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2.3 Os Carismas do Espírito Santo no grupo Emanuel III

2.3.2 A música e a oração em línguas no grupo de oração Emanuel III

2.3.2.1 Oração em línguas falada

A oração em línguas distinguida pelo grupo Emanuel III como “falada” ou “rezada” é realizada na reunião do núcleo do grupo de oração, e eventualmente dentro da reunião do grupo Emanuel com o público.

As reuniões do núcleo do grupo de oração Emanuel III, muitas vezes não contam com a presença de ministros de música, tendo presentes os demais servos que veem a oração em línguas falada como algo que acontece naturalmente no decorrer da reunião. A oração em línguas faz parte das ações coletivas do núcleo, visando as ações do Espírito Santo nas reuniões abertas ao público:

Quando a gente tem a reunião do núcleo, que é um pouco menos de uma semana antes, a gente reúne quarta-feira, e o grupo de oração geral né, aberto ao público com o Santíssimo é realizado às segundas, então são quatro dias antes. Nessa reunião de núcleo a gente ora em línguas, a gente invoca o Espírito Santo, a gente reza juntos como comunidade, a gente reza, louva e agradece ao Senhor por aquele grupo que já aconteceu na segunda-feira, por tudo o que aconteceu de bom ali, ou de ruim, mas pela presença do Espírito Santo, tudo o que houve; e pedindo ao Espírito Santo então que nessa reunião Ele nos indique a palavra, o tema central que vai ser pregado, o qual vamos levar na segunda-feira para as pessoas no grupo de oração. Então aí, com muita invocação ao Espírito Santo, oração em línguas, né, é uma entrega muito grande à oração, a gente pede ao Senhor essa palavra e essa palavra então nos é dada (R.F. Coordenadora do Grupo de Oração Emanuel III).

A oração em línguas pode ser iniciada por qualquer pessoa, sendo seguida pelos demais presentes, tornando-se uma oração coletiva. É realizada geralmente no início da reunião em meio a palavras espontâneas de agradecimento a Deus pela reunião anterior e com a invocação da presença do Espírito Santo, seja com palavras ou diretamente com a própria oração em línguas. Com a reunião sendo realizada em círculo, a oração em línguas pode ser feita com todos de mãos dadas, também sendo livres outros gestos, como os braços levantados e olhos fechados.

A oração em línguas na reunião do núcleo geralmente inicia com volume de voz baixo, cresce para um volume médio, semelhante ao volume da voz naturalmente falada e encerra diminuindo o volume até ter o silêncio total das vozes. Todos seguem uma mesma

pulsação com um andamento médio, em torno de 80 bpm, sendo que o andamento fica praticamente inalterado do início ao fim da oração, que dura cerca de 2 a 3 minutos.

Na oração em línguas falada realizada na reunião do núcleo do grupo de oração Emanuel III, a dinâmica de intensidade associada à manutenção do andamento também reflete o sincronismo coletivo, de modo que, na intensidade, todos seguem uma mesma onda até chegar ao silêncio, associado à linear pulsação de 80 bpm.

Figura 6 - Representação gráfica da dinâmica geral da oração em línguas do núcleo do grupo de oração Emanuel III

Assim, há uma experiência religiosa onde a coletividade resulta numa unidade em que cada qual tem suas particularidades, como os palavreados que se diferem entre si, seguindo um mesmo andamento referente à manutenção da pulsação.

Nas reuniões semanais do grupo Emanuel III realizadas com o público, a oração em línguas é realizada por alguns integrantes da assembleia espontaneamente durante diferentes momentos da reunião, de modo que esta pode ocorrer durante a fala de alguém, como durante o momento de pregação, e também pode ocorrer durante a execução de cantos.

