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Organização e Participação – o CEDRAF-MG como arena de deliberação das políticas

CAPÍTULO II – Participação e deliberação no Brasil – Políticas públicas e Conselhos

2.1 Organização e Participação – o CEDRAF-MG como arena de deliberação das políticas

O Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentável do estado de Minas Gerais foi criado no ano de 2001 com o objetivo de coordenar as ações concernentes às políticas públicas relativas ao desenvolvimento rural do estado, assim como acompanhar a execução dos programas de desenvolvimento da agricultura e da reforma agrária. Proposto mediante assinatura do Decreto Estadual nº 41.557, de 01 de março de 2001, que estabelece as diretrizes e os princípios que norteiam a sua existência, o CEDRAF tem como enfoque primordial o apoio à agricultura familiar do estado em consonância com o desenvolvimento rural sustentável. De início o decreto estabelece e confirma a preocupação com a agricultura familiar ao interligar as ações dos programas federais e estaduais para este segmento rural com as demandas oriundas dos Planos Municipais de Desenvolvimento Rural Sustentável (PMDRS).

Outro princípio norteador do conselho é articular e orientar as ações dos Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural Sustentável – CMDRS com as entidades governamentais e não governamentais. Está descrito também em seu decreto de criação a preocupação com a gestão dos recursos financeiros aplicados em programas fundiários e de apoio à agricultura familiar mediante o acompanhamento de seu desempenho, assim como a articulação com as entidades financeiras para solucionar as dificuldades encontradas a nível municipal nos casos em que a concessão de financiamento fundiário de infraestrutura e produtivo aos agricultores familiares não saia de acordo com o esperado. Por último e o mais importante para esse estudo, compete ao CEDRAF consolidar a demanda estadual, a partir das informações dos CMDRS, subsidiando o CONDRAF na elaboração das propostas anuais de alocação de recursos para financiamento do PRONAF. Portanto, pode-se concluir que o conselho foi criado a partir da importância do PRONAF para o estado de Minas Gerais (CEDRAF-MG, 2014).

O CEDRAF-MG passou por quatro alterações no seu decreto original (Decreto nº 43.500, de 05 de agosto de 2003, Decreto 44.114, de 01 de dezembro de 2006, Decreto 44.652, de 08 de novembro de 2007), sendo todas as alterações relacionadas com a mudança na composição dos representantes do conselho. No ano de 2001 o colegiado era composto por 22 representantes entre órgãos governamentais e entidades da sociedade civil, escolhidos pelo Secretário de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento de MG. No ano de 2003 o conselho passou a operar de 22 para 24 conselheiros com o acréscimo de 2 representantes de órgãos governamentais e a manutenção do mesmo número de vagas para as demais entidades civis. Em 2006, com o decreto 44.114, há o acréscimo de mais um órgão governamental – a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (FAEMG), ou seja, o número de representantes do conselho de 24 passa a contar com 25 membros. Por fim, em 2007, uma nova configuração no CEDRAF com o acréscimo de um representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), passando a operar com 26 conselheiros. Hoje a composição do conselho que está divulgada em seu estatuto é composta de 23 membros divididos entre representantes de órgãos do governo e da sociedade civil mineira.

Além da composição do conselho, é importante enfatizar a forma como está disposta a organização do CEDRAF: Câmaras Técnicas de Políticas Agrícolas e de Políticas Agrárias e Ambientais, o Grupo Temático de Agroecologia e Produção Orgânica, a Secretaria Executiva e o Plenário. O plenário é a arena política principal onde o processo de deliberação ocorre através de reuniões a cada quatro meses entre os representantes do conselho. A participação de autoridades e representantes de setores públicos ou privados nas reuniões do plenário e das câmaras técnicas está prevista no Decreto Estadual nº 41.557/2001, desde que a convite do presidente do conselho.

Algo que fica muito evidente na estrutura e composição do CEDRAF, assim como na finalidade pela qual este espaço público foi criado é primeiro, a sua importância para agricultura familiar como locus por excelência para discutir, analisar e contribuir com as políticas públicas que tem como principal beneficiário os agricultores familiares. Por isso, a PNATER por ser uma política pública de ATER que atende a este público, inevitavelmente teria seus princípios e diretrizes discutidos no conselho, o que nos levaria a crer que o CEDRAF seja talvez a arena política mais apropriada para responder às questões relacionadas com a operacionalização da PNATER no estado de Minas Gerais. Além disso, o CEDRAF se apresenta como um espaço plural que congrega diferentes visões e percepções de representantes, tanto de entidades governamentais quanto da sociedade civil, que podem

contribuir para uma análise da PNATER a partir da demanda e anseios do público diversificado ao qual eles representam. Dito de outra forma:

O Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentável (CEDRAF- MG) constitui-se numa importante instância de controle social das políticas públicas federais e estaduais de desenvolvimento sustentável da agricultura familiar e reforma agrária em Minas Gerais. Este Conselho contribui para o aprofundamento da relação Estado e Sociedade, permitindo que os cidadãos se integrem à gestão administrativa, participando da formulação, planejamento e controle de programas e ações governamentais (CEDRAF- MG, 2013).

A princípio, no decorrer desse tópico faz-se necessário adiantar alguns pontos com relação à ideia de deliberação. Para isso, alguns autores são colocados em debate para se pensar os elementos que giram em torno da concepção de democracia deliberativa. Ao final, são expostos os depoimentos dos conselheiros do CEDRAF-MG entrevistados que pontuam as benesses e os fatores limitantes ao processo deliberativo no conselho estadual.