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A origem dos programas policiais

3. O rádio

3.3. A origem dos programas policiais

O rádio brasileiro sempre foi considerado um dos mais criativos do mundo (o mesmo que se diz, hoje, da tevê e da publicidade brasileiras, reconhecidas e premiadas internacionalmente), notadamente, na chamada Era do Rádio que teve o seu auge nos anos 40 e 50. A partir da legalização da propaganda comercial, em 1º de março de 1932, o rádio iniciou um vertiginoso processo de expansão e de desenvolvimento, de tal modo a impactar fortemente em vários setores da vida nacional, como na economia (a publicidade no rádio otimiza a divulgação e o consumo de bens e produtos), na política e, sobretudo, na cultura.

O rádio transformou-se num fenômeno de massas e, durante um quarto de século, predominou no cenário social e no cenário da comunicação brasileira. O sociólogo Orlando Miranda captou, de maneira precisa, esse momento de consolidação da comunicação de massa entre nós: "O impacto do rádio sobre a sociedade brasileira a partir de meados da década de 30 foi muito mais profundo do que a televisão viria a produzir trinta anos depois” (MIRANDA, 1980).

À parte a grande contribuição do rádio às comunicações e a outras áreas do desenvolvimento nacional, o fato é que, com o advento da televisão, o veículo sofreu um duro golpe. Se, por um lado, não perdeu de todo o seu público, por outro, não conseguiu evitar a fuga dos principais patrocinadores que se transferiram com entusiasmo para o novo veículo. Sem as verbas da publicidade, o rádio também não consegue manter os seus quadros, perdendo os seus mais talentosos profissionais para a televisão. Como sobreviver ao rolo compressor da tevê que parecia ter chegado como uma sentença de morte?

Com o recurso da imagem, realmente, a televisão se apresentou imbatível, impingindo ainda ao rádio o significado de algo obsoleto, superado. Tal como aconteceu com o rádio no seu início, a tevê despertou o fascínio daquilo que parecia impossível: ter, num mesmo aparelho, um rádio provido de imagens.

O rádio deixou a sua imponente posição de peça central e enorme na sala de estar. Sem contar com as famosas radionovelas, com os programas de auditório e com os humorísticos, entre os seus principais gêneros, vai em busca de alternativas para enfrentar a concorrência da televisão. Obrigado a modificar o seu estilo para continuar vivo, o rádio investe naquilo que a tevê, por suas características, não tinha como se dedicar nem condições de cobrir: música, esportes e jornalismo, que passaram a ser o tripé para a reação do rádio, até os dias de hoje.

No Recife, como de resto em todo o país, as mudanças na programação do rádio levaram a uma sensível perda de qualidade. Programas de auditório de baixo nível, participação do ouvinte no ar, pelo telefone; as novelas viraram folhetins e, aos poucos, foram perdendo o interesse. Partiu-se para a prestação de serviço e o incremento de informação, na programação em geral e em programas jornalísticos específicos. Foi quando surgiram os programas de denúncias, passando a concentrar o relato de toda sorte de fatos criminosos (homicídios, roubos, assaltos, estupros etc.), principalmente, baseados em boletins oficiais de ocorrências, enfatizando a versão policial.

A violência simbólica sempre permeou as programações desenvolvidas pelo rádio, desde o seu início. Essa é uma característica imanente dos meios de comunicação que, de modo privilegiado, integram um universo simbólico de dominação que, como diz Weber, citado por Pierre Bourdieu em O Poder

Simbólico, “domestica os dominados” (BOURDIEU, 1989:12 ). O rádio não se baseou em estudo ou pesquisa que apontasse para a “excelência” do tema, tanto que, até hoje, os seus produtores e apresentadores não têm respostas, não sabem explicar, convincentemente, por qual motivo esses programas fazem tanto sucesso. Sem querer, o rádio acabou descobrindo um filão. A casualidade se explica pelo fato de a opção por programas de gênero policial ter-se dado por puro empirismo.

A Rádio Clube de Pernambuco foi a pioneira, no Estado, a explorar o gênero, combinando ocorrências policiais com humorismo, em dois programas que fizeram muito sucesso, no final dos anos 60: A Patrulha da Cidade e o Cidade Aflita. Nesses programas, uma equipe de comediantes encenava os casos policiais e o espetáculo era tão bom, que a direção da emissora decidiu apresentá-lo no auditório aberto ao público. O sucesso desses programas só veio a ser superado, no início da década de 70, com a criação do Repórter do Bandeira 2, também na Rádio Clube, popularmente conhecida pelo prefixo P.R.A-8.

Em 1971, a locutora e radioatriz Rosa Maria assumiu a Direção Artística e de Programação da Rádio Clube com o desafio de levantar a audiência que havia abaixado para o 5º lugar. Sentindo que o caminho da recuperação estava no jornalismo, Rosa Maria criou radiojornais que logo começaram a se destacar, como No Mundo da Notícia e O Mundo em suas mãos; para a madrugada, criou aquilo que viria a ser, até os dias atuais, um dos maiores fenômenos de audiência do rádio brasileiro: O Repórter do Bandeira 2, com o seu singular repórter/apresentador e ex-radioator, Gino César.

O nome do programa foi inspirado na tarifa especial criada para os taxistas que trabalhavam durante a noite/madrugada, a chamada Bandeira 2, e a idéia original do programa era colocar repórteres dentro das delegacias, para informar sobre as principais ocorrências e, se possível, entrevistar bandidos, vítimas e a autoridade policial. Aos poucos, foram-se ampliando os espaços para esse tipo de informação: resenhas dentro de programas importantes, flashes ao longo de toda a programação, até conquistarem o status de programa de horário nobre, com maior duração.

O sucesso do Bandeira 2 não demorou a ser copiado por emissoras concorrentes da Clube. Em pouco tempo, foram surgindo os “imitadores” de

Gino César que disseminaram o gênero na região. No entanto, o formato que mais se aproximou do Bandeira 2 em termos de audiência foi o criado pela Rádio Globo, em meados da década de 80. Explorando o jornalismo sensacionalista, o programa A Cidade contra o crime combinava o registro das ocorrências policiais com a dramatização de casos; as denúncias e as queixas dos ouvintes com a prática assistencialista, através da doação de cadeiras de rodas, de remédios, de enxovais etc. Para apresentar o programa, a Globo importou do Rio de Janeiro o radialista Josley Cardinot.

Com o tempo, esses comunicadores se valorizaram e trocaram de rádio várias vezes, sempre acompanhados de seus programas, também sofrendo mudanças. Atualmente, Gino César está na Rádio Jornal do Comércio AM-780 Khz apresentando diariamente, dois programas: o Plantão de Polícia – das 6h30min às 7h; e o Bandeira 2 – das 7h às 7h30min e das 12h às 12h30min. Por sua vez, Cardinot é o principal comunicador da Rádio Clube de Pernambuco AM-720 Khz, apresentando, de segunda a sábado, o Programa Cardinot, das 5 às 8 horas.