do OP criança, elege delegados a partir de dez anos que poderão ser, consequentemente, conselheiros para compor o Conselho do Orçamento Participativo (COP) juntamente com os demais conselheiros adultos escolhidos nas rodadas territoriais e de segmento. Em Recife, tem o “OP Criança” 74

que, por sua vez tem seu “Fórum dos conselheiros do OP Criança”. As crianças e adolescentes começam sua participação na escola e via internet a partir dos quatro anos, conforme noticia o site oficial. Mas para as plenárias regionais a participação começa a partir dos seis anos.

Sobre essas peculiaridades da proposta recifense de Orçamento Participativo em relação a de Fortaleza, uma ex-coordenadora do OP de Fortaleza, em entrevista concedida ao pesquisador esclareceu:

Também fizemos um OP de Criança e adolescente diferente tanto de lá [Cidade de São Paulo] como do de Recife. O de Recife é feito só nas escolas, aqui a gente faz o territorial e nas escolas. E aqui a gente tem um diferencial de todo o mundo: a quantidade de conselheiros crianças junto com os adultos. Não existe um outro Conselho só de crianças – é um Conselho só. (Ex-coordenadora do OP Fortaleza em entrevista concedida ao pesquisador em 2008).

O Orçamento Participativo da Criança, conforme discurso oficial da Prefeitura de Recife é uma iniciativa pioneira do OP de Recife:

Entre os diferenciais do processo pode-se destacar a escolha, a cada ano, de um personagem histórico a ser homenageado no ano letivo. O eleito deve ser alguém que, em vida, soube impregnar a cidade com os mesmos valores éticos que ancoram o projeto educacional do município. Em 2001, a homenagem foi a Dom Hélder Câmara, no ano seguinte a Paulo Freire e em 2003 estamos vivendo o Ano Letivo Chico Science.

Outro fato que se apresenta como novidade no OP Criança do Recife é a capacitação feita com os professores a cada ano para ajudar no processo de desenvolvimento da cidadania das crianças da rede municipal de ensino. Com a participação, as crianças passam a desenvolver, desde cedo, uma consciência mais coletiva e uma cultura reivindicatória, sem esquecer a ludicidade. (www.recife.pe.gov.br)

74 Apesar de ser denominado pela Prefeitura Municipal do Recife de “OP criança”, esse espaço conta

oficialmente também com adolescentes até a faixa etária de 16 anos. Logo, à luz do Estatuto da Criança e do Adolescente que estabelece a faixa etária entre 12 e 18 incompletos adolescente, deveria ser denominado mais apropriadamente de “OP criança e adolescente”. Ver página na web http://www2.recife.pe.gov.br/projetos-e- acoes/acoes/op-crianca/.

Mas, como já dito, as crianças e adolescentes menores de dezesseis anos não tomam parte do Conselho do OP de Recife. Já Fortaleza é pioneira em oportunizar a crianças de dez anos a participação no COP local juntamente com os adultos!

Assim, o Orçamento Participativo do Recife tem diferenciais que o destacam entre as experiências de participação popular existentes no Brasil tais como: eleição direta das obras e ações prioritárias pela população presente nas Plenárias Intermediárias; credenciamento informatizado, a população é cadastrada e credenciada através do sistema desenvolvido pela Empresa Municipal de Processamento Eletrônico (Emprel) onde, logo após o credenciamento, é emitido relatório sobre cada grupo social participante e o número de delegados a serem eleitos pelo grupo na plenária intermediária, o sistema também permite apresentação das prioridades eleitas, poucos minutos após o término da votação; composição do Conselho do Orçamento Participativo com a presença de representantes de cada conselho setorial e de defesa de direitos, existentes na cidade e Brinquedoteca Participativa75 que é um ambiente onde os pais deixam os

filhos e podem participar das plenárias.

Até o ano presente (2015) o OP Recife acontece no Recife, constituindo uma destacada experiência de orçamento participativo. Afinal, a experiência ocorre sem interrupções há catorze anos em uma capital mais populosa que a gaúcha.