• Nenhum resultado encontrado

Capítulo II. Capital social, redes sociais e activação social

9. Organizações Sociais

Neste âmbito, releva-se a formulação de três tendências (Fernandes, 2002): a emergente, a tradicional e a pragmática.

De acordo com a concepção emergente, as organizações sociais são entendidas como espaços de cooperação pessoal e exercício de cidadania activa e espaços de educação para o desenvolvimento. Por outro lado, a acepção tradicional, define-as como espaços de convívio, entreajuda e amizade, visando contribuir para o desenvolvimento da pessoa, assente no trabalho voluntário. Finalmente, a concepção pragmática, que introduz nas dinâmicas associativas os princípios da organização formal e da gestão quase profissional, reduz as organizações sociais a meras prestadoras de serviços ao sócio, entendido como consumidor, subestimando, desta forma, a participação voluntária e democrática interna.

O desenvolvimento do estado fundamentado na regra da lei do Estado-Providência criou muitas e novas instituições sociais, de forma a estabilizar as interacções entre os indivíduos e as organizações sociais na sociedade. O indivíduo torna-se menos dependente da família, amigos ou colegas, existindo muitas instituições que vão substituindo o apoio social da família. Neste âmbito, as redes sociais vão ter uma grande importância na sociedade e no apoio à vida diária de cada indivíduo (Nowak, 2001: 149-183).

Tocqueville foi considerado um importante teorista do capital social apesar ter nunca ter usado esta expressão. Na sua obra “Democracia na América” este autor observava que num nítido contraste com a França, a América possui uma “arte de associação”, isto é, uma população habituada a juntar-se em associações voluntárias com os mais diversos propósitos civis ou políticos. Esta habilidade, para as pessoas se auto-organizarem criava uma “escola de autogovernação” que ensinava às pessoas hábitos cooperativos que podiam levar consigo para a vida pública (Fukuyama, 2000: 41).

O capital social é uma importante dimensão qualitativa que é dada pela diferente tipologia das associações. Deve ter-se em conta a natureza da acção colectiva de que a associação é capaz, as suas dificuldades, o valor do esforço do grupo, etc. Outro factor a analisar é o das externalidades positivas da pertença ao grupo, ou seja, o que o Fukuyama (2000) denomina de “raio de confiança positivo”.

Uma externalidade é um lucro ou um custo que afecta uma terceira parte exterior a determinada actividade que se traduz na construção de laços de confiança (e logo de capital social) fora do círculo dos seus próprios associados.

Sandra Lima Coelho (2008) valoriza a importância das organizações de tipo associativo como eixo central de qualquer política de desenvolvimento, destacando o seu papel decisivo na construção de solidariedades e no exercício da democracia e da cidadania. De acordo com esta autora, através da participação activa em organizações sociais podem treinar-se competências cívicas e participativas. O associativismo ganha, assim, uma importância crescente como elemento estruturante da vida comunitária. A associação pode, deste modo, ser definida como um espaço para o investimento do

tempo liberto pela passagem à reforma, em benefício de algo, que sendo uma vontade pessoal, assume um carácter de resposta a uma necessidade colectiva e com capacidade sustentada de intervenção social e contributo para a coesão do tecido comunitário.

Ainda de acordo com esta autora, as vantagens ou impactos esperados do associativismo, relacionam-se com a consolidação e dinamização do tecido social, como factor de transformação e inovação social, e com o forte contributo económico proporcionado pelo trabalho voluntário ao favorecer o exercício da democracia. As organizações do denominado terceiro sector ocupam um espaço crescente nas sociedades actuais. O terceiro sector abrange uma grande variedade de agentes sociais, organizados em associações de moradores, grupos religiosos, ONG‟s, entre outros, que prestam serviços vários, ocupando espaços complementares ou onde ainda não existe uma intervenção estatal ou da rede privada.

Segundo Fontes (2008), estas associações situam-se na esfera do mundo da vida produzindo um tipo particular de solidariedade. Esta solidariedade dá-se a partir de trocas, não circunscritas a um espaço de tempo, traduzindo-se pela reafirmação de laços sociais que se prolongam por uma trajectória de sociabilidade, não inscrita na óptica das trocas mercantis. Trata-se da emergência de novas redes de solidariedade fundadas em mecanismos de sociabilidade com origem na sociedade civil e baseados na esfera do mundo da vida, sendo que a estruturação destas novas redes depende da interdependência mútua dos seus membros e das múltiplas conexões que estabelecem entre si. Estas novas formas de solidariedade fundam-se em estruturações identitárias marcadas pela personificação dos contactos sociais. De acordo com este autor, as redes sociais, assim constituídas, definem-se como pontes que ligam os indivíduos às instituições sociais e estruturam as suas biografias em integrações sociais que garantem as suas identidades.

A quantidade de capital social, existente nas comunidades, seria o elemento potenciador do desenvolvimento, em paralelo com os capitais humano e físico; este capital é estruturado a partir dos vínculos estabelecidos a partir das relações entre as pessoas, conforme afirma Burt (1998:7). Deste modo, as associações voluntárias foram inicialmente estruturadas a partir de acções voluntárias, para a produção e prestação de serviços e no esforço colectivo de produção do bem-estar.

No caso das organizações sociais vocacionadas para os idosos, é reconhecido o papel vital e impulsionador que muitos idosos assumem nestas e a marca que deixam com o seu tipo de gestão, fruto das experiências anteriores, e da disponibilidade, da capacidade que demonstram de terem uma vida produtiva e da forma como repartem o seu tempo de vida em actividades a favor do bem comum (OCDE, 2000). Exemplos de organizações sociais, que funcionam deste modo, são as universidades e associações de reformados que se constituem como redes de suporte extra-familiares, potenciando as relações horizontais, numa lógica de associação por interesses, afinidades e pertença geracional (Quaresma, 2004), correspondendo às tipologias objecto da presente tese.

É importante que em cada momento haja uma perspectiva de futuro e de construção da trajectória pessoal. Esta forma de envelhecer, entendida como bem sucedida, permite o desenvolvimento de novas actividades no pós-reforma, entre elas, as educativas, as de lazer e as de apoio social. Estas novas formas de participação, às quais estão associadas altos níveis de actividade, não são

remuneradas. Exemplos deste novo posicionamento social são as actividades formativas nos novos espaços das universidades, o convívio entre pares e as actividades de voluntariado.

O associativismo social, assim constituído, pode ser entendido como uma fonte de capital social e um importante elemento de desenvolvimento social do território onde actua. As regiões mais prósperas serão aquelas que conseguirem educar os cidadãos para a cooperação organizando e constituindo associações voluntárias. A capacidade de cooperação dos indivíduos, a confiança e a participação cívica associada às boas instituições são os elementos que constituem o capital social.