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Organização das nações unidas para a educação, a ciência e a cultura

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CAPÍTULO 2 INFLUÊNCIAS DE ORGANISMOS INTERNACIONAIS NO

2.1 Influências das Organizações Internacionais na Educação Brasileira

2.1.4 Organização das nações unidas para a educação, a ciência e a cultura

Criada após a Segunda Guerra Mundial, uma das principais atividades da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), desde 1945, está relacionada à educação, chave para o desenvolvimento social e econômico. Seu objetivo é colaborar com a construção de

[...] um mundo sustentável com sociedades justas que (sic) o conhecimento de valor, promover a paz, celebrar a diversidade e defender os direitos humanos, alcançado através do fornecimento de Educação para Todos (EPT). (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA, 1995).

As metas prioritárias do setor de educação da UNESCO são fixadas pela ONU e pela própria UNESCO. Dentre elas estão: a Educação para Todos, assumidas no Quadro de Ação de Dakar 2000-2015; Objetivos de Desenvolvimento do Milênio das Nações Unidas, Meta 2 e Meta 3; Década da Alfabetização das Nações Unidas 2003- 2012; Década das Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento Sustentável 2005-2014; e Iniciativa Global de Educação (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA, 1995).

Apoiados pelo Banco Mundial e o UNICEF, a UNESCO coordenou a Conferência Mundial sobre Educação para Todos, sediada na cidade de Jomtien, na Tailândia, em 1990, a qual tinha como prioridade estabelecer compromissos para garantir às pessoas conhecimentos básicos indispensáveis para a manutenção de uma vida digna. Os países membros, participantes da conferência de Jomtiem, assumiram o compromisso de garantir educação básica de qualidade para crianças, jovens e adultos.

Uma década após o evento, muitos países não alcançaram os compromissos assumidos na Conferência de Jomtien. No ano 2000, em Dacar, Senegal, foi realizada uma nova reunião da comunidade internacional para, então, confirmar o compromisso de proporcionar educação para todos até o ano de 2015.

O Brasil contou com a colaboração do UNICEF em ações como redução da mortalidade infantil nos municípios do semiárido; treinamento de agentes comunitários de saúde, educadores de creches e pré-escolas; redução do número de crianças até um ano de idade sem certidão de nascimento; melhoramento do aprendizado de crianças; e, melhoria na gestão democrática e criação dos Conselhos Escolares (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA, 2012a).

No evento realizado no ano 2000 foi adotado o Quadro de Ação de Dakar: Educação para Todos, o qual estabeleceu seis objetivos para serem cumpridos até 2015. O Relatório de Monitoramento Global é um dos instrumentos usados para avaliar os avanços na busca pelo cumprimento dos objetivos traçados, financiado pela UNESCO e por agências multilaterais e bilaterais, bem como pela experiência do Conselho Consultivo de âmbito intercontinental (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA, 1995).

Os seis objetivos traçados como metas do ‘Educação para todos’ são:

1. Melhorar e expandir a educação e os cuidados na primeira infância (0 a 6 anos); 2. Assegurar que, até 2015, todas as crianças tenham acesso gratuito e compulsório a um ensino fundamental de boa qualidade; 3. Assegurar que as necessidades de aprendizagem de todos os jovens e adultos sejam atendidas por meio do acesso eqüitativo a programas de aprendizagem e de habilidades necessárias à vida; 4. Melhorar em 50% os níveis de alfabetização de adultos, até 2015, sobretudo para as mulheres, além do acesso eqüitativo à educação básica e continuada a todos os adultos; 5. Eliminar disparidades de gênero na educação básica até 2005; 6. Melhorar todos os aspectos da qualidade da educação e assegurar excelência para todos. (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA, 1995).

O cumprimento destes objetivos visa melhorar a condição de vida do futuro cidadão. Condição esta que passa pelo domínio de conhecimentos básicos, mormente em uma sociedade envolta em tecnologias cada dia mais complexas e disseminadas no cotidiano das pessoas. Daí a preocupação com a oferta de ensino de qualidade e acessível a todos que dela necessitam.

A UNESCO, além de apoiar a iniciativa dos países que procuram oferecer ensino fundamental com qualidade e obrigatório, envolve-se com a assistência e capacitação técnica para proporcionar avanços no que concerne ao planejamento e à gestão educativa.

