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A expressão letramento, tradução do termo em inglês literacy, admite as habilidades de ler e escrever como práticas sociais sem que haja necessariamente um aprendizado institucional. Letramento diz respeito às práticas discursivas que fazem uso da escrita, havendo letramento que vai desde um pequeno domínio da escrita até um domínio formal, mais elaborado, como por exemplo, no caso de pessoas com formação universitária (MARCUSCHI e DIONISIO, 2005).

Os estudos do letramento17 surgem no cenário educacional como mola propulsora para um novo olhar sobre alfabetização, leitura, escrita e produção textual. Através dele foi incorporado, na reflexão sobre língua e linguagem, o modelo do continuum entre oralidade e escrita imprescindível para a prática da sala de aula. Ou seja, a partir da noção de letramento é que se coloca o grande debate em torno da noção da oralidade (KLEIMAN, 2002).

O letramento desloca a perspectiva dicotômica da relação fala e escrita para uma perspectiva em que ambas as modalidades de uso da língua se completam. Essa postura contribui para o ensino da língua como prática social. Historicamente a visão dicotômica entre fala e escrita conduziu à separação entre forma e conteúdo, língua e uso, favorecendo o ensino da língua como instruções de regras gramaticais, secundarizando os aspectos dialógicos e discursivos. Temos nessa perspectiva dois modelos teóricos difundidos nas décadas de 1950 e 1980. O primeiro desprezou as influências sociais sofridas pela língua e o segundo encarou a escrita como recurso tecnológico autônomo que propiciava ao indivíduo a ampliação da capacidade cognitiva (MARCUSCHI, 2001, p.26). É a partir da década de 1980 que a visão de autonomia e supremacia da escrita começa a ser superada, embora, de acordo com Street (op.cit), a nova perspectiva ainda considerasse a aquisição da escrita como uma supremacia psicológica18.

Para Street (op.cit), o “modelo autônomo19” assume a supremacia cognitiva da escrita e em contestação a este modelo, o autor propõe o “modelo ideológico20”, em que a relação fala e escrita são inseridas nas práticas de letramento e nas relações de poder, definindo-o

17 Podemos afirmar apoiados em Marcushi (2001, p.25) que “investigar o letramento é observar práticas

lingüísticas em situação em que tanto a escrita como a fala, são centrais para as atividades comunicativas em curso”.

18 De acordo com Street, persistiam alguns mitos que reforçavam a visão dicotômica, eram eles: o mito de que a

escrita era uma reprodução fiel da fala, enquanto que a fala usava como base os elementos paralinguísticos; o mito de que a fala era fragmentada, caótica, enquanto que o texto escrito era mais coesivo e coerente; o mito de que a escrita era autônoma em sua produção de sentido, limitando-se ao conteúdo, enquanto a fala conduzia o sentido se apoiando no contexto e nas condições da relação presencial.

19 O modelo autônomo concebe o letramento independente do contexto social e cultural, admitindo o seu

funcionamento independente da escrita (MARCUSCHI, 2004).

20 Street emprega o termo ideologia no sentido de tensão entre autoridade e poder, de um lado, e a resistência e

como “modelo ideológico do letramento”. Este modelo inseriu questões técnicas, culturais, cognitivas e sociais envolvidas no letramento dentro das relações de poder, se afastando da polarização que permeia o modelo autônomo. Envoltos no modelo ideológico de Street, a relação oralidade e letramento deve ser tratada sob três vieses: eventos de letramento, práticas de letramento e práticas comunicativas. Para definir essas categorias, trazemos as definições apresentadas por Marcuschi (2001) que recuperou as concepções de Heath (1983), Barton (1991) e Street (1995) para as duas primeiras noções e a de Grillo (1989) para a terceira noção. Um quarto modelo a ser apresentada é o trazido por Bortoni-Ricardo (2004), denominado de eventos de oralidade.

Assim, para Heath (1982 citado por Marcuschi, 2001), evento de letramento é “qualquer ocasião em que uma peça de escrita integra a natureza das interações dos participantes e seus processos interpretativos”. Para Barton (1991), são ”atividades particulares em que o letramento exerce um papel: costumam ser atividades regularmente repetidas”. Essas definições indicam que os eventos de letramento acontecem quando as atividades envolvem texto escrito, a leitura ou comentários dos mesmos. A escrita e a leitura de uma carta pessoal, por exemplo, podem ser citadas como um evento de letramento, pois envolvem um texto escrito, visto que os eventos de letramento são eventos comunicativos mediados por textos escritos (MARCUSCHI, 2001, p.37).

