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Origem e desenvolvimento do tecido urbano

I.2. Caracterização urbanística

I.2.1. Tolosa – evolução histórica do tecido urbano

I.2.1.4. Origem e desenvolvimento do tecido urbano

A Planta de Síntese Fisiográfica da freguesia de Tolosa (Figura 42 - Anexo II, desenho A.02), revela um dado fundamental para a compreensão da formação e evolução do aglomerado: as suas quatro ruas mais antigas estão implantadas em duas linhas de festo, sobre as quais se constituíram os caminhos mais antigos que, se encontram num ponto de distribuição, o ponto mais alto do sistema hidrológico circundante.

Fonte: PGU de Tolosa

Figura 42 - Planta de Síntese Fisiográfica da freguesia de Tolosa

A hipótese mais provável do nascimento da vila baseia-se num esquema desenvolvido a partir de uma estrutura semelhante à de um monte, composto por duas frentes de casas, que formam uma rua confinante nesse ponto (o mais alto e o mais importante), a partir do qual irradia uma rede de caminhos: o caminho velho, o caminho de Niza e a Estrada de Abrantes (momento 1 - Figura 43, da Planta de Evolução do Tecido Urbano).

Fonte: PGU de Tolosa

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Esta hipótese é tanto mais plausível se considerarmos que a Rua Pequena (Figura 44) não tem continuidade, exatamente como o caminho agrícola que serve um monte, e termina sob a forma de uma rua entre casas. Ela finda a poente, no perímetro de uma propriedade antiga com tradições comunitárias que, em determinada altura, terá sido murada e tapada, a Tapada das Eiras. Tem continuidade ao longo do eixo de maior cota da colina que origina uma segunda rua, a Rua Longa (Figura 45), mais comprida e provavelmente mais povoada, gerando um sistema de duas ruas. Ainda hoje conseguimos reconhecer na Rua Pequena, a sequência linear de edificações cuja analogia à estrutura de monte, é tão evidente: casa/celeiro/palheiro/curral.

Fonte: Elaboração Própria Fonte: Elaboração Própria Fonte: Elaboração Própria

Figura 44 - Rua Pequena Figura 45 - Rua Longa Figura 46 - Caminho de Niza/Rua de Abrantes

Este sistema urbano em forma de espinha de peixe, em que uma rua implantada sobre uma linha de festo gera outras ruas que seguem as pendentes do relevo, é muito frequente no Alentejo. É a rua direita das estruturas medievais, a coluna vertebral da vila.

Esta disposição primitiva terá, numa segunda fase, dado origem a uma estrutura cruciforme desenvolvida sobre um segundo eixo definido pelo caminho de Niza/Rua de Abrantes (Figura 46) e corresponderá, muito provavelmente, ao período de consolidação do território português reconquistado. Aí encontramos três casas pertencentes aos três grandes proprietários da vila, que rompem com a escala do edificado, contendo logradouros que abrangem a área correspondente ao perímetro interior de um futuro quarteirão. No centro, originado pelo encontro de todas as ruas, a praça, como foi chamada, com pelourinho (hoje demolido), sede da Câmara, Cadeia e Misericórdia, a “praça dos três poderes”, Temporais, Judiciais e Religiosos, a que estava ligado de uma forma orgânica o arrabalde, ou baldio sob tutela municipal (momento 2 - Figura 47, da Planta de Evolução do Tecido Urbano).

Fonte: PGU de Tolosa

Figura 47 - Momento 2 (século XIII a XVI)

Esta topologia dos lugares primeiros é típica da organização social da Idade Média, correspondendo, em Tolosa, a uma lógica de repartição das terras por colonos associados à Nobreza ou à Ordem dos Hospitalários, tal como já foi referido. A curiosidade é, neste caso, ser claro um cenário de divisão do espaço urbano e áreas envolventes entre o Estado ou seu representante, e as famílias a quem a terra foi doada.

Poderemos localizar esta fase, na época de atribuição dos primeiros forais, no segundo e terceiro quartos do século XIII.

A oposição entre terras submetidas a uma jurisdição municipal e parcelas rodeadas de muros definidores de pequena ou grande propriedade é antiga. Os arrabaldes, terrenos fora de portas, sob tutela municipal, tenderam a ser transformados em lotes urbanos, ou em mosaicos de campos policultivados e hortas. Em Tolosa, a geometrização das suas parcelas, estreitas e profundas, servidas ao centro por uma linha de água, remete-nos para uma forma de loteamento, já aqui referida que, em cidades novas tomou o nome de lote gótico.

A sua urbanização é denunciada pela transformação do topónimo em nome de rua, a Rua do Arrabalde (Figura 48).

A consolidar este eixo está a construção da antiga capela do Espírito Santo – culto desenvolvido em Portugal durante o período da expansão marítima Manuelina –, situada à porta da vila, no antigo terreiro, (depois chamado Largo do terreiro, e hoje Largo Dr. Tello Gonçalves - Figura 49). Esta capela terá sido demolida, dando lugar ao coreto, e reconstruída em 1906, onde a conhecemos hoje.

