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5. O OP FORTALEZA: PERCURSOS DE UMA EXPERIÊNCIA INTERROMPIDA?

5.3 Os atores do OP Fortaleza

A coordenadoria do OP Fortaleza juntamente com os representantes populares que tomaram parte no OP Fortaleza, isto é, os delegados de cada região da cidade e os conselheiros, fazem o quadro de atores mais evidentes da proposta.

Entretanto esse quadro de atores representaria, ao que eu chamo de “meio de campo”, fazendo uso de uma expressão popular do imaginário cultural do futebol, visto que antes e depois97 desses atores há inúmeros outros que interferiram

no processo participativo de forma talvez mais decisiva que o grupo formalmente constituído segundo o desenho e regimentos legais dessa política pública. É sobre esses outros atores que dedicarei maior parte desse subtítulo.

Começo lembrando do que fora exposto no subtítulo 5.1 que tratou da conjuntura política local. Esses bastidores políticos na cidade fizeram com que essa política, e não outra, fosse uma proposta de campanha da Luizianne em 2004. Ali entraram, dentre diversos atores, o Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) que elencou o orçamento participativo como uma das propostas-diretrizes para seus candidatos às eleições em todo o País daquele ano98. Entrou especialmente, a

nível local, a corrente partidária dentro do PT da qual a então candidata fazia parte, visto que essa corrente carregava concepções de gestão e influências de seus colaboradores e eleitores que ensejavam à implementação dessa política após a vitória nas eleições municipais. Essa corrente interna ao partido era a Democracia Socialista99 – DS – que fomentou experiências de orçamento participativo pelo

Brasil100.

97 Antes e depois aqui interpretados como grupos que representariam interesses político partidário

hegemônicos que intervieram na formulação e criação do OP “antes” de sua implementação e grupos mais populares que tomam posição ativa, ou não no OP sem qualquer vinculação representativa de classes.

98 Cartilha do PT “Modo petista de governar” reproduzida para os candidatos para as campanhas de 2004. 99 Também designada ORM-DS: Organização marxista revolucionária Democracia Socialista.

100 Raul Ponte, por exemplo, prefeito de Porto Alegre no ano em que foi implementado o orçamento

Ainda dentro do Partido dos Trabalhadores, a participação da militância do PT, ligada ou não a alguma de suas correntes, durante o período de campanha. Visto que sua militância é simpatizante de experiências participativas, sua presença nos períodos de campanha pressionam os respectivos candidatos a implementarem dispositivos democráticos quando eleitos com o apoio dessa massa militante. A exemplo disso, registrei a participação do MCP que reforçou a proposta do OP Fortaleza antes da vitória nas urnas na primeira gestão Luizianne Lins. Na campanha de 2004 do PT local a presença dessa militância era significativa. Militantes sem ligação com correntes internas, mas que tomaram posição ativa na campanha de 2004 para a Prefeitura tiveram seus esforços reconhecidos ao serem chamados para tomarem parte do grupo operacional do OP Fortaleza, como é o caso da ex-membro da coordenação do OP Fortaleza101, que constitui um dos

sujeitos de campo.

Ex-secretário de planejamento do Município fala também da presença de uma militância ligada a outra gestão do PT, a de Maria Luíza, que volta a cena:

Havia uma frase que era muito comum entre os delegados do OP que a principal obra do OP era o próprio OP, uma coisa bem politizada, velhos

militantes da época da Prefeita Maria Luíza voltaram e participavam e havia

uma discussão acalorada tanto na questão da metodologia do OP quanto dessa participação da população no orçamento. (Ex-secretário de planejamento do Município, em entrevista concedida a este pesquisador em 12 de fevereiro de 2015).

Já no segundo governo Luizianne Lins, a pesquisadora Vanda Souto, em trabalho acadêmico sobre o OP Fortaleza, avalia que foi diferente o peso da participação da militância:

“É importante enfatizar que a militância que participou ativamente da campanha em 2004, em sua maioria não participou da campanha em 2008, “pela primeira vez uma candidata a prefeitura de Fortaleza podia ser considerada 100% situacionista, já que pertencia ao partido do presidente Lula, e contava com o apoio de Cid Gomes, do PSB, agraciado com a indicação do nome do vice-prefeito, Tim Gomes, então presidente da Câmara dos Vereadores e primo do governador” (SOUTO, 2013, p. 47).

