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Reconquista e consolidação da urbanidade

I.2. Caracterização urbanística

I.2.1. Tolosa – evolução histórica do tecido urbano

I.2.1.3. Reconquista e consolidação da urbanidade

Ao sul da linha Mondego-Maciço Central, o território é dividido em domínios concessionados entre diversas Ordens: aos Templários foi entregue a guarda da Estremadura, Ribatejo e Beira Baixa; à Ordem dos Hospitalários, uma região que ocupa uma faixa oriental do Rio Zêzere à Serra de São Mamede; a Ordem de Cister centrou os seus domínios na área norte-ocidental da Estremadura, em Alcobaça, dominando uma vasta região, até ao mar; o sul da Estremadura, até Évora, pertencia à Ordem de Calatrava; finalmente, a região de Lisboa, Palmela, Sesimbra, Alcácer, o Baixo-Guadiana e o Algarve eram defendidos pela Ordem de São Tiago. Delas dependeu a consolidação da Reconquista, só alcançada em meados do século XIII, quando os Muçulmanos perdem o Algarve. Em 1297, o Estado Português constitui os seus limites definitivos que, em 1097 se tinham esboçado com a criação do Condado Portucalense entre terras de Douro e Minho.

Este período corresponde, no Alto Alentejo, à tutela do priorado do Crato, sede da Ordem dos Hospitalários, sobre uma vasta região que abrangia ambas as margens do Rio Tejo, num total de 29 freguesias, contendo 13 vilas e algumas povoações, sobre as quais exercia um domínio de natureza temporal e espiritual absoluto. O primeiro foral de Tolosa foi atribuído pelo seu Grão Prior, D. Afonso Peres, em 1262.

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Nele se atribui aos povoadores um terreno vasto, junto à Ribeira de Sôr, o Sobral e Carvalhal de Tolosa (Figura 39).

Fonte: PGU de Tolosa

Figura 39 - Sobral e Carvalhal de Tolosa

No segundo foral, de 1281, concedido pelos cavaleiros de Malta (a Ordem de Malta resulta duma conversão da Ordem dos Hospitalários), os habitantes de Tolosa ganham os privilégios de caseiros de Malta, e uma redução dos encargos de foro.

Em 1517, é doado o terceiro foral, pelo rei D. Manuel [data fixada sobre o aro de cantaria de uma porta de uma das ruas mais antigas da vila, a Rua das Figueiras, hoje conhecida como Rua Dr. P. Bettencourt (Figura 40 e Figura 41)], num período em que o território português já se encontrava definido. É bastante relevante que tenha sido o representante máximo da Coroa, e não uma ordem religioso-militar, a concedê-lo. Isso deve-se ao facto de os dois primeiros forais remontarem a uma época anterior à consolidação das fronteiras do Estado português, em 1297.

Fonte: PGU de Tolosa Fonte: Elaboração Própria

Figura 40 - Rua Dr. P. Bettencourt (Antiga Rua das Figueiras)

Figura 41 - Data gravada em cantaria de porta de uma habitação na Rua Dr. P. Bettencourt

A cartografia de topónimos antigos em Portugal, fornece uma interpretação cronológica da definição de uma sociedade rural estável, a partir da datação daqueles que definem os aglomerados urbanos (cf. Mapa Toponímico de Portugal, em Portugal, Estudo de Geografia Regional de Pierre Birot). No Alto Alentejo e Beira Baixa predominam, segundo este quadro, nomes do primeiro período da reconquista (que estacionou depois da conquista de Santarém em 1147, sob a linha do Tejo), misturados com outros, de raiz arabizante. Abundam, no entanto, vocábulos da segunda fase, como nomes de santos e referentes claros às cidades europeias de onde as Ordens repovoadoras são originárias,

Na região de Nisa, há uma tradição que atribui os nomes de algumas vilas a um batismo dado pela Ordem dos Hospitalários, oriundos de Toulouse, no Languedoc francês. Nisa seria, segundo esta tradição, a conversão da Nice francesa, Arez de Arles, Montalvão de Montauban. Toulouse teria originado Tolosa, fundada por este clã que no sudoeste francês, ou junto à Serra Morena em Espanha, fundou outras “Tolosas”.

Em todas elas se adivinha a repetição de um modelo urbano, na época posto em prática na fundação de cidades novas fortificadas, ou em programas de ampliação de núcleos antigos: as bastides.

Em Portugal, a consolidação do território nacional foi desenvolvida durante o reinado de D. Diniz, que nos séculos XIII e XIV, incentivou a construção das chamadas vilas-novas, grande parte delas situadas na parte oriental do Alentejo, de que Nisa-a- Nova é o exemplo mais próximo20. Esta nomenclatura tem entre outras funções, a de clarificar a sobreposição de culturas que representam as conquistas vitoriosas de domínio cristão, que se torna evidente, nas oposições vila-nova/vila-velha, e cristão-novo/cristão- velho, o seu habitante de origem árabe, reconvertido.

As bastides são cidades fortificadas de traçado regularizador geométrico, cuja ascendência remonta à lógica axial do acampamento militar romano, traduzida numa trama de ruas retas e perpendiculares entre si, organizadas e hierarquizadas enquanto ruas principais e ruas secundárias ou de serviço. A base modular da ocupação é o lote gótico, de frente estreita e grande profundidade, cuja associação compõe quarteirões de grande densidade e unidade. A posse da terra, paradigma de propriedade privada, é representada numa parcela murada de terreno: o quintal.

Esta tipologia desenvolver-se-á posteriormente, durante o período da expansão marítima europeia, com o planeamento das cidades coloniais. É o domínio da terra que

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irá estabelecer, daí em diante, a hierarquia de poderes e classes sociais, desempenhando um papel fundamental no modo como evoluem as cidades.

Duas das ruas mais importantes definem os eixos principais que se encontram num largo (onde a rua alarga), ou praça, prolongando-se até à linha de muralhas, abrindo portas. Um cardo e um decumanus, na aceção clássica, que se relaciona com a rosa- dos-ventos dominante, através de uma ligeira rotação da orientação de modo a atenuar as correntes de ar nos espaços intramuros.

Esta obsessão das artes geométricas aplicadas à definição de aglomerados urbanos encontra um dos seus expoentes mais altos na idealização de cidades no Renascimento, desenhadas a partir dos tratados de Vitrúvio. Mas a atividade urbanística durante os séculos XV e XVI consiste, na maior parte, em alterações no interior das velhas cidades, pouco modificando a sua estrutura geral.

Em Portugal, circunscreve-se à abertura de ruas-novas ou praças regulares de enquadramento de edifícios solenes e monumentos. Em Lisboa, por exemplo a Rua Nova, fundada por D. Afonso III, pai de D. Dinis, constituiu a única rua de traçado moderno até 1755. Em Tolosa, a Rua Nova, implantada no limite poente do arrabalde sobre o caminho velho de Nisa constitui, a partir do século XVI, o eixo das novas expansões.

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