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Origem e Teoria dos Esquemas Iniciais Desadaptativos

Capítulo 2 – A formação de Esquemas Iniciais Desadaptativos

2.2. Origem e Teoria dos Esquemas Iniciais Desadaptativos

Os esquemas são adquiridos precocemente no desenvolvimento, agindo como “filtros” pelos quais as informações e experiências atuais são processadas. Essas crenças são moldadas por experiências pessoais e derivam da identificação com outras pessoas significativas e da perceção das atitudes dos outros em relação ao indivíduo (Knapp & Beck, 2008). Os autores acrescentam também que, o ambiente da criança facilita a emergência de tipos particulares de esquemas ou tende a inibi-los.

Os esquemas são extremamente resistentes à mudança devido ao facto de serem autoperpetuadores (Young, 2003). Para além disso, por se desenvolverem precocemente fazem parte, geralmente, do autoconceito da pessoa e da sua conceção do ambiente.

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Posto isto, os esquemas são familiares e, por si só, confortáveis, de tal forma que, quando contestados, a pessoa irá distorcer as informações para manter a sua validade (Young, 2003). O autor refere que a mudança esquemática é muito perturbadora para a organização cognitiva, pelo que, o individuo automaticamente procura realizar estratégias cognitivas (tema a ser abordado nos pontos seguintes) para manter o esquema intacto.

Os esquemas iniciais desadaptativos, segundo Young (2003), precisam de ser disfuncionais de uma forma recorrente e significativa, tal como o conceito em si indica. O autor hipotetiza que:

“ (…) eles poderão levar, direta ou indiretamente, a um sofrimento psicológico, como depressão ou pânico; à solidão ou a relacionamentos destrutivos; ao desempenho inadequado no trabalho; a adições como drogas, álcool ou excesso de alimentação; ou a transtornos psicossomáticos como úlceras ou insónias” (Young, 2003, p.17).

Uma vez identificados, os EID’s podem ser objetivamente trabalhados com intervenções específicas nas distorções cognitivas e na redução da sintomatologia relatada (Cazassa & Oliveira, 2008).

Os EID’s são, na sua maioria, causados pela vivência de experiências tóxicas que se repetem com alguma regularidade no decorrer da vida e que impossibilitam o preenchimento de necessidades emocionais básicas do ser humano: estabelecimento de vínculos seguros, incluindo proteção, estabilidade e segurança; aquisição de autonomia, desenvolvimento de competência e senso de identidade; liberdade para expressar, adequadamente, necessidades e emoções; desenvolvimento da espontaneidade e capacidade diversão; estabelecimento de limites adequados, resistência à frustração e autocontrolo (Young, Klosko & Weishaar, 2003). Apesar de, nem todos os esquemas possuírem traumas na sua origem, esses padrões de funcionamento são destrutivos e causadores de sofrimento (Young, Klosko & Weishaar, 2003). No que concerne aos comportamentos desadaptativos, cabe destacar que são desenvolvidos como resposta aos esquemas e que não sendo, contudo, parte deles (Cazassa&Oliveira, 2008). Os

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padrões cognitivos e emocionais que configuram um esquema desadaptativo ocasionam respostas desadaptativas (Young, Klosko & Weishaar, 2003).

Os EID’s são ativados através dos acontecimentos ambientais relevantes para o esquema específico. Young (2003) refere um de muitos exemplos possíveis para exemplificar a forma como se sucede:

“Por exemplo, quando um adulto com o esquema do Fracasso recebe uma tarefa difícil em que o seu desempenho será examinado, o esquema irrompe. Começam a surgir pensamentos como: “Eu não vou conseguir. Vou fracassar. Vou fazer papel de idiota.” (Young, 2003, p.17).

A par desse tipo de pensamentos encontra-se um elevado nível de excitação afetiva, a qual remete, no exemplo acima apresentado, para a ansiedade. O individuo pode experienciar diferentes tipos de emoção, dependendo do esquema ativado e das circunstâncias ambientais em que ocorre (Young, 2003). Young refere ainda que os esquemas têm mais probabilidades de se desenvolverem em indivíduos oriundos de famílias destruturadas, onde a educação e os afectos são negligenciados pelos cuidadores, donde que muitos destes esquemas estejam associados ao abandono, à privação emocional, ao abuso e ao isolamento social (Young, 2003).