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Fonte: Elaboração Própria Fonte: Elaboração Própria

Figura 48 - Rua do Arrabalde Figura 49 - Largo Dr. Tello Gonçalves

Quando D. Manuel concede a Tolosa o seu terceiro foral, um recenseamento demonstra que a vila tinha apenas 45 habitantes, o que traduz uma urbe muito reduzida e pouco densificada. Mas é a partir desse momento que a vila cresce ocupando os terrenos disponíveis do arrabalde.

Vilas-novas e ruas-novas encontram aqui, uma manifestação. A expansão de Tolosa recupera os modelos eruditos postos em prática no passado, em vilas alentejanas como Montalvão ou Monsaraz. Segue um traçado baseado na relação entre duas ruas que se complementam, a Rua Nova (depois Rua da Igreja e hoje Avenida da República - Figura 50), e a Rua do Poço (hoje Rua do Outeiro do Poço - Figura 51). A relação entre estas ruas transpõe a objetividade do traçado geométrico com a relação entre rua principal e rua de serviço.

A primeira, implantada sobre a linha de festo que percorre todo o caminho de Niza, dá continuidade à sequência Rua de Abrantes/Rua das Figueiras/Largo do Terreiro (Figura 52), estabelece a ligação entre o tecido antigo e a nova igreja matriz (datada de 1532, segundo Maria de Lourdes Enes d’Oliveira). É a rua que medeia a relação entre os poderes temporais, judiciais e religiosos, e o espaço público, e neste sentido a rua de traçado mais claro, organizado. A partir dela nascem outras ruas, desenhadas como serventias retas de dimensões mais pequenas, que se prolongam por azinhagas no arrabalde, complementando ruas que definem linhas de maior cota, com ruas que definem linhas de maior declive.

Fonte: Elaboração Própria Fonte: Elaboração Própria Fonte: Elaboração Própria

Figura 50 - Avenida da República

Figura 51 - Rua do Outeiro do Poço

Figura 52 - Rua de Abrantes/Rua das Figueiras/Largo do Terreiro

A segunda rua, antiga Rua do Poço, completa o sistema. Relacionando as plataformas do largo do Terreiro e largo da Igreja, a rua descreve um arco ancorado na topografia, resolvendo o problema da inclinação do terreno que ali perde cota na direção de poente, possibilitando que os lotes estreitos e profundos do novo aglomerado, utilizem o quintal num patamar intermédio, de modo a chegarem de nível ao plano da rua (cf. casa na Avenida da República 51, análise de Tipologias e Unidades Tipomorfológicas).

A configuração é praticamente idêntica à de Monsaraz, sem muralha e caminho de ronda. Mas os limites construídos afirmam-se de igual modo. A relação da vila com o campo era limitada por cancelas que separavam ruas de azinhagas, impedindo os gados de saírem da povoação para as propriedades (cf. Monografia de Tolosa, de Maria de Lourdes Enes d’ Oliveira, 1954), o que denota pelo menos, dois factos importantes: a coesão da estrutura urbana capaz de definir o “dentro” e o “fora de portas”; a total privatização do solo nas áreas periféricas do aglomerado.

Em 1752, o Marquês de Pombal formula um inquérito dirigido aos párocos de todas as freguesias do país, cujo objetivo é inventariar e melhor compreender as suas questões fundamentais. Deste inventário resultam as chamadas Memórias Paroquiais. Tolosa era habitada, segundo este inquérito, por “109 vizinhos” (uma designação que remonta ao medievo, e que designa a autoridade coletiva de homens bons, habitantes de uma vila). Tinha quatro ermidas, uma dentro da vila, a do Espírito Santo, e as restantes fora. A nascente a de São Pedro, a poente a de Santo António, e a sul, no Carvalhal, a ermida de Santo Amaro. “Estas são corpo da sua cabeça, a Igreja Matriz” (cf. Volume 36, Memória 61, Torre de Tombo, Lisboa).

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Esta topografia de lugares sagrados deu lugar a um zonamento, em redor do aglomerado a partir desses centros geradores de urbanidade. São Pedro, Santo António, Espírito Santo e Santo Amaro, designam as áreas periféricas correspondentes aos quatro pontos cardeais.

A partir da leitura dos Livros das Décimas de Tolosa (Biblioteca da Câmara Municipal de Nisa), registo das contribuições autárquicas entre 1763 e 1835, obtém-se o número de ruas existentes num total de nove: Rua Pequena, Rua Longa, Rua de Abrantes, Rua das Figueiras (hoje Rua Dr. P. Bettencourt), Rua do Terreiro (depois Largo do Terreiro, hoje Largo Dr. Tello Gonçalves), Rua do Poço (hoje Rua do Outeiro do Poço), Rua Nova (depois Rua da Igreja, hoje Avenida da República), Rua do Monte Novo (hoje Travessa da Igreja) e Rua do Arrabalde, que manteve o nome (Figura 53).

