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3.6 Os momentos pedagógicos na construção do currículo no Projeto Inter: o

3.6.2 Organização do Conhecimento (OC): a segunda etapa do desenvolvimento

Nessa fase, os educadores que trabalhavam no currículo interdisciplinar via tema gerador, utilizavam os dados e as informações do Estudo da Realidade para daí retirarem as questões geradoras para cada uma de suas áreas disciplinares, a partir das quais se determinavam os conteúdos específicos a ensinar em cada série/ciclo.

O tema gerador, proposto como um caminho para reorientar de forma interdisciplinar o currículo, era compreendido como um objeto de estudo que compreendia “o fazer e o pensar, a ação e a reflexão, a teoria e a prática” (SAMPAIO, QUADRADO E PIMENTEL, 1994:59).

Para contribuir nessa fase, a Secretaria da Educação de São Paulo articulou a noção de conceitos unificadores, proposta por Angotti (1982), que eram desenvolvidos para cada área disciplinar. De acordo com o Documento 5 – Visão de Área: Ciências (1992), produzido pela Secretaria Municipal de Educação com o objetivo de ampliar a discussão sobre o ensino de Ciências Naturais nas escolas e propor parâmetros para a construção de programas escolares, a abordagem por

conceitos unificadores, além de garantir “um referencial para seleção

dos conteúdos escolares”, permitia o tratamento de questões contemporâneas que usualmente não constavam nos currículos escolares.

A figura abaixo fornece uma representação gráfica do papel central dos conceitos unificadores ao longo dos três ciclos do Ensino Fundamental:

Figura 01 (SÃO PAULO, 1992)

O quadro a seguir representa o significado e a aplicação dos conceitos unificadores apresentados na figura 01, ou seja, apresenta o uso pedagógico dos conceitos unificadores nas Ciências.

Conceitos Significado Aplicação (exemplos) Conceitos primitivos: espaço, tempo, matéria viva e não viva - estruturação da realidade externa em permanente relação com o indivíduo;

- devem ser quantificados e servir de referência para os diferentes tópicos abordados; - devem ser trabalhados ao lado de habilidades de classificação, observação, descrição, relação e diferenciação da realidade. - na construção das “coisas” e de suas relações com o “Eu” e com o “Mundo”.

Transformações - fenômeno ou situação que altera as condições do objeto no espaço e no tempo antes, agente transformador e depois;

- diz respeito aos constituintes do universo. - mudanças de posição, temperatura, aspecto, tamanho, forma, etc. Regularidades (ciclos)

- é a busca das invariâncias nos fenômenos naturais (conserva- ções);

- as transformações ocorrem vinculadas a certas regulari- dades, ou seja, a aspectos que permanecem mesmo após sucessões de transformações; - ciclos fechados ou abertos; - as regularidades estão presen- tes tanto nos modelos teóricos como no trabalho experimental.

- ciclos da matéria (água, oxigênio, carbonos, etc.); - redes de água, esgoto, eletricidade, etc.; - teias e cadeias alimentares; - consumo de combus- tíveis e alimentos; - movimentos dos cor- pos celestes; -conservação de massa e matéria; - equilíbrios estáticos. Energia - o agente transformador;

-conservação de um agente abstrato que pode ser quantificado e caracterizado em diferentes formas. -conservação nas diferentes formas de energia (luz, calor, potencial, química) nos

movimentos, reações, organismos, ecossistemas, etc. Regulações e dinâmicas dos equilíbrios

-conceitos anteriores (principal- mente energia) retomados em novo patamar cognitivo; -estudo dos controles, dos esquemas de equilíbrios dinâmicos e das perdas; -eficiência e ineficiência de equilíbrios estáticos e dinâmicos em diferentes níveis de abordagem;

-interação entre diferentes ciclos (fluxos de energia entre ciclos).

-catalisadores, entropia, rendimentos, reguladores biológicos (hormônios, DNA, sistema nervoso, predador/presa, adaptação natural, relações ecológicas entre os seres vivos e entre fatores bióticos e abióticos); -mecanismos de feedback. Revolução e evolução

- reflexão sobre a produção científica (períodos “normal” e de “ruptura”);

- evolução e interação dos conceitos científicos e suas transformações históricas, segundo as necessidades e relações sociais. -história e filosofia dos modelos científicos; - tópicos atuais, enfatizando o papel das relações sociais na produção do conhecimento científico (AIDS, cólera, poluição, genética, etc.) e seus limites explicativos. Escalas - são as ordens de grandeza em

que ocorrem todos os outros conceitos trabalhados, portanto, estão presentes e devem ser abordadas simultaneamente com todos os outros conceitos;

- escalas de compri- mento, tempo, massa, energia, etc., associa- dos aos outros modelos

- permite extrapolações do micro para o macro;

- explicita os limites de validade dos modelos científicos.

científicos.

Quadro 01 - Equipe Interdisciplinar do NAE 6, 1991 (TORRES, O' CADIZ e WONG, 2002)

A figura a seguir ilustra a relação entre os conceitos unificadores e as perguntas geradoras para cada disciplina que se desenvolvem a partir de um tema gerador.

Para Torres, O’Cadiz e Wong, os conceitos unificadores:

Pretendiam agir como um fio de referência no tecido do plano curricular, orientando os educadores na seleção do conteúdo e dos materiais para as atividades educativas no período de OC do processo de planejamento curricular (2002: 148).

E, conforme coloca Angotti:

Os conceitos unificadores são complementares aos Temas e carregam para o processo de ensino- aprendizagem a veia epistêmica, na medida em que identificam os aspectos mais partilhados (em cada época) pelas comunidades de Ciência & Tecnologia, sem negligenciar os aspectos conflitivos.

No campo cognitivo, tais conceitos constituem ganchos teóricos que podem articular/organizar conhecimentos aparentemente distintos em níveis intra e interdisciplinar. Por conseqüência, minimizam o risco de fragmentação; riscos que os Temas, por si só, não conseguem minimizar ou superar (1991: 108).

Nesta perspectiva, os conceitos unificadores são o fio condutor de um programa que, embora temático, marcado por características locais e regionais, manterá a unidade enquanto parte das ciências naturais.

Ao sintetizar esta etapa, pode-se afirmar que o estudo problematizado dos dados levantados sobre a comunidade apresenta situações significativas, que precisam ser organizadas e analisadas, situando-as no contexto da realidade, assim como ao nível macro social ou global. É esse trabalho que entusiasma um diálogo interdisciplinar, ou seja, o tema desafia as disciplinas a selecionar e integrar conhecimentos, permitindo assim uma leitura crítica da realidade.

3.6.3 Aplicação do Conhecimento (AC): a terceira etapa do