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Políticas públicas para o meio rural: A agricultura familiar como impulsionadora de um

CAPÍTULO I Um resgate histórico da Extensão Rural no Brasil

1.2 Políticas públicas para o meio rural: A agricultura familiar como impulsionadora de um

A importância da agricultura familiar não reside apenas na resolução de problemas, tais como, absorção da força de trabalho do agricultor, oferta de alimentos e geração de renda para as famílias rurais, mas tão importante quanto dirimir esses males que ainda emperram o desenvolvimento rural brasileiro pode-se creditar a esse segmento rural a promoção de um conjunto de políticas públicas que foram criadas visando atender e reafirmar a importância do setor para entidades do governo e da sociedade civil, sob fortes pressões e reinvidicações também dos movimentos sociais do campo. Junqueira & Lima (2008) analisam os efeitos das principais políticas públicas direcionadas à agricultura familiar para o desenvolvimento do segmento em comparação com o da agricultura patronal, com ênfase no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) e no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Os autores creditam à categoria agricultura familiar mudanças sociais, econômicas e políticas nos últimos anos que reforçam e justificam a importância do setor para o desenvolvimento regional e local brasileiro. Uma das mudanças relacionadas ao contexto político está a criação do Ministério de Desenvolvimento Agrário – MDA, a visibilidade e o fortalecimento dos movimentos sociais e demais entidades da sociedade civil como co-gestores na promoção do desenvolvimento do setor.

O conhecimento e reconhecimento do setor agrícola familiar como componente importante do PIB do país ficou comprovado através de estudos sistemáticos encomendados pelo governo brasileiro (GUILHOTO et al., 2007; MATTEI, 2005, 2006) e cujo pioneirismo e destaque foi uma série de estudos realizados mediante projeto de cooperação entre o Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação – FAO e o Instituto de Colonização e Reforma Agrária – INCRA de 1996 a 1999. Segundo Junqueira & Lima (2008, p. 163), este projeto foi ―o mais importante estudo sobre a agricultura familiar e sua contribuição ao desenvolvimento rural‖. Os dados obtidos desse estudo foram lançados em 2000 e mostram que grande parte dos estabelecimentos agrícolas é comandada por agricultores familiares.

Agricultor familiar é uma categoria política que foi criada e difundida a partir da implementação do PRONAF em 1996 e consolidada em 2006 pela Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais (Lei 11.326). Configura-se como uma tentativa governamental de reunir as diferentes realidades do meio rural brasileiro sob a insígnia de agricultor familiar mediante a manutenção do preceito original de posse dos meios de produção e a realização do trabalho familiar, acrescido de parâmetros legais como o tamanho da terra, a fonte e o valor da renda, dentre outros.

Do ponto de vista sociológico, serve para caracterizar aquele segmento rural que foi historicamente marginalizado das políticas públicas, participou da luta pela terra e por melhores condições de vida e trabalho e que no Brasil recebeu diferentes denominações: produtor rural, lavrador, caipira, tabaréu, camponês, etc. (MARTINS, 1986).

Quase a metade da produção agropecuária é oriunda da agricultura familiar e a eficiência em produção mensurada pela renda total por hectare é maior na agricultura familiar quando comparada com a agricultura patronal. Além disso, os estudos da FAO/INCRA mostraram que a heterogeneidade da agricultura familiar brasileira fica evidente quando comparados diferentes indicadores, tais como total de estabelecimentos, área fundiária, valor bruto de produção, número de pessoas ocupadas e acesso a assistência técnica, por estado e por região brasileiros. A título de exemplificação esses estudos evidenciaram que o maior número de estabelecimentos familiares concentra-se na região nordeste e que o acesso à assistência técnica está restrito à agricultura patronal e aos agricultores familiares mais capitalizados.

Os dados do Censo Agropecuário de 2006 corroboram com os estudos da FAO/INCRA de 2000 apontando a agricultura familiar como um importante segmento rural gerador de alimentos para o mercado interno. Ademais, os dados do censo indicam que a grande parte dos estabelecimentos agropecuários está representada pelos estabelecimentos conduzidos pela agricultura familiar, apesar de ocuparem uma pequena parcela da área territorial brasileira, o que demonstra ainda uma elevada concentração fundiária.

No Censo Agropecuário 2006, foram identificados 4.367.902 estabelecimentos da agricultura familiar, o que representa 84,4% dos estabelecimentos brasileiros. Este numeroso contingente de agricultores familiares ocupava uma área de 80,25 milhões de hectares, ou seja, 24,3% da área ocupada pelos estabelecimentos agropecuários brasileiros. Estes resultados mostram uma estrutura agrária ainda concentrada no País: os estabelecimentos não familiares, apesar de representarem 15,6% do total dos estabelecimentos, ocupavam 75,7% da área ocupada. A área média dos estabelecimentos familiares era de 18,37 hectares, e a dos não familiares, de 309,18 hectares. (...) Apesar de cultivar uma área menor com lavouras e pastagens (17,7 e 36,4 milhões de hectares, respectivamente), a agricultura familiar é responsável por garantir boa parte da segurança alimentar do País, como importante fornecedora de alimentos para o mercado interno (IBGE, 2006).

Portanto, a importância em se conhecer e em se traçar um panorama da agricultura familiar brasileira contribuiu para que os dados evidenciados nos estudos da FAO/INCRA e do IBGE servissem para sensibilizar o governo nos últimos anos dos problemas e anseios desse segmento mediante a promoção de políticas públicas direcionadas para os pontos nevrálgicos do setor. De acordo com Junqueira & Lima (2008, p. 167), um dos gargalos era estabelecer um conjunto de ―políticas públicas adequadas às especificidades dos diferentes tipos de agricultores familiares‖. Outro ponto importante era aumentar o acesso dos diferentes tipos de agricultores familiares a uma assistência técnica de qualidade, gratuita e pública. Assim, para o primeiro caso a implementação do PRONAF representaria o remédio necessário para fortalecer e valorizar o segmento da agricultura familiar. Para o segundo caso e a reboque do primeiro a discussão e proposição de uma política pública de ATER serviria para difundir e garantir o acesso à assistência técnica, principalmente para aqueles agricultores familiares menos capitalizados.

Antes de se discutir os meandros do surgimento de uma política pública de ATER é importante que se analise a percepção dos representantes entrevistados do CEDRAF-MG quanto ao PRONAF e a importância dessa política para o desenvolvimento da agricultura familiar mineira, porque pode-se presumir que foi a partir dela que uma política de ATER foi pensada.