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Esta dissertação é composta de cinco capítulos onde procuramos enfatizar as seguintes questões:

- Capítulo 1: Tanto o surgimento quanto o desenvolvimento de um tipo específico de canal de distribuição local pode, sem dúvida, ser visto como um reflexo das transformações na organização, em nível nacional e até internacional, da produção, distribuição e consumo dos alimentos. Diante disso, nos apropriamos do conceito de Regime Alimentar para iniciar nossa discussão fazendo um apanhado geral acerca das mudanças na produção, distribuição e consumo dos alimentos que têm se processado desde o fim da Segunda Guerra. Como argumenta Friedmann (2000, p.1), “a alimentação nos permite ter uma boa visão da economia e da política mundial devida à sua importância tanto para a acumulação do capital quanto para o sustento da

comunidade”. Assim sendo, tentamos neste primeiro capítulo contrapor, de um lado, a tendência de acirramento da difusão global dos produtos e dos hábitos alimentares, como uma expressão da globalização da economia; e, de outro lado, a permanente dificuldade, de uma grande parcela da população do Brasil e do Mundo, de acesso aos alimentos, enquanto problema de política pública.

- Capítulo 2: No Brasil, os equipamentos públicos de venda atacadista de alimentos nasceram como uma das respostas do governo federal às contínuas crises alimentares enfrentadas pelo país. O “modelo CEASA’s” de mercados atacadistas planejados e diretamente controlados pelas autoridades governamentais, porém, não pode ser visto como uma criação brasileira, mas como uma tendência de organização do abastecimento urbano de alimentos verificada na maioria dos países ocidentais após o fim da Segunda Guerra Mundial. Assim como os CEASA’s, as primeiras lojas varejistas de auto-serviço surgiram no mercado brasileiro entre os anos 50 e 60 como tímidos empreendimentos privados locais que tentavam “copiar” o que já estava sendo feito internacionalmente. Verifica-se, no entanto, que a partir dos anos 80 o “prestígio” dos dois tipos de canais de distribuição de alimentos cresceu de modo inversamente proporcional. De um lado, as redes varejistas nacionais, que inicialmente enfrentaram inúmeros obstáculos para se firmarem, cresceram e passaram a competir, ou foram “engolidas” pelas poderosas redes varejistas transnacionais que adentraram no lucrativo mercado brasileiro, tornando-o ainda mais dinâmico, e de outro, os CEASA’s, que a princípio conseguiram ditar as regras do abastecimento interno, passaram a ser vistos como equipamentos de comercio ultrapassados e como instrumentos públicos incapazes de garantir a coordenação dos fluxos. Diante disso, o capítulo apresenta um resgate histórico do surgimento e desenvolvimento desses dois tipos de canais de distribuição, visando compreender como a transformação dos supermercados nos principais equipamentos - 18 -

urbanos de distribuição de frutas e vegetais frescos tem posto em risco o antigo sistema de compras nas centrais de abastecimento públicas, baseadas no modelo de mercado spot. Lembramos que, nesta pesquisa, quando tratamos do histórico das Centrais de Abastecimento brasileiras, enfatizamos apenas a intervenção direta do governo no abastecimento de alimentos na região Nordeste e, mais especificamente, em Pernambuco, sabendo, porém, que o movimento não se restringiu a este estado.