Nesta fase (momento 3 - Figura 54, da Planta de Evolução do Tecido Urbano, situado entre os séculos XVI e XIX), de grande unidade e coerência, o centro da vila desloca-se para “o lugar geométrico” do sistema, situado no largo do terreiro. Aí se realizou o mercado, até à construção do atual edifício no sítio da antiga capela de São Pedro.

Fonte: PGU de Tolosa

Figura 54 - Momento 3 (século XVI a XIX)

Fonte: Elaboração Própria

Figura 53 - Ruas existentes entre 1763 e 1835

Isto corresponde à substituição do eixo definido pela relação Rua Pequena/Rua Longa (Figura 55/Figura 56), para um novo, em que a Estrada de Gáfete/Estrada da Amieira (o antigo caminho dos braços - Figura 57) tomam protagonismo.

Fonte: Elaboração Própria Fonte: PGU de Tolosa Fonte: Elaboração Própria

Figura 55 - Rua Pequena Figura 56 - Rua Longa Figura 57 - Estrada de Gáfete/Estrada da Amieira

Em 1836, Tolosa perde a tutela concelhia passando a pertencer a Alpalhão, depois ao Crato, e por fim a Nisa. A sua antiga praça perde definitivamente o significado com a destruição dos seus edifícios mais importantes, substituídos pela torre do relógio em 1867 (Figura 58).

Fonte: PGU de Tolosa

Figura 58 - Torre do Relógio

A construção de espaços urbanos recorrendo à hierarquização de vias primárias e secundárias, definidoras de espaços servidos e de espaços servidores constituiu, em Tolosa, o referencial e a estrutura sobre a qual, a partir daqui, se desenvolveu. Mais precisamente é a partir das traseiras dos quintais das casas situadas no núcleo antigo que a vila vai crescer. Ocupados por hortas e palheiros que, numa primeira fase, irão motivar a construção de serventias. Não é difícil compreender que, posteriormente tenham ganho a escala de ruas com frentes de casas, servidas por palheiros, do lado oposto, cujas traseiras dão para o campo. Ainda hoje, encontramos uma forma

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semelhante de organização e articulação com o espaço envolvente na Rua da Fonte Nova ou Rua Dr. Alves da Costa (Figura 59). Esta dinâmica de ocupação terá conduzido ao momento em que toda a estrutura evolui, numa lógica de transformação de traseiras de quintais em frentes de novas ruas (ou em novos quintais com novas frentes de rua), com a criação de ruas de serviço, de função precisa dentro da comunidade: a Rua do Matadouro e Rua da Cooperativa (Figura 60) são nomenclaturas típicas do fim de século XIX, que exprimem bem o sentido utilitário atribuído ao espaço público, típico deste período. Consolida-se também a área que circundando a capela de São Pedro, com respetiva rua e travessa, se chamou de São Pedro (momento 4 - Figura 61, da Planta de Evolução do Tecido Urbano).

Fonte: Elaboração Própria Fonte: Elaboração Própria

Figura 59 - Rua da Fonte Nova e Rua Dr. Alves da Costa

Figura 60 - Rua do Matadouro e Rua da Cooperativa

Fonte: PGU de Tolosa

Daqui por diante é ao longo do caminho de ligação para o Sobral e Carvalhal de Tolosa, que a vila terá, já no século XX, o seu maior desenvolvimento, a partir de um pequeno núcleo que se consolidou em redor de um poço: o Chabouco (Figura 62 e Figura 63).

Fonte: PGU de Tolosa Fonte: PGU de Tolosa

Figura 62 - Poço da Travessa da Fonte do Chabouco Figura 63 - Chabouco

Entre 1900 e 1950, a população de Tolosa aumentou de 936 para 2268 habitantes, duplicando o número de fogos construídos, de 286 para 680, segundo os recenseamentos.

Esta verdadeira explosão do aglomerado, desenvolve-se ao longo da Rua dos Paralelos (Figura 64), Rua das Escolas (Figura 65), e Rua da Catraia (Figura 66) até à continuação da antiga Rua do Arrabalde, hoje Rua Tenente António Falcão, e Estrada Nacional 118 (Figura 67).

Fonte: PGU de Tolosa Fonte: Elaboração Própria Fonte: PGU de Tolosa

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Fonte: PGU de Tolosa

Figura 67 - A verdadeira explosão do aglomerado

Deste crescimento resultou a vila de Tolosa tal como a conhecemos hoje (momento 5 - Figura 68 e momento 6 - Figura 69, da Planta de Evolução do Tecido Urbano).

Fonte: PGU de Tolosa Fonte: PGU de Tolosa

Figura 68 - Momento 5 (século XX - anos 30/40)

Figura 69 - Momento 6 (século XXI - ano 2004)

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