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2.6. ASSOCIAÇÕES LEIGAS DA FREGUESIA DE ANTÔNIO DIAS

2.6.4 ORDEM TERCEIRA DAS MERCÊS E PERDÕES

Era uma ordem religiosa e militar criada com o intuito de libertar os cristãos feito cativos pelos mouros. De acordo com Precioso (2014, p. 35), a “Real e Militar Ordem de Nossa Senhora das Mercês da Redenção dos Cativos foi fundada no Reino de Aragão, na Espanha, por São Pedro Nolasco, em 1218”

A história da devoção a essa invocação é longa. Na época moderna, o culto a Nossa Senhora das Mercês foi disseminado pelos frades pertencentes à Congregação da Santíssima Trindade e Redenção dos Cativos fundada por São Pedro Nolasco (PRECIOSO, 2014, p. 36).

12 Ver reprodução do Termo de Abertura do livro de Receita e Despesa na Figura 5 nesta dissertação.

13 O processo de Arrematação era oferecido em praça pública onde era apresentada a obra que deveria ser realizada. Cada concorrente fazia a sua oferta para realizá-la. Vencia aquele que oferecia menor preço. A seguir, o contrato era descrito e registrado em documento denominado de Auto de Arrematação. Este, era um documento jurídico e nele deveriam constar informações relativas a valores, prazos de pagamento, prazo para a execução da obra, os materiais usados, as técnicas construtivas empregadas e a forma como o arrematante deveria proceder durante a edificação da obra, além de constar o nome do fiador. O fiador era uma espécie de avalista que se comprometia a conduzir a obra na ausência do arrematante. O fiador obrigava-se a arcar com os custos e os danos financeiros envolvidos no contrato em caso de ausência ou impedimento do arrematante, comprometendo sua pessoa e seus bens. As relações estabelecidas entre arrematantes e fiadores expandiam-se, muitas vezes, para além do mundo dos negócios, “estendendo os vínculos para o campo do parentesco, da amizade e da solidariedade”. (LAGE, s/d, p. 9) in A circulação de Condiçõens, Riscos e Contratos de Arrematações na Mariana Setecentista - (1745 – 1800). Disponível em:

<https://www.academia.edu/11712175/A_Circulação_de_Condiçõens_Riscos_e_Contratos_de_Arrematações_n a_Mariana_Setecentista_1745-1800_>. Acesso em: 12 abr. 2016.

A devoção foi trazida ao Brasil pelos frades mercedários, estabelecendo-se nos estados do Maranhão e no Pará. Posteriormente, foram erigidas confrarias do Santo Escapulário de Nossa Senhora das Mercês pelos pretos crioulos, cativos e forros, os quais passaram a considerá-la a padroeira de sua libertação (BOSCHI, 1986, p. 117).

De acordo com Trindade (1959, p. 7), “têm como certo os Irmãos das Mercês de Ouro Prêto que sua confraria foi instituída, em Vila Rica, a 24 de setembro de 1740”. O autor ainda afirma que, em “24 de setembro de 1940, com pomposa solenidade, […] celebrou-se em Ouro Preto o bicentenário dessa instituição” (p. 7). Contudo, o próprio Trindade põe em dúvida o ano de instituição dessa Ordem, ao dizer que essa data no documento refere-se a um depoimento “ou informação aduzida em juízo, no ano de 1845”; portanto, mais de um século depois dos “primórdios do sodalício” (TRINDADE, 1959, p. 8).

Por seu turno, Menezes (1975, p. 101) informa que essa Ordem começou “como simples Irmandade da Matriz de Antônio Dias, sendo ereta em 1743, segundo se deduz do compromisso votado em mesa-redonda a 19 de fevereiro de 1818” e que fora criada com o título de “Nossa Senhora das Mercês dos pretos crioulos” (MENEZES, 1975, p. 101). A expressão “pretos crioulos”, de acordo com Salles (1963, p. 41), denomina os negros nascidos no Brasil, diferentes, assim, daqueles naturais da África.

Essa irmandade foi agregada à Ordem Terceira de Nossa Senhora das Mercês existente na capela de São José “por provisão de 20 de dezembro de 1754” (MENEZES, 1975, p.101) e ali se mantiveram, por favor14, durante cerca de vinte anos (TRINDADE (1959, p. 8). Essa associação de mercedários instalada em São José sofreu uma ruptura e cindiu-se em duas: uma estabeleceu-se na Freguesia de Nossa Senhora das Mercês da Freguesia do Pilar, cujo templo é conhecido até hoje como Mercês de Cima, e a outra se estabeleceu na Freguesia de Antônio Dias, na Capela de Bom Jesus dos Perdões. De acordo com Trindade (1959, p. 9), a contenda entre os dois sodalícios mercedários durou quase cem anos. Este autor ainda acrescenta que

Sempre mais forte em Ouro Prêto, a influência conservadora fêz-se sentir vitoriosa, até nas mais altas esferas eclesiásticas, a favor das Mercês e Perdões. Visavam ambas à categoria de ordem terceira, ao direito de precedência nas procissões e enterros e ao privilégio de certas graças espirituais. (TRINDADE, 1959, p. 10).