Na campanha de 2008, o OP Fortaleza já estava implantado. A pressão da militância já não se fazia tão premente para que o OP existisse. Contudo, a ausência dessa pressão, os conchavos decorrentes dessa nova configuração de

101 Importante membro da equipe de coordenação que foi chamada a participar do OP Fortaleza desde o

primeiro ano e que permaneceu na coordenação mesmo após a mudança de gestão, a qual será aqui identificada por “ex-membro da coordenação do OP Fortaleza”.

alianças partidárias e de patrocinadores interferiram no desenho da proposta do OP local. Mais adiante, no item 5.5, tratarei dessa mudança na metodologia do OP a partir de 2009.

Porém, um importante ator que determinou sobremaneira a implementação do OP Fortaleza e a intensidade com a qual ele vigorou inicialmente e que, até o momento não havia citado na dissertação, foi a própria Prefeita Luizianne Lins.

Famosa por sua militância no movimento estudantil, especialmente o universitário, Luizianne Lins dá carta branca à Neiara de Morais a conduzir o OP de uma forma mais radical que o OP de Porto Alegre. Porém, tamanha autonomia política não foi acompanhada de autonomia administrativo-financeira. Sobre isso o Ex-secretário de planejamento do Município teceu vários comentários:

Mas havia que ganhar corações e mentes para o OP. As pessoas entenderem que OP não era só um ornamento, mas que vinha ser a própria forma petista de governar, a alma da forma petista de governar. Embora não fosse petista: “Olha, eu sou do PCB, eu estou aqui meio de contrabando, por conta da amizade pessoal com o Prof. Alfredo, porque a Perfeita me convidou para ficar temporariamente, na verdade eu nem sou vinculado ao PT”. Mas à época o partido estava apoiando e eu permaneci lá. E era uma luta para que as pessoas entendessem que o OP era importante, que não era só uma coisa decorativa para dizer que o governo era participativo, democrático, popular e tal. Não, tinha que ser pra valer mesmo. Tinha que dizer assim: “o povo vai escolher mesmo”. E a Neiara era muito radical,

nesse sentido: “Não queremos fazer como Porto Alegre, não. Todo o orçamento vai ser discutido de forma participativa, todo o orçamento”.

[...]

Se bem que Porto Alegre era bem menor que Fortaleza, ele comprometia uma parte dos investimentos, só dos investimentos, não de serviços e uma parte deles para que o povo desse... Então foi muito mais moderado, aqui houve uma certa radicalização. (Ex-secretário de planejamento do Município, em entrevista concedida a este pesquisador em 12 de fevereiro de 2015).

E aqui, outro importante grupo de atores a ser levado em conta eram os secretários municipais, os primeiros na hierarquia administrativa que, por sua vez, detinham posição privilegiada para facilitar ou dificultar todo o processo participativo. Sob a mesma analogia do futebol, eles seriam como os “atacantes”, juntamente com os conselheiros e delegados que levariam adiante, ou não, as demandas. Pois eles, além de confirmarem a exequibilidade de uma demanda, eles acompanhariam a demanda até sua entrega à comunidade. A escolha dos secretários não teria sido só política, segundo o Ex-secretário de planejamento do Município, como contrapartida às alianças firmadas no segundo turno da campanha do primeiro mandato. Mas,

para o ex-secretário, o OP, por ser uma experiência inédita em Fortaleza, por mais que seus secretários simpatizassem com os princípios democráticos participativos, Luizianne Lins teria, juntamente com Neiara e o grupo de implementação inicial do OP Fortaleza, “conquista-los” à participação nesse processo pioneiro na cidade:

[...] a primeira dificuldade dele é ganhar corações e mentes de todo o secretariado, portanto do conjunto do corpo técnico da Prefeitura, mas também do secretariado. Porque um secretariado que tinha algumas características bastante técnicas, curiosamente, porque o secretariado da Prefeita é um secretariado politicamente muito comprometido com ela, mas é um secretariado técnico.