As orações individuais realizadas pelo público dentro das reuniões do grupo de oração têm como característica uma emotividade mais introspectiva, muito particular, de caráter discreto. Comumente há gestos de fechar os olhos e colocar a mão no peito, sendo essa oração individual muitas vezes imperceptível para as pessoas ao lado que estão com a atenção envolvida com os diferentes momentos que estão sendo conduzidos, como o louvor e pregação. Com o volume de voz baixo e em meio a outras falas ou cantos que estão ocorrendo simultaneamente, muitas vezes esse tipo de manifestação da oração em línguas nas reuniões

do grupo é audível somente para a pessoa que ora. A oração em línguas individual é também livre quanto à sua duração, que em sua maioria duram de 1 a 5 minutos.

A. T. (Integrante do público do grupo Emanuel), que realiza a oração em línguas falada, abaixo descreve sua experiência:

A gente se envolve naquele momento ali e quando você vê, você está falando alguma coisa assim, é como se você fosse envolvido naquele momento. Não adianta a pessoa esperar assim: “vai acontecer alguma coisa”, não, a pessoa se envolve e de repente o som dela é aquele, e é engraçado assim né, porque é sempre diferente, ninguém ora em línguas do mesmo jeito. Por isso que não é aprendido, se fosse aprendido eu ia orar igual alguém me ensinou, com a mesma maneira silábica de falar né, não! Mas aí a gente vai falando, vai deixando fluir, vai deixando fluir o que sai naquele momento, porque é o seu espírito, você abre o seu espírito e deixa sair aquilo que... o som que te dá vontade de falar, porque você sabe que qualquer som que você falar, se você tiver essa tranquilidade de saber que qualquer som que você falar vai ser entendido, qualquer coisa que você abrir a boca e falar vai ser entendida, porque Deus ali está envolvido é naquilo que você tem no seu coração, aí você não tem medo, porque aí é qualquer coisa que eu falar, qualquer coisa que sair da minha boca é isso mesmo. Só que com isso você vai criando uma rotina que é aquilo, que é aquele som, é aquele som... te identifica. Aí você vai falando, vai sempre falando a mesma coisa porque aquele som é que te faz bem, te dá essa sensação de que a presença de Deus está ali e de que Deus está te escutando (A. T. Integrante do público do grupo Emanuel III).

Como descrito acima, a oração em línguas tem características particulares, produzidas pela própria natureza da experiência, que passa pela percepção individual, mesmo com a pessoa envolvida num contexto coletivo. Como citado “a pessoa se envolve e de repente o som dela é aquele, e é engraçado assim né, porque é sempre diferente, ninguém ora em línguas do mesmo jeito” (A. T). Apesar das particularidades de cada oração, observei durante as reuniões do núcleo e nas reuniões com o público grupo Emanuel III, que há na oração em línguas falada alguns fonemas comumente utilizados pelo grupo. Os fonemas vocálicos mais utilizados são: a, á, ã, ê, i, ô, u; que podem ser utilizados sozinhos, em sílabas ou junções silábicas. As sílabas mais comuns são: lá, lê, ia, iê, ia, iô, uô. As junções silábicas mais utilizadas são: êlaiá, iliê, laiá, ôliará, ialá. Assim o que difere as falas na oração de pessoa pra pessoa está composição da utilização dos fonemas, como, por exemplo, pessoas que repetem a mesma sílaba durante quase toda a oração, pessoas que repetem uma sequência de junções silábicas, e também as que variam entre fonemas vocálicos, sílabas e junções silábicas.

Neste tipo de oração em línguas, a pessoa tem uma liberdade rítmica, onde não há uma similaridade na pulsação no palavreado pronunciado. Muitas vezes o indivíduo só interrompe o fluxo da oração para inspirar e continuar orando. Nesta oração, a voz fica geralmente estabilizada na tonalidade da fala natural da pessoa.

Pude presenciar e observar a oração em línguas falada, mas por sua natureza eventual e respeitando a particularidade das orações em línguas pessoais realizadas pelo público e a privacidade da reunião fechada do núcleo do grupo de oração Emanuel III, foram inviáveis registros sonoros e visuais.