14 De acordo com Trindade (1959, p. 8), a capela de São José “foi por dilatado tempo um ninho de irmandades. Agasalharam-se ali as de Santa Cecília, de Nossa Senhora do Parto, a mencionada do Cordão, a das Mercês e ainda a de Nossa Senhora de Guadalupe”.

Nessa perspectiva, pontua Trindade (1959, p. 12), “muita tinta consumiu-se, muito ouro derramou-se, ódios acirraram-se, tudo, afinal, para conquistar, uma em detrimento da outra, o direito de precedência, ou um passo à retaguarda em enterros e procissões”. Finalmente, em 17 de agosto de 1847, por meio da bula Exponi Nobis, Pio IX assinalava que “estão constituídas em Ordem Terceira as duas corporações; e o direito de precedência ficou de vez conferido à Ordem das Mercês e Perdões. Roma locuta, causa finita”. (TRINDADE, 1959, p.14)

2.6.4.1 Igreja de Nossa Senhora das Mercês e Perdões

Aquela que hoje recebe o nome de Igreja das Mercês e Perdões foi a antiga capela de Bom Jesus dos Perdões e foi edificada pelo Padre José Fernandes Leite em 1742. Contudo, a Irmandade das Mercês, antes sediada na capela de São José, conseguiu autorização para construir sua própria capela na freguesia de Antônio Dias em 8 de outubro de 1771, e, em “14 de novembro de 1773, transladou-se com solenidade, de São José para a nova capela, a imagem da Senhora das Mercês” (TRINDADE, 1959, p. 16), estando ainda a capela bem no início de sua construção. De acordo com Trindade, para levar a termo a construção,

dois riscos, de que há notícia documentada, se traçaram para as obras da capela. O mais antigo, da autoria de mestre Manuel Francisco de Araújo, data de 1793. O notável entalhador recebeu por esse risco a quantia de doze oitavas, ou 12$000, e declarou no seu recibo que era êle ‘para a fatura da capela’[...]. O segundo, traçado por Francisco Machado da Luz, custou à confraria seis ou sete oitavas (TRINDADE, 1959, p. 16).

O autor pontua que, de acordo com os recibos dos documentos da Ordem, para materializar o risco, Manuel da Rocha Monteiro trabalhou, de 1782 a 1801, na obra do corpo da Capela, até a sapata e no alicerce do corpo. Também participaram da construção José da Silva Pereira, de 1782 a 1785; Domingos Moreira de Oliveira e Miguel da Costa Peixoto, de 1782 a 1786; Antônio José de Lima, que trabalhou como canteiro, contudo não especifica o período trabalhado; Gregório Mendes Coelho e Manuel Antonio Viana, de 1810 a 1817; e Joaquim Bernardes, em 1820. O consistório, com janelas e cunhais, foi construído por José da Costa Lopes em 1815 e por João Miguel Ferreira em 1829 (TRINDADE, 1959, p.17-18). Entretanto, no site do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (IPHAN), consta que

[...] realizou-se uma série de consertos para adaptação da velha capela às suas novas funções, cujas obras parecem datar de 1769-1772. Desta forma, foi encomendado a Antônio Francisco Lisboa, autor do projeto da igreja vizinha de São Francisco de Assis, o risco para a nova capela-mor, em 1775. Em 1777, as obras foram arrematadas por Amaro José Nunes, sob a supervisão de Antônio Francisco Lisboa, que executou também, para esta igreja, as imagens de roca de São Pedro Nolasco e São Raimundo Nonato. Em princípios do século XIX, a edificação sofreu mudanças radicais, incluindo a substituição das paredes de taipa por alvenaria de pedra, mas estas reformas não abrangeram a construção das torres da fachada (IPHAN)15.

De acordo com as informações fornecidas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a capela não possuía torres. No início do século XIX, foi construída provisoriamente “uma única torre em taipa, do lado direito, para as necessidades do culto. Já a segunda torre, foi construída na segunda metade do século”, dado corroborado no documento

OTMPOç15071873, constante desta dissertação. Com relação ao término da construção da capela,

“a data de 1872, inscrita no portão de ferro do cemitério, construído nos mesmos moldes dos de São Francisco de Assis e Carmo”, parece indicar a sua conclusão (IPHAN)16.

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