[...]

Mas eu queria dizer o seguinte, havia toda a demanda do OP que passou a ser progressivamente, o secretariado entendeu que não dava para abrir simplesmente... é que os secretários também – um parêntese – eles

gostavam do OP. Porque o OP criava demandas e: “Se é demanda do OP eu tenho que atender.” Então eles engordavam os seus orçamentos. (Ex-

secretário de planejamento do Município, em entrevista concedida a este pesquisador em 12 de fevereiro de 2015).

O entrevistado entende que houve pouca resistência à nova proposta por parte dos representantes do “primeiro escalão”, porém a inexperiência do secretariado com OP Fortaleza pode ter custado caro à política pública de gestão participativa:

Então quando o primeiro OP acontece o secretariado talvez não estivesse tão preparado para o que estava acontecendo. A tendência natural foi: “se o OP é um programa de governo, se o OP é a forma petista de governar, só nos resta abrir o orçamento para a participação popular e deixar acontecer”. Mas isso foi, ao meu ver, um problema muito sério porque, em que pese a ideia que o orçamento todo estava aberto. Que já foi uma coisa extremamente radical, você não reservou uma parte do orçamento para ser discutido participativamente, você abriu o orçamento... Uma vez elaborada a LOA [Lei Orçamentária Anual] ela era levada em partes, cada secretaria para o então COP, o Conselho do Orçamento Participativo, já devidamente constituído, quer dizer: participação popular, tira os delegados, toda aquela metodologia, que não é o caso, que não te interessa aqui. E ao meu ver, a

maior parte dos secretários, isso já aconteceu já em 2005, eles abriram muito o leque. A palavra “não” praticamente desapareceu do vocabulário do secretariado, tipo assim: “isso aqui não pode, isso aqui já foi feito”. Ou seja,

restringir, porque havia uma demanda reprimida muito grande. Então a empolgação inicial com a participação era de que agora o povo está decidindo tudo, e vai decidir tudo mesmo. O que era muito bom. Mas havia coisas que precisam ser levadas em conta, tipo, algumas restrições técnicas. (Ex-secretário de planejamento do Município, em entrevista concedida a este pesquisador em 12 de fevereiro de 2015).

A ex-membro da coordenação do OP Fortaleza, em sua fala, registra algo semelhante, e aponta isso como um dos maiores desafios do OP Fortaleza:

em quatro anos e muito menos em um ano! Porque era isso, o OP decidia em um ano para ser executado no outro, então a gente juntou parece que todas as vontades, todos os sonhos... Juntou tudo num primeiro ano de gestão, decidiu tudo num ano, pra ser executado no outro! Então, talvez foi o grande, talvez não, certamente foi um equívoco da gestão.

[...]

E essa imensa vontade de querer fazer, de dizer “sim” a todos esses sonhos da população [...] desgastou muito o processo de participação. (Importante membro da coordenação do OP Fortaleza, em entrevista concedida a este pesquisador em junho de 2013).

Os técnicos da Secretaria que lidava diretamente com a operacionalização do OP, técnicos de segundo e demais escalões, importantes atores também na discussão e viabilização das demandas, passaram igualmente por esse processo de “conquista”:

Na Secretaria de Orçamento, os técnicos foram ganhos a ponto de dizerem assim: “Bom, isso aqui é o quê? É demanda do OP? Vamos criar um carimbo especial”. E no orçamento, que vai ser aprovado pela Câmara de Vereadores, havia que enviar o orçamento no final do ano, para Câmara de Vereadores para ser aprovado, com as emendas devidas... “Isso aqui a gente carimba OP”. Carimbou OP, em princípio, ninguém pode mexer. [...]

O OP ganhou status de uma conquista popular, que ninguém, de nenhum setor, mesmo da oposição, de nenhum setor, de dentro ou de fora do governo, fez menção de mexer! Havia um respeito muito grande. Uma

conquista do OP, uma conquista política! (Ex-secretário de planejamento do Município, em entrevista concedida a este pesquisador em 12 de fevereiro de 2015).