Bortoni-Ricardo (2004) afirma que nos eventos de letramento em que os integrantes se apóiam em um texto escrito, esse texto pode estar presente no âmbito da interação ou pode ter sido estudado ou lido anteriormente. Num ofício religioso, por exemplo, os religiosos, ao proferirem seu sermão, estão realizando um evento de letramento, seja porque eles têm diante de si o roteiro escrito de sua fala, seja porque eles prepararam previamente esse roteiro escrito, no qual introduziram passagens bíblicas, por exemplo. Uma conversa à mesa de um bar é um evento de oralidade, mas, se um dos participantes começa a declamar um poema que ele recolheu em suas leituras, o evento passa a ter influências de letramento (BORTONI- RICARDO, 2004, p.62).

Os eventos de oralidade são identificados quando não há influência direta da língua escrita sobre as instâncias comunicativas. As fronteiras que demarcam os eventos de oralidade e letramento não se apresentam de forma enrijecida, havendo muitas sobreposições entre eles. Podemos exemplificar, resgatando pesquisas citadas por Bortoni-Ricardo (2004), em escolas de Goiás e do Distrito Federal, em que professores agiam de forma monitorada em sua linguagem quando conduziam, numa aula de leitura, uma atividade como a do ditado (eventos mediados pela língua escrita) e agiam de modo espontâneo quando chamavam atenção para a

manutenção da disciplina ou brincavam com os alunos de forma descontraída (evento de oralidade).

Street (1995 citado por Marcuschi, 2001, p.47) define as práticas de letramento como a utilização da leitura e da escrita por pessoas num evento de letramento. Assim, podemos descrever as formas de uma sociedade produzir significado para determinado evento com base na leitura e na escrita realizada no contexto dessa sociedade. Portanto, quando lemos e interpretamos uma carta pessoal estamos efetivando uma prática de letramento apoiada na escrita, atribuindo significado a prática da leitura assim como a da escrita.

No tocante à noção de práticas comunicativas, proposta por Grillo (1989) e reforçada por Marcuschi (2001), tem-se que a mesma “inclui as atividades sociais através das quais a linguagem ou comunicação é produzida”. Isto equivale à forma como essas atividades são inseridas nas instituições, situações ou domínios, que por sua vez são implicados em processos sociais, econômicos, políticos e culturais e em outros processos maiores.

O “modelo ideológico de letramento” oferece maior atenção para o papel das práticas de letramento e das relações de poder imperantes na sociedade. Marcuschi (2005) afirma que a visão do continuum complementa o modelo adotado por Street e concebe as relações entre oralidade e letramento envoltas nas práticas sociais e atividades comunicativas. Na perspectiva de Marcuschi (2005), para se tratar adequadamente os problemas do letramento é necessário ter a compreensão do “modelo ideológico” agregado ao continuum e a organização das formas lingüísticas no continuum dos gêneros textuais, concebendo-se a oralidade e o letramento como complementares no contexto das práticas socioculturais.

Nas práticas comunicativas, os gêneros textuais são importantes para tratar o letramento. Muitas vezes os gêneros abarcam simultaneamente o letramento e a oralidade. Vejamos o caso de uma conferência científica, em que há toda uma preparação oral envolta pela escrita. As práticas comunicativas que envolvem esse gênero textual são tanto de fala como de escrita. O gênero conferência científica se configura enquanto evento de letramento, pois envolve um texto escrito que é usado socialmente de forma situada, dentro das funções que a comunidade lhe atribuiu. No caso, o gênero conferência científica é utilizado pelo meio acadêmico, que determina o domínio discursivo21 ao qual pertence, sendo assim prática

comunicativa.

21 Usamos a expressão domínio discursivo apoiando-nos na concepção de Marcuschi (2002), que a utiliza para

identificar uma instância ou esfera da produção discursiva ou de atividade humana. Os domínios não são textos nem discursos, mas favorecem o aparecimento de discursos específicos, dentre os quais podemos identificar um conjunto de gêneros textuais, como, por exemplo, o discurso jurídico, discurso religioso, discurso jornalístico, entre outros.

