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Organização para a Segurança e Cooperação na Europa

3. Abordagens ao conflito armado russo-georgiano

3.2. Multiplicidade de interpretações e reações

3.2.1. Organização para a Segurança e Cooperação na Europa

Começando pela Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, assume- se como prioritário referir que este organismo enveredou por uma atitude condizente com a postura da resolução pacífica do conflito armado, mostrando-se de um valor vital na perseguição desse objetivo (Hill, 2010: 223). Aliás, este contributo adquiriu uma forte componente pluridimensional, abrangendo as esferas de ação política, militar, económica e ambiental.

A defesa desta linha de ação, é preciso sublinhar, realizou-se em grande medida por intermédio de encontros regulares com a Comissão de Controlo Conjunto, a qual,

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recorde-se, constituía o mecanismo negocial que envolvia representantes da Ossétia do Norte, Ossétia do Sul, Rússia e Geórgia. De vital importância para os esforços de cooperação pelo retorno à paz (Gogolashvili, 2017: 27), a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa foi capaz de detalhar com rigor as atrocidades praticadas aquando e após o conflito, assumindo-se como fundamental para a formulação e aplicação das medidas que viriam a ser tomadas em nome do retorno à normalidade (Racz, 2016: 23).

Mas, para um melhor entendimento da extensão da missão conduzida pela organização neste caso, propomos uma quádrupla repartição temática, a qual inclui: o diálogo e estabilidade; a monitorização da situação no terreno; a criação de confiança; e os direitos humanos e a sociedade civil.

Sobre o diálogo e estabilidade há que sublinhar que a organização encetou esforços que conduzissem a uma evolução favorável da situação securitária. Para materializar esse objetivo, foram avançadas propostas destinadas à desmilitarização da zona do conflito e à cooperação entre as forças policiais de todas as partes envolvidas.

Concomitantemente, avolumaram-se as consultas com a Comissão de Controlo Conjunto, altos oficiais georgianos e comunidade internacional tendentes a manter vivo o diálogo e a procura de soluções que privilegiassem a estabilidade. Ainda neste âmbito, foi altamente significativo o controlo das atividades da Força Conjunta de Manutenção de Paz e da situação militar no terreno, bem como os respetivos relatórios, endereçados aos Estados membros da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE, s.d.).

Avançando para a monitorização da situação no terreno, podemos rapidamente perceber que esta ação foi fundamental para que existisse um maior e, sobretudo, mais imediato controlo da evolução dos acontecimentos. Esta vertente traduziu-se num patrulhamento levado a cabo através da cooperação entre a organização, a Comissão de Controlo Conjunto e a Força Conjunta de Manutenção de Paz que se propunha a identificar e reportar eventuais focos de tensão, reunir informação referente à situação militar e vigiar as violações dos acordos de cessar-fogo (às quais a organização reagia advertindo os intervenientes para as consequências políticas advindas de determinadas movimentações por parte de militares ou rebeldes).

Acresce mencionar que as forças encarregadas desta monitorização estavam preparadas para lidar com questões extramilitares. Isto é, perante uma situação pontual de contornos de índole cultural, económica e política, estes agentes estavam aptos para

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prestar assistência, fornecer informações e aconselhar as populações em risco. Esta combinação de conhecimentos, aliada ao intercâmbio de recursos numa lógica de sinergia entre as entidades já referenciadas e as autoridades locais auxiliaram a aliviar o clima de crispação que era vivido nas zonas disputadas (OSCE, s.d.).

No que concerne à criação de confiança, este foi um fator essencial para se conseguir estabilizar as tensões em curso na Geórgia, o qual operou de forma interdependente em relação aos demais vetores de ação levados a cabo pela Organização para a Segurança e Cooperação na Europa acima enumerados. Ou seja, a criação de confiança não pode acontecer sem diálogo e estabilidade, mas a relação inversa também se afigura absolutamente essencial.

Serve isto para dizer que as vertentes que nos encontramos a tipificar não poderão, nem deverão, ser consideradas isoladamente, mas antes tomadas como segmentos interligados de uma totalidade que representa um objetivo indivisível, a perseguição de uma solução pacífica do diferendo entre a Geórgia e os seus territórios separatistas, o que evidentemente contempla as demais consequências geopolíticas como a deterioração da relação de Tbilisi com Moscovo. Para além disso, a criação de confiança neste género de cenários representa uma grande conquista, dado que esta constitui um elo de ligação não só horizontal, ou seja, entre os vários representantes de determinados grupo de pessoas da mesma categoria, sejam civis entre si ou agentes de manutenção de paz entre si, mas também, consideramos nós, vertical, já que estimulou uma transcendência das esferas estabelecidas supondo um forte contacto entre as várias partes representadas.

Ora, para que a confiança fosse restaurada, a organização propôs-se a desenvolver um conjunto de iniciativas projetadas especificamente para alcançar esse efeito. Entre os programas lançados encontramos, por exemplo, o apoio à reabilitação infraestrutural e económica, a formação e capacitação dos meios de comunicação social em nome da promoção de um jornalismo imparcial aquando da cobertura de conflitos e o desenvolvimento da sociedade civil e das temáticas dos direitos humanos por intermédio do apoio a organizações não-governamentais de cariz regional (OSCE, s.d.).

Finalmente, e na sequência daquilo que foi apresentado no parágrafo anterior, considerados ser profundamente relevante o foco atribuído pela Organização para a Segurança e Cooperação na Europa à sociedade civil e aos direitos humanos. Entre as grandes missões da organização neste capítulo encontramos o objetivo de fortalecer a sociedade civil com o intuito de a habilitar a lidar com os conflitos que sobre si recaiam.

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Em estreita colaboração com o Centro de Direitos Humanos de Tskhinvali, a organização procurou envolver a população das mais diversas origens e desde as suas camadas mais jovens num conjunto de formações multidisciplinares propensas à obtenção de conhecimentos e consciencialização acerca da temática dos direitos fundamentais. Assim, e para que o entendimento do conflito de 2008 fosse amplamente esclarecido optou-se por um modelo de explicação tão holístico quanto possível, por essa mesma razão estas formações não olvidaram a história da região do Cáucaso (OSCE, s.d.).