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A organização de redes na educação

2 REDES DE POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO

2.2 As redes nas propostas para a educação na América

2.2.3 A organização de redes na educação

A segunda reunião do Prelac, Educación de calidad para todos: un asunto de derechos humanos, foi realizada em março de 2007, em Buenos Aires, Argentina, com tema central balizado por discussões sobre educação – bem público e estratégico – de qualidade para todos e assunto de direitos humanos. A súmula do documento informa que, apesar dos esforços envidados pelos países da região de levar a cabo a expansão da obrigatoriedade da educação, o desenho de novos currículos e a melhoria da formação dos docentes se faz necessário, ainda, redobrar os

esforços para lograr êxito no cumprimento das metas do Efa (UNESCO, 2007). Assim:

Las personas y colectivos más vulnerables se encuentran en una situación de desigualdad en lo que se refiere al acceso, a la continuidad de estudios y a los logros de aprendizaje. Esto muestra la necesidad

de mejorar los diseños de las políticas

públicas y desarrollar acciones

específicas para lograr una educación de calidad para todos. La región tiene que dar un salto desde la igualdad de oportunidades en el acceso, a la igualdad de oportunidades en la calidad de la oferta educativa y los resultados de aprendizaje (UNESCO, 2007, p. 5. Grifos no original).

O documento está dividido em cinco capítulos. O primeiro apresenta uma visão panorâmica do contexto da região com as principais mudanças políticas, sociais, econômicas e culturais produzidas a partir do ano de 2000, destacando as finalidades da educação: canal de mobilidade social, inclusão social e integração cultural e maior coesão social e a prevenção da corrupção e da violência (UNESCO, 2007).

O segundo capítulo do documento descreve os atributos que a educação de qualidade para todos deve reunir: o respeito aos direitos, equidade e pertinência acrescidos de relevância, assim como dos de caráter operativo: eficiência e eficácia (UNESCO, 2007). Como estratégia para concretizar tais atributos, a Unesco recomenda a participação de pais, alunos e

professores, para que sejam protagonistas e responsáveis por sua própria ação educativa, assim como também para que haja uma maior transparência no controle direto sobre as decisões e resultados das diferentes ações implementadas (UNESCO, 2007).

Nos capítulos seguintes, terceiro e quarto, são abordados os temas denominados “críticos” para uma educação de qualidade para todos: os docentes e o financiamento. As questões sobre os docentes envolvem: alinhamentos e propostas para refletir sobre as demandas ao trabalho dos professores, as competências e condições necessárias para atender a essas demandas, os fatores sobre os quais se deveriam priorizar atenção para assegurar efetividade e motivação dos professores e a aprendizagem dos alunos e as principais características que deveriam ter tais políticas (UNESCO, 2007).

A Unesco reforça que o profissionalismo coletivo e a conformação de redes de escolas e professores se destacam entre as melhores estratégias para responder aos múltiplos desafios da profissão, pois, a estruturação não hierarquizada das redes

fortaleceriam o profissionalismo de docentes e diretores,

comprometendo-os a trabalhar em sua própria aprendizagem e elevando a moral, a auto-estima e a responsabilidade por seu trabalho (UNESCO, 2007).

As redes são apontadas também como alternativas para resolver questões relativas à fixação de docentes em determinadas escolas. Segundo a Unesco, o estabelecimento de mecanismos de

incentivo e redes de apoios favoreceriam a identificação das melhores práticas educativas e dos melhores professores para atuarem em escolas como maiores necessidades (UNESCO, 2007).

O financiamento público da educação é um assunto complexo que compreende uma diversidade de considerações e aspectos. Por essa razão, no capítulo quarto a Unesco relacionou os aspectos de disponibilidade de recursos, eficiência no uso de recursos públicos, dotação e redistribuição e relação entre estruturas ou esquemas de gestão e financiamento, no intuito específico da promoção da educação de qualidade para todos (UNESCO, 2007).

Sobre a disponibilidade de recursos de origem privada o documento aponta as ações de “responsabilidade social empresarial” como alternativa viável, ressaltando a qualidade como valor que o setor poderia agregar à educação e justificando- a como práticas que beneficiam a saúde cívica e coesão social. A eficiência no uso dos recursos públicos se caracterizaria pela consistência, transparência, prestação de contas da gestão e compromisso irrestrito com o direito à educação (UNESCO, 2007).

Por último, a Unesco fez as seguintes considerações:

(i) Se requiere, en primer lugar, que las políticas educativas sean políticas de

Estado socialmente concertadas a partir de la puesta en marcha de procesos efectivos de participación [...] (ii) las

políticas deben ser integrales e integradas [e] (iii) con un enfoque de derechos que consistentemente interpele a cerca de la relación entre cada política y el derecho de todas las personas a una educación de calidad (UNESCO, 2007, p. 83. Grifos no original).

Com essas considerações, a Unesco elaborou onze recomendações para políticas educacionais a serem implementadas em médio e longo prazo de modo que seja possível cumprir com os objetivos de educação de qualidade para todos e os cinco focos estratégicos do Prelac, envolvendo transformações nos diferentes níveis do sistema de ensino, especialmente as instituições educativas, e devem compor políticas de Estado acordadas com a sociedade e com o enfoque de direitos (UNESCO, 2007). Destacamos as que se referem às redes, a saber:

• Tecer pacto nacional pela educação que permita incrementar recursos públicos assim como impulsionar as transformações necessárias nos aspectos normativos e regulatórios do setor (UNESCO, 2007, p. 95);

Apertura de las escuelas e la comunidad y trabajo en

red [...] las escuelas han de participar en las actividades que se

desarrollen en el entorno y en la toma de decisiones que afectan a la comunidad, formando redes entre escuelas para intercambiar experiencias y generar conocimientos sobre la práctica educativa. La relación con la comunidad es esencial

para aprovechar al máximo todos los recursos de la localidad” (UNESCO, 2007, p. 103. Grifos no original).

Em síntese, destacamos que as principais redefinições previstas pela Unesco para a escola do século XXI na América Latina são: o envolvimento de comunidades nas práticas escolares, valorizando o saber local e extraindo do cotidiano as

melhores práticas de aprendizagem a serem difundidas em redes; a escola, aberta à comunidade determinada pelo

pressuposto de práticas integrativas/interativas, converter-se-ia em “espaço de aprendizagem” para o conjunto de sujeitos que dela participassem ou nela atuassem, uma “comunidade de aprendizagem”. Ademais, uma vez organizada dessa forma,

trabalharia em rede, tornando públicas as melhores práticas a

fim de que outras escolas/comunidades delas pudessem partilhar ou nelas pudessem se espelhar.

A função das redes, para Unesco, compreende envolver a sociedade nas reformas pretendidas, universalizando a responsabilidade pela educação. Nesse sentido, as redes são apresentadas como facilitadoras da ação coletiva, da participação política, e de parcerias entre o público e o privado para responder às questões sociais; elas fomentariam a criação de fontes alternativas para aumentar o “investimento social” em educação, objeto de “responsabilidade social”.

Consoante as recomendações da Unesco, o Mec implementou, em 2008, o PMSE no intuito de sensibilizar e envolver a sociedade nas questões educacionais.