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PARTE I. PLANOS DE GESTÃO FLORESTAL

2.1 Ordenamento do Território

O Ordenamento do Território, segundo a Carta Europeia do Ordenamento do Território, é a tradução espacial da política económica, social, cultural e ecológica da sociedade. É simultaneamente uma disciplina científica, uma técnica administrativa e uma política que se desenvolve numa perspetiva interdisciplinar e integrada, tendente ao desenvolvimento equilibrado das regiões e à organização física do espaço segundo uma estratégia de conjunto (DGOT, 1988).

Segundo RAMOS (2006), apesar de esta definição ter sido amplamente difundida, ela não tem sido consensual, havendo principalmente duas vertentes de opinião, conceptualmente diferentes. A primeira destaca a sua dimensão de planeamento físico de âmbito espacial. A segunda releva a sua dimensão de ação pública com o intuito de uma melhor distribuição territorial do Homem e das atividades humanas, tendo em vista objetivos de natureza social, ambiental e económica. SÁ (S.d.) e LOBO (S.d.) in RAMOS (2006), são defensores da primeira vertente, onde, basicamente, o Ordenamento do Território tem como objetivo a articulação e a compatibilização entre usos e atividades, minimizando conflitos, não devendo contrariar o uso dominante pretendido para cada unidade territorial. Em relação à outra vertente, RAMOS (2006), indica que autores como MENDES (S.d.) e MERLIN (2000), referem que o Ordenamento do Território deverá organizar racionalmente as estruturas económicas e sociais e os equipamentos, distribuindo-os espacialmente com o objetivo de um desenvolvimento harmonioso, ou acomodar, ordenadamente, através do espaço de um País e numa visão prospetiva, o Homem e as suas atividades, os equipamentos e os meios de comunicação utilizáveis, tendo em consideração os constrangimentos naturais, humanos e económicos.

Este trabalho enquadra-se segundo a definição indicada por SÁ e LOBO em que se entende o Ordenamento do Território como política potenciadora da compatibilização entre usos e atividades em cada unidade territorial.

A Lei de Bases do Ambiente (Lei n.º 11/87, de 07 de abril) define Ordenamento do Território como o processo integrado da organização do espaço biofísico, tendo como objetivo o uso e a transformação do território, de acordo com as suas capacidades e vocações e a permanência dos valores de equilíbrio biológico e de estabilidade geológica, numa perspetiva de aumento da sua capacidade de suporte de vida.

O conceito de Ordenamento do Território está inúmeras vezes associado ao conceito de Planeamento. Citando LOBO et al. (1990) o Ordenamento pressupõe uma atitude racionalista com vista à exploração dos recursos naturais dando particular importância à distribuição das classes de

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uso do solo. Tanto o Ordenamento como o Planeamento têm por objeto a organização e gestão do espaço territorial mas operam a escalas diferentes.

De acordo com PARTIDÁRIO (1999) o Ordenamento do Território deve destacar-se das funções atribuídas ao Planeamento, como a distribuição de classes de uso do solo, entendendo-se o Ordenamento do Território como uma visão, um objetivo e um conjunto de ações, devidamente articuladas no espaço e no tempo. Essa visão do Ordenamento do Território motiva o desencadear de uma série de ações que se concretizam através do Planeamento.

A Lei n.º 48/98, de 11 de agosto, que regulamenta as Bases de Política de Ordenamento do Território e de Urbanismo e o Decreto-Lei n.º 380/99, de 22 de setembro, alterado e republicado pelo Decreto- Lei n.º 316/2007, de 19 de setembro e pelo Decreto-Lei n.º 46/2009, de 20 de fevereiro, normativos legais que estabelecem o regime jurídico dos instrumentos de gestão territorial, referem que é num Sistema de Gestão Territorial que assenta a política de Ordenamento do Território.