2.1 - Fala e escrita: continuum dos gêneros textuais

De fato, há gêneros textuais da oralidade que se assemelham aos gêneros textuais da escrita e tantos outros da escrita que se assemelham aos da oralidade, assim como há determinados gêneros textuais de cada uma das modalidades que se afastam dos seus respectivos protótipos, tendo em comum apenas o fato de ser ou do gênero oral ou do escrito. É no continuum tipológico que conseguimos observar, através dos gêneros, o movimento de aproximação e distanciamento cujas modalidades (oral e escrita) se efetivam (MARCUSCHI, 2001).

As comparações dicotômicas da linguagem oral com a linguagem escrita tendem a considerar gêneros diferenciados, representados em modalidades distintas. Se compararmos textos de conversação espontânea (da fala) com textos em prosa expositiva (da escrita), certamente encontraremos polarizações, isso porque pertencem a fenômenos discursivos “a priori” distintos, mas principalmente porque pertencem a gêneros textuais diferentes, cujos processos de produção, condições de produção e objetivos, entre outros elementos, se distinguem. Entretanto, se a comparação ocorresse entre textos do mesmo gênero, como por exemplo, uma conferência (representando a linguagem oral) e um artigo acadêmico, ou uma conversa informal e um bilhete familiar, certamente, encontraríamos semelhanças entre as modalidades discursivas.

A comparação entre uma conversa informal entre amigos (protótipo da linguagem oral) e um artigo acadêmico (protótipo da linguagem escrita) é um exemplo de localização nos extremos dos pólos. Para que contemplemos as aproximações no continuum poderemos comparar uma conferência científica (prosa expositiva, apresenta características da escrita e representa a linguagem escrita) e um artigo acadêmico (texto de conversação formal). Dessa forma, a linguagem oral e a escrita não ocupam as extremidades de uma linha reta; não são dicotômicas, logo, devem ser analisadas como duas práticas discursivas cujas diferenças e semelhanças se dão ao longo de um continuum tipológico, em que, de um lado está o grau máximo de informalidade e, de um outro, o grau máximo de formalismo (MARCUSCHI, 2001).

Reconhecendo as particularidades das modalidades orais e escritas da língua, Tannen (1983) afirma que as estratégias da oralidade podem ser encontradas num texto escrito em prosa, bem como podem ser encontradas estratégias da escrita num texto oral mais tenso. Para a autora as diferenças formais se dão em função do gênero e do registro lingüístico, e não em função da modalidade. A autora enfatiza também o envolvimento interpessoal como um dos

traços importantes na comparação entre as duas modalidades e mostra que as estratégias discursivas decorrem do grau de envolvimento e permeiam as modalidades oral e escrita num continuum.

O continuum também é contemplado nos escritos de Koch (1997). Essa autora afirma que existem textos escritos que se situam mais próximos ao pólo da fala (bilhete, carta familiar, textos de humor, por exemplo), ao passo que existem textos falados que mais se aproximam do pólo da escrita formal (conferências, entrevistas profissionais para altos cargos administrativos e outros), existindo, ainda, tipos mistos, além de muitos outros intermediários. Marcuschi (2001) situa a relação fala escrita na mesma perspectiva de Koch, considerando aspectos como a variação lingüística e a relação entre os gêneros, evitando assim, comparações dicotômicas, baseadas apenas em textos prototípicos da oralidade e da escrita. Desta forma, não se pode conceber que qualquer caracterização lingüística ou situacional da fala ou da escrita se efetive em todos os gêneros orais ou escritos. No continuum tipológico, há gêneros orais e escritos muito semelhantes (conferência − artigo acadêmico, conversa entre amigos − carta familiar, entre outros) e outros muito distintos (bate-papo − artigo acadêmico ou seminário − bilhete). Isto ocorre porque não há homogeneidade na relação oralidade/escrita.

O que determina as diferenças entre as modalidades oral e escrita são as diferentes condições de produção, que refletem uma maior ou menor dependência do contexto, um maior ou um menor grau de planejamento e uma maior ou uma menor submissão às regras gramaticais. Segundo nos afirma Kato (1987, p. 39),

A dependência contextual determina o grau de explicitação textual, isto é, o seu grau de autonomia. O grau de planejamento determina o nível de formalidade, que pode ir do menos tenso (casual ou informal) até o mais tenso (formal, gramaticalizado).