Contudo, ele lembra também:

Agora, a realização dele, na prática, depende de muitos fatores técnicos. E claro, que o jogo orçamentário, como disse, “orçamento não é dinheiro”, o que está previsto lá, em determinada obra do OP, há uma previsão, você tem que ter uma previsão, um recurso para realizar aquilo lá, mas aquilo não significa que exista um recurso. (Ex-secretário de planejamento do Município, em entrevista concedida a este pesquisador em 12 de fevereiro de 2015).

Parte desse corpo técnico que compunha a Secretaria de Planejamento formava a Coordenadoria responsável pela operacionalização do OP.

Sobre o lugar institucional do OP no organograma da Prefeitura à época, o ex-secretário de planejamento do Município, que era o Secretário da SEPLA (Secretaria de Planejamento) faz algumas notas esclarecedoras:

À época não havia OP nem havia previsão em que parte da Prefeitura, em

que setor, em que secretaria o OP iria ser inserido. Mas por uma questão

quase, digamos assim, natural, porque a estrutura da Prefeitura na Secretaria de Planejamento era muito vinculada ao Gabinete e o Professor Alfredo, então Secretário do Planejamento, tinha uma vinculação muito forte com a Prefeita, uma espécie de homem de confiança, braço-direito, na área

técnica da Prefeita, então a Secretaria de Planejamento acaba, aos poucos, iniciando uma discussão sobre a questão do OP.

[...]

Quando a gestão começa é convidada para organizar o OP uma pessoa que tem uma afinidade muito forte, que acho que é a principal referência prática, teórica e de engajamento com questão do Orçamento Participativo que é a Neiara de Morais, então vinculada ao CEDECA. Ela é chamada, fica

vinculada à Secretaria de Planejamento. Escolhe-se que a Secretaria de

Planejamento vai ser o lugar a partir de onde o OP vai se iniciar. E ela então começa com as articulações e traz algumas pessoas que têm experiência, no caso do Rio Grande do Sul, no caso de minas Gerais, ela começa articular às experiências que o PT teve em outras áreas para tentar o montar o OP aqui, porque ela tem uma visão bastante ambiciosa do OP. (Ex-secretário de planejamento do Município, em entrevista concedida a este pesquisador em 12 de fevereiro de 2015).

É importante lembrar que, em um primeiro momento, Luizianne Lins não podia criar uma secretaria específica para o OP, visto que a criação de uma nova secretaria, apesar de ser iniciativa do Executivo, é prerrogativa da Câmara, logo teria de passar por um burocrático e longo período de criação.

A vinculação não formal do OP Fortaleza à SEPLA como uma coordenadoria foi um dos primeiros desafios a serem enfrentados por essa política pública de gestão:

Porque o orçamento do primeiro ano de governo é orçamento que vem da gestão anterior. E nesse orçamento não havia uma previsão de recurso

para Orçamento Participativo pelo menos nos moldes que estava sendo

pensado pela gestão da Prefeita Luizianne Lins. E a doutora Neiara gozava de uma certa liberdade de organização de equipe e tal, mas não tinha os recursos. Então foi uma certa dificuldade para contratar pessoal. Houve

problemas de contratos. Ou seja, o primeiro problema, mas por uma pura

necessidade, não havia contar com o corpo de funcionários da Prefeitura que não estavam... que não tinham experiência. Então ela selecionou um grupo de pessoas que tivessem características vinculadas a esse conceito de mobilização. (Ex-secretário de planejamento do Município, em entrevista concedida a este pesquisador em 12 de fevereiro de 2015).

Somente quando Elmano de Freitas assumiu a coordenação geral do OP, no segundo mandato de Luizianne Lins, com a saída de Neiara por razões particulares, dentre elas a de fazer sua pós-graduação em Portugal sob a orientação de Boaventura de Sousa Santos, é que o OP Fortaleza passa a ter uma coordenação específica. A ex-membro da coordenação do OP Fortaleza esclarece esse processo:

Era assim, no início, bem no início, 2005, o Orçamento Participativo era como se fosse um programa da Secretaria de Planejamento e Orçamento. Depois a gente saiu... Aí foi montada uma comissão ligada ao Gabinete da Prefeita, que foi já quando o Elmano foi assumir e tal. Essa comissão tinha

status de coordenadoria, então era Coordenadoria da Participação Popular.

