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Organização comunitária para autogestão da microcentral

Capítulo 4 - A Modelagem da Proposta de Gestão Participativa e Auto-

4.1.3 Organização comunitária para autogestão da microcentral

Uma das mais importantes estratégias para alavancar a organização comunitária é a autogestão da µCH, fazendo necessário, à criação de uma organização social (Cooperativa, OSCIP, Associação, etc), estabelecida pela comunidade e estruturada com a intervenção dos parceiros do projeto. No caso do presente trabalho, optou-se pela cooperativa comunitária. Ela teria por objetivo principal proporcionar o exercício e o aprimoramento da atividade profissional dos associados, com base na colaboração recíproca.

Supondo inicialmente a participação da concessionária de energia local no processo, no que diz respeito à comercialização e distribuição de energia elétrica vislumbram-se duas situações de acordo com os estudos preliminares (socioeconômicos, potencial hidrelétrico, carga, etc) realizados no local. Isto é, a distribuição de energia elétrica deverá ser, por força da lei de concessão, da concessionária local, e, depois, em função de indicadores econômicos/produtivos/naturais do projeto, uma vez que, a energia elétrica poderá ser cobrada ou disponibilizada nas unidades produtivas propostas. Há de se considerar uma 3º hipótese que é a não participação da concessionária.

Nesse caso, a cooperativa comunitária assume o papel de Cooperativa de Eletrificação Rural (CER), conforme resolução nº 333/99 da ANEEL.

No 1º cenário, a cooperativa comunitária formada irá assumir também a figura de Produtor Independente de Energia - PIE2. Nesse caso, a mesma conserva a propriedade dos ativos de geração de eletricidade, com os

2 O Decreto Lei 2003 de setembro de 1996, definiu como Produtor Independente de Energia - PIE a pessoa jurídica ou um consórcio de empresas que podem receber concessão ou autorização para produzir energia elétrica e comercializá-la, toda ou apenas uma parte, por sua conta e risco (ANEEL 2005).

quais, mediante autorização da ANEEL, produz energia e a comercializa com a concessionária de energia local.

Sendo assim, a produção de energia elétrica é destinada para comercialização sob forma de CCVE (contrato de compra e venda de energia elétrica) com a concessionária local que, por sua vez, realiza a distribuição e comercialização dessa energia com a comunidade assistida, conforme mostra a figura 4.3.

Fonte: Elaboração própria, 2006.

Figura 4.3: Fluxo da produção, distribuição, comercialização e serviços de energia elétrica com a figura do PIE.

No 2º cenário, a cooperativa comunitária assume a figura de Autoprodutor de Energia - APE3. Nesse caso, a mesma também conserva a propriedade dos ativos de geração de eletricidade, com os quais, mediante autorização da Agência reguladora, produz energia e comercializa o excedente com a concessionária de energia local.

Assim, o fluxo pode ser descrito da seguinte forma: - uma parcela da produção destinada para comercialização sob forma de CCVE com a concessionária local que, por sua vez, iria realizar a distribuição e

3 O Decreto Lei 2003 de setembro de 1996, definiu como Autoprodutor Independente de Energia - PIE a pessoa jurídica ou um consórcio de empresas que podem receber concessão ou autorização para produzir energia elétrica destinada ao seu uso exclusivo (ANEEL 2006).

comercialização da energia elétrica com a comunidade assistida, a outra parcela, atenderia possíveis empreendimento(s) solidário(s) associado(s) à cooperativa. O abastecimento seria por meio de uma linha de transmissão independente.

Nesse sentido, a cooperativa poderá associar-se a outras cooperativas, Federações, Confederações de cooperativas ou a outras sociedades, visando sempre a defesa econômico-social, o desenvolvimento harmônico e a consecução plena dos objetivos da mesma e do seu quadro social. A figura 4.4 apresenta os fluxos acima descritos, com a figura do APE.

Fonte: Elaboração própria, 2006.

Figura 4.4: Fluxo da produção, distribuição, comercialização e serviços de energia elétrica com a figura do APE.

Para os dois cenários descritos acima, no relativo a distribuição da energia elétrica produzida, a cooperativa comunitária também prestaria serviços terceirizados com a concessionária de energia local através da O&M da mini-rede da linha de distribuição. Para a medição, cobrança e desligamento por inadimplência na comunidade, a concessionária estaria sendo a responsável. Acredita-se que pode-se lançar mão do apoio da concessionária de energia local – desde que a cooperativa assegure os índices de qualidade

da energia produzida4 (Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora – DEC e Freqüência Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora – FEC), uma vez que mantém a sua área de concessão íntegra e a desobriga legalmente de investimentos, que muitas vezes, tornam-se economicamente inviáveis.

No cenário 3, passa a não existir mais a figura da concessionária local de energia. A distribuição de energia elétrica e seus contratos de comercialização são celebrados diretamente entre a cooperativa e seus associados (no caso, a comunidade assistida). Para tal, observando não somente os valores, como também as condições estabelecidas pela ANEEL.

Sendo assim, como mencionado anteriormente, caso a concessionária não manifesta seu interesse em adquirir a produção de energia elétrica, a cooperativa comunitária atuaria como cooperativa de eletrificação rural - CER, sendo Autorizada5 a prestar todos os serviços atribuídos à concessionária.

O processo de regularização das cooperativas possui algumas etapas que devem ser rigorosamente cumpridas. De forma resumida, tem-se:

• Solicitação de abertura do processo por parte da cooperativa.

• Fornecer à ANEEL uma série de informações de caráter técnico, econômico, financeiro e jurídico. Essas informações constituem a base para efetuar-se o enquadramento da cooperativa como autorizada ou permissionária.

• Diligências da ANEEL com o intuito de comprovar a veracidade das informações prestadas.

• Traçar as poligonais (áreas de atuação) das cooperativas e concessionárias. Esta etapa é de negociação das partes envolvidas, sendo de responsabilidade da ANEEL a resolução de pontos polêmicos.

4 Conforme estabelece resolução ANEEL 202/95.

5 Autorizada: toda pessoa física ou jurídica, individualmente ou associada, que implanta instalação elétrica para uso privativo. As cooperativas que possuam somente associados cujas cargas instaladas se destinam ao desenvolvimento exclusivamente rural se enquadram nessa modalidade. Uma autorizada pode efetuar expansão das instalações elétricas dentro da área de atuação estabelecida pela ANEEL.

A figura 4.5 mostra o fluxo da produção, distribuição, comercialização e serviços de energia elétrica com a figura da cooperativa de eletrificação rural.

Fonte: Elaboração própria, 2006.

Figura 4.5: Fluxo da produção, distribuição, comercialização e serviços de energia elétrica com a figura da Cooperativa de Eletrificação Rural - CER.