2.1.1 Sistema de Gestão Territorial

O Sistema de Gestão Territorial (SGT) é composto por diversos instrumentos de gestão territorial e organiza-se num quadro de interação coordenada em três âmbitos distintos, nomeadamente:

 Âmbito nacional – define o quadro estratégico para o ordenamento do espaço nacional e estabelece as diretrizes a considerar no ordenamento regional e municipal;

 Âmbito regional – descreve o quadro estratégico para o ordenamento do espaço regional em estreita articulação com as políticas de desenvolvimento nacional e de desenvolvimento económico e social e estabelece as diretrizes orientadoras do ordenamento municipal;  Âmbito municipal – define, de acordo com as diretrizes de âmbito nacional e regional e com

opções próprias de desenvolvimento estratégico, o regime de uso do solo e respetiva regulamentação.

Os instrumentos de gestão territorial, de acordo com os seus dispositivos legais, têm funções diferenciadas e englobam:

 Instrumentos de Desenvolvimento Territorial, de natureza estratégica, que traduzem as grandes opções relevantes para a organização do território e estabelecem as diretrizes de caráter genérico sobre o seu uso, consolidando o quadro de referência a considerar na elaboração dos instrumentos de planeamento territorial. Estes instrumentos vinculam as Entidades públicas. Como exemplo refere-se o Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território (PNPOT), os Planos Regionais de Ordenamento do Território (PROT) e os Planos Intermunicipais de Ordenamento do Território (PIOT);

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 Instrumentos de Planeamento Territorial, de natureza regulamentar, que estabelecem o regime de uso do solo e definem modelos de evolução da ocupação humana e da organização de redes e sistemas urbanos e também os parâmetros de aproveitamento do solo. Como exemplo geral destes instrumentos de planeamento territorial, que vinculam as Entidades públicas e particulares, indicam-se os Planos Diretores Municipais (PDM), os Planos de Urbanização (PU) e os Planos de Pormenor (PP);

 Instrumentos de Política sectorial, de natureza programática e de concretização das políticas de desenvolvimento económico e social com incidência espacial. Estes instrumentos de gestão territorial vinculam as entidades Públicas. São exemplo geral os planos com incidência territorial, da responsabilidade dos serviços da Administração Central, nomeadamente nos domínios dos Transportes, das Comunicações, da Energia, dos Recursos Geológicos, da Educação e Formação, da Cultura, da Saúde, da Habitação, do Turismo, do Comércio e Indústria, do Ambiente, da Agricultura e das Florestas;

 Instrumentos de Natureza Especial, que estabelecem um meio suplementar de intervenção do Governo para o prosseguimento de objetivos de interesse nacional ou, numa fase transitória, salvaguardam os princípios fundamentais do PNPOT. São exemplo geral destes instrumentos de natureza especial, que vinculam as entidades públicas e particulares, os Planos de Ordenamento de Albufeiras de Águas Públicas (POAAP), os Planos de Ordenamento da Orla Costeira (POOC), os Planos de Ordenamento de Áreas Protegidas (POAP) e os Planos de Ordenamento dos Estuários (POE).

Os diversos instrumentos de gestão territorial estão inter-relacionados entre si. A Figura 1 esquematiza as relações de hierarquia passíveis de se estabelecer entre esses diferentes instrumentos, e que, consoante o tipo de Plano ou Programa, poderão ser relações de compatibilidade, orientação, prevalência, compromisso, determinação de diretrizes e de regras. Pela análise da Figura 1 constata-se que os Instrumentos de Desenvolvimento Territorial têm uma natureza estratégica e fornecem orientações para os Instrumentos de Planeamento Territorial, de natureza regulamentar. Estabelecem diretrizes para os Instrumentos de Política sectorial. Têm um compromisso recíproco de compatibilização com os Instrumentos de Natureza Especial. Os Instrumentos de Política sectorial deverão estar em compatibilização com os Instrumentos de Planeamento Territorial. Os Instrumentos de Natureza Especial têm uma relação de prevalência sobre os Instrumentos de Política sectorial.

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Figura 1 – Sistema de Gestão Territorial [Adaptado de BEOT (2007) in SIMPLÍCIO (2007)]

Os Planos Regionais de Ordenamento Florestal, enquanto instrumentos de política sectorial, definem as normas a aplicar ao espaço florestal, através do desenvolvimento de modelos de silvicultura, da definição de uso dominante e no estabelecimento de orientações específicas de intervenção. Estes elementos devem ser integrados nos Planos de Gestão Florestal de forma a garantir um enquadramento adequado do planeamento florestal no Sistema de Gestão Territorial.

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