Orçamento Participativo. Então a gente começou ligado à Secretaria de Planejamento depois ficou ligado ao Gabinete da Prefeita [...].(Importante membro da coordenação do OP Fortaleza, em entrevista concedida a este pesquisador em junho de 2013).

Souto fez um detalhamento da estrutura interna dessa coordenadoria. Apesar dos dados se referirem ao período anterior à criação da Coordenadoria Especial da Participação Popular o organograma permaneceu. Tomo emprestado esses dados, até porque a fonte na qual ela levantou esses dados não está mais disponível desde 2013:

No período de 2005 a 2008, o OP tinha o seguinte quadro organizativo com suas devidas funções:

● Coordenação de Formação – elaboração e materialização da formação técnica e política dos participantes, delegados, conselheiros e funcionários envolvidos no processo de participação popular;

● Coordenação de Campo – coordenação das atividades em campo, como reuniões comunitárias, assembleias preparatórias e deliberativas, reunião com os delegados e conselheiros, organização dos espaços (logística) e acompanhamento do trabalho dos articuladores do OP lotados nas regionais;

● Coordenação de Comunicação – responsável pela divulgação do OP, publicidade e produção do material de formação e divulgação;

● Coordenação de Segmentos Sociais – responsável por reuniões com movimentos organizados, ONGs, atividades ligadas aos segmentos sociais (população negra, juventude, LGBTs, idosos, mulheres, pessoas com deficiência, crianças e adolescentes);

● Gestão da Informação – gerenciamento do banco de dados do OP, realização do cadastramento dos delegados, organização das atas das assembleias e coordenação das informações geradas no OP, bem como os levantamentos estatísticos.

As coordenações citadas, embora tivessem suas atribuições específicas, constituíam-se enquanto coletivo vinculado à Secretaria de Planejamento – SEPLA. Além destas coordenações, existiam equipes que executavam as tarefas de articuladores e mobilizadores nas Secretarias Regionais Executivas - SERs. Os articuladores tinham como atribuições as tarefas de demarcação geográfica das áreas de participação, a organização dos locais das assembleias, a logística das assembleias do OP. Já os Mobilizadores realizavam o contato direto com a população, movimentos sociais, articulação com as lideranças locais e Coordenadoria do OP. (SOUTO, 2013, p. 95).

A coordenadoria foi composta inicialmente por um grupo técnico politicamente constituído, apesar de ter em seus quadros estagiários escolhidos por

meio de seleção pública102. A impressão que tive em todo esse período que

acompanhei o OP Fortaleza foi de que as posições mais importantes da coordenadoria foram ocupados por agentes que não somente estavam em sintonia com os mesmos ideais políticos das correntes e políticos que lhes indicaram, mas, o mais importante, deveriam estar suscetíveis à interferências destes. Nesse sentido, é importante ilustrar essa interferência na composição operacional do OP Fortaleza. Ainda na primeira gestão Luizianne Lins, a composição dos quadros operacionais do OP Fortaleza refletiam as alianças e apoios político-financeiros da campanha de 2004, especialmente as do segundo turno daquela campanha:

[...] partidos de diversos matizes ideológicos, ou mesmo sem qualquer expressão ideológica autêntica, participavam da ocupação dos cargos públicos nas Secretarias Executivas Regionais e setores estratégicos do governo, tudo em nome da governabilidade. (SOUTO, 2013, p.96)

Na outra ponta desse “meio de campo” operacionalizador tem-se as entidades não-governamentais, algumas associações, instituições – escolas ou grupos dentro destas, por exemplo –, representantes do Legislativo local – vereadores, candidatos e assessores –, lideranças comunitárias de bairros, sindicatos, enfim, vários indivíduos e grupos da sociedade civil organizada que articulam dentro do OP Fortaleza estratégias para eleição de seus representantes que comporão os quadros de delegados e conselheiros do OP Fortaleza, como também para escolha de suas respectivas demandas.

Essa articulação é em grande parte explícita, pois é visível em algumas assembleias do Ciclo do OP grupos organizados caracterizados por vestimentas comuns, gritos de ordem, bandeiras ou discursos comuns.