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Organização do Tratado do Atlântico Norte

3. Abordagens ao conflito armado russo-georgiano

3.2. Multiplicidade de interpretações e reações

3.2.2. Organização do Tratado do Atlântico Norte

Analisando, agora, a perspetiva da Organização do Tratado do Atlântico Norte sobre o conflito russo-georgiano de 2008, podemos obter conclusões muito particulares e que remetem para uma posição distinta daquela que foi adotada pela Organização para a Segurança e Cooperação na Europa.

Naquela que constituiu a primeira reação formal aos eventos de agosto, os ministros das relações externas dos respetivos Estados membros reuniram de emergência no Concelho do Atlântico Norte no dia 19 desse mês. Nessa sede, registou-se um alinhamento geral, e por isso muito claro, no sentido de se apelar à necessidade de se alcançar uma solução não só pacífica, mas duradoura para aquele conflito que acabara de atingir o seu momento mais sensível. Essa solução, de acordo com o corpo ministerial, deveria ter em consideração o respeito pela independência, soberania e integridade territorial da Geórgia (NATO, 2017). Da reunião dos ministros surgiu, também, a reprovação formal do emprego da força, o qual foi considerado desajustado em relação aos compromissos de resolução pacífica dos conflitos, os quais dizem respeito quer à Rússia quer à Geórgia por força de um amplo conjunto de acordos internacionais subscritos por ambos os Estados.

Acresce referir uma particular preocupação em relação à postura adotada por Moscovo, uma vez que o Conselho do Atlântico Norte considerou a sua ação militar desproporcional com aquilo que o contexto exigia, o que exibe, de acordo com a leitura da organização, uma situação de contradição atendendo à posição da Rússia como força de manutenção de paz nas regiões da Abecásia e da Ossétia do Sul. Na sequência desta reprovação da atuação russa, urgiu-se que o executivo liderado por Dmitri Medvedev retirasse as tropas estacionadas nas zonas do conflito (The Guardian, 2008a).

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Refira-se, igualmente, que, em resposta aos pedidos georgianos, a Organização do Tratado do Atlântico Norte prestou aconselhamento a Tbilisi em matérias relacionadas com a ciberdefesa, apoiou o restabelecimento do sistema de tráfego aéreo e auxiliou na avaliação dos danos causados tanto às infraestruturas civis como às próprias forças armadas. Para além disso, forneceu, ainda, assistência ao Ministério da Defesa (um dos mais intensamente implicados e, posteriormente, mais debilitados do regime de Mikheil Saakashvili após o conflito) (Nichol, 2009: 32).

Ainda em agosto de 2008, o Conselho do Atlântico Norte manifestou, novamente, as suas convicções no que se refere a esta crise e aos seus primeiros passos após o término da sua fase mais violenta. Referimo-nos, concretamente, ao reconhecimento conduzido pela Rússia da independência tanto da Ossétia do Sul quanto da Abecásia (NATO, 2017). Uma vez considerando estes territórios parcelas geográficas pertencentes à Geórgia, a organização reprovou este ato político do Kremlin, instando a sua anulação para que fosse restaurada a unidade georgiana, no lugar de serem patrocinados os movimentos separatistas regionais.

No decurso desta tomada de posição, a Organização do Tratado do Atlântico Norte reiterou que as fronteiras da Geórgia correspondem àquelas que estão internacionalmente reconhecidas, assumindo, assim, uma nítida atitude de apoio ao executivo de Tbilisi (Bowker, 2011: 197). Sendo esta a sustentação do não reconhecimento, por parte da organização, de todos os sufrágios que têm vindo a tomar lugar nos territórios secessionistas. O organismo considera, pois, que a realização destas eleições não contribui para o apaziguamento das tensões nem para a durabilidade das soluções que vão sendo aplicadas e que se desejam ser construtivas. Com base nisto, a organização não reconhece, igualmente, qualquer espécie de tratado, protocolo ou acordo celebrado entre Moscovo e Tskhinvali e Sukhumi.

Vale a pena tecer, ainda, algumas notas referentes a uma estrutura que resultou deste período de crise da história do Cáucaso, a saber-se, a Comissão NATO-Geórgia. Esta criação data de setembro de 2008 e propôs-se a lançar o quadro legal a partir do qual deveriam ser realizadas múltiplas iniciativas de cooperação, funcionando, também, como o fórum base para consultas políticas no sentido de facilitar à Geórgia a concretização dos seus anseios de aproximação à estrutura da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO, 2017).

Sem perder de vista a génese do seu surgimento, a organização vê na Geórgia um país que contribui muito favoravelmente para a paz e estabilidade da região euro-atlântica.

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Sublinhe-se que, graças à comissão, e em articulação com agentes georgianos e da Organização do Tratado do Atlântico Norte, a cooperação levada a cabo tem incidido em variadíssimas áreas, as quais incluem, a título de exemplo, reformas no setor securitário, militar e político.

Naquilo que se refere à máquina estatal da Geórgia, os responsáveis da organização têm assistido a uma transformação dos setores privado e público com a finalidade de se cultivar uma boa governação e de se promover a democracia, o Estado de direito, e, ainda, um desenvolvimento social e económico assente na sustentabilidade. A organização aplaude estas iniciativas e apresenta-se como parceira para o progresso destas medidas reformadoras, mostrando-se disponível para colaborar com temáticas que incidam tanto sobre o foro civil como sobre o militar (Gogolashvili, 2017: 23).

Simultaneamente, nos anos mais recentes a Organização do Tratado do Atlântico Norte tem vindo a ampliar a sua ação em relação a Tbilisi, tendo, no ano de 2011, sido estabelecido o primeiro Plano de Trabalho do Comité Militar para a Geórgia. Esta modalidade de aprofundamento da cooperação militar entre o país e a organização destina-se, acima de tudo, a apoiar a implementação de medidas no âmbito da defesa nacional, o que engloba as reformas no setor, o planeamento estratégico e o melhoramento da interoperabilidade entre as forças da organização e georgianas.

A juntar a tudo isto, podemos observar uma cronologia que reflete uma visível relação de prosperidade entre estes dois atores (NATO, 2017). Em 2010, o Secretário- Geral da organização, Anders Fogh Rasmussen, visitou a Geórgia, encetando conversações com o Presidente Mikheil Saakashvili e o Primeiro-Ministro Nika Gilauri. Em 2012, o Estado georgiano duplicou o seu contributo para a Força Internacional de Assistência para a Segurança21, fazendo desta nação uma das maiores contribuidoras de tropas entre os países não membros da organização. No ano seguinte, o Conselho do Atlântico Norte visitou a Geórgia. E, em 2017, foi Tbilisi que acolheu a sessão da primavera da Assembleia Parlamentar da Organização do Tratado do Atlântico Norte.

Estes são apenas alguns dos mais representativos exemplos do estreitamento de relações a que temos vindo a assistir entre uma das mais significativas entidades representantes do institucionalismo euro-atlântico e uma república do Cáucaso a qual, à época, saía de um violento conflito armado.

21 Designação atribuída à missão de segurança conduzida no Afeganistão e encabeçada pela Organização

do Tratado do Atlântico Norte, após ter sido estabelecida pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas.

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