- Capítulo 3: Como ressalta Malinowisk (1990, p. 45) “as idéias preconcebidas são perniciosas em qualquer tarefa científica, mas os problemas antevistos constituem a principal qualidade de um pensador científico, e esses problemas são revelados pela primeira vez ao observador por seus estudos teóricos”. Isso significa dizer que é importante ter em mente quando se pretende iniciar um trabalho de pesquisa qual é de fato o fenômeno ou objeto a ser investigado. No nosso caso o objeto de pesquisa consiste nos processos de mudança verificados nas Centrais Públicas de Abastecimento brasileiras após o afastamento do Estado em relação ao controle direto deste setor da economia e o crescimento do setor supermercadista, verificado principalmente com a entrada das grandes redes transnacionais no mercado. Evidente que, mesmo sendo esse um fenômeno verificável em várias Centrais de Abastecimento do Brasil e do mundo, diante das limitações comuns a qualquer trabalho científico, a base empírica de nossa pesquisa não pôde ultrapassar os muros do já imenso Centro de Abastecimento de Pernambuco. A análise de tal fenômeno em sua forma singular prescinde da compreensão do que é a instituição em si. Portanto, o terceiro capítulo desta dissertação consiste em uma descrição do funcionamento do CEASA-PE, levando-se em consideração tanto os seus aspectos cristalizados, ou seja, suas regras e regularidades, como também seus aspectos dinâmicos, tal como vivenciados pelos atores que participam do dia-a-dia desta instituição.

- Capítulo 4: Os CEASA’s brasileiros sempre guardaram em sua essência o caráter dúbio de ser mercado, que reúne no mesmo espaço agentes econômicos privados, e ao mesmo tempo instrumento público-estatal de regulação do abastecimento interno de alimentos. Sabe-se, porém, que grande parte da literatura que trata do tema da distribuição de alimentos via Centrais Públicas de Abastecimento tem enfatizado que tanto a função mercadológica quanto a função de coordenação dos fluxos exercida por esses equipamentos encontram-se atualmente em crise. Em relação ao CEASA-PE temos que, em virtude do avanço da atuação das grandes redes de supermercados no estado de Pernambuco, e diante das dificuldades enfrentadas por esse Centro no sentido de adaptar-se estruturalmente para atender às novas demandas, ele tem sido visto como um equipamento obsoleto. As dificuldades estruturais enfrentadas não somente pelo CEASA-PE como por grande parte dos CEASA’s brasileiros, combinadas ao recuo do Estado em relação a este setor da economia têm, por sua vez, trazido a tona o debate acerca da privatização destas instituições como forma de fugir da crise. Pensar na privatização dos CEASA’s também implica em pensar nas conseqüências que isso poderia ter, levando-se em consideração que, para muitos, é essencial que a coordenação do abastecimento de alimentos continue nas mãos do poder público. Iniciaremos, pois, este quarto capítulo tratando dos problemas enfrentados pelo CEASA-PE bem como das alternativas encontradas pelos que compõem esta instituição no sentido de sobreviver em um mercado onde a qualidade passa a ser vista como o principal critério de entrada. Já na segunda parte do capítulo discutiremos os problemas trazidos com a diminuição gradativa da atuação direta do Estado sobre os CEASA’s, bem como os esforços que têm sido feitos, principalmente em nível estadual, no sentido de garantir que este órgão continue a atuar na coordenação dos fluxos.

- Capítulo 5: Não faz muito tempo em que mercado e Estado eram vistos como elementos complementares. Sabe-se, no entanto, que a tendência atual é de afastamento do Estado em relação a atividades econômicas que lhes eram delegadas. O setor de abastecimento, que é controlado diretamente pelo Estado desde o começo da década de 60, consiste num dos mais atingidos pelo enfraquecimento da administração estatal direta. Não é por acaso que muito tem se falado em privatização como a melhor forma de fazer os CEASA’s superarem seus problemas. Não há, porém, unanimidade quando se trata da defesa do retorno ao Estado mínimo e ao mercado auto-regulado como forma de livrar o Estado de suas dívidas e o mercado de suas “amarras”. Na busca de uma solução alternativa para o setor de abastecimento, o Governo do estado de Pernambuco decidiu, num movimento inédito no país, incluir o CEASA no rol de empresas que enfrentariam o processo de Reforma do Estado. No quinto capítulo desta dissertação tentamos contribuir para a compreensão de como, afinal, o CEASA-PE foi transformado em uma Organização Social.