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1 SINDICATOS E ESTADO NO BRASIL: UMA ANÁLISE PELO PRISMA DA AUTONOMIA

1.2 A ORIGEM DOS SINDICATOS

A história da organização dos trabalhadores não parte da formação dos sindicatos como sua primeira expressão organizativa

contra a relação de exploração, característico da sociedade capitalista. Este modelo de sociedade, em que a obtenção do lucro por parte dos capitalistas, através da expropriação dos trabalhadores dos meios de produção e da exploração do trabalho, a partir de uma elevada jornada de trabalho, em que parte do trabalho não é paga ao trabalhador, gera contradições entre as classes sociais inseridas diretamente no processo produtivo, ou seja, a burguesia e o proletariado. De início, essas contradições condicionaram o aparecimento de diversas ebulições revoltosas e de protesto por parte dos proletários contra o processo exploratório. Diante das contradições e do contexto revoltoso gerado, fomentaremos um resgate histórico das primeiras formas de luta e organização dos trabalhadores na Inglaterra do século XIX, como expressão maior da origem dos sindicatos.

Na Inglaterra industrializada, o crime se apresenta como a primeira forma de rebelião dos operários. Não compreendendo o porquê da sua condição de vida em relação ao capitalista, o trabalhador das máquinas recorre ao roubo como forma de protesto. Segundo Engels,

[...] o operário vivia em pobreza e necessidades, e via que outros estavam melhores do que ele. Não estava claro em sua mente porquê [sic] ele, que fez mais pela sociedade do que o rico ocioso, deveria sofre sob estas condições (ENGELS, 2008, p. 54).

A ação logo é abandonada, pois o crime só expressava uma ação individual e nunca foi de agrado da maioria dos trabalhadores. O crime é

substituído pelo movimento ludista2, ou seja, um movimento de protesto

por parte do operariado inglês que se fundava na quebra de máquinas. Segundo Bobbio, Matteucci e Pasquino (2000), o movimento tinha por objetivo melhorias salariais e contenção da mecanização da produção têxtil.

Os trabalhadores percebendo que “a máquina não era a causa de seus males – mas sim o dono dela que [...] os estava afastando dos meios de produção” (HUBBERMAN, 1986, p. 186-187); e devido uma ação

2

Segundo Bobbio; Matteucci; Pasquino (2000), o nome ludismo origina-se do lendário líder do movimento que se chamava Nedd Ludd. De acordo com a tradição, lá pelo fim do século XVIII, em Loughborough, Leicestershire, Nedd Ludd teria sido o primeiro operário têxtil a quebrar o tear do patrão após um conflito com o mesmo. Devido a este fato, seus seguidores passaram a se chamar de ludders ou luddites (ludistas).

legislativa por parte do parlamento que, em sintonia com o apelo dos donos das máquinas, aprovaram uma lei que estabelecia a pena de morte àqueles que destruíssem as máquinas; estes operários, segundo Engels (2008), reavaliaram suas ações e concluíram que havia a necessidade de encontrarem uma nova forma de oposição, pois a quebra das máquinas não expressava uma organização dos trabalhadores.

Alternativas legalistas também foram utilizadas como forma de protesto, através do envio de petições ao parlamento, na tentativa de estabelecer leis que aliviassem a miséria dos trabalhadores. Mesmo sendo criadas algumas leis, as petições, como alternativa para melhores condições de vida, logo foram abandonadas. Os trabalhadores constataram que lei posta não é necessariamente lei aplicada, além de perceberem uma aproximação dos patrões com os magistrados, o que inviabilizava vitórias no espaço jurídico.

O movimento cartista é outro movimento que também podemos considerar como método de ação dos trabalhadores contra sua realidade miserável. A participação política através da democracia representativa se apresentava como a principal arma deste movimento. Reivindicavam o direito ao voto através da seguinte ideia: “Se conquistassem o direito de voto, poderiam pressionar os legisladores a fazer um governo de e para muitos, ao invés de um governo de e para poucos” (HUBBERMANN, 1986, p. 188). Com a aprovação, em 1824, na Inglaterra, da lei que garantia a livre associação dos trabalhadores em defesa de seus direitos, é estabelecida uma significativa guinada na luta e no poder de organização dos trabalhadores. A partir de então são criados vários sindicatos, embora já existissem associações secretas de trabalhadores.

É interessante observar que a ilegalidade das associações dos trabalhadores não estava limitada apenas à Inglaterra. Na França, “os movimentos para elevação de salários eram considerados ilegais” (HUBBERMANN, 1986, p. 191). A partir da percepção de que organizados em sindicatos os trabalhadores eram mais fortes, inicia-se na Europa o surgimento deste tipo de organização e de luta da classe trabalhadora. Ante tal contexto, podemos entender a importância dos sindicatos na organização dos trabalhadores e em defesa de seus interesses. No que concerne ao antagonismo existente entre a classe burguesa e a classe proletária, a organização dos trabalhadores se fez mais que necessária, visto que os patrões a tempos mantinham-se organizados:

Os sindicatos legalizados em 1824 entraram em ação bem a tempo. Os capitalistas sempre estão organizados. Na maioria dos casos não necessitam de uma organização formal com estatutos etc. Seu número restrito, comparado com o dos operários, o fato de constituírem uma classe particular e de manterem relações sociais e comerciais constantes, dispensam a organização (ENGELS, 2008, p 71).

Apesar da importância que é atribuída à organização dos sindicatos por Engels, é interessante abrir um parêntese para a colocação do marxista holandês Anton Pannekoek (1873 – 1960) em relação aos sindicatos. Para Pannekoek, na origem dos sindicatos, mesmo estes se apresentando

[...] como forma inicial de união dos trabalhadores na luta contra o patronato para vender sua força de trabalho em condições mais vantajosas, [esta] luta [...] desde que dirigida pelos sindicatos, foi reconhecida pelos próprios patrões como necessária para manter a revolta proletária sem surpresas (MENDONÇA, 2011, p. 147).

Uma instigante colocação que nos orientará na compreensão da ação do Estado dentro dos sindicatos no Brasil a partir da década de 1930, como veremos a seguir.