Marcuschi (2005) retomando a hipótese do continuum tipológico de Biber (1988), e sem desprezar o esquema desenvolvido por Kato, observa que a impressão que se tem da escrita é a de um fenômeno, se não homogêneo, pelo menos bastante estável e com o mínimo de variação. No entanto, como afirma o referido autor, as diferenças entre fala e escrita se dão dentro de um continuum tipológico das práticas sociais de produção textual e não na relação polarizada (MARCUSCHI, 2001).

Há duas teses centrais respaldadas pela noção de continuum. A primeira defende a existência de mais semelhanças que diferenças entre as modalidades discursivas da língua e a segunda, toma a dicotomia entre as modalidades discursivas como inconsistente, pois a

oralidade e a escrita apesar de se efetivarem em processos de produção e meios de produção distintos, compõem um mesmo sistema lingüístico, não estanque.

Segundo Marcuschi (2001), podemos ter a idéia das relações mistas dos gêneros a partir do meio de produção (sonoro/gráfico) e da concepção discursiva das modalidades (oral/escrito). Considerando as oposições sonoro X gráfico -como meios de produção e o oral X escrito como concepção discursiva, Marcuschi situa no domínio tipicamente oral o gênero cujo meio de produção e concepção seja oral e, no domínio tipicamente escrito, a produção cujo meio seja gráfico e a concepção, escrita. O domínio misto é representado quando as produções estão mescladas, ou seja, meio gráfico e oral, sonoro e escrito. Como, por exemplo, temos os gêneros: conversação espontânea, artigo científico, notícia de TV e entrevista publicada em revistas. Para a classificação desses gêneros é necessário considerar o meio de produção e a concepção discursiva dos mesmos (Marcuschi, 2001).

Ao analisarmos os gêneros supracitados, podemos observar que a conversação espontânea, cujo meio de produção é sonoro e a concepção discursiva é oral, é o protótipo da oralidade por ser um texto tipicamente oral (sonoro e oral); o artigo científico, cujo meio de produção é gráfico e a concepção discursiva é escrita, é o protótipo da escrita, uma vez que é um texto tipicamente escrito (gráfico e escrito); o gênero notícia de TV, que se realiza no meio de produção sonoro e é concebido discursivamente na escrita, não é um protótipo nem da oralidade nem da escrita, é misto, uma vez que é produzido sonoramente e a sua concepção é escrita; o gênero entrevista, publicado em revistas, se realiza no meio de produção oral, e a sua concepção discursiva está no meio gráfico.

Conforme demonstra Marcuschi (2001) é o continuum dos gêneros que distingue e correlaciona os textos de cada modalidade de uso da língua, considerando aspectos tais como, as estratégias de formulação, a seleção lexical, o estilo, o grau de formalidade etc., todos sendo analisados dentro do continuum de variações. Assim, seja o gênero textual oral ou escrito as semelhanças e as diferenças que existem entre eles irão aflorar. Temos, portanto, uma variação que perpassa as duas modalidades de uso da língua.

2. 2 - Fala e escrita: graus de formalismo

A questão da formalidade ou informalidade na escrita e na oralidade varia de acordo com as situações sociais. Essa noção mostra que tanto a fala quanto a escrita se realizam estilisticamente de forma variada, produzindo graus de formalidade ou informalidade no registro. Marcuschi (2005), com base em Stubbs (1986), considera provável que a língua

falada apresente maior variação do que a língua escrita, pois é possível que a distância entre formal e informal no caso da fala apresente um espaço maior que no caso da escrita. Isto pode ser tido como plausível e seguramente se dá com maior intensidade quanto maior for o nível de escolarização de uma sociedade.

No entanto, Marcuschi questiona a afirmação de Stubbs de que a fala teria uma tendência à informalidade e a escrita uma tendência à formalidade. Segundo Marcuschi, na vida diária o uso da escrita informal tem uma enorme presença, como no caso das cartas, bilhetes, listas, preenchimento de dados etc. Na vida da maioria das pessoas o uso informal da escrita é muito elevado e predomina sobre o uso formal, embora a maioria dos escritos informais tenha uma durabilidade muito curta e logo sejam destruídos. O que se costuma guardar são registros de uso formal da língua, tais como os livros, as revistas e os documentos maiores como os códigos, as enciclopédias, os compêndios, etc.

