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O destaque ao “Terceiro Setor” surge nos finais da década de 1970 nos países centrais com a consolidação de importantes intervenções complementares, no âmbito da proteção social, mas emergiu com o mesmo vigor nos países periféricos e semiperiféricos do sistema mundial sob a roupagem de “organizações não- governamentais” (SANTOS, 1999, p. 250 )

As organizações que compõem o “Terceiro Setor” são as cooperativas, associações, organizações não-governamentais, organizações voluntárias, organizações comunitárias ou de base etc. Este conjunto de organizações assume a denominação de acordo com as diferentes culturas e contextos políticos dos países em que se situam. Por exemplo, no caso dos países do “chamado Terceiro Mundo”, domina a designação de organizações não-governamentais (ONGs) ( SANTOS, 1999, p. 251).

Inseridas como referencial fundamental nesta tese encontram-se as organizações não governamentais, considerando que a Proposta de Educação do Campo, objeto deste trabalho, é veiculada por uma ONG, com estatuto de OSCIP, denominada Serviço de Tecnologia Alternativa-SERTA. Para melhor compreender o papel dessas organizações, serão colocadas algumas reflexões dos principais teóricos que têm pesquisado sobre essa temática.

Nos países periféricos e semiperiféricos, Organização Não-Governamental é o nome mais conhecido quando se fala de terceiro setor, embora este englobe outros segmentos com identidades diversas, como entidades filantrópicas e institutos empresariais.

Em âmbito mundial, a expressão Organização Não-Governamental surgiu pela primeira vez na Organização das Nações Unidas (ONU), após a Segunda Guerra mundial, com o uso da denominação em inglês “Non-Governmental Organizations (NGOs)”, para designar organizações supranacionais e internacionais não oficiais que recebiam ajuda financeira de órgãos públicos para desenvolver projetos de interesse social. A definição da ONU leva em consideração a estrutura jurídica e as ONGs se localizavam na esfera do privado. Na contemporaneidade, segundo Gohn, “teria ocorrido a emergência de um outro setor na esfera público-comunitário não-estatal, vindo a se constituir no terceiro setor da economia, no plano informal”(GOHN, 2003, p.54).

Para compreender as ONGs como parte de um Terceiro Setor (diferente do Estado e do mercado), ou seja, o da sociedade civil, é necessário diferenciá-las de outras organizações desse setor. De acordo com Scherer-Warren, as ONGs são

organizações formais, privadas, porém com fins públicos e sem fins lucrativos, autogovernadas e com participação de parte de seus

membros voluntários, objetivando realizar mediações de caráter educacional, político, assessoria técnica, prestação de serviços e apoio material e logístico para populações-alvo específicas ou para segmentos da sociedade civil, tendo em vista expandir o poder de participação destas com o objetivo último de desencadear transformações sociais ao nível micro (do cotidiano e/ou local) ou ao nível macro (sistêmico e/ou global) (SCHERER-WARREN, 1995 p.165).

As ONGs existem em diversos países e assumem, muitas vezes, funções diferenciadas de um país para outro, conforme Vieira ( 1999, p.68 ) coloca:

Em muitos países, as ONGs ajudam a formular as políticas públicas .Em outros, seu papel é importante para fiscalizar projetos, bem como para denunciar arbitrariedades do governo, desde violações de direitos humanos até omissão no cumprimento de compromissos públicos, nacionais ou internacionais. Em alguns países, as ONGs são criadas espontaneamente como associações civis de base. Em outros, são criadas, de cima para baixo, pelo Estado ou empresas do mercado. Neste caso, existe um vício de origem que compromete a autonomia da organização, salvo se ela tiver capacidade de absorver as reivindicações da cidadania e captar lideranças locais que transmitirão os verdadeiros anseios das comunidades.

Essa diversidade em relação às ONGs se torna uma dificuldade para se compreender a sua natureza e o seu papel, inclusive dentro de um mesmo país, estado ou região, tendo em vista que, segundo Haddad (2001, p.A-3):

Sob uma mesma nomenclatura podemos encontrar uma infinidade de entidades com histórias, tamanhos, missões, modelos organizacionais e mecanismos de sustentabilidade completamente diferentes uns dos outros. Por se definirem como não-estado e por suas características de organização sem fins lucrativos – sendo um não-mercado, portanto – cabem aí gatos e sapatos ( HADDAD, 2001, p.A-3 ) .

Haddad (2001, p. A-3) sustenta ainda que, por terem uma estrutura fluida, as ONGs não são representantes de ninguém. “É um grupo de pessoas que produz um certo tipo de conhecimento e ajuda a sociedade civil a produzir novos direitos”. Porém, esta é uma questão polêmica, pois as ONGs estão inseridas na mesma contradição do setor do qual elas fazem parte: o Terceiro Setor. Segundo Gohn (2005, p. 95), vários autores não distinguem este setor do universo das ONGs. Entretanto, no Brasil, dado o processo histórico vigente, as próprias ONGs cidadãs não gostam de ser confundidas com este setor, embora participem de atividades em que estão presentes entidades declaradamente nomeadas como sendo pertencentes ao Terceiro Setor.

O papel do terceiro setor no espaço público é fundamental, porém a construção dessa esfera pública é tarefa tanto da sociedade civil como do Estado. A sociedade civil, na sua relação com o Estado, não significa, necessariamente, uma relação de complementaridade, nem de substituição, mas muitas vezes de confrontação ou oposição, ou seja, de uma luta política na perspectiva principalmente do exercício democrático das políticas públicas. E esse exercício democrático vai além da competição por recursos e do cumprimento de Programas, metas e atividades previamente definidas, segundo a formalidade burocrática. Busca possibilitar aos atores sociais a criação das condições que lhes permitam se reconhecer e serem reconhecidos por aquilo que são e que querem ser, isto é, “as possibilidades de reconhecimento e autonomia” (MELUCCI, 2002, p.137; SANTOS, 1999, p.268).

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