Esta organização internacional não se prende apenas aos problemas do ensino fundamental. Há interesse pela reforma do ensino médio também, conforme a própria organização afirma.

Da mesma forma, a UNESCO lidera a discussão sobre a reforma do ensino médio e sobre o ensino técnico-profissional, de forma que os jovens se transformem em cidadãos responsáveis, solidários e engajados em projetos voltados para o bem coletivo, preparados para continuar estudos de nível superior ou ingressar no mundo do trabalho. Por exemplo, estão sendo desenvolvidos programas desenhados para o ensino na área técnico profissional em capacidade de gestão empresarial e de administração de pequenos empreendimentos, além de colaboração aos jovens no plano de orientação profissional. A UNESCO também elaborou um marco conceitual que sugere estratégias para melhorar a educação científica, tecnológica e em matemática de acordo com modernas formas de refletir sobre temas como inclusão de gênero, étnico/racial e cuidados com o meio ambiente. (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA, 1995).

Interessante observar que os benefícios da imersão da UNESCO nos assuntos de interesse da educação são visíveis, contudo, há que se atentar para o fato de que a educação, sendo um dos pilares que dão base à formação do cidadão, e, consequentemente, à construção da nação soberana, não pode deixar de ser conduzida segundo os interesses e ideais do País. O governo, mesmo submetendo questões importantes da educação a acordos internacionais, deve mantê-la sob seu domínio e controle.

A Campanha Nacional pelo Direito à Educação, nascida em 1999, instituída por integrantes da sociedade civil que estariam presentes na Cúpula Mundial da Educação em Dacar, Senegal, no ano 2000, por exemplo, é importante movimento que congrega mais de 200 grupos e entidades de todo o País. Envolve diversos segmentos sociais e organizações não governamentais nacionais e internacionais, como a UNESCO, a parceira nos propósitos que contribuam para as políticas públicas de desenvolvimento da pessoa humana(LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 198).

A participação de grupos estudantis e de membros da comunidade é importante quando se quer manter o controle dos rumos que se quer dar à educação. No entanto, é indispensável salientar que a participação deste segmento

social, por si só, não garante a busca pelo ensino público adequado aos interesses dos cidadãos nacionais, pois seus objetivos podem estar impregnados da influência dos ideais convenientes a organizações e políticas que não comungam com a real necessidade do povo que constitui a nação brasileira.

Como bem afirma Paula (2010, p. 393), no período compreendido entre 1930 e 1990, o movimento popular e o movimento estudantil, representado pela União Nacional dos Estudantes (UNE), não foram capazes de direcionar ou influenciar significativamente a ação política do Estado. As políticas de aliança que estas entidades abraçaram não garantiam a necessária independência delas perante o governo.

O mesmo autor, referindo-se à UNE, conclui que:

A UNE articula-se no plano nacional e regional, sendo que as reivindicações de caráter específico, relativas à universidade, são absorvidas pelas reivindicações de natureza geral, de conteúdo político e partidário. A cooptação da liderança política do movimento leva-o ao conformismo e à submissão, conssubstanciando-se na assumência de cargos públicos no Estado. Na relação entre Governo e o Estado com as entidades estudantis é nítida a existência de dois momentos distintos: sob o autoritarismo predomina o inconformismo (confronto); sob os governos democráticos, a submissão através da participação no Estado, por meio de negociação ou acordo.(PAULA, 2010, p. 393).

Embora pareça fora de contexto, a inserção da articulação anteriormente citada vem corroborar a afirmação de que a participação de movimentos estudantis e de membros da comunidade sozinhos não garantem a elaboração de programas e políticas educacionais que atendam aos interesses e ideais dos cidadãos brasileiros. Além disso, há sempre a possibilidade de os integrantes e dirigentes dos movimentos estudantis se entregarem ao conformismo em troca de cargos políticos, por exemplo.

Ensino destinado ao preparo do trabalhador apto a executar as atividades colocadas pelo mercado de trabalho é de fundamental importância. No entanto, preparar o cidadão cônscio de seus direitos e capaz de gerir sua vida conforme sua vontade, de forma livre e consciente, deve ser prioridade na condução da educação básica ofertada pelo País. Daí a importância do domínio das vias que guiam o sistema nacional de educação.

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