No processo interativo, o sujeito poderá variar a sua maneira de falar dependendo da relação de proximidade com o interlocutor. Haverá diferença também em relação à conversa entre sujeitos de um determinado grupo social com sujeitos de grupos sociais distintos. Essa variação no registro é ocasionada pelo ajustamento na estruturação do texto produzido pelo falante para o seu ouvinte, visto que o discurso (falado e escrito) é organizado em função das representações sociais existentes nas relações entre o falante e o ouvinte (BAKHTIN, 1992; MELO & BARBOSA, 2005; TRAVAGLIA, 1997). De acordo com Bakhtin (1992), as palavras são determinadas tanto pelo fato de que procedem de alguém, como pelo fato de que se dirigem para alguém. Elas são o produto da interação do interlocutor e do ouvinte.

Segundo Bortoni-Ricardo (2004), as relações são mediadas por uma contínua monitoração estilística22 que vai desde a interação totalmente espontânea até aquelas que são previamente planejadas, exigindo muita atenção do falante. Quando a situação exige formalidade, seja pela especificidade da audiência, seja pela cerimônia exigida, pelo conteúdo a ser tratado, nos monitoramos com maior intensidade. Dependendo do nível de intimidade que temos com o interlocutor, monitoramos o estilo com menor intensidade, ou seja, monitoramos a fala em função do “ambiente, do interlocutor e do tópico da conversa”.

22 De acordo com Bortoni-Ricardo (2004) podemos monitorar com maior ou menor intensidade a fala em

função de um mesmo interlocutor, assim, para passar de uma “conversa séria” a uma “brincadeira”, podemos mudar nosso estilo. Quando vamos mudar de estilo, passamos a emitir pistas verbais ou não-verbais, que a autora define como metamensagens, e que transmitem informações do tipo: “isso é uma brincadeira”, “estou falando sério”, “estou ralhando com você”. A variação ao longo do continuum de monitoração estilística tem, portanto, uma função muito importante de situar a interação dentro de uma moldura ou enquadre. As

molduras servem para orientar os integrantes sobre a natureza da interação: se é uma “brincadeira”, “um xingamento” etc.

Segundo indica Travaglia (1997), a língua escrita e a oral apresentam cada uma um conjunto próprio de variedades de grau de formalismo. As variedades de grau de formalismo da língua escrita apresentam uma tendência para maior regularidade e geralmente maior formalidade que as da língua falada, todavia importa lembrar que em cada caso existe uma relação entre os níveis de grau de formalismo propostos para a língua falada e para a escrita. Assim, encontramos textos informais na língua falada e na língua escrita, não sendo a informalidade privilégio de textos orais. Essa perspectiva garante uma análise da língua pautada mais em suas relações de semelhanças do que de diferenças, evitando dicotomias no sentido estrito.

Travaglia (1997) chama-nos a atenção para o caso da variação da língua escrita, afirmando que esta também pode apresentar variedades dialetais, embora sejam em número menor e se apresentem de forma menos explícita que na língua falada, isso porque as diferenças prosódicas, fonéticas entre outras, desaparecem no escrito. Assim, a compreensão equivocada de que a língua escrita é uma réplica exata da língua oral não se sustenta, pois “a escrita, vista como sistema de notação da língua oral, adquire um caráter incompleto e inexato” (DOLZ e SCHNEUWLY, 2004, p.163).

2.3 – Fala e escrita: variação dialetal

A variação é algo inerente ao funcionamento das línguas, isso se deve ao fato de estas, em sua própria essência, serem multifacetadas, multíplices, não monolíticas e heterogêneas. Para se ter uma visão mais adequada de tal fenômeno é necessário compreender que a variação lingüística (VL doravante) é resultante de diversos fatores, tais como, espaço, tempo, classe social, interlocutores, entre outros. É importante refletir sobre o fato de que a variação é constitutiva da língua e não da fala, portanto, não é a variação que caracteriza a fala, mas sim as estratégias de organização desta (MARCUSCHI, 2001).

Possenti (2000) classifica os fatores que condicionam a variação lingüística em dois tipos: externos e internos à língua. Os fatores externos à língua são os geográficos, de classe,

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