Os EID’s parecem resultar do temperamento inato da criança interagindo com experiências disfuncionais com os pais, irmãos e amigos durante os primeiros anos de vida. A maioria dos esquemas é causada por padrões constantes de experiências prejudiciais do dia-a-dia, com membros da família e outras crianças, que vão reforçando o esquema (Young, 2003). Os esquemas de indivíduos bem ajustados permitem avaliações realistas, ao passo que os de indivíduos mal ajustados levam a distorções da realidade, que, por sua vez, geram um transtorno psicológico (Knapp & Beck, 2008).

Como já foi referido os EID’s, segundo Young (2003), são estruturas estáveis e duradouras que se desenvolvem e se cristalizam precocemente na personalidade e/ou ao longo da vida do sujeito, encontrando-se associados a diversas psicopatologias. Foram realizados diversos estudos que associam os EID’s a condições psicopatológicas, a

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título de exemplo, “Dysfunctional Schemas and Psycopathology in Referred Obese Adolescents” Vlierberghe & Braet (2007); “Domínios de Esquemas Precoces na Depressão” Claudio (2009); “The Schema Questionnaire – short form: structure and relationship with automatic thoughts and symptoms of affective disorders”, Calvete,

Estévez, Arroyabe & Ruiz (2005); “Cognitive Schemas and Aggressive Behavior in Adolescents: The Mediating Role of Social Information Processing”, Calvete & Orue

(2010); “O Papel dos Esquemas Precoces Mal Adaptativos no Mal-Estar e no Bem-

Estar dos Professores” Picado (2007); “Early Maladaptative Schemas and Social Phobia”, Pinto-Gouveia, Castilho, Galhardo & Cunha (2006); “Specificity in the Relations among Childhood Adversity, Early Maladaptive Schemas, and Symptom Profiles in Adolescent Depression”, Lumley & Harkness (2007), entre outros.

Os esquemas têm uma variedade de propriedades, como permeabilidade, flexibilidade, amplitude, densidade e também um nível de carga emocional, que podem determinar as dificuldades ou facilidades encontradas no processo de tratamento (Beck, Freeman & Davis, 2005). Mesmo que latente ou inativo em determinados momentos, os esquemas são ativados por certas situações análogas àquelas experiências precoces que criaram o desenvolvimento do esquema (Beck, Freeman & Davis, 2005). A ativação desses esquemas interfere na capacidade da avaliação objetiva dos acontecimentos e o raciocínio fica prejudicado (Knapp & Beck, 2008).

Beck, Freeman e Davis (2005) dão ênfase ao facto de que quando os esquemas estão latentes, eles não estão a participar no processamento da informação, por outro lado, quando ativados, canalizam o processamento cognitivo do estágio mais precoce até ao final. As distorções cognitivas sistemáticas (eg. catastrofização, raciocínio emocional e abstração seletiva) ocorrem à medida que esquemas disfuncionais são ativados, vejamos:

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Quadro 2 – Distorções Cognitivas (adaptado de Knapp & Beck, 2008)

Distorções Cognitivas

Catastrofização - Pensar que irá acontecer o pior de uma situação sem ponderar outras possibilidades.

Abstração seletiva – Foco apenas num aspeto negativo de uma situação com outros aspetos mais complexos, relevantes e positivos, a chamada “visão em túnel”.

Minimização/Maximização – Características positivas são minimizadas ao passo que as

negativas maximizadas.

Polarização – Pensamento dicotómico, só há duas visões possíveis, que são opostas e

absolutas.

Leitura mental – Presumir, sem qualquer tipo de evidências, aquilo que os outros pensam, desconsiderando outras hipóteses de interpretação.

Raciocínio emocional – Encarar os sentimentos como fatos, logo verdadeiros. São os sentimentos que guiam a interpretação da realidade.

Rotulação – Atribuir um rótulo rígido e generalista a si próprio, aos outros e às situações, aos invés de rotular acontecimentos específicos.

Imperativos – Interpretar acontecimentos sob a forma de como eles deveriam ser.

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